Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 7 de outubro de 2014

O necessário e o supérfluo - Richard


Diógenes (400-325 a.C.), filósofo grego, era famoso por seu comportamento excêntrico e comentários mordazes.
Dizia-se que tinha grande desprezo pela Humanidade.
Caminhava pelas ruas de Atenas com uma lanterna, a proclamar:

– Procuro um homem honesto.

Era algo para ele tão difícil quanto iluminar um palheiro em busca de agulha perdida.
Observação bem atual, ante a desavergonhada corrupção que se institucionaliza na sociedade humana.


***

Diógenes não era nenhum misantropo ranheta e excêntrico.
Havia em suas atitudes um humor irônico, que popularmente chamaríamos hoje de gozação, com o qual procurava instigar as pessoas à apreciação de suas idéias.
Ensinava que o supremo recurso de felicidade é o total desprezo pelas convenções humanas, em obediência plena às leis da Natureza.
O caminho para essa realização está na simplificação da existência, superando a superficialidade e os modismos.
Andava descalço…
Vestia uma única túnica…
Dormia num tonel…
Certa feita, viu um menino a usar o côncavo das mãos para tomar água.
Admirou-se:

– Acabo de aprender que ainda tenho objetos supérfluos.

Jogou fora a caneca que usava e passou a imitar o menino.


***

Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), quis conhece-lo e testar seu proverbial desprendimento dos bens materiais.
Foi encontrar o filósofo, em fria manhã de inverno, aquecendo-se ao sol.
Após serem apresentados e conversarem, Alexandre disse-lhe estar disposto a atender qualquer pedido seu.
O capricho mais sofisticado, o objeto mais precioso…
Diógenes sorriu e respondeu:

– Quero apenas que não me tires o que não me podes dar. Estás diante do Sol que me aquece. Afasta-te, pois...


***

Certamente seria complicado tomar Diógenes ao pé da letra.
Acabaríamos internados num hospício.
Os tempos são outros.
Além do mais, estamos longe do desprendimento total.
Não obstante, seria interessante observar a tônica de suas idéias:

Simplicidade.

É preciso que nos libertemos de condicionamentos e modismos, do supérfluo e do artificial, contentando-nos com o necessário à vida.
Teremos, então, melhores chances de viver bem.
Jesus deixa isso bem claro no Sermão da Montanha, quando recomenda que não nos preocupemos demasiadamente com nossa vida, nem acerca do que devemos comer ou vestir…
É preciso centralizar nossas ações em torno do Reino de Deus, que se realiza no empenho do Bem.
Tudo o mais, explica Jesus, virá por acréscimo.
A Doutrina Espírita oferece marcante contribuição em favor da simplificação de nossa existência, abrindo-nos as portas do mundo espiritual para nos mostrar algo que não devemos esquecer jamais:

Levaremos para o Além somente os valores incorporados à nossa alma, nos domínios da virtude e do conhecimento.

O resto ficará por aqui mesmo.
Imperioso, pois, simplificar sempre, como destaca Guilherme de Almeida (1890-1969):

Simplicidade… Simplicidade…
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio… Por que não há de
ser toda gente também assim?

Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que tem perfumes… mas as abelhas
e os homens sabem o que elas têm!

Ser como o espaço, que é azul de longe,
de perto é nada… Mas quem o vê
– árvores, aves, olhos de monge… –
busca-o sem mesmo saber porque.

Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras… E, rindo passa,
despretensioso, sempre a cantar.

Ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
da ninho às aves, ao inseto, flores…
Mas nada sabe do bem que faz.

Felicidade – sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvores, o rio:
simples, mas simples sem o saber!


Do livro Luzes no Caminho

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