Estudando o Espiritismo

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domingo, 21 de setembro de 2014

O BOM LADRÃO E A REENCARNAÇÃO


O BOM LADRÃO E A REENCARNAÇÃO

“E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu reino! –Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso.” [1]

“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. – E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” [2]

Lucas 23: 42-43

          A passagem acima quando lida literalmente de acordo com a maioria das traduções, parece apresentar à primeira vista, a ideia da salvação instantânea do Ladrão, ocorrida imediatamente após a sua morte, naquele mesmo dia. Por isso, ela é usada frequentemente pelos irmãos das religiões tradicionais tentando provar que a pluralidade das existências está em desacordo com os evangelhos e que a fé opera uma salvação imediata como, segundo eles, aconteceu com o bom ladrão.

          Entretanto, ao analisar-se o texto na língua original verificamos que essa afirmação torna-se errônea em virtude da falta de clareza da escritura, que se encontra no Evangelho Segundo Lucas todo escrito em grego Koinê.

          Segundo o Novo Testamento interlinear grego-português [3] o Koinê é o resultado de um processo de helenização do mundo antigo que estava sob o domínio de Alexandre o grande, foi uma forma de difundir a cultura e a língua grega através da simplificação do grego clássico. Na época de Jesus e dos apóstolos o grego Koinê era a língua internacional usada dentro do Império Romano como meio de comunicação entre vários povos ao redor do Mar Mediterrâneo.

       Nessa época, a língua grega quando escrita não apresentava pontuações ou acentuações tornando sua tradução de difícil compreensão podendo o tradutor pontuar onde melhor lhe parecesse, dependendo do seu entendimento e crenças estabelecidas.

         Desse modo, o versículo de Lucas 23:42-43 traduzido literalmente para o português do original Koinê sem as pontuações encontrasse escrito da seguinte forma:

“E dizia Jesus lembra-te de mim quando vieres em o reino teu e disse a ele amém a ti digo hoje comigo estarás em o paraíso” [4]

       Complicado não? A diferença é gritante, imagine quando lido em caracteres gregos. Aí entra a questão da vírgula, será que Jesus expressou-se pausando a sua fala antes ou depois do ‘hoje’? Se a pausa (vírgula) aconteceu depois desmantela a salvação imediata atribuída à passagem, se antes, a apoia. Muitos estudiosos da bíblia baseados em textos que descrevem as aparições de Jesus pós-crucificação preferem a vírgula depois.

         Estando a questão em aberto, como espírita, tambem prefiro a vírgula depois: “amém a ti digo hoje, comigo estarás em o paraíso”. O que permite a reencarnação como uma possibilidade lógica, justa e misericordiosa. Visto que admite tambem a salvação daqueles que estavam ali presentes à crucificação e, expandindo mais o raciocínio, a todos os que viviam naquela época e que não creram em Jesus. Muitas daquelas pessoas tinham comportamento digno e por não terem tido condições de compreenderem e aceitarem a mensagem da Boa Nova naquele momento estariam relegadas a perdição eterna, segundo algumas religiões do Cristianismo tradicional ou ao aniquilamento total de acordo com outras. Ao passo que um mal feitor, cuja vida foi voltada ao crime, apenas por um instante de arrependimento seria alçado às bem aventuranças pela eternidade e à condição de santo como no caso da Igreja Católica.

          Isso não significa que para o Espiritismo o arrependimento seja completamente nulo para quem está prestes a deixar a vida física, muito pelo contrário. A Doutrina ensina que no momento do desencarne, o arrependimento sincero, mesmo de um criminoso, permite a ele o auxílio do mundo espiritual, essa ajuda e estadia num plano espiritual melhor, onde não irá sofrer os dissabores das zonas umbralinas, quer dizer, dos planos inferiores aonde provavelmente iria; não o isenta da responsabilidade quanto aos crimes que cometeu, devendo em oportunidades futuras lutar para reparar os danos causados a todos os que fez sofrer, a sua consciência mesmo o impele a essa reparação. É quando entra a misericórdia de Deus através da reencarnação, possibilitando o resgate dos débitos contraídos pelo individuo e o seu aperfeiçoamento intelecto-moral a cada nova existência.

          O interessante, é que o texto não diz quando tiveres entrado ou quando entrares, mas, quando vieres, isto é, quando do retorno de Jesus a este mundo então transformado em seu reino. Tambem não existe a palavra que no original.

          Nós espíritas igualmente cremos nesse retorno. O planeta terra está passando por um processo de mudança, entrando na fase de regeneração e um dia transformar-se-á em um mundo perfeito, habitado por espíritos altamente evoluídos, onde não haverá mais nenhum tipo de sofrimento. Jesus sabendo que aquele homem arrependido evoluirá, como todos nós, pela fieira das vidas sucessivas, não estipula um prazo, apenas promete que um dia eles estarão juntos num mundo mais elevado simbolizado no paraíso, em que Jesus se mostrará tal qual É em sua verdadeira forma de espírito puro, governador planetário da terra.

Jefferson Moura de Lemos

[1] Bíblia Sagrada, tradução dos originais mediante a versão dos monges de Maredsous (Bélgica) pelo Centro Bíblico Católico. 42ª Edição. Editora “Ave Maria”.

[2] O Novo Testamento, João Ferreira de Almeida (Edição Revista e Corrigida) Os Gideões Internacionais.

[3] Novo Testamento interlinear grego-português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.

[4] Novo Testamento interlinear grego-português pag. 333.

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