Estudando o Espiritismo

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Desigualdade das Riquezas

Desigualdade das Riquezas

Sérgio Biagi Gregório 
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Doutrina Comunista e Igualdade de Renda. 5. Estatística sobre a Distribuição de Renda. 6. Desigualdade e Reencarnação. 7. Desigualdade e Diversidade de Aptidões. 8. Prova da Riqueza e da Pobreza. 9. Riqueza para o Céu. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Por que uns são ricos e outros são pobres? Por que uns ganham 5.000 dólares ao ano enquanto outros 500? Por que a sorte sorri para uns e fecha a cara para os outros? Por que uns nascem em berço de ouro e outros numa choupana? Estas são algumas, das muitas questões, que ainda não encontramos uma resposta satisfatória. Nosso propósito é, pois, refletir sobre estas questões, analisando-as sob a ótica espírita.
2. CONCEITO
Riqueza - de rico, que vem da raiz gótica riks. É o conjunto de bens, materiais ou imateriais, exteriores ao homem, que contribuem para o seu bem-estar, individual ou coletivo, direta ou indiretamente, para que é indispensável que sejam possuídos, ou, pelo menos, usados pelo homem. (Polis Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)
Em sentido lato é tudo quanto pode satisfazer uma necessidade ou um desejo.
Em sentido restrito, são os bens ou riquezas, que têm um valor econômico, que são, por isso, chamados de bens econômicos.
Diz-se mais restritamente a abundância de riquezas. (Santos, 1965)
3. HISTÓRICO
Ao longo do tempo histórico e até o limiar da época moderna, só era tida como riqueza a posse de bens materiais (como casas, terras e certos objetos mais úteis); com o incremento da atividade comercial dos princípios da Idade Média, o dinheiro adquiriu, também e definitivamente, o estatuto de riqueza a ponto de se tornar o seu sinônimo para a generalidade das pessoas, passando a sua acumulação a ser um dos principais objetivos das atividades econômicas e que mais caracterizou o fenômeno capitalista. É que o dinheiro ganhou uma autonomia de movimento, produtora de toda a espécie de mais-valia, conducentes ao enriquecimento. Em economia, no entanto, nem só o dinheiro e os outros bens materiais são englobados no conceito de riqueza; nela são incluídos, ainda, todos os fatores de produção e o produto acabado, as reservas acumuladas, os recursos naturais, as infra-estruturas etc. (Polis Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)
Os primeiros economistas davam ao termo riqueza um sentido muito geral. Turgot intitulou o seu tratado Reflexões sobre a Formação e a Distribuição de Riquezas; Adam Smith deu à sua célebre obra (1776) a designação de Pesquisa sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. No tempo de Turgot e Adam Smith tinha-se em mente enriquecer o povo e formar estados opulentos; modernamente, foi-se substituindo o termo riqueza pelo de "bens".
Assim, o tema a que os antigos economistas chamavam "distribuição de riquezas" é aquilo de que mais tarde se ocuparam os cultores da ciência sob a designação de "distribuição de rendimentos". (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
4. DOUTRINA COMUNISTA E IGUALDADE DE RENDA
Marx, em seu materialismo histórico, prevê o surgimento do comunismo como a síntese perfeita da evolução materialista da sociedade, onde não haverá barreiras de classe, onde não haverá exploração do homem pelo homem, nem mesmo poder estatal sobre o indivíduo; em que os recursos produtivos serão de posse comum; onde a escassez será superada e haverá uma abundância de riqueza material. Em termos do nosso estudo, pressupõe a igualdade da renda.
Mas, será possível essa igualdade absoluta? Ela já existiu?
Auxiliemo-nos, porém, da utilidade marginal da renda para aclarar nossas idéias. De acordo com essa teoria, a igualdade de utilidade marginal não implica rendas iguais. Importa apenas a maximização da utilidade social. Isso significa que cada um de nós, por sermos diferentes, precisamos de diferentes níveis de renda. Para que quer renda o eremita no deserto?
As rendas deveriam ser iguais somente se todos os homens fossem semelhantes. Mas como isso é impossível, precisamos encontrar um grau ótimo de desigualdade, pois à medida que nos afastamos deste ideal imaginário em outra direção, no sentido de maior desigualdade, perdemos a democracia, a fraternidade, o interesse e responsabilidade de todos por todos, que é o que faz a organização tolerável.
