Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Reforma Íntima II




Todos nós que frequentamos a casa espírita e que estudamos o espiritismo, já ouvimos falar da necessidade de fazermos a reforma íntima, de mudar nossa forma de pensar e agir para nos sentirmos melhor. É sobre isso que vamos falar hoje.

 - Vamos entender o que é reforma íntima

- Como fazer a reformar íntima

- E, por fim, por que fazer a reforma íntima, no que isso lhe beneficiará?



O que é reforma íntima?



Quando ouço falar em reforma, qual a primeira ideia que me vem à mente? Normalmente pensamos na reforma de imóvel.

E quando eu penso em reformar um imóvel, eu já tenho que ter em mente qual a melhoria ou mudança que preciso fazer, onde não está bom ou onde precisa e pode ser melhorado, embelezado, enfim, onde vou fazer a transformação.

Então, reforma é o ato de mudar, transformar.

Portanto, reforma íntima é a mudança, a transformação que faço no meu interior. E, ela se inicia exatamente da mesma forma que inicio o projeto de reforma de uma casa, ou seja, analisando o que não está bom, o que precisa ser transformado.

Ocorre que o processo de reforma íntima é muito difícil, pois, preciso fazer uma autocrítica, uma auto-avaliação do meu comportamento, das ações da minha personalidade.

Essa auto-avaliação é importante, pois precisamos saber em que grau de evolução espiritual nos encontramos, e só assim poderemos avaliar o que precisa ser transformado no meu comportamento, nas minhas ações e personalidade. Esse grau de evolução espiritual foi falado por Kardec na codificação.

Kardec, no Livro dos Espíritos, Questão n. 100 foi informado pelos espíritos da existência de uma ESCALA EVOLUTIVA

Essa escala é dividida em três categorias:

NA BASE ESTÃO OS ESPÍRITOS IMPERFEITOS, que são caracterizados assim pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo, inveja, ciúme, maledicência (falar mal do outro), comodismo, etc.

Nem todos os espíritos imperfeitos são maus, em alguns há mais leviandade, inconsequência, malícia do que maldade.

Uns não fazem nem o bem nem o mal, e por não fazerem o bem denotam sua inferioridade.

Outros, ao contrário, comprazem-se com o mal e sentem-se satisfeitos quando têm a oportunidade de praticá-lo.



NA SEGUNDA CATEGORIA ESTÃO OS BONS ESPÍRITOS, nestes já predominam o espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem. Tem capacidade de fazer o bem e sentem felicidade em fazer o bem. Não os movem o orgulho, o egoísmo, nem a ambição. Não sentem ódio, rancor, inveja ou ciúme, e fazem o bem pelo bem.



NO TOPO TEMOS OS ESPÍRITOS PUROS, que são aqueles que já atingiram a perfeição, não têm nenhuma influência da matéria.

Apresentam absoluta superioridade moral e intelectual em relação às outras categorias de espíritos que já falamos. Esses espíritos já percorreram todos os demais graus da escalada evolutiva e se livraram das impurezas da matéria.

Atingiram o grau máximo de perfeição de que uma criatura é suscetível. E não precisam mais reencarnar.

Às vezes são chamados de anjos.



O processo de reforma íntima não é fácil.



Avaliar nossas ações, comportamentos e nossa personalidade, não é um exercício fácil, pois, não nos é interessante fazer uma autocrítica. Mas, não admitir os nossos defeitos e somente apontar com o dedo para os defeitos dos outros, isso impedirá nossa evolução moral e espiritual.

Nós somos o que pensamos e o que sentimos. O que nós pensamos, nós atraímos.

Portanto, se tivermos pensamentos bons, vamos atrair para nós mais energias boas, sentiremos mais disposição para curtir nossa família, para trabalhar. Já se cultivamos pensamentos ruins, atrairemos somente discórdias, tristezas, indisposições, além de pessoas ruins. Além, não posso deixar de falar, que também nos acarreta doenças psicossomáticas (aquelas criadas pela nossa mente). Primeiro a doença surge em nossa mente e depois no corpo físico.

VEJAMOS BEM: Todos nós temos problemas e, buscamos a solução mágica para os mesmos, só não podemos esquecer que são os nossos problemas que nos fazem evoluir. Às vezes podemos até pensar que nossos problemas e sofrimentos são punição de Deus. Ora, Deus não nos pune, pois, Ele é infinitamente bom e misericordioso. Os nossos problemas e sofrimentos são provações que Deus se utiliza para nossa evolução moral e espiritual.



E como fazer essa reforma íntima?

Primeiro: CONHECER A SI MESMO: a pessoa tem que estar realmente motivada a se conhecer, admitindo seus erros, mesmo que só para si mesmo, mas, precisa ter determinação. Tem que fazer uma autocrítica. Se eu achar que estou sempre com a razão, fica difícil iniciar qualquer processo de transformação.

Se eu pensar que só sinto ódio de fulano porque ele me fez mal, ele me prejudicou, ofendeu-me, enganou-me, traiu-me. Ora, avalie se você, em algum momento de sua vida já não feriu alguém em intensidade menor ou na mesma intensidade com a qual foi ofendido.

Jesus disse: “Atire a primeira pedra quem não tiver pecados”.

Ora, ai está a oportunidade de iniciarmos o processo de nossa reforma íntima. Avaliando quais as circunstâncias em que aquela pessoa se encontrava quando disse algo que me feriu, ou ainda, se algum comportamento que eu tive ou tenho, pode ter motivado aquela reação\atitude.

Segundo: Aprender e aplicar no seu dia a dia, na essência, o maior ensinamento de Jesus: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.  Esse princípio manda que ajamos com o outro, como gostaríamos que agissem conosco. É respeitar os direitos de cada indivíduo, como cada um deseja que respeite os seus, é passar a respeitar a sua família, amigos, as regras impostas para se viver bem em sociedade, perdoar, fazer o bem simplesmente porque isso lhe dá prazer, o faz feliz.

E mais, comecemos nossa reforma íntima dentro de casa: respeitando aqueles que, por excesso de intimidade, achamos que podemos tratar de qualquer forma, com gritos e xingamentos.

Em casa, procure auxiliar mais, ou seja, respeite as regras básicas: sujou – lave, usou – guarde.

Se tiver que acordar seu filho para ir para escola, o faça com carinho, com palavras amáveis, mesmo nos dias que eles insistem em permanecer mais um pouquinho na cama.

Se você precisa de ajuda, peça de forma clara e, não fique jogando indiretas.

Respeite e tenha paciência com os mais velhos, pois, você também ficará velho, lento, e vai querer que tenham paciência com você.

META DA REFORMA ÍNTIMA: é fortalecer sua fé e o amor, a busca incessante do perdão, o cultivo de sentimentos bons.



BASE FUNDAMENTAL PARA A REFORMA ÍNTIMA: seguir o maior mandamento de Jesus: ”Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.





Objetivo da reforma íntima

Muitos são os motivos que nos levam à Casa Espírita: Pelo amor, pela dor, convite de alguém, curiosidade.

E o que acontece? Assistimos palestras, recebemos o passe, tomamos água fluidificada e vamos embora. E, estas atitudes poderão se repetir por longo tempo. Mas à medida que vamos estudando e compreendendo melhor os ensinamentos espíritas, sentimos que necessitamos nos integrar mais nas ações de reforma moral da sociedade, e nada melhor para fazermos isso do que iniciando, por nós mesmos, ou seja, que sejamos espíritas na convivência com o mundo, e isso nos leva à nossa reforma moral ou não.

Isso porque, ao começarmos a estudar a doutrina espírita, percebemos que a maioria dos livros fala da importância da reforma íntima, de se renovar nossas atitudes.



1. Renovação de atitudes…

Um jovem foi ao médico, queixando-se de dores abdominais. Tendo sido atendido pelo médico, este atencioso, realizou exames, fez entrevistas, e ao final chegou ao diagnóstico: Cirrose hepática, doença do fígado por ingestão de bebida alcoólica. Enfermidade conhecida e facilmente tratável, receitou um tratamento, onde o paciente deveria tomar uma medicação, fazer caminhadas diárias, ao final da caminhada realizar algumas ginásticas. O paciente saiu satisfeito, pois ver-se-ia livre de suas dores. Ao final de um mês, retornou novamente o paciente ao consultório médico, onde o doutor o atendeu solícito.

