Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Doença mental e Espiritismo

Doença mental e Espiritismo

Danilo Pastorelli*

O Espiritismo vem desde o século XIX lançando luz sobre os mais variados temas que até então pareciam insolúveis. A deficiência mental – ou a loucura – tratada de forma marginal pela ciência durante milênios, chamou a atenção do codificador lionês que lhe reservou alguns artigos na famosa Revue Spirite. Mas como deve ser encarado o problema da doença mental sob a ótica espírita? Quais os elementos envolvidos nesse processo de tanta dor? Qual o papel da família que tem em seu seio um doente? São essas algumas das questões que nos propomos abordar nas linhas que se seguem.

História e a visão materialista

Hoje em dia o termo deficiência mental é preferível à palavra loucura para designar os portadores de algum distúrbio psíquico, isso porque nas últimas décadas a doença mental tem sido tratada de forma mais racional. A classe médica e mesmo a sociedade civil em geral vem mudando a maneira como encara esse distúrbio.

Mas nem sempre foi assim. O francês Michel Foucault (1926-1984), em seu livro clássico sobre a história da loucura, estabeleceu um paralelo interessante entre a loucura e a lepra. A lepra, na Antigüidade, era objeto de exclusão e supressão de elementos da sociedade; o portador da doença era o bode expiatório culpado de causar males aos outros. Os vales dos leprosos eram lugares ermos, afastados das cidades, em que se “depositavam” todos os doentes leprosos escorraçados do convívio social comum. A loucura, sobretudo a partir da Idade Média, viria ocupar o lugar da lepra, como alvo da brutalidade dos homens ditos normais. Seria, nas palavras do autor, o novo “espantalho”, que estabeleceu com a sociedade uma relação de divisão e exclusão.

Na sociedade medieva, ou medieval, temerosa dos poderes espirituais ocultos, a doença mental passa a ser encarada como resultado da presença demoníaca, da força maligna na sua plena ação. O louco era submetido a sessões de tortura física e psicológica; não havia compreensão e um sentimento de ódio e temor rondavam a relação entre os sãos e os doentes.

O desconhecimento quase que completo, levou à busca de tratamentos antiquados e dolorosos aos doentes. A trepanação – o embrião das modernas lobotomias – consistiam na abertura de buracos nos crânios dos doentes de 2,5 a 5 cm de diâmetro, sem anestesia ou assepsia adequadas. Os “doutores” buscavam remover a pierre de folie (pedra da loucura) que acreditavam existir nos cérebros dos doentes. O que acontecia de fato é que eram feitas verdadeiras mutilações que exauriam as forças dos doentes e, por vezes, acabavam por deixar os pacientes privados de certos movimentos.

A partir do século XIX, com o nascimento da psicanálise e as importantes contribuições de Freud, a psiquiatria como um dos braços da medicina pôde avançar em alguns pontos no tratamento da loucura, mas não suficientemente. Freud, com o desenvolvimento da teoria da libido, não conseguiu dar conta do complexo problema da deficiência mental. Jung então questionou a influência capital do aparelho genésico do desenvolvimento do ser, defendido por Freud.

Os tratamentos com eletrochoque, a eletroconvulsoterapia, as convulsões induzidas por metrazol, a indução a febre, enfim, nunca foram completamente bem sucedidos no auxílio aos doentes. Tratamentos por vezes polêmicos e resultados efêmeros levaram a partir das décadas de 60 e 70 a um movimento conhecido por antipsiquiátrico, que questionava as terapias convencionais e o sistema psico-hospitalar tradicional.

Visão Espírita

O fato é que a ciência tradicional nunca soube realmente o que provocava a doença mental. Por que pessoas relativamente sãs em alguma fase da vida começavam a manifestar traços de insanidade? Por que outras já nasciam doentes? E ainda, por que tantas se curavam sem razão aparente?

A psiquiatria tem estado atada, é verdade, pelos limites do cérebro, pelas barreiras do corpo material, fonte que, sabemos, não é a origem principal da doença, mas sim a manifestação de algo que é externo a ele. Vejamos agora no que o Espiritismo contribuiu para o entendimento dessa questão.

Allan Kardec e os Espíritos da Codificação nos apresentaram um elemento primordial para o entendimento do ser humano na sua essência: o Espírito. O ser imortal; aquele que viveu e viverá inúmeras existências através das reencarnações; o ser que possui um histórico de uma vida milenar que não se restringe somente à vida presente. O Espiritismo abalou as estruturas do materialismo vigente, trouxe uma revolução no campo das idéias, inovou os conceitos religiosos e científicos. A idéia da existência do Espírito pôde explicar a gênese de muitos problemas da vida cotidiana.

Através da lei da reencarnação, explicou a questão das causas atuais e passadas das nossas aflições; que como seres imortais, somos fruto do que fizemos anteriormente. Sofremos mais ou somos mais felizes de acordo com o que viemos construindo nas nossas existências nas diversas moradas do Pai.

Uma das idéias mais importantes introduzidas pelo Espiritismo fora a da Lei de causa e efeito, emprestada de certa maneira da lei da física de ação e reação. A Lei de causa e efeito nos deu uma amplidão de visão que nos ajudou a compreender, por exemplo, que nossa vida presente é reflexo do que temos sido até hoje, inclusive de nossas vivências passadas. Nossas faltas anteriores, nossos erros passados surgem hoje como expiações; assim como nossos acertos aparecem-nos como paliativo ou recompensa na vida atual. Plantamos sementes voluntariamente e hoje somos chamados à colheita. É uma lei natural.

A loucura – ou a doença mental, como preferir – deve ser também encarada sob esse prisma, como reflexo de uma atitude passada. Como se manifesta de uma forma negativa, trazendo sofrimento tanto para o doente, como para a família, há que se concluir que seja reflexo de uma falta anterior.

Emmanuel e Joanna de Ângelis nos explicam que são várias as causas da loucura e que, quase sempre, são contraídas por faltas em uma existência anterior. O suicídio, o uso inadequado das faculdades mentais, o envolvimento exagerado com a vida mundana, ou mesmo um progresso intelectual sem a contraparte moral podem ser assinalados como causas anteriores de uma vida atual mergulhada na insanidade.

O Espírito que procedeu assim, no seu desencarne percebe que viveu de forma desequilibrada sente-se ele próprio um criminoso. No seu tribunal de consciência vê que foi causador de uma desarmonia muito grande e na aferição dos males que praticou sente-se culpado. Suas faltas todas, assim como as boas ações também, impregnaram o seu perispírito e ele vê no processo do reencarne a única forma de reparação possível. Busca um mecanismo auto-punitivo que possa absolvê-lo dos males que praticou. Sente que uma nova vida na Terra, num corpo portador de uma doença mental, poderá livrar-lhe do peso das suas ações infelizes.

No processo da reencarnação, o Espírito aplica-se-lhe de forma consciente ou inconsciente, uma punição porque deseja evoluir e sabe que para isso tem de apagar os erros cometidos no passado. Veja que não é uma punição vinda unicamente de Deus, ou um veredicto traçado por um deus vingativo, mas antes disso, um alerta da consciência do próprio Espírito que se sente faltoso com a harmonia universal, pois sabemos que ninguém se escusa da própria consciência.

A partir do momento da permissão do reencarne e a posterior fase da concepção, o Espírito passa a imprimir nas moléculas de DNA do novo corpo físico, as suas necessidades e heranças. Essas impressões materiais serão recursos propiciatórios à sua evolução. Os atos anteriores do Espírito, herdeiro de si mesmo, lhes plasmam o destino futuro e, através do seu desejo de redimir-se, aplica-se-lhe a pena necessária aos crimes que lhe pesam na economia moral.

Notemos que o Espírito não é louco, pois tem a consciência de suas faltas e deseja repará-las. É certo que há Espíritos que têm de ser submetidos a uma reencarnação compulsória, mas mesmo nesses casos o Espírito não é louco, e sim terá em mãos um corpo que não lhe permitirá manifestar todas as suas faculdades.

Na nova vida encarnada a doença poderá manifestar-se desde o nascimento ou poderá ser desencadeada por uma aparente causa material: uma fixação, um trauma, um estresse ou mesmo uma decepção. O que devemos saber é que em ambos, o gérmem da doença mental já estava registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais simples, passando pelo mongolismo, pela demência, pela esquisofrenia: a gênese é sempre espiritual.

Outro aspecto que temos de considerar é a loucura desencadeada por um processo obsessivo, que também tem por causa um ato anterior. A obsessão é um mecanismo de cobrança do ser desencarnado em relação ao encarnado. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz, agora em papéis trocados. O obsessor acredita que sua má influência e vingança do ofensor encarnado se livrará da dor que carrega, influência essa que pode inclusive levar o obsediado a um diagnóstico equivocado de deficiência mental. Com a devida terapia espírita, mudança de comportamento do encarnado, reforma íntima e amor dos companheiros mais próximos é quase certo que a cura total é possível nesses casos.

A doença mental é expiação ou prova também para os pais que podem ter sido coadjuvantes nas faltas desses espíritos. Eles são agora testados e deverão aplicar todo o amor possível na convivência com o doente, sendo responsáveis pelo ser débil que os acompanha. Sabemos que a cura total é quase sempre impossível porque consta do plano reencarnatório da criatura, mas a dor tanto do doente quanto da família pode ser suavizada se tivermos em mente que nunca estamos sozinhos; se confiarmos e termos a figura divina como nosso norte, espíritos amigos estarão sempre nos inspirando e colaborando em nossa caminhada.

A terapêutica espírita no tratamento da loucura é essencialmente preventiva, pois sugere a resignação ante as vicissitudes da vida que poderiam causar o afloramento da doença. O auto-conhecimento, a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal de cada um constituem meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer um de nós pode ser doente em potencial.

O auto-conhecimento tão bem aplicado por Santo Agostinho é uma das chaves mestras na prevenção de toda e qualquer doença. A auto-observação no dia-a-dia, na busca constante de identificar os pontos a serem melhorados, as fraquezas e más tendências são elementos importantes para assegurar a qualidade de vida. A proposta de renovação íntima, de transformação moral, da mudança dos hábitos mentais, da substituição do pensamento negativo pelo positivo são ferramentas de prevenção ditados pelo Cristo e renovados pelo Espiritismo.

A fé e confiança em Deus deverão nos dar uma natural resignação ante as tribulações cotidianas e o Espiritismo nos faz lembrar que a vida na Terra é sempre passageira; que se passarmos por tudo de forma equilibrada uma sorte mais feliz nos aguardará no plano espiritual.

Se olharmos para a vida eterna do Espírito que somos, veremos que passamos hoje apenas uma fase passageira nessa existência. Que a cruz, embora possa parecer demasiado pesada, pode ser perfeitamente carregada se tivermos força e confiança na providência divina. Todo esforço será recompensado e aos olhos do Pai, cada gota de suor será computada no final.

Nunca há injustiça alguma vinda do céu. Encaremos as dificuldades como oportunidades de progresso. Essa é a proposta do Espiritismo.