Em termos monetários, o princípio evangélico "àquele que tem dar-se-lhe-á" deveria ser substituído por "aquele que mais desfruta o que tem, mais se lhe dará". Numa sociedade em que os indivíduos são dessemelhantes em face das inclinações das curvas de sua utilidade marginal, presumindo que as utilidades marginais de indivíduos diferentes sejam mais ou menos as mesmas para níveis de subsistência de renda, então um aumento na renda total da sociedade resultaria em distribuição mais desigual, visto como o aumento de rendia iria principalmente para aqueles que mais desfrutarão. (Bouding, 1967, p. 107 a 111)
5. ESTATÍSTICA SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Os dados abaixo relacionados (referentes ao período de outubro de 1990 a outubro de 1991) revelam a disparidade de renda existente no Brasil e no mundo:
- o salário no Brasil varia de 1/100; no Japão, de 1/10;
- a renda per capita no Brasil é US$ 2.550; na Suíça é US$ 30.270;
- 20% dos mais ricos, no Brasil, ganham 26 vezes mais do que os 20% mais pobres;
- o Brasil é a 8ª economia em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e 70ª quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano;
- os 10% mais ricos, no Leste Europeu, recebem 7 vezes mais do que os 10% mais pobres. (Estado de São Paulo, 1992, p.12)
6. DESIGUALDADE E REENCARNAÇÃO
De que maneira a Doutrina Espírita pode auxiliar-nos na compreensão da desigualdade de renda apontada acima? O princípio da reencarnação, adotado pelo Espiritismo, é um forte argumento, que pode oferecer-nos alguma pista. É possível que os Espíritos que ora estão encarnados neste país já tenham vivido nos outros países mais desenvolvidos. Como não souberam utilizar a riqueza em favor do próximo, foram enviados para esta região para se reequilibrarem na lei do amor, passando pela prova da pobreza.
A reencarnação mostra a justiça divina. No que tange à riqueza, todos passaremos por ela, quer seja nesta vida ou em outras.
7. DESIGUALDADE E DIVERSIDADE DE APTIDÕES
"A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Não o são por uma razão muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar. Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade de caracteres e das aptidões.'' (Kardec, 1984, p. 210)
8. PROVA DA RIQUEZA E DA POBREZA
Pergunta 815. Qual dessas duas é a mais perigosa para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
— Tanto uma quanto a outra. A miséria provoca a lamentação contra a Providência, a riqueza leva a todos os excessos.
Pergunta 816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe também de mais meios para fazer o bem?
— É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo.
Comentário de Kardec: "A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque quanto mais o homem for rico e poderoso mais obrigações tem a cumprir, maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder. A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: "Em verdade vos digo, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do um rico entrar no reino dos céus"". (1995, p. 306)
9. RIQUEZA PARA O CÉU
"Quem se aflige indebitamente, ao ver o triunfo e a prosperidade de muitos homens impiedosos e egoístas, no fundo dá mostras de inveja, revolta, ambição e desesperança. É preciso que assim não seja!
Afinal, quem pode dizer que retém as vantagens da Terra, com o devido merecimento?
Se observarmos homens e mulheres, despojados de qualquer escrúpulo moral, detendo valores transitórios do mundo, tenhamos, ao revés, pena deles.
A palavra do Cristo é clara e insofismável. — "Amontoa tesouros no Céu" — disse-nos o Senhor.
Isso quer dizer "acumulemos valores íntimos para comungar a glória eterna!"
Efêmera será sempre a galeria de evidência carnal.
Beleza física, poder temporário, propriedade passageira e fortuna amoedada podem ser simples atributo da máscara humana, que o tempo transforma, infatigável.
Amealhemos bondade e cultura, compreensão e simpatia.
Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração nos céus, porquanto estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos da Vida Superior.
Cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria, porque amanhã serás visitado pela mão niveladora da morte e possuirás tão somente as qualidades nobres ou aviltantes que houveres instalado em ti mesmo" (Xavier, cap. 177, s.d.p.)
10. CONCLUSÃO
Tenhamos cuidado com o excessivo desejo de posse; reflitamos, primeiro, sobre os pressupostos espíritas. Eles foram codificados para auxiliar o pensamento do homem, a fim de que este se liberte das paixões materiais, conduzindo-o à conquista dos bens espirituais, os únicos que poderá levar ao partir para a vida dos Espíritos.
11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.
BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo, Meste Jou, 1967.
Jornal o Estado de São Paulo, 18/05/92.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, s.d.p.

São Paulo, 08/09/1985

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