Há doutor! O tratamento não deu resultado, pois continuo a sentir dores. O profissional estranhou, pois tinha confiança em seu diagnóstico, mas voltou a examiná-lo.

- O senhor tomou o remédio que lhe receitei? Sim senhor doutor, certinho, três vezes ao dia!

- O senhor fez as caminhadas para melhorar a circulação? Cinco quilômetros todos os dias doutor!

- O senhor fez as ginásticas como recomendado? Uma hora diária após as caminhadas doutor!

- O senhor parou de beber? Não doutor… doutor continua doendo…

A medicina terrena trata das enfermidades do corpo físico, o Espiritismo trata das enfermidades do espírito (estando ele encarnado ou não). O médico nos escuta, analisa, faz exames e nos recomenda um tratamento. A Casa Espírita, nos escuta, analisa, consola, e também nos recomenda mudanças de atitudes; mas esta vai mais além em nosso benefício, pois nos fornece o passe magnético, a água fluidificada e em alguns casos tratamentos de desobsessões.

Mas, assim como no caso do paciente enfermo, se quisermos melhorar, cumpre que façamos a nossa parte, mudando as nossas tendências negativas, ou ficaremos indefinidamente tomando remédios, realizando caminhadas, fazendo ginásticas, recebendo passes, tomando água fluidificada…



QUE BENEFÍCIO ME TRARÁ A REFORMA ÍNTIMA?



Ao cultivarmos pensamentos bons, como a bondade, o amor, a caridade, o carinho, a coragem, a gratidão, estaremos evoluindo moralmente e espiritualmente, pois, esses sentimentos bons são os remédios para todo e qualquer sofrimento, é a chave para atingirmos a paz interior e, consequentemente, a felicidade exterior.

Quando você faz essa mudança dentro de você, tudo a sua volta muda, as pessoas mudam, pois, o mundo começa a mudar a partir de você. Essas mudanças vão se refletir nos nossos relacionamentos familiares, com os colegas de trabalho, com os nossos amigos.

Lapidar os próprios sentimentos é tarefa árdua, por isso é demorado e delicado o processo para se fazer a reforma íntima, necessita-se de muita determinação, paciência, tolerância, desprendimentos, perdão e acima de tudo, AMOR.



ORAÇÃO

Senhor, reconheço a importância de empenhar-me em fazer a minha reforma íntima, buscando a cada dia, ser uma pessoa melhor que no dia anterior. Senhor, sei ainda que, deverei ao final de cada dia, ao término de cada ação, ao concluir cada comentário, que eu saiba me calar e refletir sobre o que eu disse, sobre o que pensei, sobre o que fiz. Sei que devo continuamente analisar meus pensamentos, palavras e obras, só assim, disciplinarei minha conduta para torná-la uma conduta verdadeiramente espírita, uma conduta verdadeiramente cristã.

Compreendo que tenho a eternidade para evoluir, mas, não quero que isso sirva para amolecer o meu ânimo, mas sim, como estímulo para que eu acelere a marcha, de modo a poder ajudar aqueles que ficaram para trás, praticando, desse modo, a verdadeira caridade cristã.

Que assim seja.





Heloiza Beth Macedo Delgado

Palestra proferida no Centro Sociedade Allan Kardec de Estudos Espíritas, em Birigui, em 06 de agosto de 2012.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CURA NO TEMPLO - Pastorino

(Sábado, 23 de abril do ano 30)

João, 5:1-16

1. Depois disso, havia a festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
2. Ora, em Jerusalém, junto à (porta) das ovelhas, há uma piscina, que em hebraico é chamada Bethesda, a qual tem cinco pórticos.
3. Nestes jazia grande número de enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando o movimento da água,
4. porque descia um anjo em certas épocas e agitava a água da piscina; e o primeiro que entrasse na piscina depois de a água mover-se, ficava curado de qualquer doença que tivesse].
5. Achava-se ali certo homem, que havia trinta e oito anos estava enfermo.
6. Vendo-o Jesus deitado, e tendo sabido que estava assim desde muito tempo, perguntou-lhe: "queres ficar são"?
7. Respondeu-lhe o enfermo: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha na piscina, quando a água é movida: enquanto vou, outro desce antes de mim".
8. Disse-lhe Jesus: "Levanta-te, toma teu leito e caminha". 
9. Imediatamente o homem ficou são, tomou seu leito e andou.
10. Era sábado aquele dia. Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: "Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito'.
11. Ele respondeu-lhes: "O que me curou, esse me disse: toma teu leito e caminha".
12. Perguntaram-lhe, então: "Qual foi o homem que te disse: toma teu leito e caminha"?
13. Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se retirara, já que havia muita gente naquele lugar.
14. Depois Jesus o encontrou no templo e disse-lhe: "Olha, ficaste curado: não erres mais, para que te não suceda coisa pior".
15. Saiu o homem e foi dizer aos judeus, que fora Jesus que o curara.
16. Por isso os judeus perseguiam Jesus, porque fazia essas coisas nos sábados.


Após a magnífica aula sobre o Pão da Vida, em que Cristo nos revelou a Via Contemplativa e a Via Unitiva, Jesus "Sobe a Jerusalém".

Observamos que houve troca de folhas nalgum manuscrito primitivo (já Orígenes o notara) e o atual capítulo 5.º tem que ser lido depois, do 6.º. A inversão é bem clara pela crítica interna. Por causa  dessa troca, os mss. A, B, D, N, W e theta trazem "uma festa" (sem artigo), ao passo que os mss. aleph, C, L, delta e as versões coptas (boaírica e saídica, respectivamente do alto e baixo Egito) trazem o artigo: hê heortê, "a festa". Quando era assim determinada, a expressão "a festa" designava a Páscoa. Estávamos, pois, na segunda Páscoa da "vida pública" de Jesus (ver a primeira em João, 2:13, e terceira em João 12:1).

"Junto à (porta) das ovelhas", no original: epi tôi probatikêi (literalmente "perto da probática") pode exprimir quer o nome da porta do ângulo nordeste do templo, quer uma confusão com a piscina  "probática" primitiva, em que se lavavam as vitimas antes do holocausto.

O nome dado à piscina (kolumbêthra, literalmente "banho público") apresenta variantes:
1) BEZATHA, por Euzébio, baseado em Josefo (Bell. Jud. 5, 4, 2 e 5, 6 e 7) que cita o novo bairro de Jerusalém, dando-lhe o nome de Bezata, que significa "cidade nova"; é aceito por Lagrange.
2) BEZETHA, por Vincent, significa '"corte".
3) BELZETHA, em D, no Sinaítico de Paris e poucos outros.
4) BETHSAIDA, nos mss. B, C, W e na Vulgata (é o menos provável).
5) BETHZATHA, nos mss. aleph, L, 33, e, 1; aceito por Nestle.
6) BETHZETHA, aceito por Tischendorf, Westcott-Hort e Van Soden.
7) BETHESDA, nos mss. A, C, E, F, G, H, S, V, theta, omega e muitos outros gregos; nas versões síriaca oficial (Peschito), nítria, árabes e em dois mss. da Vetus Itálica; aceito por Vogels, Prat, Merck, Weiss, Bem e Bover. Citado nessa forma por Jerônimo (De Situ et Nom. Loc. Hebr., Patrol. Lat. vol. 23, col. 884); João Crisóstomo (In Joanne Hom. 36,1, Patrol.Graeca, vol. 54, col. 203); Cirilo de Alexandria (In Joanne, Hom. 2 e 6, Patrol. Graeca, vol. 73, cols. 336 e 988); e Dídimo de Alexandria (De Trinit.2, 14, Patrol. Graeca vol. 39, col. 709).

Como vemos, BETHESDA (que significa "Casa da Misericórdia") tem mais testemunhos.