Bibliografia

FOUCAULT, M.J.P. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978.
FRANCO, D. P. (Jonna de Ângelis – Espírito). No rumo da felicidade. Santo André: Ed. Centro Espírita Dr. Bezerra de Menezes, 2001.
FRANCO, D. P. (Jonna de Ângelis – Espírito). O ser consciente. Salvador: Centro Espírita Caminho da Redenção, 1993.
KARDEC, A. Revista Espírita. Sobradinho: Edicel. (1890, 1861, 1863, 1864 e 1865).
XAVIER, F.C. (Emmanuel – Espírito). Religião dos Espíritos.
XAVIER, F.C. (André Luiz – Espírito). Ação e reação. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
*O autor é atuante no movimento espírita em Ribeirão Preto/SP, coordenador de grupo de estudos e de reunião mediúnica na Sociedade Espírita Unificação Kardecista, além de Historiador formado pela UNESP/Franca e Mestrando em Economia pela UNESP/Araraquara.

Conduta Espírita ante as tribulações

C- Leda Maria Flaborea

Espiritismo
ledaflaborea@uol.com.br

A Doutrina Espírita esclarece-nos aspectos importantes de nossa trajetória nesse mundo, qual seja:

- tudo o que plantamos, colhemos. Portanto, somos responsáveis pelos nossos pensamentos, palavras e ações, e por todas as mentes externas que atraímos em razão dos nossos sentimentos, ainda, tão desarmonizados ante as Leis de Deus. É a aplicação prática da Lei de Sintonia, das afinidades entre os que se atraem.

- que com isso, criamos um quadro de resgates que necessitamos liquidar a fim de nos harmonizarmos com nossa própria consciência.

- que, se não podemos fugir da Lei de Ação e Reação ou Lei de Causa e Efeito, podemos, todavia, escolher de que forma iremos vencer todas as dificuldades que nos cercam a existência.

Apresentam-se, assim, dois caminhos: Um, de otimismo, de fé na Providência Divina e na assistência dos bons Espíritos, de esperança e de confiança em nós mesmos, pois sabemos ser filhos de Deus com infinitas capacidades para vencer – em cada fase da nossa evolução – as dificuldades inerentes a ela. O outro, é o caminho da revolta ante os problemas que nos afligem, pela não aceitação de que somos os únicos agentes desses tropeços pelos quais passamos nesta encarnação; de desesperança; de atitudes que remetem aos outros as responsabilidades que são só nossas pelas próprias desventuras.

O primeiro, é o bem sofrer, já que é inevitável essa condição frente o que determina a Lei. O outro, é o mal sofrer cujas atitudes levam a um aumento das aflições que já possuímos, acrescentando ao sofrimento já existente um quadro de desequilíbrios forjado por nós mesmos, frutos das nossas escolhas equivocadas pela destemperança, caprichos e desejos de todas as ordens. Dois caminhos, uma escolha.

Jesus nos ensina que quando começamos a entender o valor educativo das aflições, nossa mente se eleva aos planos mais altos da vida. No início, essas corrigendas doem e as experiências pelas quais necessitamos passar, como alunos reprovados que necessitam refazer o ano, machucam-nos a alma. Mas, se conseguimos vencer as primeiras provas, as lutas que se seguirão serão consideradas, por nós, como alimento espiritual, porque entendemos que só através do trabalho diário contra as imperfeições é que se dará a melhora como criaturas de Deus que somos. Todo Espírito consciente esforça-se e luta, adverte o Evangelho, num trabalho individual, intransferível e absolutamente solitário.

Então, o que Jesus pretendeu ensinar quando disse: “Bem-Aventurados os aflitos porque deles é o Reino dos Céus?” Não estava se referindo, certamente, àqueles que desanimam diante das dificuldades como forma constante de conduta. Deus que é justo não poderia oferecer, através de Jesus, o Seu Reino de Paz, o mundo de felicidade plena àqueles que não têm coragem, que não perseveram e que se revoltam diante dos Seus desígnios. Se Ele recompensa quem luta para vencer as dificuldades, não poderia premiar a quem foge dela. Ele não tem dois pesos e duas medidas.

E se não temos essa coragem, onde buscá-la? O próprio Jesus nos convida quando diz: “Vinde a mim vós todos que estais atribulados e eu vos aliviarei”. Assim, buscando Jesus na prece, acreditando que não há órfãos na Criação e que somos capazes de vencer essas dificuldades, - certamente com muito esforço - torrentes de bênçãos cairão sobre nós, encorajando-nos, sustentando-nos a prosseguir na jornada sem esmorecimento, sem fraquejar.

Temos ouvido, frequentemente, que Deus não dá a carga maior do que aquela que podemos carregar, e parece que não acreditamos muito nisso, pois estamos sempre nos queixando de que nossos problemas são maiores que os dos outros, ou que são insolúveis, ou que somos abandonados por Ele.



A Doutrina Espírita ensina que só trazemos débitos que podemos resgatar, mesmo que queiramos mais para apressar nossa evolução. Isto porque, quando retornamos ao corpo material, nos esquecemos, temporariamente, dos compromissos assumidos e, bombardeados pelas tentações da matéria, quase nunca conseguimos cumprir todo nosso programa reencarnatório. Assim, se a nossa carga é proporcional às nossas forças, a recompensa pelo nosso esforço também será proporcional aos resultados que obtivermos nas nossas lutas.

Refletindo sobre isso, podemos entender porque a vida é cheia de tribulações. É que a recompensa pelos esforços deve ser merecida. Se não há tribulações, não há luta. Se não há esforços, não há recompensa. E se assim não fosse, como poderia Deus avaliar nossa conduta? Travamos verdadeiros combates contra nós próprios, buscando nos tornar melhores a cada dia, combates esses muito maiores do que aqueles vividos em um campo de batalha, conforme nos esclarece o Evangelho. Convida-nos a pensarmos sobre isso, alertando para o seguinte: O homem que vence a si próprio e aprende a dominar sua cólera, seus impulsos de impaciência, seu desespero não recebe nenhuma medalha por isso, mas Deus lhe reserva um lugar glorioso, pois é recebido como um grande soldado, que pode dizer: “Fui mais forte, pois venci a mim mesmo”.

E Emmanuel, amado Instrutor Espiritual, adverte-nos, ainda, com a seguinte frase: “Não te perturbes, pois, diante da luta, e observa. O que te parece derrota, muita vez é vitória. E o que te afigura em favor de tua morte é contribuição para o teu engrandecimento na vida eterna”.³ Não basta, assim, sofrer, simplesmente, para ascender à glória espiritual ¹, pois no cadinho das experiências, todos sofrem. Como nada existe de inútil no Universo, perguntemo-nos: “O que Deus quer que eu aprenda com isso?”, e busquemos a resposta no fundo de nossas próprias consciências.

Bibliografia

1 - Emmanuel (Espírito) – Vinha de Luz – [psicografado por] F.C.Xavier, 14. ed., Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita Brasileira, 1996 - lição 80.

2 – Idem – lição 118

3 – Emmanuel (Espírito) – Fonte Viva – [psicografado por] F.C.Xavier, 16. ed., Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 1988- lição 16.

4 – KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap 5 – item 18.

TRIBULAÇÕES

TRIBULAÇÕES

"Também nos gloriamos nas tribulações.
" - Paulo. (ROMANOS, 5:3.)
Comentando Paulo de Tarso os favores recebidos do Plano Superior, com muita propriedade não se esquecia de acrescentar o seu júbilo nas tribulações.

O Cristianismo está repleto de ensinamentos sublimes para todos os tempos.

Muitos aprendizes não lembram o apóstolo da gentilidade senão em seu encontro divino com o Messias, às portas de Damasco, fixando-lhe a transformação sob o hálito renovador de Jesus, e muitos companheiros se lhe dirigem ao coração, mentalizando-lhe a coroa de espírito redimido e de trabalhador glorificado na casa do Pai Celestial.

A palavra do grande operário do Cristo, entretanto, não deixa margem a qualquer dúvida, quanto ao preço que lhe custou a redenção.

Muita vez, reporta-se às dilacerações do caminho, salientando as estações educativas e restauradoras, entre o primeiro clarão da fé e o supremo testemunho. Depois da bênção consoladora que lhe reforma a vida, ei-lo entre açoites, desesperanças e pedradas. Entre a graça de Jesus que lhe fora ao encontro e o esforço que lhe competia efetuar, por reencontrá-lo, são indispensáveis anos pesados de serviço áspero e contínua renunciação.

Reparemos em nós mesmos, à frente da luz evangélica.

Nem todos renascem na Terra, com tarefas definidas na autoridade, na eminência social ou no governo do mundo, mas podemos asseverar que todos os discípulos, em qualquer situação ou circunstância, podem dispor de força, posição e controle de si próprios.

Recordemos que a tribulação produz fortaleza e paciência e, em verdade, ninguém encontra o tesouro da experiência, no pântano da ociosidade. É necessário acordar com o dia, seguindo-lhe o curso brilhante de serviço, nas oportunidades de trabalho que ele nos descortina.

A existência terrestre é passagem para a luz eterna. E prosseguir com o Cristo é acompanhar-lhe as pegadas, evitando o desvio insidioso.

No exame, pois, das considerações paulinas, não olvidemos que se Jesus veio até nós, cabe-nos marchar desassombradamente ao encontro dEle, compreendendo que, para isso, o grande serviço de preparação há de ser começado na maravilhosa e desconhecida "terra de nós mesmos".

XAVIER, F. C. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1971, capítulo, 142.

As Provas e Expiações como mecanismos evolutivos

As Provas e Expiações como mecanismos evolutivos

Um dos princípios da Doutrina Espírita é a reencarnação, entendida pelos orientadores espirituais como  necessária à evolução humana, pois  “uma só existência corpórea é claramente insuficiente para que o Espírito possa adquirir todo o bem que lhe falta e de desfazer de todo o mal que traz em si.”[1]

Para nos auxiliar no processo ascensional, Deus nos concede o livre arbítrio, uma vez que,  se o homem  “(…) tem liberdade de pensar, tem também a de agir. (…).”[2] Podemos, então, afirmar que o ser humano é o árbitro do seu destino e que cada escolha, independentemente das suas motivações ou justificativas, acionam a lei de causa e efeito em qualquer plano de vida que se situe: o físico ou o espiritual.

 O uso do livre arbítrio são ações que provocam reações, no tempo e no espaço. As boas escolhas produzem progresso evolutivo, enquanto as escolhas infelizes geram provações  ou  expiações que se configuram como mecanismos evolutivos, moduladores da lei de causa e efeito,  claramente consubstanciada no planejamento reencarnatório de cada indivíduo. Daí Emmanuel afirmar: “A lei das provas é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos benefícios divinos.”[3]

Para melhor compreensão do assunto, Emmanuel especifica também a diferença que há entre  prova (ou provação)  e  expiação: “A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é pena imposta ao malfeitor que comete um crime.”[4]

Percebe-se, portanto, que a prova assemelha-se a uma corrida de obstáculos que tem o poder de impulsionar o progresso humano. As provas sempre existirão, mesmo para Espíritos superiores,  por se tratarem de desafios evolutivos.   A expiação, contudo, representa uma contenção  temporária da liberdade individual, necessária à reeducação do Espírito que, melhor utilizando o livre arbítrio, reajusta-se  às determinações das leis divinas.

