Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O despertar da consciência

O despertar da consciência

Richard Simonetti

Pergunta: O arrependimento se dá no estado corporal ou no estado espiritual?

Resposta: No estado espiritual; mas, também pode ocorrer no estado corporal quando bem compreendeis a diferença entre o bem e o mal.

Questão n° 990 do Livro dos Espíritos Podemos definir o arrependimento como a consciência de que fizemos algo errado, de que prejudicamos alguém ou a nós mesmos.

Implica em dor moral, tão profunda quanto a natureza de nossas faltas e o grau de nossa maturidade. Quanto mais evoluído, mais sofre o Espírito, ao avaliar a extensão dos prejuízos que causou a si mesmo ou ao semelhante.

Pode ocorrer na Terra, pelo exercício da razão. Exemplo típico: o indivíduo que parte para a violência em face de determinada contrariedade.

O marido traído, que mata a esposa...

A mãe que fere a criança ao castigá-la...

Depois o lamento:

- Ah! Meu Deus! Por que não me controlei!

Mais freqüentemente o arrependimento eclode no Plano Espiritual, quando o Espírito defronta-se com sofrimentos e desajustes decorrentes de suas iniciativas desatinadas.

No livro "Nosso Lar", psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz, após reportar-se a dolorosas surpresas, em face de seu comprometimento com a inconseqüência nas lides humanas, faz dramático apelo:

- Oh! Amigos da Terra! Quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.

O arrependimento não redime. É apenas o primeiro passo na árdua jornada da reabilitação, em favor da qual não bastam penitências, ritos ou rezas. É de fundamental importância que o mal seja reparado.

Por isso, para os Espíritos mais amadurecidos, o arrependimento é sempre marcado por profundas transformações, a caminho de grandiosas realizações.

Paulo de Tarso, perseguidor implacável dos cristãos, articulador do processo que culminou com a morte de Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo, experimentou o despertar da consciência no inesquecível encontro com Jesus, às portas de Damasco, e se transformou no grande arauto da mensagem evangélica.

Simão Pedro teve seu momento decisivo ao ver cumprida a previsão de Jesus, que lhe afirmou que o negaria três vezes antes que o galo cantasse, na fatídica madrugada que antecedeu o drama do calvário. A partir desse momento dedicou sua existência à causa cristã, sem jamais experimentar novas vacilações. E no grande testemunho a que foi convocado em Roma, condenado à cruz, enfrentou com serenidade seus algozes, pedindo para ser crucificado de cabeça para baixo, porquanto não se sentia digno de morrer como seu mestre.

Em Maria de Magdala temos o exemplo do missionário confundido pelas ilusões do Mundo, sob o domínio de cruéis perseguidores espirituais, até que o Cristo lhe descortinasse as excelências do Evangelho. Renovada, converteu-se em ardorosa seguidora dos princípios novos, acumulando méritos suficientes para ser ela própria a mensageira da ressurreição, aquela que primeiro viu Jesus, em gloriosa aparição, após a crucificação.

Forçoso reconhecer, entretanto, que o arrependimento sincero, de quem se conscientiza dos próprios enganos e se dispõe a uma guinada existencial, modificando seus rumos, não é fácil. O homem comum distrai-se de suas responsabilidades, sempre pronto a justificar seus desvios com intermináveis sofismas:

- Roubei, sim, e até matei, porque tinha fome - alega o criminoso esquecido das bênçãos do trabalho.

- Enriqueci, sim, mas com meu esforço, com o trabalho digno, sem prejudicar ninguém - proclama o industrial que explorou seus empregados e usou de especulações nos domínios de seus negócios.

- Bebo sim, mas para enfrentar os problemas da existência - explica o alcoólatra, sem atinar para o fato de que se transformou, ele próprio, num grande problema.

- Traí meu marido, sim, envolvi-me em aventuras extraconjugais, porque ele não me dava atenção - afirma a mulher displicente, a justificar sua irresponsabilidade.

Pessoas assim transitam pela vida de consciência anestesiada pela indiferença em relação aos valores morais, para somente despertarem no Plano Espiritual, quando se habilitam a longas e penosas jornadas de retificação.

Mostrando-nos por antecipação as realidades espirituais, a Doutrina Espírita representa o mais vigoroso apelo da Espiritualidade em favor da criatura humana, demonstrando ser imperioso que cogitemos dos valores mais nobres da existência, nos domínios da Verdade e do Bem.

No entanto, a mesma displicência moral que faz o delinqüente, o explorador, o viciado, o adúltero, induz o espírita a justificar suas omissões:

- O Espiritismo ensina que é preciso praticar a caridade, ajudar o próximo, participar de serviços assistenciais, mas não tenho tempo. Há a família, a profissão, os compromissos financeiros...

- O Espiritismo adverte que devo conter meus impulsos inferiores, mas não consigo. Sou um fraco...

- O Espiritismo orienta que devo harmonizar-me com os familiares. Impossível. São muito difíceis...

Há quem informe:

- Não posso proclamar-me espírita, porquanto tenho muitas mazelas...

Companheiros assim esperam pela virtude para serem espíritas. Ignoram deliberadamente que o espírita não é, necessariamente, um virtuoso. Apenas alguém disposto a assumir compromisso com a virtude.

Acomodados na superficialidade de suas convicções e na rotina de pálida participação em atividades espíritas, verificam, um dia, quando a morte impõe o balanço de sua existência, que tiveram tudo para caminhar mais depressa, para superar suas imperfeições e, no entanto, fizeram do conhecimento veiculado pelo Espiritismo um mero acréscimo de responsabilidade.

No livro "Voltei", psicografia de Francisco Cândido Xavier, o autor, Irmão Jacob, pseudônimo adotado por Frederico Figner, que durante muitos anos foi diretor da Federação Espírita Brasileira, adverte, dirigindo-se aos espíritas:

- Oh! Meus amigos do Espiritismo, que amamos tanto!

É para vocês - membros da grande família que tanto desejei servir - que grafei estas páginas, sem a presunção de convencer! Não se acreditem quitados com a Lei, por haverem atendido a pequeninos deveres de solidariedade humana, nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual! Ajudem a si mesmos, no desempenho de suas obrigações evangélicas! Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos espiritualizarmos para as esferas superiores.

Falo-lhes hoje com experiência mais dilatada. Depois de muitos anos, nas lides da Doutrina Espírita, estou recompondo a aprendizagem, a fim de não ser o companheiro inadequado ou o servo inútil. Guardem a certeza de que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo não é apenas um conjunto brilhante de ensinamentos sublimes para ser comentado em nossas doutrinações - é Código da Sabedoria Celestial, cujos dispositivos não podemos confundir.

O conhecimento espírita implica no compromisso de vivermos segundo seus princípios. De outra forma, o arrependimento mais tarde será apenas o inicio de inevitáveis e penosas jornadas de retificação, em busca do tempo perdido.

06-09-2001

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