A piscina ocupava um quadrilátero de 120 m por 60 m, e era cercada por uma galeria em arcadas  (pórticos), dividida em duas partes iguais por uma comporta que tinha, por cima, uma quinta galeria também em colunata como as outras quatro. A bacia ficava circundada por aleijados que esperavam que "a água se movimentasse". O movimento das águas era provavelmente causado pela abertura da Comporta, a fim de jorrar água limpa na piscina.

A segunda parte do vers. 3 e todo o vers. 4 parece que foram interpolados posteriormente, por algum comentador, pois não figuram nos mss. S, B, C, D, W, 33, 134, 157, f, t e na Vulgata de Wordsworth; apenas os mss. A, L, delta e theta trazem essas palavras. Devem ser cortadas, segundo a maioria dos hermeneutas; pois se exprimissem a verdade, "representariam o maior milagre relatado na Bíblia",  milagre inexplicável, em que "o primeiro chegado era curado". Além disso, nenhum texto além desse alude a esse caso extraordinário.

Entre os enfermos, havia um deitado no chão (katakeímenon) doente havia 38 anos. Quando Jesus  veio a saber naquele momento (gnóus supõe conhecimento recente) o tempo da enfermidade, se condoeu dele e perguntou-lhe se queria curar-se. Respondeu-lhe o doente que não tem quem o ajude "a descer à água quando esta se movimenta", frase que provavelmente teria provocado a explicação interpolada nos vers. 3 e 4. Pelas palavras, parece tratar-se de um paralítico.

Uma frase apenas é dita por Jesus: "levanta-te, apanha tua esteira e caminha". Alguns viram nessa  frase uma repetição da narração do fato ocorrido em Cafamaum (Mat. 9:2-8; Marc. 2:1-12; Luc. 5:17-26; veja vol. 2). Mas as circunstâncias diferem totalmente e o ensino ministrado é de outra ordem: lá acentua-se a autoridade do Filho do Homem de resgatar o carma, e aqui sua autoridade acima das prescrições teológicas da guarda do sábado (cfr. Mat. 12:1-8; Mar. 2:23-28; Luc. 6:1-5; vol. 2).

Realmente, entre as 39 proibições de trabalhos, aos sábados, é expressamente mencionada a do   transporte de um leito, com alguém deitado nele ou vazio.

João, que sempre designa por "os judeus" os principais cabeças dos israelitas, coloca de imediato a  questão, com a repreensão ao infrator. Este joga a responsabilidade "em quem o curou", que ele não sabia quem era: Jesus se afastara rápido, confundindo-se na multidão. Talvez para não ser solicitado a fazer outras curas? E por que curou apenas UM, entre tantos enfermos que lá estavam?

Mais tarde Jesus "o encontra no templo" (cfr. 9:35), recomendando-lhe que não voltasse a errar, para que lhe não sucedesse coisa pior. Libertado de seu carma, não fosse contrair outro laço, talvez de  resultados mais dolorosos.

O comportamento deste doente, indo logo denunciar Jesus àqueles que o haviam repreendido, parece bastante estranho. Alguns pretendem desculpá-lo, atribuindo-lhe apenas o desejo de tornar conhecido seu benfeitor. Realmente, com a lábia dos mal-intencionados, estes talvez o tenham convencido a dizer quem o curou, para que pudessem "louvá-lo" ...

Comentário simbólico


Aqui é-nos apresentado um episódio privativo da narrativa de João, obedecendo à mesma técnica didática utilizada na lição do Pão da Vida: partindo de um exemplo prático, de uma experiência viva, finaliza com o desenvolvimento de um tema teórico.


Em vista da importância do ensino posterior, há que prestar atenção a todos os pormenores e sinais fornecidos pelo narrador, como por exemplo à numerologia, simbolismo muito usado pelo quarto evangelista, sobretudo no Apocalipse. Neste trecho comprovamos ainda uma vez a veracidade desta nossa assertiva (já salientada por nós em outros passos), quando João assinala minúcias numéricas totalmente secundárias e inexpressivas, não fora o símbolo que exprimem (piscina com 5 pórticos ... enfermo havia 38 anos ...).

Mas tudo isso é base para posteriores esclarecimentos, na lição teórica Vejamos o trecho.

Inicia-se salientando que "Jesus subiu a Jerusalém pela festa (da Páscoa)". Dirigia-se da Galiléia  (Jardim fechado" da individualidade) para a Judéia ("Louvor a Deus" da personalidade religiosa   filiada a igrejas), colocando sua meta em Jerusalém ("Cidade da Paz", onde poderia desenvolver um tema profundo em relação às criaturas que já se achavam pacificadas no caminho religioso da evolução). E isso por ocasião da "festa da Páscoa", isto é, da alegria da passagem da ordem inferior da personalidade, para a superior da individualidade.

Nesse ambiente, anota-se o local da lição prática: a "porta das ovelhas", o lugar mais indicado para um "Bom Pastor" conversar com aqueles que, "quais ovelhas entre lobos", desejavam penetrar o  sentido profundo das Escrituras, libertando-se do sentido "literal". Era exatamente a porta de acesso a
uma lição espiritual profunda.

Não nos esqueçamos de que as ovelhas constituem o símbolo do holocausto, do sacrifício da parte animal do ser humano, quando aceito resignadamente. Ao contrário, por exemplo, dos suínos, que berram revoltados ao serem sacrificados, as ovelhas caminham sem protesto para a tosquia e até para o holocausto de suas vidas: "não abriu a boca, como o cordeiro que é levado ao matadouro e como a ovelha que é muda diante dos que a tosquiam" (Is. 53:7).

O ensino de que a ovelha (cordeiro ou carneiro) é o símbolo da parte animal do ser humano, e que é esta que deve ser sacrificada, nós o recebemos desde o Antigo Testamento (cfr. Gênesis, cap. 22). YHWH ordena a Abraão que vá a Moriah e ali lhe sacrifique seu único filho Isaac, "a alegria" (ou seja, seus veículos físicos, "filhos" únicos do Espírito); obedecendo à letra da ordem, Abraão encaminha-se para o local determinado e chega a amarrar Isaac no altar do sacrifício, levantando o cutelo para imolá-lo. Faz-se então ouvir a voz de YHWH, esclarecendo que não era esse o sentido da ordem; que se alegrava por vê-lo obediente, mas que não sacrificasse o corpo (o "filho"); é quando Abraão vê um carneiro e o imola, isto é, quando compreende a alegoria, percebendo que o holocausto pedido é apenas do animalismo ainda residual no homem.

Na "porta das ovelhas" havia uma piscina, um "banho público" (lugar destinado à limpeza e purificação dos corpos) com CINCO pórticos; outra anotação que deixa perceber que a criatura- paradigma da lição já se achava purificada e limpa em sua parte da animalidade.

Recordando e aplicando o conhecimento dos arcanos, vemos que se trata de um modo de assinalar  que ali "a Providência divina governaria a vida universal e a vontade do homem dirigiria sua força vital (cfr. pág- 121).

Tanto assim é que João registra o nome simbólico da piscina, Bethesda, ou "Casa da Misericórdia". Esse nome não consta de nenhum outro documento histórico, nem podia constar, pois foi escolhido pelo evangelista para fazer compreender a quem no pudesse, o significado da lição: um Manifestante divino que chegava às criaturas misericordiosamente para elucidá-las.

Mas também aprendemos que a lição se referirá aos seres já purificados no corpo, os quais, tendo superado as fases da personalidade (físico, etérico, astral e intelectual) estão começando a perceber, consciente ou inconscientemente, o plano da individualidade, o quinto plano, embora não consigam sozinhos dar o passo decisivo. Daí o fato ocorrer na "porta" (entrada) das "ovelhas" (dos dispostos ao sacrifício) numa "piscina" (depois de purificados) na "Casa da Misericórdia" onde receberão a Provid ência que governa a vida universal, já que eles se acham prontos a dirigir suas forças vitais nesse sentido. Então, tudo está preparado, o discípulo está pronto, vai aparecer o Mestre Revelador dos segredos eternos.