As provações podem ser difíceis, não resta dúvida,  mas,  por seu intermédio, o Espírito é colocado em situações que o afasta do estado de inércia em que ora permanece ou se compraz, proporcionando-lhe, ao mesmo tempo,  oportunidades para  que ele possa trabalhar a melhoria das suas atuais condições de vida.

Nas expiações, o Espírito vê-se colocado  prisioneiro das más ações cometidas, pelo uso indevido do livre arbítrio.  Para que não se prejudique mais, renasce sob processos de contenção que, obviamente, produzem sofrimentos, sobretudo se o ser espiritual ainda não consegue apreender o valor da dor como instrumento de educação e  cura espirituais.

Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec lança outras luzes a respeito do tema, quando explica que o arrependimento das faltas cometidas é o elemento chave para liberar o Espírito das provações dolorosas e das expiações. O Codificador, assim se expressa:

 Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa.(Grifos no original)[1]

 Nesses termos, a libertação do Espírito, ou reparação, indica ser a etapa final da expiação porque, perante os códigos divinos, não nos é suficiente expiar uma falta, é preciso anulá-la, definitivamente, da vida do Espírito imortal, pela prática do bem:

 A reparação consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á  numa existência posterior em contato com as mesmas pessoas a quem prejudicou, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes o seu devotamento, e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito.[2]

Referências

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2009.
__________. O Livro dos Espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28ª ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2008
[1] Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. III, it. 9, pág. 49.

[2] Idem. O Livro dos Espíritos. Q. 843, pág. 507.

[3] Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Q. 245, pág. 201.

[4] Ibid., q. 24, pág. 201.

[5] Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. VII – Código penal da vida futura -, q.16ª, pág. 126.

[6] Ibid., q. 17ª, p. 12.

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA
“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.”

(TIAGO, 4: 8.)

Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.
O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.
Em regra geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas, necessitadas de retificação.
Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.
Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da auto-disciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão-somente à custa de palavras brilhantes.

MINHA REFLEXÃO
Os habitantes da Terra somos a parcela da humanidade munida de notável progresso intelectual como também de grave imperfeição moral. Não somos Espíritos de primeira viagem. A nossa afeição às más paixões tem retardado o refazimento. O gozo da felicidade prometida por Jesus exige de nós a vontade de “lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e contra a inclemência da natureza, duplo trabalho penoso que desenvolve, a uma só vez, as qualidades do coração e as da inteligência.”, esclarece Santo Agostinho (O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), cap. 3, Item 15).
No manejo dos fatos referentes a Jesus e ao Cristianismo nos colocamos com certa desenvoltura, mas devemos compreender que não é nesse tipo de desempenho que reside a nossa aceitação ao Cristo. Jesus espera que possamos lançar mãos de nossa inteligência a serviço da bondade. Tudo que fizermos seja no sentido da submissão do orgulho que nos afasta dos irmãos, porque impõe a personalidade egoística em sacrifício do bem comum, produzindo imensas” misérias sociais”.
As sarças que, em encarnações várias, temos plantado, testemunham a dureza de coração, cuja purificação, sentencia Emmanuel, exigirá “autodisciplina, compreensão fraternal e espírito de sacrifício.”
Conforme Lázaro (ESE, cap. 11, item 8), “O Espírito deve ser cultivado como um campo: toda a riqueza futura depende do labor presente, e mais do que bens terrestres, vos levará à gloriosa elevação;”
Sigamos, fortalecidos no amor de Jesus, para realizarmos, em nós e na Terra, a vontade do Divino pai.
 Luz e Paz!
Lourença

A pureza do coração

A pureza do coração
 
“Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (Samuel 16:7).


Entre os antigos egípcios, o coração simbolizava a dimensão moral e espiritual que, aliás, se complementam, sendo identificado como órgão único da vida material e também como centro da vida espiritual. É do coração que jorra a fonte cristalina da vida, segundo um texto gravado em uma pirâmide do Alto Império. Por isso que no ritual de mumificação dos mortos era o único órgão preservado e, depois, recolocado no corpo. Como centro da vida moral, as ações humanas nascem do coração e lá também se depositam para o bem, ou para o mal. Tanto que o nosso coração necessita ser purificado através das boas emoções pautadas no amor e na caridade cristã, como vemos nos Salmos: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável” (51:10).

Os egípcios diziam que a mente/alma (BA) era uma entidade invisível e imortal que seria julgada após a morte do corpo pelos seus atos durante a vida. O coração, órgão que servia de sede para a alma, era capaz de recordar tudo o que foi feito enquanto vivo. Na morte, o coração seria pesado contra uma pluma e conforme seu peso a pessoa seria julgada culpada ou inocente. Durante a cerimônia da pesagem do coração era decidido se o sujeito seria mandado para o paraíso ou serviria de alimento para a figura mitológica parecida com um crocodilo chamado de Devorador.

Para os antigos semitas, o coração não é somente o órgão indispensável para a vida do corpo: ele é o centro de toda vida psicológica e moral, da vida interior.

Sendo o foco das faculdades espirituais e da vida moral, o coração é sede da sabedoria, da memória, da vontade, das disposições da alma, das paixões e sentimentos, dos desejos, da consciência. No sentido transcendental e religioso, é pelo coração que o homem forma e constitui o reino celestial, ligando-se ao Criador e com todo o universo, fazendo morada dos nobres sentimentos. Toda a mensagem do Cristo se resume no amor e o coração é o símbolo máximo do Cristianismo. Os nossos corações podem encontrar paz em saber que tudo está sob o controle do Criador, diz o apostolo amado João Evangelista: “Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração; porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas” (3:19-20).

Já os gregos antigos, por meio de textos como os de Homero, Hesíodo e Ésquilo, observando o cardiocêntrica, em que o termo kardia coloca o universo expressando o movimento e ação em constante transformação e evolução, identificam o indivíduo na sua integralidade.

Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que o coração era o órgão do pensamento, das percepções e do sentimento, enquanto o cérebro seria importante para a manutenção da temperatura corporal, agindo como um agente refrigerador. Segundo ele, os nutrientes subiriam pelos vasos sanguíneos e, uma parte deles, uma espécie de refugo, seria resfriada no cérebro, transformando-se em líquido, de uma forma semelhante à que ocorre com a água na natureza, quando se forma a chuva. Ao contrário, o filósofo Platão dizia que a alma se encontrava no cérebro.

Platão colocava que é pelo cérebro que se experimenta de maneira sensível a ação de pensar, atividade superior por excelência e definidora da essência humana, enquanto ser racional. Já o coração, Platão dizia que é a “alma sensitiva” ou “emocional”, o princípio dos sentimentos e paixões como a cólera ou a coragem.  Tal noção significou um divisor de águas na história das concepções sobre o coração humano.
 
Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, na questão 146, pergunta: A alma tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita?

Resposta: Não. Mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando todas as suas ações à humanidade.

Tanto Platão como Aristóteles tinham razão, a alma se encontra mais particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais, contribuindo assim para o progresso da humanidade, repartindo seus talentos para o bem-estar do próximo.

A verdade é que a evolução só ocorre com a dedicação da caridade de todo nosso coração. O apóstolo Paulo diz: “Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Romanos 6:17). Ainda acrescenta: “Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (Coríntios, 2:9).

Santo Agostinho, em suas reflexões filosóficas e teológicas, diz que o coração tende a ser compreendido em um sentido metafórico enquanto imagem de alma ou espírito, na esfera mais existencial e mística de sua obra, particularmente em suas Confissões, o termo coração aparece com insistente frequência, significando a intimidade mais profunda da pessoa, a palavra “pela qual se define a individualidade de nosso ser”. Tanto que ele diz: “Com o coração se pede. Com o coração se procura. Com o coração se bate e é com o coração que a porta se abre”.
O coração renovado é um ser reformado, regenerado e transformado; não nos referimos ao órgão do corpo humano, mas sim à alma, sede das emoções, dos sentimentos, pensamentos e vontade. Um coração sem culpa, trauma, dor, ressentimento, mágoa e tristeza. Os Upanishades, escrituras hindus, dizem que: “Quando o uso dos sentimentos é purificado, o coração se purifica. Quando o coração é purificado, existe uma constante lembrança do Eu superior. Quando existe uma constante lembrança do Eu superior, todos os vínculos são desfeitos e a liberdade espiritual é alcançada”. O hinduísmo ainda diz que: “Dentro da cidade de Brahman, que é o corpo, existe o coração, e dentro do coração existe uma pequena casa. Essa casa é como um lótus. Dentro dela mora aquilo que deve ser procurado, investigado e percebido”.

Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo VIII, item 7, temos que: “a pureza de coração e a pureza de pensamentos caminham juntas. Só é puro de coração quem é puro de pensamentos. Se o pensamento é torpe, o coração não pode ser puro. Significa dizer que a pureza, reflexo de um sentimento acrisolado, teve seu nascedouro no pensamento puro”.

Por isso diz Jesus em seu Evangelho: “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mateus 5:8); a palavra “puro” na língua grega tem a mesma raiz da palavra “catarse”. Quando entramos num processo de catarse, passamos por uma experiência bela e profunda, num mecanismo de autoanálise, como se fizéssemos uma faxina, limpando e removendo qualquer impureza e toda sujeira mental impregnada nas entranhas da alma.

Para termos um coração puro, um coração purificado pela reforma que regenera nosso modo de vida, mais do que um corpo puro, Jesus exige um coração puro, uma mente pura, liberta das escravidões. Por isso ele dizia: “Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele... Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mateus 15,10: 19). Os puros de coração agem por amor, pelas virtudes nobres, verão a Deus porque reconheceram suas leis, ou seja, receberão o dom da Inteligência, ou melhor, da sabedoria divina.

O coração para muitas correntes espiritualistas é tido como o centro da personalidade, sendo a sede dos afetos, das emoções e da boa vontade, criando o homem na sua totalidade. Jesus dizia que a pureza através da mansidão deveria fazer parte da rota que guia nossas vidas, começando em cada pequena atitude, como em nossos pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade.

Do coração também procedem todas as nossas dificuldades; o Mestre dizia: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19). O meio ambiente pode nos influenciar, quando a nossa alma é tendenciosa.

Procedem também do coração todas as belezas, a justiça, a misericórdia, o amor e a caridade; o coração é fonte da nobreza altruísta, é luz que ilumina o desânimo, a descrença, a discórdia, a revolta e a frustração. O homem deve guardar em seu coração a pureza, a mansidão, a humildade, cultivando a prece e vigiando seu comportamento perante o próximo. O rei Davi orou: “Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença”.

