Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

NO CAMINHO DO AMOR

NO CAMINHO DO AMOR
Uma das coisas mais difíceis para o homem é conhecer, entender, aceitar e viver o amor. De uma forma geral a palavra amor é usada com o sentido da troca de sentimentos, de prazeres e de atenção entre as criaturas, que buscam receber do mundo aquilo que valorizam. Neste sentido, o amor é sempre fonte de egoísmo que pede atenção para dar atenção, que pede afeto para dar afeto, que pede compreensão para dar compreensão. Assim, o homem busca gostar de quem seja capaz de gostar dele numa preocupação constante pelo reconhecimento de sua importância. As pessoas aproximam-se umas das outras buscando conquistar atenção, afeto e amor, que julgam serem capazes de trazer os momentos de felicidade de que precisam.
Vendo o amor desse modo, a lei de Deus fica muito difícil de ser praticada, pois muda o sentido da ação passando a significar “ama o próximo como ele te ama”, ao invés de “ama o próximo como a ti mesmo”.
A evolução espiritual pede a ampliação da visão egocêntrica que o homem tem quando ainda se encontra na fase primitiva de seu crescimento. A maturidade afetiva é o começo de tudo, é necessária para que o homem vivencie a troca de sentimentos e sensações, mas não é suficiente para lhe dar a felicidade e a satisfação plena de suas necessidades.
O Espírito de Verdade nos orientou em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espírita amai-vos este é o primeiro ensinamento, instrui-vos, este é o segundo”.
Através do estudo, da reflexão, o homem consegue desenvolver a razão que o permite entender melhor as contingências de sua vida de relação e a diferenciar o bem do mal, o sofrimento da felicidade e as virtudes dos deveres. Por meio da razão o homem consegue superar sua tendência de se entregar às paixões, às falsas carências, criadas em sua mente primitiva pelos valores materiais a que se prende.
Apesar de ser um “ser social” o homem isola-se em si mesmo. Precisa viver com seus semelhantes, mas apesar disto, fecha-se em si mesmo, aguardando dos outros toda a atenção que julga merecer. Passa pelo mundo como alguém que sempre espera encontrar, e procura “no receber” a felicidade desejada. Parece um paradoxo, mas o egoísmo nos leva a pensar assim: “preciso de você para viver e por isto espero que você me dê o que preciso”.
Mas, na realidade, na essência, a lei que Deus nos impõe e o jugo a que nos submete são exatamente o inverso daquilo que praticamos. Não é preciso que alguém me dê algo para que eu lhe conceda o que necessita. Não, não é isso! É preciso que eu simplesmente lhe dê o que necessita sem impor condições. É servir ao invés de ser servido. É ser afetivo, fraterno diante da dor e do sofrimento alheio. É buscar a felicidade na entrega ao mundo, aprendendo nas experiências a valorizar a própria vida.
O caminho do amor, portanto, não é o caminho do aceitar e conceder, mas sim do dar para receber.
Não é fácil para nós compreendermos aquela afirmação que diz: “Ninguém pode receber o que não tem”. Entretanto, com alguma reflexão talvez consigamos perceber melhor o sentido desta verdade. Senão vejamos: não seremos capazes de receber amor se não tivermos a capacidade de amar; não seremos capazes de receber o conhecimento se não tivermos a capacidade e a vontade de adquiri-lo; não seremos capazes de adquirir a sabedoria se ainda não soubemos buscá-la e valorizá-la.
Selecionamos no livro Contos e Apólogos, do Espírito Irmão X, um conto intitulado “No Caminho do Amor”, que nos dá uma lição de Jesus sobre o sentido do amor incondicional.
Conta-nos assim o Irmão X.

Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólico sorriso, e fixou-o estranhamente.
Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva, colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
- Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas...
Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:
- Inúmeros peregrinos cansados me buscam à procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida. É que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel dos meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso...  Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...
Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:
- Jovem, por que não me respondes? Descobri em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! Atende! ...
Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou uma tanto agastada:
- Não virás?
Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:
- Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe? ...
A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.
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Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralíticos, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento.
O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemidos angustiosos.
A disputada mercadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de quem ninguém ousava aproximar.
Fitou o Mestre e reconheceu-o.
Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente expressão.
O Cristo estendeu-lhe os braços, tocado de intraduzível ternura e convidou:
- Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.
O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e aconchegou-a, de manso... .
A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida:
- Tu?...O Messias nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!...Que vieste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
- Agora, venho satisfazer-te os apelos.
E, recordando-lhe as palavras do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
- Descubro em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te.

Na solidão da vida, nos declaramos carentes de afeto, de compreensão, de reconhecimento. Buscamos adquirir companhias quando o mais correto seria buscarmos servir de companhia. Muitas vezes pagamos por momentos de companhia, como se conseguíssemos tirar desses momentos os valores da felicidade buscada. A frustração é a eterna companheira daquele que busca comprar e receber do mundo aquilo de que pensa necessitar.
Aquele que se sente carente diante da solidão devia antes perceber que se mantém isolado em si mesmo. A verdadeira carência não é aquela que pensamos experimentar. A verdadeira necessidade é vivermos fazendo diferença pelo serviço que prestamos, é amarmos como gostaríamos de sermos amado, e não o contrário. Somente nossas ações e doações serão capazes de vencer as angústias e as aflições da solidão. Só é solitário aquele que se esconde do mundo, que não age na vida, que não dá de si.
O nível de sofrimento que experimentamos está diretamente ligado ao valor que damos ao ato de receber do mundo. Quanto mais esperarmos receber, mais infelizes nos sentiremos, e mais responsabilizaremos os outros pelas nossas mazelas. Quanto mais nos dispusermos a dar, mais seremos capazes de compreender e menor será o sentimento de frustração, angústia e sofrimento diante  das experiências da vida.
“Dar para receber”.
“Amar para ser amado”.
“Compreender para ser compreendido”.
“Negar-se para ser reconhecido”
“Humilhar-se para ser exaltado”.
Todas estas afirmações são interpretações da Lei de Deus. Quando formos capazes de, usando nossa razão, vencer a emoção e a ilusão do orgulho e do egoísmo, aí teremos o progresso moral requerido, até nos tornarmos reais cidadãos do mundo e Filhos de Deus. Neste dia, quem sabe, poderemos dizer como Jesus: “Nós e o Pai somos um, pois sua vontade é a minha vontade”.
Assim, caro companheiro de ideal espírita, se hoje sentes carência de afeto, de compreensão, e te deixas levar pela tristeza, pela angústia, pela frustração e pela dor; se hoje não és capaz de ver o caminho da felicidade; medita nesta história que o Irmão X nos proporcionou.
Quando fores procurado e convidado a receber do mundo, imuniza-te, prepara-te para servir e coloca-te à disposição da vontade de Deus para dar de ti. Aí, caro amigo, caro irmão, encontrarás a felicidade que tanto procuras, pois estarás trilhando o verdadeiro caminho do amor.

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