A seguir João acrescenta que "ali havia grande número de enfermos". Ora, isso jamais teria sido possível na vida real. Numa cidade dominada pelos romanos havia quase um século (de 63 A.C. a 30 A.D.), nunca seria permitido um enxame de enfermos mendigos em redor - e banhando-se! - num  local destinado aos banhos públicos, frequentados pela nata da sociedade. A entrada nas Termas era severamente controlada em Roma, em Atenas, em qualquer outra cidade importante. Por que não no seria em Jerusalém?

Então, resultando a anotação do evangelista uma inverdade histórica, só podia ser alegórica. Tanto o é, que ele ainda cuida de especificar os tipos de enfermos: cegos, coxos e paralíticos. Aí temos, pois, aqueles que, embora começando a perceber a individualidade, nos lugares de "louvor a Deus" (isto é, nas religiões oficiais) e embora na "cidade da paz" (ou seja, em estado" pacificados pela convicção religiosa) estavam CEGOS, não compreendendo o que com eles se passava, não vendo a realidade evolutiva; eram COXOS, como que caminhando com uma perna só (a devoção) sem conseguir usar a outra (evolução), ou se achavam PARALÍTICOS, sem poder dar um passo sequer na estrada certa. Todas as três espécies de enfermos que não poderiam mover-se sem ajuda de outrem!

Notemos que João não fala de surdos, pois estes seriam os que não queriam ouvir ninguém, vaidosos e      
presunçosos de seus conhecimentos, e portanto não estariam ali aguardando o Mestre. Também não fala de mudos, de leprosos, de possessos ou obsidiados, de epilépticos, de hidrópicos ... Cita apenas as  
três classes que, precisamente, teriam dificuldade de "lançar-se à água quando esta se movimentasse":
os cegos não enxergariam o movimento da água; os coxos poderiam mover-se claudicando com dificuldade; e os paralíticos não poderiam mover-se ... Ora, se na realidade a cura se desse tal como literalmente dá a entender o Evangelho, não haveriam de faltar os portadores de outras moléstias, que com facilidade poderiam atirar-se na piscina, curando-se. Como lá não estavam? Mais um pormenor que nos chama a atenção para o simbolismo da cena.


E é realçado esse simbolismo pelo fato de o Mestre dirigir-se a apenas um dos presentes, ao que já estava preparado de todo para caminhar à frente, dando o passo decisivo para a atuação da Centelha divina nele.

Com efeito, é anotado que esse, que ali estava, já se achava "enfermo" (fraco) havia trinta e oito  anos. Que significaria o número 38? Não vemos outro simbolismo que a falta de DOIS ANOS, para completar QUARENTA. E sabemos que 40 (veja vol. 1) exprime a luta do Espírito com o mundo exterior. Em sua encarnação (materialização do astral e do etérico), o Espírito, a Centelha divina, ainda não havia atingido a exteriorização de si mesma no plano da personalidade; ainda não conseguira manifesfar-se a esta: faltavam dois anos somente.

Recordemos que o DOIS é, no plano humano, a receptividade feminina, o campo pronto a receber a semente fecundadora. Então, faltava apenas receber a manifestação da PALAVRA (o Logos, ou SEGUNDO aspecto da Divindade) para que essa Centelha se manifestasse à personalidade. O homem
estava pronto, aguardando a mão que o ajudasse a dar o passo definitivo.

E o Cristo pergunta-lhe se ele quer dá-lo. Nada é feito sem que o livre-arbítrio da criatura o decida (é o simbolismo do CINCO: a vontade do homem para dirigir sua força vital).

A resposta dele mais uma vez confirma nossa interpretação: "não tenho quem me ponha na piscina, quando a água é movimentada". Por que não teria ele dito simplesmente "quero"?

Na realidade, sabemos que a ÁGUA simboliza a interpretação alegórica das Escrituras. E é disso que se queixa o enfermo: não podia mover-se sozinho para ir buscar essa compreensão profunda  (faltavalhe a "chave") e não encontrara ninguém que lhe proporcionasse meios de penetrar a alegoria, extraindo das palavras físicas, da letra, o SENTIDO espiritual (cfr. vol. 1).

Aqui compreendemos as frases de João nos vers. 3 e 4, que podem perfeitamente ser aceitas neste sentido mais profundo: de tempos a tempos desce um ANJO (chega à Terra um Mestre, um Manifestante divino, um Avatar) e "movimenta as águas" (revela certos sentidos alegóricos e simbólicos profundos das Escrituras); e os "enfermos" que entram nessas águas (que compreendem a lição e a vivem) se curam de suas fraquezas. Não se referia João, com essas palavras ao fato expresso pela letra,mas a um sentido oculto, que pudesse ser captado por quem tivesse a capacidade de compreender: qui potest cápere, cápiat.

Diante dessa disposição de aceitação plena, em que o enfermo apenas solicita a ajuda de alguém para iniciá-lo, o Cristo resolve fazê-lo. Levanta-te, isto é, eleva tuas vibrações íntimas; toma teu leito, ou seja domina teu corpo, carregando-o como um peso necessário, embora incômodo e externo a teu Eu verdadeiro; e caminha, e prossegue avante tua jornada evolutiva em busca do Espírito.

A seguir o Evangelista salienta que era sábado, dia prescrito ao repouso. E por isso os "judeus" (os "adoradores de Deus", sequazes ortodoxos da religião oficial) protestam, ao vê-lo afastar-se das prescrições religiosas correntes. Todos os religiosos fervorosos (ou fanáticos) colocam a observância externa dos cultos e ritos como base de salvação, e condenam com veemência (excomungando) todos os que, libertando-se das exterioridades, procuram seguir o Espírito (individualidade).

O doente desculpa-se, dizendo que Aquele que o havia curado (que lhe havia revelado o caminho a seguir, manifestando-lhe o sentido secreto do espiritualismo) esse lhe havia ordenado que não desse importância aos preceitos impostos pelos homens, mesmo que tivessem sido "atribuídos" à Divindade.

Quando lhe perguntam "quem era" esse, responde "não saber": trata-se do Grande Inominado, o Cristo Interno, que a personalidade de Jesus nos revela plenamente. Mais tarde, em outro contato íntimo e profundo (Jesus o encontra NO TEMPLO, isto é, o Cristo tem contato com ele no coração), percebe de Quem se trata, ao aprender que deve vigiar para não cometer outros erros, afastando-se do Espírito, pois coisas piores lhe poderiam ocorrer, em encarnações de sofrimento e dor; não mais trilhar os caminhos da materialidade, no Anti-Sistema, mas sair do pólo negativo para o positivo, para o Sistema (P. Ubaldi).

Emocionado com as novidades do ensino, ofuscado com as luzes que lhe chegaram - embora já se sentisse perseguido por haver saído da trilha normal comum a todos os religiosos de mentalidade estreita - resolve divulgar a verdade, revelando de onde recebeu esses ensinamentos: o Cristo. Vai a seus antigos companheiros de religião, com o intuito de ensinar-lhes os segredos que tanto bem lhe haviam feito. Mas isso desencadeia novas perseguições, desta vez diretamente voltadas contra o Cristo, contra o Espírito que nele se manifestara.

Estava dada a aula prático-experimental, só faltando o desenvolvimento teórico, para que os  discípulos compreendessem a profundidade do exemplo apresentado, da experiência vivida.

E é o que o Mestre faz, a seguir, numa lição cheia de beleza e elevação, numa aula magistral.











DESENCARNE COLETIVO


PENAS TEMPORAIS - O PORQUÊ DO DESENCARNE COLETIVO.
Christiano Torchi - Revista Reformador/FEB - Dezembro 2012

(Nada há de acaso ou fatalidade.  Muitas vezes espíritos endividados por terem conjuntamente causado o sofrimento de outros irmãos escolhem esse tipo de prova para resgatar débitos muito antigos. Ninguém escapa ao reajuste da Lei de Causa e Efeito. O texto abaixo é muito esclarecedor. Oremos pelos que retornaram nessas condições. Paz.)