Às vezes vemos a prática de alguns comportamentos que parecem ser puros, mas no fundo esta pureza exterior pode ser apenas aparente, mascarando nossas verdadeiras intenções, mas Deus não vê a aparência, e sim o coração. Jesus condenou a hipocrisia dos fariseus que mantinham uma santidade exterior, mas eram impuros por dentro. Limpavam o exterior do copo, mas havia sujeira dentro. Eram como sepulcros caiados (Mateus 23:25, 27). Os fariseus eram bons apenas na aparência. Por isso Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos céus” (Mateus 5:20).

O coração é morada do Criador, dele procede o maior espetáculo da vida, chamado amor. O corpo é o templo do espírito, o coração é o palco sagrado da caridade. “Deus habita com o abatido e contrito de coração” (Isaías 57:15). “O coração puro é o paraíso de Deus, onde ele se deleita em habitar” (Efésios 3:17).

O codificador Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, na questão 108, pergunta: Qual é a sede da alma?

– A alma não está, como geralmente se crê, localizada num particular do corpo; ela forma com o perispírito um conjunto fluídico, penetrável, assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte não é, de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasião um deles é destruído, ao passo que o outro subsiste. Durante a vida a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-se ao longe e aí manifestar sua presença, como o provam a observação e os fenômenos sonambúlicos.

EDUARDO AUGUSTO LOURENÇO
eduardoalourenco@hotmail.com
Americana, São Paulo (Brasil)

Limpar a Mente

Limpar a Mente

Autor: Miramez (espírito)

Os bons costumes tornam a mente límpida e clareiam o verbo, enriquecendo-o, para que os ouvintes sejam estimulados ao exercício do bem eterno. A poluição mental turva a consciência e conturba o raciocínio, deixando a alma trôpega no vaso da carne. O homem civilizado não tem o costume diário de higienizar o corpo? Pois a mente, na verdade, tem grande necessidade de limpeza, tanto quanto o corpo, por ser o centro da vida que comanda todo a massa somática.

E esse trabalho começa como a chuva: divide-se em bilhões de gotículas, mas farta a humanidade e a natureza, limpa a atmosfera e destampa as minúsculas aberturas das árvores, de onde promana o oxigênio puro, no vigor da própria existência. Assim, a chuva, para a mente, há de surgir nessas mesmas proporções: bilhões ou trilhões de pequenos esforços, somando uma torrente de energias vivas, conduzindo todo o entulho da consciência por canais apropriados. E a pureza do raciocínio faz nascer um clima enriquecido para as belezas imortais do amor, da alegria e da fraternidade. Sugestiona o ser à procura de Deus e a obedecer às leis.

A castidade mental é obra de grande importância para a nossa supremacia espiritual, sem as sutilezas da arrogância e as manobras do orgulho. Devemos nos esforçar todos os dias, a partir do momento em que nos alistamos no exército do Cristo. Como espíritos, mesmo no mundo, mas à procura da luz, compreendamos, na urgência das nossas necessidades, que renovação é tema central da alma - ovelha que reconhece o pastor, atendendo os seus magnânimos convites, pela inteligência e pelo coração.

A elegância dos pensamentos ajusta o meio ambiente em que viveis, para chamados fraternos e para uma conversação sadia, desamarrando do núcleo da vida, a expressão do amor, de modo a participar, na mesma freqüência, a razão. Para que tudo isso se faça, o esforço próprio é imprescindível, dia a dia. A auto-educação haverá de se processar passo a passo, e a vigilância deve arregimentar todas as forças possíveis nessa imensurável batalha que somente termina na pureza espiritual, para começar outros labores, em escalas que escapam ao raciocínio humano.

A vida é um turbilhão de vidas sucessivas, que se associam por lei de esforços e de obediências correlatas. No homem, o começo do sofrimento é princípio de maturidade. É, pois, a força do progresso atingindo a sua farda física, para que o corpo espiritual se atualize nas necessidades maiores. Os grandes golpes na alma clareiam seu caminho para certas mudanças na arte de viver melhor.

Escrevemos para todos, é certo. No entanto, endereçamos nossas mensagens, com mais intimidade, aos despertos, aos companheiros conscientes dos seus deveres ante a escalada do Mestre. Se começais hoje a vos renovar na vida que levais, amanhã sereis torturados impiedosamente pelas forças contrárias, donde resulta a desistência de muitos estudantes da verdade, por ignorarem que o ataque, a maledicência, a injúria, o desprezo são outras tantas forças do bem, revestidas aparentemente de inimigos. Todavia, o que Jesus disse nos conforta sobre maneira: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”.

Associemos nossos esforços aos regimes das leis de Deus, respeitando-as em todas as suas nuances. Se algo faltar de nossa parte, nunca haverá de ser a persistência, como onda de luz a transformar as nossa boas intenções em realidades.

Higienizemos a nossa mente, sem afrontá-la agressivamente. A experiência nos aconselha que o trabalho paciente e constante vencerá obstáculos que se nos afiguram em posição irremovível. Na verdade, a mente plasma o que os olhos vêem, como máquina fotográfica pronta para disparar tendo em mira o objetivo visado. Não obstante, poderemos fechar o diafragma. Assim sucede com os ouvidos, assim se processa na formação das idéias. Orar e vigiar é atitude certa para que a mente não se suje mais. E o trabalho de limpeza deve ser eficiente, diminuindo a carga corrosiva acumulada em muitos séculos. Um pouco de boa vontade vos colocará, com habilidade, nesse saneamento, e o conceitos que propomos nesse livro são, um tanto um quanto, companheiros da limpeza espiritual, convidando a todos para a libertação.

Livro: Horizontes da Mente, psicografado pelo médium João Nunes Maia.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

NO MAR DA VIDA

NO MAR DA VIDA

Ah, que bom seria se nunca fraquejássemos, mas se não fraquejássemos, não saberíamos como é bom o abraço reconfortante de um amigo, a compreensão de um irmão, a benção sempre posta em nossas cabeças de um superior.
Nas adversidades da vida um sempre nos empurra e o outro nos estende a mão. Mas ambos fazem parte da nossa caminhada, da nossa evolução.
E chamamos por Jesus que há muito dormia em nossos corações.
Quando o barco da nossa vida veleja suave, desliza por águas tranquilas, quando só a brisa do mar atinge o nosso rosto e alguns pingos de água molham o nosso cabelo, quando o nosso olhar é claro e límpido, contemplando a imensidão do mar, seu azul infinito, quando sentimos só o frescor da água  ao mergulhar, a percorrer nosso corpo e nos acalmar. Saímos mais leves, a caminhar por aquela areia branca e fofa. Tudo é lindo e fascinante e nós nem agradecemos a Deus por tanta beleza.
Então Jesus dorme em nossas vidas, como se nessa hora de paz e harmonia sua presença fosse dispensável do nosso paraíso.
Ah, mas como a natureza é imprevisível e esse mesmo mar agora está revolto, ondas agitadas, raios, trovões, chuva forte e o nosso barco está à deriva, aí a primeira lembrança que temos é de Deus, de Jesus, dos Anjos, Santos, dos Bons Espíritos…
Ah, socorro; valei-me,ajude-me Jesus. Chamamos, gritamos por Ele.
Jesus desperta e nos diz:
"Ah, homens de pouca fé, vós sóis deuses, podereis fazer o que eu faço e muito mais".
E Jesus acalma o mar, dissipa os nossos problemas e nós nos envergonhamos por recorrermos a Ele somente nos momentos turbulentos de nossas vidas.
Ah, mas Jesus é compreensivo, amável, irmão e amigo.
E nós? Teimosos, orgulhosos, difíceis, mas também carentes.
Somos ainda persistentes, não desistimos com facilidade e, por mais que o deixemos dormir em nossos corações, nós o amamos, o admiramos o respeitamos. Sabemos da sua grandeza, da sua luz, do seu amor infinito para conosco. E é por confiar tanto neste amor que muitas vezes nos acomodamos.
Porém, aprendemos tudo com Ele, somos tão gratos a Ele e sempre que conseguimos o imitamos.
Somos seus irmãos, menores sim, estamos muito longe da sua evolução, mas Ele nos aceita exatamente como cada um de nós é. Nunca nos julga, nunca nos condena e sempre nos perdoa.
Jesus sabe da nossa luta para aprender,para melhorar,para evoluir,crescer, para perdoar e amar.
Sabemos que Ele é parte fundamental na nossa vida — na nossa alegria, na nossa festa, no nosso momento também de paz e harmonia. Sempre sentiremos o seu olhar carinhoso sobre nós, a sua compreensão ao nosso deslize e o seu sorriso suave com o nosso triunfo.
Ah, Senhor, nós o amamos, com todos nossos defeitos, nossas inseguranças e imperfeições. E assim como perguntaste a Pedro por três vezes se ele o amava e sua resposta por três vezes foi: "Sim senhor: eu te amo, eu te amo, eu te amo, senhor".

 Ofélia Maria

O Mar e a Vida

O Mar e a Vida



O Mar é uma farmacopéia exuberante; é a mais alta concentração energética de vida, que nos fala dos seus segredos no repassar das ondas, no rugir do seu peso descumunal e nas extensões de luzes que se intercruzam nas profundezas.

Esse colosso da natureza cura as enfermidades e tem o condão de harmonizar todos os corpos, deixando o espírito respirar na atmosfera da alegria. Nós também, os desencarnados, usamos estes recursos para o equilíbrio das nossas emoções.

Verdadeiramente, Deus paira sobre as águas; buscai-o na inspiração que verte do vosso amor e sede feliz.



Texto do Livro SAÚDE, pelo espírito Miramez.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O que os Espíritos dizem sobre destino e fatalidade?

Sobre a Fatalidade

O que os Espíritos dizem sobre destino e fatalidade?

"Estava escrito", é o que dizem. Será que estava mesmo?

No Livro dos Espíritos, no Capítulo que trata da Lei de Liberdade, os Espíritos nos orientam sobre fatalidade e destino.

Livro dos Espíritos, Livro Terceiro, As Leis Morais

Capítulo X, Lei de Liberdade

Item VI – Fatalidade

Pergunta 851 – HÁ UMA FATALIDADE NO ACONTECIMENTO DA VIDA, SEGUNDO O SENTIDO LIGADO À ESSA PALAVRA; QUER DIZER, TODOS OS ACONTECIMENTOS SÃO PREDETERMINADOS E, NESSE CASO, EM QUE SE TORNA O LIVRE ARBÍTRIO?

Resposta dos Espíritos: “A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la, ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra.

Falo das provas de natureza física, porque no tocante às provas morais e às tentações, o espírito, conservando o seu livre arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espirito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele, a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um espírito mau, ou seja, inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo, mas a vontade do espírito encarnado não fica por isso, menos livre de qualquer entrave”.
Pergunta 853: CERTAS PESSOAS ESCAPAM A UM PERIGO MORTAL, PARA CAIR EM OUTRO; PARECEM QUE NÃO PODEM ESCAPAR À MORTE. HÁ NISSO FATALIDADE?

Resposta dos Espíritos: ” Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos”.

Pergunta 853-a: ASSIM, QUALQUER QUE SEJA O PERIGO QUE NOS AMEACE, NÃO MORREREMOS SE A NOSSA HORA NÃO CHEGOU?

Resposta dos Espíritos: “Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas, quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte porque partirás daqui, e freqüentemente teu espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.”

Pergunta 859-a HÁ FATOS QUE DEVEM OCORRER FORÇOSAMENTE, E QUE A VONTADE DOS ESPÍRITOS NÃO PODE CONJURAR?

Resposta dos Espíritos: “Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste, ao fazer a tua escolha. Não acredites, porém, que tudo o que acontece esteja escrito, como se diz. Um acontecimento é quase sempre a conseqüência de uma coisa que fizeste, por um ato de tua livre vontade, de tal maneira que, se não tivesses praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria.* Se queimas o dedo, isso é apenas a conseqüência de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução.”

Pergunta 860: PODE O HOMEM, POR SUA VONTADE E POR SEUS ATOS, EVITAR ACONTECIMENTOS QUE DEVIAM REALIZAR-SE E VICE-VERSA?

Resposta dos Espíritos: ” Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, por fazer o bem, como é do seu dever e o único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior.”

Pergunta 866: ENTÃO, A FATALIDADE QUE PARECE PRESIDIR OS DESTINOS DO HOMEM NA VIDA MATERIAL, SERIA TAMBÉM RESULTADO DE NOSSO LIVRE ARBÍTRIO?

Resposta dos Espíritos: “Tu mesmo escolheste a tua prova: quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te elevas*. Os que passam a vida na abundância e no bem estar são espíritos covardes, que permanecem estacionários. Assim, o número de infortunados ultrapassa muito o dos felizes do mundo, visto que os espírtos procuram, na sua maioria, as provas que lhe sejam mais frutuosas. Eles vêem muito bem a futilidade das vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada: não é somente a dor que produz contrariedades.”



O Livro dos Espíritos está disponível no endereço http://livrodosespiritos.wordpress.com
O item em questão encontra-se no link http://livrodosespiritos.wordpress.com/leis-morais/cap-10-lei-de-liberdade/vi-fatalidade/

postado por Liz Bittar
Todos os textos, áudios e artigos do site O Que Os Espíritos Dizem têm o intuito exclusivo de estudar e divulgar a doutrina espírita. A veiculação destes materiais é livre, desde para fins de estudo, pesquisa e divulgação do espiritismo. A comercialização de qualquer um desses materiais e conteúdos é proibida. Ao inserir áudios e textos de O Que Os Espíritos Dizem no seu site, por favor lembre-se de citar a fonte (livro do qual o texto foi extraído), autoria e o endereço deste site: www.oqueosespiritosdizem.com.br. Obrigada

Desencarne por acidentes, mera fatalidade?

Pergunta de Everaldo Veloso: Gostaria que me dessem um esclarecimento sobre pessoas que morrem em acidente fatal. Meu filho de 6 anos morreu no dia 27 de setembro de 2000, quando uma carreta bateu em um muro e o muro caiu sobre ele.

A fatalidade é a doutrina que supõe que todos os acontecimentos da vida, e, por extensão, todos os nossos atos, são determinados por antecipação e submetidos a uma lei à qual não nos podemos subtrair. Destino inevitável.

A fatalidade, no sentido absoluto da palavra, faz do homem uma máquina sem iniciativa, nem livre-arbítrio e, por conseguinte, sem responsabilidade: é a negação de toda moral.

Segundo a doutrina espírita, o espírito, escolhendo nova existência e o gênero de provas que deve enfrentar, faz disso um ato de liberdade. Os acontecimentos da vida são a consequência dessa escolha e estão em relação com a posição social da existência.

A única fatalidade é o instante da morte, pois o gênero dela é ainda uma decorrência da natureza das provas escolhidas.

Por pior que seja a condição de um ser encarnado, ele conserva seu livre-arbítrio em todos os atos de sua vontade e não é fatalmente levado a fazer tal ou tal coisa, nem a sofrer tal ou tal acidente.

Não há mesmo fatalidade absoluta nas provas que são impostas por Deus, pois depende do homem modificar-lhes as consequências através da sua conduta, sua coragem, sua inteligência e sua perseverança. É o caráter do homem que torna certas coisas fatais, porque o mesmo caráter traz quase sempre as mesmas consequências. Aquele que não se sai bem em nada, deve atribuí-lo mais à sua inaptidão, ao seu falso juízo e à sua falta de energia do que à fatalidade, que lhe é apenas um meio de se desculpar a seus próprios olhos. Seria um erro acreditar que as provas impostas privam o espírito de seu livre-arbítrio.

O tipo de morte ou o que acontece com o corpo físico, no momento do desencarne ou logo após, não traz muita relevância para a situação do espírito, desde que ele já possua um certo grau de maturidade espiritual.

No caso particular de uma criança, tão mais fácil é o desencarne quanto mais jovem ela for, já que o processo de reencarne ainda não foi terminado. Nessa situação, o espírito recém-liberto será auxiliado por entidades amigas e encaminhado a lugares de apoio para que ele se prepare para uma nova encarnação, ou então que ele recupere a sua consciência (de espírito adulto) que ficou embotada no processo de ligação com a matéria.

A morte de qualquer ente querido nos traz sentimentos bastante

tristes e opressivos mas temos que manter em mente, primeiro que a separação não é definitiva, e segundo, que o espírito desencarnante nunca fica desamparado. A morte é apenas a extensão da vida física e sua continuação natural.

Na verdade, é em espírito que vivemos plenamente. No corpo físico estamos em condição de exceção, e não de regra.

Dúvidas sobre a Doutrina? Envie sua pergunta para o e-mail: divulgacao@neapa.org.br.

Autoria: 
Referências: "Definições Espíritas" de Allan Kardec. Colaboração: Hugo Puertas de Araújo e Márcia Regina Farbelow

A fatalidade e os pressentimentos.

A fatalidade e os pressentimentos.

Revista Espírita, março de 1858
INSTRUÇÕES DADAS POR SÃO LUÍS.

Um dos nossos correspondentes nos escreveu o que segue: "No mês de setembro último, uma embarcação leve, fazendo a travessia de Dunkerque à Ostende, foi surpreendida por um tempo agitado e pela noite; o barquinho soçobra, e das oito pessoas que o tripulavam, quatro perecem; as outras quatro, entre as quais me encontrava, conseguiram se manter sobre a quilha. Permanecemos toda a noite nessa horrível posição, sem outra perspectiva do que a morte, que nos parecia inevitável e da qual experimentamos todas as angústias. Ao amanhecer, tendo o vento nos levado à costa, pudemos ganhar a terra a nado.
"Por que nesse perigo, igual para todos, só quatro pessoas sucumbiram? Anotai que, por minha parte, é a sexta ou sétima vez que escapo de um perigo tão iminente, e quase nas mesmas circunstâncias. Sou verdadeiramente levado a crer que mão invisível me protege. Que fiz para isso? Não sei muito; sou sem importância e sem utilidade neste mundo, e não me gabo de valer mais do que os outros; longe disso: havia, entre as vítimas do acidente, um digno eclesiástico, modelo de virtudes evangélicas, e uma venerável irmã de São Vicente de Paulo, que iam cumprir uma santa missão de caridade cristã. A fatalidade me parece ter um grande papel no meu destino. Os Espíritos, nela não estariam para alguma coisa? Seria possível ter, por eles, uma explicação a esse respeito, perguntando-lhes, por exemplo, se são eles que provocam ou afastam os perigos que nos ameaçam?"
Conforme o desejo de nosso correspondente, dirigimos as perguntas seguintes ao Espírito de São Luís que gosta de se comunicar conosco todas as vezes que há uma instrução útil para dar:
1. Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é um outro Espírito que o afasta?
Resposta: Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a se faz uma espécie de destino, que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo de provas físicas. Conservando o Espírito no seu livre arbítrio, sobre o bem e o mal, é sempre o senhor para suportar ou repelir a prova; um bom Espírito, vendo-o enfraquecer, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir, sobre ele, de maneira a dominar a sua vontade. Um Espírito mau, quer dizer, inferior, mostrando-lhe, exagerando-lhe um perigo físico, pode abalá-lo e amedrontá-lo, mas, a vontade do Espírito encarnado não fica menos livre de todo entrave.
2. Quando um homem está no ponto de perecer por acidente, me parece que o livre arbítrio nisso não vale nada. Pergunto, pois, se é um mau Espírito que provoca esse acidente, que dele é, de algum modo, o agente; e, no caso em que se livra do perigo, se um bom Espírito veio em sua ajuda.
Resposta: O bom Espírito ou o mau Espírito não pode senão sugerir bons ou maus pensamentos, segundo a sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando a tua vida é posta em perigo, trata-se de uma advertência que tu mesmo a desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tomares melhor. Quando tu escapas desse perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, segundo a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tomares melhor. O mau Espírito sobrevindo (digo mau subentendendo que o mal ainda está nele), pensas que escaparás do mesmo modo de outros perigos e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem.
3. A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossas vidas seria, pois, ainda o efeito do nosso livre arbítrio?
Resposta: Tu mesmo escolheste tua prova: quanto mais ela é rude, melhor tu a suportes, mais tu te elevas. Aqueles que passam sua vida em abundância e na felicidade humana, são Espíritos frouxos que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados sobrepuja em muito o dos felizes desse mundo, tendo em vista que os Espíritos procuram, em maior parte, a prova que lhes será a mais frutífera. Eles vêem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vossas alegrias. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, não seria isso senão pela ausência da dor.
4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos têm uma ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa sobre uma ponte, essa ponte se desmorona. Que impeliu o homem a passar nessa ponte?
Resposta: Quando um homem passa sobre uma ponte que deve se romper, não é um Espírito que o conduz a passar nessa ponte, é o instinto do seu destino que para lá o leva.
5. O que fez desmoronar a ponte?
Resposta: As circunstâncias naturais. A matéria tem nelas suas causas de destruição. No caso do qual se trata o Espírito, tendo necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forcas naturais, recorrerá antes à intuição espiritual. Assim tal ponte adiante se rompe, a água tendo desconjuntado as pedras que a compõe, a ferrugem tendo corroído a corrente que a suspenda, o Espírito, digo eu, ensinará antes ao homem para que passe por essa ponte do que fazer romper uma outra sob seus passos. Aliás, tendes uma prova material do que eu adianto: qualquer acidente que chegue sempre naturalmente, quer dizer, de causas que se ligam umas as outras, e se conduzem insensivelmente.
6. Tomemos um outro caso no qual a destruição da matéria não seja a causa do acidente. Um homem mal intencionado atira sobre mim, a bala me roça, não me atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?
Resposta: Não.
7. Os Espíritos podem nos advertir diretamente de um perigo? Eis um fato que parece confirmá-lo: uma mulher saía de sua casa e seguia pela avenida. Uma voz íntima lhe diz: Vai-te; retorna para tua casa. Ela hesita. A mesma voz se faz ouvir várias vezes; então, ela volta sobre seus passos; mas, reconsiderando-se, ela se diz: que vou fazer em minha casa? Dela saí; é sem dúvida um efeito de minha imaginação. Então, ela continua o seu caminho. A alguns passos dali, uma viga que se soltou de uma casa, atinge-lhe a cabeça e a derruba inconsciente. Qual era essa voz? Não foi um pressentimento do que ia acontecer a essa mulher?
Resposta:  A do instinto; aliás, nenhum pressentimento tem tais caracteres: sempre são vagos.
8. Que entendeis pela voz do instinto?
Resposta:  Entendo que o Espírito, antes de se encarnar, tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas têm um caráter saliente, delas conserva uma espécie de impressão no foro íntimo, e essa impressão, despertando quando o momento se aproxima, torna-se pressentimento.
Nota. As explicações acima reportam-se à fatalidade dos acontecimentos materiais. A fatalidade moral está tratada, de modo completo, em O Livro dos Espíritos. (A.K.)