 Humberto de Campos, notável escritor brasileiro, desencarnado em 1934, descreve, sob o pseudônimo “Irmão X”, em obra psicografada pelo médium Fran
Penas temporais
cisco Cândido Xavier (1910-2002), lamentável episódio ocorrido, no ano 177 da Era Cristã, na cidade de Lyon, situada em antiga província romana da Gália, em que “mais de mil pessoas, ávidas de crueldade”, cooperaram com sinistro plano de levar à arena “largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas”, as quais, “no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria”. Finalizando a viva narrativa, Humberto de Campos arremata:
Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento...

Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.1
Esses dois impactantes eventos, ocorridos em lugares tão distantes um do outro, no espaço e no tempo, nos fazem refletir sobre as causas das provas experimentadas pelos Espíritos no estado de encarnados, também chamadas “penas temporais”. Da choupana ao palácio, ninguém está livre dos sofrimentos inerentes ao estágio evolutivo da Terra, orbe de provas e expiações, onde cabe a todos cumprir sua parte na obra da criação e onde a indefectível justiça divina se faz por intermédio da lei de causa e efeito.

Os sofrimentos podem ser de natureza física e/ou moral e atingem indiferentemente os Espíritos encarnados. Os desencarnados, porém, por estarem desprovidos do corpo material, sofrem apenas dores morais, muito embora tais padecimentos sejam, muitas vezes, superlativamente mais pungentes do que os experimentados pelos chamados “vivos”. Já os “mortos” nessas condições, ainda inscientes de seu desenlace, experimentam tais aflições como se ainda estivessem na carne.
Os sofrimentos que atingem os Espíritos em estágio na vida material geralmente decorrem da expiação de erros praticados em encarnações anteriores, expiação essa que, via de regra, é escolhida livremente por eles próprios antes de retornarem ao corpo físico. Há sofrimentos, porém, que não derivam de erros praticados no pretérito reencarnatório: são apenas consequências inevitáveis da conduta do homem em sua existência atual, em virtude do seu caráter inferior.
A expiação é a pena imposta ao infrator das leis divinas. O sofrimento causado por essa pena é a oportunidade do resgate dos erros, que conduz à redenção espiritual. Já a provação é o teste que avalia o aprendizado na estrada da edificação espiritual.
Há casos em que os Espíritos ainda não estão aptos para escolher as provações pelas quais expiarão seus erros, em virtude de falta de evolução ou de merecimento, hipóteses em que as provas são impostas compulsoriamente.
Ressalve-se, porém, que nem todo sofrimento experimentado pelos Espíritos constitui expiação ou resgate de atos passados. Muitas vezes, o Espírito escolhe provas difíceis com o objetivo de progredir mais rapidamente. Por isso se diz que toda expiação é uma prova, mas nem toda prova é uma expiação.2
À medida que o Espírito se purifica, põe-se em condições de habitar outros orbes mais evoluídos, ascendendo, de forma gradual e irreversível, à perfeição. Eis a instrução de Kardec, com fundamento no ensino dos Espíritos superiores, a respeito desse tema:
Nos mundos onde a existência é menos material do que na Terra, as necessidades são menos grosseiras e menos intensos os sofrimentos físicos.
Os homens desconhecem as más paixões que, nos mundos inferiores, os fazem inimigos uns dos outros.Não tendo nenhum motivo de ódio nem de ciúme, vivem em paz, porque praticam a lei de justiça,amor e caridade. Não conhecem os aborrecimentos e os cuidados que nascem da inveja, do orgulho e do egoísmo e que constituem o tormento de nossa existência terrestre.3
Não podemos perder de vista que estamos reencarnados num mundo inferior, nele retidos em virtude de nossas imperfeições. Toda vez que formos atingidos em nossos interesses mais caros, sejam eles morais ou materiais, lembremo-nos da advertência que vem do Alto:
[...] Aquele que se elevar, pelo pensamento, de modo a abranger toda uma série de existências, verá que cada um recebe a parte que merece, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca se interrompe.4
A partir desse entendimento, é lícito deduzir que, se pertencêssemos a um orbe mais adiantado, não passaríamos por essas provações e que só depende de nós o acesso a esses mundos melhores, desde que trabalhemos pela nossa elevação. Enquanto não estiver bastante adiantado, o Espírito continuará reencarnando na Terra.
Entretanto, mesmo merecendo a ascensão para um mundo melhor, o Espírito que não completou determinada missão pode pedir uma nova existência na Terra para concluí-la, circunstância em que tal existência não representará para ele uma expiação.
Aquele que, mesmo sem praticar o mal, nada fez para se melhorar, permanece estacionário em seu progresso, prolongando os sofrimentos decorrentes de sua expiação.
Sem a atividade, sem o trabalho na causa do bem, não há progresso moral. Essa é a razão pela qual os benfeitores advertem:
[...] A soma da felicidade futura é proporcional à soma do bem que tenha feito; a da infelicidade está na razão do mal que haja praticado e das pessoas a quem tenha infelicitado.5
Todo aquele que, pelo seu caráter, for causa de infelicidade a outrem também experimentará na mesma proporção o mal que tenha feito o outro sofrer. Daí a importância de ficarmos atentos às nossas atuais tendências, que são indícios do mal que precisamos corrigir em nós:

O homem traz consigo, ao nascer, aquilo que adquiriu; nasce como se fez. Cada existência é, para ele, um novo ponto de partida.
Pouco lhe importa saber o que foi antes: se é punido, é porque fez o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, pois, daquilo de que se corrigiu completamente, não restará mais nenhum sinal. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, que o adverte do que é bem e do que é mal, dando-lhe forças para resistir às tentações.6
É por intermédio das provações bem suportadas, nas diversas encarnações, que os Espíritos adiantam-se na senda do progresso, superando suas imperfeições, e, por meio das expiações, quitam suas faltas e se purificam:
[...] Aquele, pois, que sofre muito, deve reconhecer que muito tinha a expiar e alegrar-se à ideia de ser logo curado. Depende dele, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, pois, do contrário, terá de recomeçar.7
Em suma, as penas temporais dizem respeito às expiações e às provações pelas quais os Espíritos encarnados passam, com o objetivo de resgatarem suas faltas e progredirem.
Se o mal e o sofrimento ainda prevalecem na Terra, não devemos culpar a ninguém senão a nós mesmos, todavia, não estamos desvalidos dos recursos divinos para modificar esse estado de coisas, os quais atestam a misericórdia e a bondade do Criador, que jamais fecha a porta ao arrependimento e à recuperação de seus filhos que somos todos nós.
CHRISTIANO TORCHI
Referências:
1XAVIER, Francisco C. Cartas e crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 13. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 6.
2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5, it. 9.
3______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Comentário de Kardec à q. 985.
4______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5, it. 7.
5______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 988.
6______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5, it. 11.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Lição dos Gansos


“Quando um ganso bate as asas, cria um vácuo para o pássaro seguinte.
Voando numa formação em “V”, o bando inteiro tem seu desempenho 75% melhor do que se a ave fosse sozinha”.

Desta forma sabemos que pessoas que trabalham em conjunto na mesma direção atingem seus objetivos
mais rápido e mais facilmente.

“Quando o ganso se cansa, muda para trás da formação e outro assume seu lugar, voando à posição da ponta”.
É preciso que aconteça um revezamento das tarefas e da liderança.

“Os gansos de trás, na formação, grasnam para incentivar e encorajar os da frente a aumentar a velocidade.”
O nosso “grasnido” deve apenas encorajar os outros, e não os desanimá-los.

“Quando um ganso fica doente, ferido ou abatido, dois saem da formação e seguem-no para ajudá-lo”.
Vale a pena imitar os gansos, ficando ao lado dos outros nos momentos difíceis,
e em cada momento estarmos juntos.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Solidão e consciência


Nesta época em que vivemos, a sensação é que jamais estamos sós. Cercados por gente em ônibus, metrôs, aviões, locais de trabalho e ruas. Entretanto, nunca fomos tão solitários.

E quanto mais nos cercamos de gente, de barulho, de tarefas, mais se agrava a sensação de que estamos sós. Parece contraditório?