FATALIDADE E DESTINO

UMA LIGEIRA REFLEXÃO SOBRE A LEI DE CAUSA E EFEITO

Na vida humana, tudo tem uma razão de ser, nada ocorre por acaso, ainda mesmo quando as situações se nos afigurem trágicas. O recente acidente aéreo, ocorrido com o Airbus da TAM, que se chocou contra um prédio da empresa, ao lado do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, no dia 17 de julho de 2007, parece-nos um evidente episódio de resgate coletivo.


Muitos desses acertos de contas são demonstrados pelos Espíritos, em diversas obras da literatura espírita. André Luiz narra um desastre aéreo, em que o piloto, confuso pelo denso nevoeiro, não pôde evitar o choque da grande aeronave, espatifando-se contra a montanha. Neste caso, um instrutor espiritual comenta que “as vítimas certamente cometeram faltas em outras épocas, atirando irmãos indefesos da parte superior de torres altíssimas para que seus corpos se espatifassem no chão; suicidas que lançaram-se de altos picos ou edifícios, que por enquanto só encontraram recursos em tão angustiante episódio para transformarem a própria situação”. (1)


Quanto aos parentes mais próximos das vítimas, como inseri-los no contexto dos fatos? Pela lógica da vida, eles (os parentes, sobretudo os pais), muitas vezes, foram cúmplices de delitos lamentáveis no passado, e, por isso, necessitam passar por essas penas, entronizando-se, aqui, a idéia de que o acaso não existe na concepção espírita.


Como entender a magnanimidade da Bondade de Deus e o ensinamento do Cristo, ante as mortes coletivas, ocorridas em l961, naquele patético incêndio do “Gran Circus Norte-Americano”, em Niterói? Como compreender os óbitos registrados no terremoto que atingiu a cidade histórica de Bam, no Irã, no final de 2003? Como explicar o acidente com o Boeing da Flash Airlines, que ocorreu no Egito, provocando a morte de 148 pessoas que estavam a bordo daquela aeronave, em 3 de janeiro de 2004? Qual o significado dos que foram tragados pelas águas do Tsunami, tragédia, cujas dimensões deixaram o mundo inteiro consternado? O que pensar, ainda, sobre o naufrágio do Titanic, transatlântico que transportava cerca de 2.200 pessoas? O que dizer das quase 3.000 vítimas decorrentes do ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, a 11 de setembro de 2001? Como interpretar esses destinos?


Para as tragédias coletivas, somente o Espiritismo tem as respostas lógicas, profundas e claras, que explicam, esclarecem e, por via de conseqüência, consolam os corações humanos, perante os ressaibos amargosos dessas situações. O fato é que nós criamos a culpa, e nós mesmos formatamos os processos para extinguir os efeitos. Ante as situações trágicas da Terra, o ser humano adquire mais experiência e mais energias iluminativas no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar cada instante de sua vida. Com as verdades reveladas pelo Espiritismo, compreende-se, hoje, a justiça das provações, entendendo-as como sendo uma amortização de débitos de vidas pregressas.


Autores espirituais explicam, a respeito desse assunto, que indivíduos envolvidos em crimes violentos, no passado e, também, no presente, a lei os traz de volta, por terem descuidado da ética evangélica. Retornam e se agrupam em determinado tempo e local, sofrendo mortes acidentais de várias naturezas, inclusive nas calamidades naturais. Assim, antes de reencarnarmos, sob o peso de débitos coletivos, somos informados, no além-túmulo, dos riscos a que estamos sujeitos, das formas pelas quais podemos quitar a dívida, porém, o fato, por si só, não é determinístico, até, porque, dependem de circunstâncias várias em nossas vidas a sua consumação , uma vez que a lei cármica admite flexibilidade, quando o amor rege a vida e “o amor cobre uma multidão de pecados.” (2)


Nossos registros históricos pelas vias reencarnatórias, muitas vezes acusam o nosso envolvimento em tristes episódios, nos quais causamos dor e sofrimento ao nosso próximo. Muitas vezes, em nome do Cristo, ateamos fogo às pessoas, nos campos, nas embarcações e nas cidades, num processo cego de perseguição aos “infiéis”. Com o tempo, ante os açoites da consciência, deparando-nos com o remorso, rogamos o retorno à Terra pelo renascimento físico, com prévia programação, para a desencarnação coletiva, em dolorosas experiências de incêndios, afogamentos e outras tantas situações traumáticas para aliviar o tormento que nos comprime a mente.


Ao reencarnarmos, atraídos por uma força magnética (sintonia vibratória), conseqüente dos crimes praticados coletivamente, reunimo-nos circunstancialmente e, por meio de situações drásticas, colhemos o mesmo mal que perpetramos contra nossas vítimas indefesas de antanho. Portanto, as faltas coletivamente cometidas pelas pessoas (que retornam à vida física) são expiadas solidariamente, em razão dos vínculos espirituais entre elas existentes. Destarte, explica Emmanuel: “na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais – doloroso acaso - às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais.” (3)



Embora muitos acidentes nos comovam profundamente, seriam as tragédias suficientes para o resgate de crimes cruéis praticados no pretérito remoto? Estamos convencidos de que não, muito embora as situações - como essa vivenciada no dia 17 de julho de 2007 – nos levam a questionar, como, por exemplo: Por que esses acontecimentos funestos que despertam tanta compaixão? Seria uma Fatalidade? Coisa do destino? Que conceitos estão nos desenhos semânticos dessas palavras?


Para o espírita “fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte” (4), pois, como disseram os Espíritos a Kardec : “quando é chegado o momento de retorno para o Plano Espiritual, nada “te livrará” e freqüentemente o Espírito também sabe o gênero de morte por que partirá da terra”, “pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência”. (5) Mais, ainda: “Graças à Lei de Ação e Reação e ao Livre-Arbítrio, o homem pode evitar acontecimentos que deveriam realizar-se, como também permitir outros que não estavam previstos”. (6) A fatalidade só existe como algo temporário, frente à nossa condição de imortais, com a finalidade de “retomada de rumo”. Fatalidade e destino inflexível não se coadunam com os preceitos kardecianos. Quem crê ser “vítima da fatalidade”, culpa somente o mundo exterior pelos seus erros e se recusa a admitir a conexão que existe entre eles.


O homem comum, nos seus interesses mesquinhos, não considera a dor senão como resgate e pagamento, desconhecendo o gozo de padecer por cooperar, sinceramente, na edificação do Reino do Cristo. Aquele que se compraz na caminhada pelos atalhos do mal, a própria Lei se incumbirá de trazê-lo de retorno às vias do bem. O passado, muitas vezes, determina o presente que, por sua vez, determina o futuro. "Quem com ferro fere, com ferro será ferido" (7), disse o Mestre. Porém , cabe uma ressalva, nem todo sofrimento é expiação. No item 9, cap. V, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec assinala: "Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento porque se passa neste mundo seja, necessariamente, o indício de uma determinada falta: trata-se, freqüentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o seu adiantamento".(8). São claras as palavras do Codificador.


Não estão corretos aqueles que generalizam e afirmam que todo sofrimento é resultado de erros praticados no passado. O desenvolvimento das potencialidades, a subida evolutiva, requer trabalho, esforço, superar desafios. Neste caso é a provação, e não, a expiação, ou seja, são as tarefas a que o Espírito se submete, a seu próprio pedido, com vistas ao seu progresso, à conquista de um futuro melhor.


Dentro do princípio de Causa e Efeito, quem, em conjunto com outras pessoas, agrediu o próximo não teria que ressarcir o débito em conjunto? É esse o chamado "carma coletivo". (9) Toda ação que praticamos, boa ou má, recebemos de volta. Nosso passado determina nosso presente não existindo, pois, favoritismos, predestinações ou arbítrios divinos. A doutrina espírita não prega o fatalismo e nem o conformismo cego diante das tragédias da vida, mesmo das chamadas tragédias coletivas. O que o Espiritismo ensina é que a lei é uma só: para cada ação que praticamos, colheremos a reação.


O importante para os que ficam por aqui, na Terra, para que tenham o avanço espiritual devido, é não falir pela lamentação, pela revolta, pois “as grandes provas são quase sempre um indício de um fim de sofrimento e de aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus”. (10)


Diante do exposto, afirmamos que a função da dor é ampliar horizontes, para realmente vislumbrarmos os concretos caminhos amorosos do equilíbrio. Por isto, diante dos compromissos cármicos, em expiações coletivas ou individuais, lembremo-nos sempre de que a finalidade da Lei de Deus é a perfeição do Espírito, e que estamos, a cada dia, caminhando nesta destinação, onde o nosso esforço pessoal e a busca da paz estarão agindo a nosso favor, minimizando ao máximo o peso dos débitos do ontem.




Jorge Hessen
(29.07.07)
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://meuwebsite.com.br/jorgehessen




FONTES:


(1) Xavier, Francisco Cândido. Ação e Reação, Cap. XVIII, RJ: Ed FEB, 2005

(2) Cf. Primeira Epístola de Pedro Cap. 4:8

(3) Xavier, Francisco Cândido. O Consolado, RJ: Ed FEB, 2002, Perg 250

(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1979, pergs. 851 a 867

(5) Idem

(6) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1979, perg

(7) Cf. JOÃO. 18:11

(8) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, item 9, cap. V

(9) A palavra karma é oriunda da raiz sânscrita "kri", cujo significado é ação. Karma é portanto, Lei de Causa e Efeito, ou ainda, de acordo com a terceira lei de Newton, conhecida como o “princípio da ação-e-reação”, que diz: "a toda ação corresponde uma reação, com mesma intensidade, mesma direção, mas de sentido contrário". E o Cristo, ao recolocar a orelha do centurião romano, decepada pela espada de Pedro, sentenciou: "Pedro, embainha tua espada, pois quem com ferro fere, com ferro será ferido". Podemos notar, aí, dois enunciados da mesma Lei de Ação e Reação: um, de maneira científica e, outro, de modo místico. O vulgo diz : "Quem semeia vento, colhe tempestade".

(10) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 1989, Cap.14.