Parece sim. Mas não há contradição. Porque estar em companhia de alguém é muito mais do que estar ao lado da pessoa.

Muitas vezes a presença física está lá, mas a alma já escapou para um lugar distante.

Um dos maiores compositores da Humanidade, Giuseppe Verdi, criou uma imagem fascinante para as pessoas que vivem cercadas de gente, em festas cheias de risos e de alegria, mas que se sentem caminhando sós pelo Mundo.

Está na ópera La traviata. É quando a personagem Violeta fala que é uma mulher sozinha em um populoso deserto.

Quantas vezes nos sentimos em um deserto habitado por gente estranha!

Sim, em nossa vida raramente temos pessoas que pensam igual a nós.

Aqui e ali temos afinidades e pontos em comum, mas a trajetória da alma é solitária. Nossas descobertas, vitórias e frustrações são intransferíveis.

Em nosso caminho para Deus estabelecemos diálogos que dizem respeito apenas a nós mesmos.

Processos pessoais, momentos puramente individuais em que a voz da consciência ressoa em nossa alma com exatidão... Com rara sinceridade.

Por melhores sejam os amigos, eles não nos dirão as verdades como a nossa própria consciência o faz.

O amigo não vai desejar nos ofender, maltratar ou irritar. Por isso, ele tentará minimizar a dura verdade.

Mas a consciência, não. Ela nos apresenta uma avaliação rigorosa de nossos atos. Ela nos põe diante de nós mesmos.

Tudo muito naturalmente. E sequer conseguimos contestar essa avaliação criteriosa.

Então, por que temer a solidão? É quando silencia o mundo à nossa volta que conseguimos ouvir a voz da consciência.

O homem sábio muitas vezes busca o deserto, a quietude, o silêncio, a fim de se encontrar consigo mesmo, de voltar-se para Deus.

Há tempo para tudo, ensina o Eclesiastes, um dos livros bíblicos. Tempo de semear, tempo de colher, tempo de falar, tempo de silenciar também.

Silenciar para ouvir os sons da alma, os conselhos do coração.

Então, se a vida lhe oferece a solidão, acolha-a como um presente. Aproveite cada minuto para reflexões. Encare tudo como oportunidade de aprendizado.

Há tanta gente imersa em ruídos, sufocada por conversas maledicentes ou pelo som de risadas irônicas. Há tanta gente cercada de pessoas mas com o coração amargurado, oprimido, vazio.

Por isso, não lamente a falta de companhia do Mundo. Busque na sua solidão a mão amiga de Deus.

* * *

Enquanto você se crê solitário e triste, frustrado nos anseios que acalentava, perde os olhos nas tintas carregadas do pessimismo e não vê aqueles olhos que o fitam inquietos, desejando se acercar de você, sem oportunidade de poder fazê-lo.

Pense nisso!


Redação do Momento Espírita.

Em tempos de solidão


Por Joana Abranches

Num momento em que epidemias e pandemias roubam a cena nos noticiários, uma doença silenciosa, há algum tempo sutilmente instalada no meio de nós, continua causando estragos não menos danosos que as enfermidades anunciadas. Sim, na sociedade dos “sem tempo”, do individualismo e das relações descartáveis, um dos males do século é a solidão.

Aqui e ali, jovens e “adolescentes retardatários” - contingente cada vez maior de pessoas entre os 20 e os 40 anos de comportamento infantilizado - se acotovelam em noitadas regadas a muito chopp, vodca e ou drogas sintéticas. Nos barzinhos e danceterias, entram em bandos, “ficam” com muitos e saem com muito pouco... Mais sozinhos e perdidos do que nunca. Daí a imprescindível reincidência cotidiana no enganoso jogo do frequentar. Frequentar significa a chance de estar na vitrine e encontrar companhia. Companhia qualquer, que no dia seguinte jaz exibida como troféu em orkuts e blogues, nas fotos repetitivas dos sorrisos forçados sempre emoldurados pelo copo ou pela latinha exibidos orgulhosamente numa das mãos, enquanto a outra automaticamente faz sinal de positivo, ou outro qualquer – conforme a tribo – pra ilustrar a pseudo-alegria de mais uma noite vazia e igual.

Por outro lado, os assumidamente maduros formam a imensa fila dos solteiros, separados e viúvos que procuram relacionamentos sólidos, parceiros afetuosos e leais, mas que, em maioria, se precipitam em relacionamentos arriscados, diante da incomoda sensação de que o tempo está passando, o corpo envelhecendo e as chances diminuindo em razão da ditadura do corpo perfeito e da eterna juventude, excludente e implacável, numa sociedade que há muito vem super valorizando o supérfluo em detrimento do essencial. O desespero faz com que joguem no escuro, seduzidos pela primeira impressão ou por mentiras virtuais em que se quer muito acreditar, mas na verdade seduzidos pela própria carência e premência de ostentar um parceiro. É a lógica de resultados, absorvida por inteiro, a se transportar de forma perversa para a vida pessoal, nela também - e principalmente - fazendo seus reféns. Estar só é sinônimo de incompetência afetiva ou falta dos atrativos exigidos pelo mercado. Viramos coisa, objeto, que independente do conteúdo, se consome ou se rejeita conforme a embalagem e o marketing. O subproduto, claro, é a solidão.

Solidão acompanhada e não menos solitária. Compartilhada pela TV, pelo cachorrinho de estimação, pelas horas a fio nos sites de relacionamento ou pela espera ansiosa de um simples email. Solitude que dói quando se é mais um, igual a todos e – por consequência – invisível; Quando a gente se olha e não se vê ou vê no outro a idealização fugidia de algo que nunca virá a ser. A dor de possuir o que não se tem, desnudar-se a quem não quer ver... A dor de perceber-se descartável, embora humano.

Mas a dor maior será talvez a do equívoco da finitude, a ausência do sentido real da existência, da transcendência, do ser espiritual que pulsa e anseia - sem se dar conta - por algo além da vã materialidade. No fundo, “ser feliz é tudo o que se quer”, mas felicidade é também dar felicidade, o que só virá quando o individualismo der lugar à generosidade e as aparências à essência. Só virá, de fato, quando deixar de ser “um sonho que se sonha só”.

Não nascemos pra viver sozinhos, é verdade. Além do mais, fomos secularmente aculturados para o acasalamento inevitável e complementar. Assim, faz parte do existir compartilhar a vida com alguém especial - às vezes nem tão especial assim – mas cuja presença representa um cobertor emocional para que não se morra de frio quando as crianças crescem e se vão, quando nossos pais já não estão mais por aqui, ou quando aqueles irmãos, amigos e primos, antes inseparáveis, tomam outros rumos. Em tese, o parceiro é a garantia de alguém que fica, quando todos partiram.

Porém, em tempos bicudos de frustrações afetivas, precisamos encontrar alternativas que atenuem a incomoda sensação de abandono que vez por outra teima em nos assaltar... A saída é dar razão de ser à vida. Focar menos no que não se tem e mais no que se pode ser. Colocar as mãos num trabalho gratificante e a cabeça em ideais superiores que certamente preencherão nossos dias. Repartir o que tenhamos em abundancia para oferecer, inclusive afeto. Enquanto o “amor da nossa vida” não chega, concentremo-nos no amor que podemos dar e receber da vida. Adotemos outras famílias, novos amigos, programas saudáveis e divertidos, trabalho voluntário, intimidade com Deus. Voltar a estudar, reencontrar um velho amigo também solitário, desengavetar aquele antigo projeto... Estar por inteiro no mundo, sem metades perdidas e com direito a uma auto-estima pra lá de achada... Eis o segredo para que se possa estar contente com a própria companhia quando não houver mais ninguém por perto; para que se possa perceber o quanto é prazeroso abrir a porta de casa após um dia daqueles, dar de cara com a gente no espelho da sala vazia e, sem nenhum ranço de auto-piedade, poder dizer pra si mesmo sem medo de ser feliz: - Eta sossego danado de bom!