A FATALIDADE NA INTERPRETAÇÃO ESPÍRITA

A fatalidade vem sendo a vilã nas doutrinas não reencarnacionistas, para explicar as ocorrências que representam para elas, uma predeterminação e infalibilidade completa dos acontecimentos, qualquer que seja sua natureza, boa ou má; o infalível, o inevitável, o irrevogável, o funesto, o decisivo, o inadiável, o nefasto, o pré-estabelecido. Seria assim, representativa da vontade de Deus, sem no entanto explicarem o porquê dessa vontade optativa para uns e não para outros, e das suas relações com a justiça divina; estaríamos assim, vulneráveis ao fatalismo, ao destino, à sorte e ao azar. Haveria um determinismo e tudo o que acontecesse estaria pré-estabelecido, nada se podendo fazer contra ele, ou vinculado a casualidade.

Para nós espíritas, no entanto, nada acontece por acaso e a fatalidade não é um acontecimento pré-determinado ou ocasional, é uma construção; quando escolhemos as nossas provas nós somos os artífices delas, os “construtores do nosso destino e cada pessoa encontra-se num contexto parcialmente determinado pelo conjunto de suas ações desta vida, das vidas anteriores e dos períodos na erraticidade,” (01) e portanto a fatalidade, vem depois do livre arbítrio do Espírito; a matéria não tem livre arbítrio, esta sim, está sujeita a fatalidade, porque é dependente de leis biológicas e físico-químicas, numa relação de causa e efeito.

“A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela forma para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem achar-se colocado.” (02)

Na figura (no final deste texto) vemos a programação reencarnatória estabelecida pela espiritualidade superior, adaptando o gênero das provas, escolhida pelo Espírito e as expiações por eles imposta, de acordo com as necessidades deste mesmo Espírito. Este pode, no entanto, ignorar ou rebelar-se contra o protocolo pré-estabelecido e agindo por seu livre arbítrio, trilhar outro caminho, tentando burlar a lei, com graves conseqüências para o seu Espírito, repercussões no seu perispírito e às vezes até, imediatamente imprimidas no seu corpo físico.

O câncer de pulmão, por exemplo, pode não ter sido nem prova, nem expiação, mas se o homem fuma desbragadamente, o cigarro pode agir desencadeando a doença, quando existirem causas predisponentes, ou em caso contrário, determinando-a, sem que tivesse havido nenhuma eleição anterior dele ou da espiritualidade; a conseqüência fatal, a morte prematura, também não correspondia a nenhum processo estabelecido no planejamento da recorporificação do Espírito. O mau uso de seu livre arbítrio e que o levou aquela fatalidade, ao infortúnio.

“Na realidade nós somos o que fomos, encontrando-se gravadas no nosso perispírito, todas as nossas vivências e experiências pregressas, a se transmitir através do modelo organizador biológico ao novo corpo físico, não como uma fatalidade, mas como um ponto de partida, podendo ser modificada, na decorrência do que realizarmos de positivo ou negativo, na edificação de nossa proposta reencarnatória.” (03)

Quando nós persistimos no erro, no endurecimento, sujeitamo-nos às reencarnações compulsórias e portanto às expiações; a Lei do Progresso é fatal para o Espírito, que inexoravelmente seguirá o caminho da evolução e da felicidade. Quando Jesus nos convocou usando as palavras, “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial o é” (Mateus, 5:48), colocou o verbo no imperativo, que determina assim que a perfeição terá que ser atingida, evidenciando o caminho na busca eterna por ela, que é o destino de todos nós, único compatível com a bondade, a misericórdia e a justiça infinitas de Deus. A Doutrina Espírita nos mostra que, graças esta essência do nosso Pai Celestial, nós nunca seremos deserdados, pois é inconciliável com ela, a nossa condenação a penas eternas, e alcançaremos através de reencarnações sucessivas, o que foi determinado, pois seremos todos não o que queremos, mas o que devemos ser; a lei do progresso, da reencarnação e de causa e efeito, estão também aneladas ao amor, a misericórdia e a justiça, no rosário iluminado da infinita grandeza divina.

Acreditamos numa programação reencarnatória, um protocolo pré-estabelecido no Ministério da Regeneração, feita pela Espiritualidade Superior, sob a égide de Deus, que seriam então, completamente incompetentes, se houvesse fatalidade para acontecimentos espirituais. Se o Espírito está cumprindo, no uso de seu livre arbítrio, a sua programação reencarnatória, não há como, pois, ser visitado pela fatalidade; outro Espírito não poderá se intrometer e quebrar os elos, estabelecidos neste programa.

“O determinismo, representado pelas leis de Deus, ou pela ação de Seus emissários, atuam no sentido de que terceiros não sejam atingidos pelo mau uso do seu livre-arbítrio, quando não o merecem.” (04)

O merecimento preserva o Espírito da fatalidade, de acordo com o que foi estabelecido pela lei de Deus, que não pode ser transgredida ou anulada.

“Nem livre arbítrio, nem determinismo absolutos, na encarnação, mas liberdade condicionada” (Bozzano, Ernesto, 1930) (05)

O livre arbítrio existe dentro da lei de liberdade e esta última, termina no limite entre a nossa e a do nosso semelhante; o entrelaçamento e os acontecimentos aparentemente fatais, nada mais são do que processos cármicos, consentidos pela espiritualidade.

“É o escândalo que há de vir; e que irá expiar, e daí- ai daquele por quem vier.”(...) A vítima sofre as conseqüências por seus atos anteriores; foi por ela que viera anteriormente o escândalo. Ai dela agora.” Aproveitou-se, apenas, o momento ruim para o resgate da pena do outro, que ocorreria mesmo sem a sua anuência..” (06)

Ninguém nasce para ser assassino ou estuprador, mas colocado na posição de carrasco, cede a sua má inclinação e executa a ação, pelo mau uso de seu livre arbítrio; poderia ter resistido e não tê-la praticado, pois a opção foi sua.

“Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.” (02)

A vítima, por sua sintonia, colocou-se em posição de submeter-se à ação do criminoso, que se tivesse se negado a praticá-la, dar-se-ia da mesma forma, seria do mesmo gênero, embora fosse outro o veículo que iria executá-la, pois “cada um terá que carpir seus próprios erros.” (07)

A fatalidade física, o momento da morte virá naturalmente, no tempo e maneira pré-estabelecida, a não ser que o precipitemos, pelo uso de nosso livre arbítrio (v.g. suicídio). Instante é um momento, um espaço de tempo indefinido, mais ou menos elástico, diferente de hora, minuto e segundo da morte.

“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é” (02)

É evidente que Deus a tudo prevê, mas os acontecimentos não estão a isso condicionados; Deus previu as nossas ações, mas nós não agimos porque Deus previu, mas porque utilizamos o nosso livre arbítrio, desta ou daquela maneira e Ele, tinha ciência dessa nossa maneira de agir.

“(...) os eventos previstos já existiam na memória de Deus. Isso não quer dizer que cada um de nós tenha que passar por ali obrigatoriamente, mas que Deus, na majestade de sua postura intemporal, já nos viu, no futuro passando por ali.” (05)

Isto contra-diz o conceito de que já aconteceu o futuro e que nada podemos fazer para mudá-lo .

Agora se usamos tóxicos, guiamos nosso carro a 200 km/h ou atravessamos uma avenida, de intenso movimento de automóveis, de olhos cerrados, por exemplo, estamos no expondo e nos sujeitando a “fatalidade”, mas antes do nosso procedimento errôneo, utilizamos o nosso livre-arbítrio.

Nós moldamos nosso futuro, balizados na evolução do nosso Espírito e organizada nossa programação reencarnatória, inclusive o instante pré-fixado do nosso nascimento, que também não é fatal, cabe-nos cumpri-la, mas de acordo com nossas ações caridosas, por nossa vivência no amor, poderemos minimizar nossos débitos e nosso sofrimento, conseguindo moratória para a nossa dívida, pois “a caridade cobrirá uma multidão de pecados” (I Pedro, 4: 08)

Deus, por ser infinitamente bom, justo e misericordioso nos criou Espíritos simples e ignorantes, para que sejamos Espíritos glorificados; só há glória quando há mérito e Ele quer que a atinjamos por nossos próprios méritos, no sábio uso do nosso livre arbítrio.

A espiritualidade superior não tem qualquer compromisso com a fatalidade, podendo alterar nosso programa de acordo com o nosso merecimento; para ela, sobre o prisma espiritual, a fatalidade não é fatal, podendo ser modificada, já que “é possível renovar nosso destino todos os dias.” (07)

Jesus, nosso mestre, modelo amigo e estrela-guia nos legou o cintilo de suas parábolas, a nos iluminar o caminho; cabe a nós caminharmos na sua direção, calcando o Evangelho, porque “a cada um será dado segundo as suas obras.” (Mateus,16:27)


BIBLIOGRAFIA:

01-CHIBENI, Sílvio e Sílvia; A Concepção Espírita da Fatalidade; “Reformador”, junho/1997, pg.21.
02-KARDEC, Allan; “O Livro dos Espíritos”; FEB,1944, perg.: 851, 853 e 861; pg. 390, 391 e 394.
03-MOREIRA, Fernando A.; Reencarnação e Genética; “Revista Internacional de Espiritismo”, mar/2000, pg.56.
04-EDITORIAL; Existência e Vida, “O Clarim”, novembro/2001, pg. 02.
05-MIRANDA, Hermínio; “Diversidade dos Carismas”, Publicações Lachâtre, 2ª ed., 1994, vol. I, pg. 299 e 300.
06-EDITORIAL; Livre Arbítrio e Morte Prematura, “Mundo Espírita”, agosto/1997, pg.2.
07-SOUZA, Juvanir Borges; “O que dizem os Espíritos sobre o aborto”, FEB, 1ª ed., 2001, pg. 167 e 215.

Fernando A. Moreira
Publicado na Rev. Internacional de Espiritismo, jul/2002

Fatalidade e Destino

Fatalidade e Destino


“ É o homem,por sua própria vontade, quem forja as próprias cadeias, é ele quem tece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte, a rede de seu destino.”
 Léon Denis

Diante de acontecimentos desagradáveis no dia a dia, logo responsabilizamos a fatalidade e o destino, sem fazer uma maior reflexão.  Mas, será que tudo em nossa vida está predeterminado?  Será que o nosso destino foi traçado?  Como entender fatalidade na visão espírita?

Lemos nos dicionários que fatalidade é a qualidade de fatal.  E que fatal é o determinado, o marcado, o fixado pelo destino.  Ou seja, é a atuação de uma força maior a nos submeter a acontecimentos que independem de nós e dos quais não podemos escapar.  Precisamos refletir e ver outros pontos importantes em torno desses conceitos.  Sendo a nossa intenção analisar o assunto dentro da visão espírita, vejamos o que nos diz O Livro dos Espíritos, Ed. FEB (questão 872):

[...] A fatalidade, como vulgarmente é entendida, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os sucessos da vida, qualquer que seja a importância deles.  Se tal fosse a ordem das coisas, o homem seria qual máquina sem vontade.[...]

Concordamos com essa afirmativa, pois não nos vemos como máquinas.  E se tudo já estivesse escrito, ninguém seria responsável por falta alguma, tampouco teria mérito por coisa nenhuma.  Seríamos meros fantoches e estaríamos à mercê do destino, o que nos parece incompatível com o conceito de Justiça Divina que os Espíritos nos apresentam.

Fatal, na verdadeira acepção da palavra, só é o fato de que vamos um dia biologicamente morrer, pois, quanto às outras coisas, a cada momento estamos transformando.  Entendemos que o destino é quase sempre a consequência de nossas atitudes mentais e comportamentais, das escolhas que fazemos utilizando o nosso livre-arbítrio.  Esse raciocínio encontra explicação em O Livro dos Espíritos, no qual a Espiritualidade diz (questão 859 a):

[...] Não creias, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer.  Um acontecimento qualquer pode ser a consequência de um ato que praticaste por tua livre vontade, de tal sorte que, se não o houvesse praticado, o acontecimento não se teria dado. [...]

Contudo, fatalidade não é uma palavra vã, ela está presente no gênero de existência que nós escolhemos como prova, expiação ou missão, antes de reencarnações, pois há escolhas quase impossíveis de serem alteradas, como as doenças congênitas, por exemplo.  Conforme lemos na questão 851, também de O Livro dos Espíritos:

A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer.  Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado.  [...]

Com o uso do livre-arbítrio, temos a liberdade de alterar as escolhas feitas ainda na Espiritualidade, pois tanto podemos aproveitá-las com resignação e superação, quanto nos revoltar, perdendo assim a oportunidade de aperfeiçoamento que estamos vivendo.

O Espiritismo nos ensina a ver nos acontecimentos negativos e perturbadores muito mais que fatalidade e destino; ensina-nos a ver a consequência de nossas escolhas equivocadas, não apenas de outras encarnações, mas, também, da atual.  Ensina, ainda, que por mais difíceis que se apresentem as situações, nós somos senhores dos nossos destinos e podemos com o uso do livre-arbítrio alterar as nossas escolhas, para trazermos o melhor à nossa existência.

Autor (a):  José Antonio Ferreira da Silva
Reformador (Revista de Espiritismo Cristão) - Federação Espírita Brasileira –
Ano:  127 – Nº 2.159 – Páginas:  40 à 41 - Fevereiro/2009



Leia mais em: http://blog.clickgratis.com.br/pensamentosereflexoesespiritas/492820/Fatalidade+e+Destino.html#ixzz2cSy0Cg6g

FATALIDADE COMO CONSEQUÊNCIA DA ESCOLHA QUE FAZEMOS


Numa curiosa pesquisa realizada pela Universidade de Michigan (EUA), foi empregado um ambiente virtual com todas as imagens, sons e consequências das ações dos voluntários, incluindo os gritos de desespero daqueles seres virtuais cujos destinos (mortes) seriam traçados pelos voluntários. O ambiente cibernético apresenta-se com um trem se dirigindo para uma passagem estreita onde estão cinco pessoas que não têm como sair do seu caminho. Só os participantes têm a possibilidade de redirecionar o trem para outra passagem, onde só há uma pessoa que não conseguirá escapar. Acionaríamos ou não a alavanca para mudar o trem de rota?
Considerando essa experiência fatalística, construamos o seguinte cenário: estamos conduzindo um automóvel e nos defrontamos com situação bem real de atropelarmos um grupo de crianças, entretanto em frações de segundos podemos desviar o trajeto do veículo e entrechocar-nos com apenas uma criança. Será que optaríamos por desviar o veículo rumo a única criança para preservar a vida do grupo? Sabemos ser uma situação embaraçosa, porquanto estamos diante de duas soluções extremas, ambas trágicas, o que redundará terrível perplexidade para uma opção. Eis aí um dilema penoso perante o mandamento “não matarás”. Sabemos que é muito delicado e improvável tal episódio, mas se verdadeiro, como resolver? Não desviar do grupo de crianças para preservar apenas uma vida? Será que violaríamos uma regra moral considerando a escolha entre “um mal maior e um mal menor?” E se a única criança fosse nosso filho?
Podemos por nossa vontade, intenções e por nossos atos, fazer que não ocorram eventos que deveriam verificar-se, se essa aparente mudança tiver cabimento na sequência da vida que escolhemos. “Para fazer o bem, como nos cumpre – pois que isso constitui o objetivo único da vida – é-nos facultado impedir o mal, sobretudo aquele que possa concorrer para a produção de um mal maior.” (1)
Carlos David Navarrete, coordenador do experimento de Michigan, descobriu que o mandamento divino “não matarás” foi esmagado literalmente, pelos participantes, pois 90% dos voluntários acionaram várias vezes a chave para mudar o trem de rota, decidindo quem deveria morrer, tendo como justificativas o jargão: “um mal menor” é “melhor” do que “um mal maior”(!...)(2)
Segundo Chico Xavier “o bem sanará o mal, porque este não existe: é o bem, mal interpretado. Muitas vezes aquilo que julgamos como mal, daqui a dois, quatro, seis anos, é um bem. Um bem cuja extensão não conseguimos avaliar. Portanto, o mal está muito mais na nossa impaciência, no nosso desequilíbrio quando exigimos determinadas concessões, sem condições de obtê-las. De modo que o mal é como se fosse o frio. Este existe porque o calor ainda não chegou. Mas chegando o aquecimento, o frio deixa de existir. Se a treva aparece é porque a luz está demorando, mas quando acendemos a luz ninguém pensa mais nas trevas. Não creio na existência do mal em substância. Isso é uma ficção.”(3)
Cremos que estamos diante de situação funesta e fatalística, mas, será que existe fatalidade nos acontecimentos da vida? Os fatos de nossa existência estariam, assim, irremediavelmente traçados?
A fatalidade, como comumente é percebida, supõe deliberação precedente e irrevogável de todos os episódios da vida, qualquer que seja a gravidade deles. Mas, se tal fosse a ordem das coisas, seríamos quais fantoches destituídos de anseios. De que nos serviria a inteligência, desde que houvéssemos de estar inexoravelmente dominados, em todos os nossos atos, pela força do destino?
A Doutrina Espírita elucida que “semelhante doutrina, se verdadeira, conteria a destruição de toda liberdade moral, já não haveria para o homem responsabilidade, nem, por conseguinte, bem nem mal, crimes ou virtudes.”(3) No entanto, a fatalidade não é uma palavra sem sentido. Existe na disposição que ocupamos na Terra e nas funções que aqui cumprimos, em decorrência do modo de vida que escolhemos como prova, expiação ou missão.
Padecemos inevitavelmente todas as atribulações dessa existência e todas as tendências boas ou más que nos são intrínsecas. Aí, porém, finaliza a fatalidade, pois da nossa vontade depende ceder ou não a essas tendências. As particularidades dos acontecimentos, essas ficam subordinadas às circunstâncias que criamos pelos nossos atos, sendo que nessas ocorrências podemos ser influenciados pelos pensamentos que os espíritos sugerem. Há fatalidade, por conseguinte, nos episódios que se apresentam, por serem estes consequência da escolha que fazemos. Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto ser-nos possível, pela nossa prudência, modificar-lhes o curso. “Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.” (4)


Jorge Hessen
http://jorgehessen

Referência bibliográfica:

(1)    Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872
(2)    Disponível em acessado em 15 de janeiro de 2012
(3)    Xavier, Francisco Cândido. Mandato de Amor, org. Geraldo L. Neto  Espíritos Diversos, São Paulo: Ideal, 1993
(4)    Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872
(5)    idem síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872

Uma fatalidade difícil de entender


POR JAIR DO COUTO

Na década de 1980, o aterro sanitário funcionava a céu aberto. Muitas famílias carentes tiravam dali o seu sustento. A sopa fraterna era preparada também aos sábados e era servida no lixão, como era chamado o aterro sanitário naquela época.

Em um sábado, servimos a sopa e retornávamos ao centro quando fomos informados de um grave acidente. Alguém veio chamar a Belinha – é como vamos chamá-la –, que estava ajudando na preparação da sopa. Um motorista alcoolizado perdeu o controle do carro ao descer uma rua em frente à sua casa, arrebentou uma cerca e atropelou dois filhos seus que brincavam no jardim. Um morreu na hora e o outro foi para o Hospital Universitário em estado grave.

Ficamos arrasados.

É uma fatalidade, dizem uns; é o destino, dizem outros. Mas não tem explicação, na opinião de grande maioria.

O Espiritismo ensina a lei de causa e efeito ligada à reencarnação.

O Livro dos Espíritos destaca, nas questões 843 a 868 a relação do livre-arbítrio com a fatalidade. Todos dispomos de livre-arbítrio para pensar e agir, e naturalmente somos responsáveis pelas escolhas feitas. Daí nasce a fatalidade.

Segundo o espírito Emmanuel, no livro Nascer e renascer, “somos herdeiros do nosso pretérito e, nessa condição, arquitetamos nossos próprios destinos. É por isso que fatalidade e livre arbítrio coexistem nos mínimos ângulos de nossa jornada planetária. Geramos causas de dor ou alegria, de saúde ou enfermidade em variados momentos de nossa vida. O mapa de regeneração volta conosco ao mundo, consoante as responsabilidades por nós mesmos assumidas no pretériro remoto e próximo; contudo, o modo pelo qual nos desvencilhamos dos efeitos de nossas próprias obras facilita ou dificulta nossa marcha redentora que o mundo oferece”.

Para a Doutrina Espírita, a Justiça Divina envolve um conjunto de normas aplicadas conforme a nossa necessidade. Não é o castigo de Deus, como se costuma dizer. Onde enxergamos fatalidade, pela ótica espiritual é a misericórdia divina concedendo mais uma etapa de reparação de nossas faltas. A cada um segundo as suas obras, disse Jesus.

Retornemos à narrativa.

Mais tarde, fomos à casa de Belinha. Estávamos conversando com o marido dela quando ela entrou. Chegava do hospital e muitos perguntavam sobre o estado do menino internado. Chegando onde estávamos e com ar não sei se de tristeza ou decepção, disse: “E agora, o que o senhor me fala? O que o senhor me diz do Evangelho?”

O que responder num momento como esse?

Voltamos no dia seguinte com outros companheiros da casa espírita para o Evangelho no Lar solicitado por Belinha.

Ainda estávamos abalados e não sabíamos o que falar. A sala, cozinha e corredor estavam lotados.

Via de regra, nesses momentos solenes, fazemos a escolha de algumas palavras na abertura para a preparação da leitura do Evangelho. Pulamos esta parte, abrimos O Evangelho Segundo o Espiritismo e ali estava: “Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras”1.

O texto não foi lido. Fechamos o Evangelho e solicitamos que uma companheira do grupo fizesse a abertura e lesse um texto. A nossa companheira tomou o Evangelho, abriu ao acaso e começou a leitura: “Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras” Ali estavam todas as palavras que gostaríamos e que deveríamos falar à Belinha, aos seus familiares e a todos os presentes ao velório daquela criança inocente. Inocente pela nossa ótica, porém, acreditamos que pela visão espiritual, tratava-se do resgate de um espírito em débito com a Lei Divina e com a própria consciência.


1 O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 21.