* Joana Abranches - Assistente Social e Presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno – Vitória/ES
joanaabranches@gmail.com – amorefraterno@gmail.com

Solidão é muito mais que viver só


Solidão é definida como estado de quem se acha ou vive só1. Solitário é aquele que vive em estado de solidão, aquele que não convive com os seus semelhantes(1).

Levando em conta esta definição, ou seja, solidão como viver só, Kardec(2) ensina que a vida social está na natureza, dentro da Lei da Sociedade. Deus fez o homem dando-lhe a palavra e as demais faculdades para que pudesse viver em sociedade. Desta forma, todos os seres humanos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente. Ressalta que o homem não pode viver insulado, pois se embrutece e não progride. Aquele que vive em reclusão, fugindo do contato com o mundo, é portador de um grave egoísmo.

Kardec é enfático quando diz que os laços sociais e familiares são necessários ao progresso do ser humano, pois, desta maneira, quis Deus que os homens aprendessem a amar-se como irmãos.

Assim, Kardec, sem utilizar a palavra solidão, repreende o homem com tendência a se isolar e a viver só. Orienta-o para o progresso e para isto deve ter uma vida de relação.

Tem-se que levar em conta, ainda, que estar sozinho, em muitos momentos, pode ser uma ocasião de solitude saudável e enriquecedora. Pode até desencadear notáveis expressões de criatividade, mas não implica dizer que toda solidão (viver só) traz benefício dessa natureza. Muitos indivíduos dizem se sentir bem quando conseguem ficar sozinhos por um curto período (como dizem: um tempo que é dado só para si) e muitas vezes esta situação faz com que se voltem para dentro de si e se conheçam melhor, principalmente revendo suas atitudes e imperfeições.

O mundo moderno propicia ao homem se sentir só. As causas principais são: famílias menos estáveis, divórcios em larga escala, filhos abandonando os lares na maioridade, computador (pessoas que passam a maior parte do tempo num mundo virtual), bullying (seja na escola, no trabalho, ou em outra situação, provocando o retraimento e isolamento do indivíduo) e outros. Estima-se que em 2010, 31 milhões de americanos viveram sozinhos em casa(3). No Brasil, a Fundação Getulio Vargas divulgou pesquisa em que estimou um número crescente de brasileiros que vivem sós.

Logicamente que o viver só, com pouca interação com o semelhante, pode ocasionar sintomas de tristeza, de incapacidade, de autodesvalorização (depressão) e tendência ao egocentrismo.

Geralmente, na Psicologia e na Psiquiatria, utiliza-se o termo solidão, no mesmo sentido que ensinam os dicionários: falta de alguém ou viver só.

Na prática médico-psiquiátrica a coisa não é bem assim. É comum ouvir a queixa solidão de pessoas que vivem sozinhas, ou porque perderam alguém (separação ou morte) ou pela dificuldade para ter uma amizade ou um relacionamento. No entanto, também se ouvem queixas de pessoas que sentem solidão mesmo convivendo com muitas pessoas, em companhia. Esta solidão é descrita como uma sensação de vazio ou de desconforto interno. Nota-se, desta forma, que se trata de um sentimento mais profundo do que estar simplesmente só.

Este vazio, quase sempre não bem explicado pelo indivíduo, é decorrente de outros sentimentos, tais como: abandono, rejeição, insegurança, baixa autoestima, falta de perspectiva futura, inutilidade; enfim, de sentimentos que encarceram a alma, que bloqueiam a vida afetiva saudável e relacionamentos sociais positivos.

Muitos existencialistas dizem que cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser separado dos demais e morre sozinha. Induzem a uma ideia de que o homem vive só na vida, esquecendo-se de que o ser humano é um ser social por sua própria natureza. O lidar com isto e direcionar tudo de uma forma satisfatória é uma condição humana, porque cada um pode e deve cultivar suas qualidades e modificar os seus defeitos, no anseio de viver bem consigo mesmo e na esfera social.

Solidão, no sentido mais profundo, também pode ser definida como uma incapacidade de sentir compaixão, de ser amado, de se amar e de ter esperança. Ainda, a procura de si dentro do vazio existencial, de direcionar os seus sentimentos e de se ligar com o Ser superior. Não se pode depender de alguma coisa para não se sentir em solidão.

A Psicologia e a Psiquiatria lançam mão de muitas formas para tratar a solidão. Entendida como viver ou estar só, a psicoterapia é um método efetivo e frequentemente muito bem sucedido. Nos casos da solidão vista como um vazio existencial, a terapia deve mostrar ao indivíduo que ter uma companhia ou melhorar seu relacionamento social não é o tudo. Deve enfatizar o entendimento e a compreensão da sua causa, a reversão dos pensamentos negativos, buscando a transformação dos sentimentos e atitudes negativas. Como se vê, a terapia espiritual é aconselhável em todos os casos.

A prática psiquiátrica ensina que não é comum a queixa de solidão isolada; geralmente ela está inserida em muitos transtornos emocionais como: a depressão, a ansiedade e as fobias. Transtornos nos quais se encontra um desequilíbrio de sentimentos.

Na visão espírita, ao praticar os ensinamentos de Kardec, a solidão pode ser evitada se as Leis de Deus forem consideradas. Ninguém deve se isolar; a interação entre os homens serve para a evolução e para a constante transformação dos sentimentos e atitudes. Agindo dessa forma, foge-se do egocentrismo e do vazio da alma que chamamos de solidão.

Emmanuel(4) ensina: “se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do eu (solidão, grifo nosso) começa o teu curso de autolibertação, aprendendo a viver como possuindo tudo e nada tendo, e, com todos e sem ninguém”.


BIBLIOGRAFIA:

1. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Brasília: FEB,1985.

3. Loneliness and Isolation: Modern Health Risks – The Pfizer Journal IV, 2000.

4. XAVIER, Francisco C. / EMMANUEL. Fonte Viva. Rio de Janeiro: FEB, 2010.



José Luiz Condotta

Revista Internacional de Espiritismo - Agosto de 2011

A SOLIDÃO DOS BONS


Reflexão...

O exercício da bondade é comportamento que gera mudança na vida de relações. Não é necessário ser Bom na verdadeira acepção da palavra, o mero treino das atitudes boas, o ser "bom", já é suficiente para entender como nasce essa solidão.

Quando alguém passa a dedicar-se a muitos, dificilmente tem tempo para poucos, as vezes não tem tempo nem para si. Passam a ser raros os que aparecem para saber como estão, pois sendo a vida feita de afinidades e os "bons" (que raramente procuram os outros para um olá) com o tempo são substituídos ainda que o afeto se mantenha. Tal resultado não merece nenhuma crítica, surge das situações.

Paralelamente aumentam, graças a Deus, as pessoas que os procuram para perguntar algo, pedir uma orientação, solicitar uma prece, compartilhar seus medos, dúvidas, problemas. Foi para isso que eles se disponibilizaram e, obviamente, tal procura exige resposta pautada nos conceitos que trouxeram essas pessoas para perto, em geral motivadas pela necessidade e fé.

O tempo do "trainee da bondade" é cada vez mais aproveitado em fazer e ser, e menos em ter, e como a sociedade atual exige "ter" (ter amigos, ter dinheiro, ter tempo para diversão...), esse tipo de pessoa passa por um processo interessante: entre muitos, está quase sempre só.

Recordo-me de uma experiência que talvez exemplifique: fiz parte de um centro espírita onde um médium vinha de outra cidade, uma vez por mês, fazer atendimento de cura. Casa sempre cheia, o médium sempre muito assediado (todos faziam tudo para estar com ele alguns minutos - ele tinha uma energia boa que fazia querer estar perto). Um dia esse médium decidiu que não mais atenderia naquela cidade. O CE, sempre cheio, estava lotado no primeiro mês, esperando-o voltar. No segundo mês também. No terceiro começou a diminuir os assistidos que iam à casa. No quarto mês, idem. No quinto mês alguns trabalhadores do CE se ausentaram. No sexto mais pessoas abandonaram o trabalho e assim continuou acontecendo. No final de um ano sem o médium que só fazia um trabalho na casa, embora tivéssemos estudos, evangelho de salão, passes, reuniões com a comunidade para distribuição de mantimentos, só ficaram na casa o Presidente e eu... esse centro espírita fechou.

Ressalvadas as diferenças, é assim a vida de relação dos bons. Enquanto têm algo a oferecer, enquanto precisam deles e eles ajudam, não estão fisicamente sós. Mas ai se precisarem de ajuda! A existência serve para que nos tornemos pessoas independentes e o "bom" trabalha para que o próximo não precise mais dele, sendo capaz de realizar sozinho - é assim que deve ser.

O comum é que enquanto necessitadas e não saciadas as pessoas fiquem perto. Mas, quando ocorre a cura do corpo ou da alma, ou quando não há mais o que oferecer, quase todos partem. E como os "bons", muitas vezes, não foram capazes de sustentar as amizades reais por falta de tempo, optando por dedicarem-se à efemeridade das relações geradas pela necessidade, acabam convivendo com os que querem deles algum benefício. Eles são seres invisíveis em sua essência, por isso tão sós.

Isso indica que as razões pelas quais as almas realmente boas e que dedicam suas vidas verdadeiramente ao próximo, raramente formam família, pois é incompatível ser tudo na intimidade precisando ser tudo na coletividade.

Acredito que houve muita solidão na vida de Chico Xavier, de Irmã Dulce, de Madre Teresa, de Gandhi e tantos outros, ainda que sempre tenham tido à sua volta, muitas, muitas pessoas... Não darei uma sugestão de solução para isso. Meu coração diz o que seria certo cada um fazer, mas há coisas que não se ensinam, sente-se, percebe-se a partir do discernimento e da própria compreensão de caridade.

By Vania Mugnato de Vasconcelos

SOLIDÃO - EMMANUEL


“O presidente, porém, disse: – mas, que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: – seja crucificado.” –(Mateus, 27:23.)


À medida que te elevas, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentas a solidão dos cimos e incomensurável tristeza te constringe a alma sensível.
Onde se encontram os que sorriram contigo no parque primaveril da primeira mocidade?
Onde pousam os corações que te buscavam o aconchego nas horas de fantasia? Onde se acolhem quantos te partilhavam o pão e o sonho, nas aventuras ridentes do início? Certo, ficaram...
Ficaram no vale, voejando em círculo estreito, à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente. Em torno de ti, a claridade, mas também o silêncio... Dentro de ti, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não seres compreendido... Tua voz grita sem eco e o teu anseio se alonga em vão. Entretanto, se realmente sobes, que ouvidos te poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os teus ideais de altura? Choras, indagas e sofres... Contudo, que espécie de renascimento não será doloroso? A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente, para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida. A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza. A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o Sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. Não te canses de aprender a ciência da elevação. Lembra-te do Senhor, que escalou o Calvário, de cruz aos ombros feridos. Ninguém o seguiu na morte afrontosa, à exceção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em obediência à justiça. Recorda-te dele e segue... Não relaciones os bens que já espalhaste. Confia no Infinito Bem que te aguarda. Não esperes pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento. E não olvides que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo dos homens não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.
Fonte: item 70, extraído do livro Fonte Viva- Médium Franciso C Xavier /Emmanuel, ed. FEB

Carma de Solidão


Caminhas, na Terra, experimentando carência afetiva e aflição, que acreditas não ter como superar.


Sorris, e tens a impressão de que é um esgar que te sulca a face.


Anelas por afetos e constatas que a ninguém inspiras amor, atormentando-te, não poucas vezes, e resvalando na melancolia injustificável.


Planejas a felicidade e lutas por consegui-la, todavia, descobres-te a sós, carpindo rude angústia interior.


Gostarias de um lar em festa, abençoado por filhos ditosos e um amor dedicado que te coroassem a existência com os louros da felicidade.


Sofres e consideras-te desditoso.


Ignoras, no entanto, o que se passa com os outros, aqueles que se te apresentam felizes, que desfilam nos carros do aparente triunfo, sorridentes e engalanados.


Também eles experimentam necessidades urgentes, em outras áreas, não menos afligentes que as tuas.


Se os pudesses auscultar, perceberias como te invejam alguns daqueles cuja felicidade cobiças.


A vida, na Terra, é feita de muitos paradoxos. E isto se dá em razão de ser um planeta de provações, de experiências reeducativas, de expiações redentoras.


Assim, não desfaleças, porquanto este é o teu carma de solidão.


Faze, desse modo, uma pausa, nas tuas considerações pessimistas e muda de atitude mental, reintegrando-te na ação do Bem.


O que ora te falta, malbarataste.


Perdeste, porque descuraste enquanto possuías, o de que agora tens necessidade.


A invigilância levou-te ao abuso, e delinqüiste contra o amor.


A tua consciência espiritual sabe que necessitas de expungir e de reparar, o que te leva, nas vezes em que o júbilo te visita, a retornar à tristeza, rememorar sofrimentos, fugindo para a tua solidão...


Além disso, é muito provável que, aqueles a quem magoaste, não se havendo recuperado, busquem-te, psiquicamente, assim te afligindo.


Reage com otimismo à situação e enriquece-te de propósitos superiores, que deves pôr em execução.


Ama, sem aguardar resposta.


Serve, sem pensar em recompensa.


O que ora faças no Bem, atenuará, liberará o que realizaste equivocadamente e, assim, reencontrar-te-ás com o amor, em nome d’Aquele que permanece até agora entre nós como sendo o Amor não Amado, porém, amoroso de sempre.



Joanna de Ângelis
(Viver e amar - Divaldo P. Franco)

POR COMPANHIA, A SOLIDÃO



Muitas criaturas passam pela experiência da solidão. É importante que se considere a validade desta situação. Longe estou de querer colocar a solidão numa posição de destaque. Apenas quero que lembrem que ela é algo de bastante sutil, de muito profundo e até difícil de ser explicado.

Há pessoas que sofrem porque se sentem sós. Procuremos, então, lembrar da lei de causa e efeito, tão analisada nos ambientes espíritas. Estes casos de solidão compulsória são de origem cármica, visto que aqueles que a sofrem talvez tenham desprezado a benção da convivência em situações de vida anteriores. Nestes casos mais acentuados, normalmente, pouco se pode fazer, visto que a provação foi pedida e preparada de tal modo que nada impede que seja cumprida.

A solidão absoluta é coisa rara. Vejamos que Deus nos criou como seres individualizados, entretanto, fez com que o nosso ambiente natural de vida fosse em meio a outros semelhantes. Somos, ao mesmo tempo, indivíduo e sociedade, e oscilamos dentro de nossa evolução entre o eu e o nós.

Consideremos também que sentir solidão ou ser só é uma coisa que pode acontecer mesmo se estivermos em meio a um grupo de pessoas ou diluídos numa multidão.

Muitas pessoas passam suas experiências ao lado de semelhantes, seja no âmbito familiar, no âmbito de trabalho, nos grupos de lazer, na sociedade, enfim, participam de atividades em conjunto, movem-se de um lado a outro em grupos, participam de movimentos, mas lá no fundo são pessoas sós, cujo pensamento, cujos ideais estão muito distantes da média que ali se encontra.

Solidão também é uma coisa necessária e importante, quando ocorre na dosagem certa. Há momentos em que precisamos de um certo recolhimento para que meditemos a respeito de nós mesmos, para que trabalhemos os nossos pensamentos, para que nos estruturemos interiormente.

Por isso, é preciso que aprendamos a aceitar os necessários momentos de solidão das pessoas que nos rodeiam, para que sejamos respeitados nas nossas necessidades de reencontro conosco mesmos.

Abençoado o Pai que nos dá a chance de nos desdobrarmos na dicotomia do eu e do nós. Nem sempre podemos ser grupo, nem sempre podemos ser sós. Tudo estará em equilíbrio quando existir na dosagem certa.

Oremos por aqueles que estão passando pela vivência da solidão absoluta ou quase absoluta, pois precisam de forças para suportá-la com dignidade e sem os desequilíbrios que poderão decorrer dela.

Lembremo-nos de que Jesus buscou os apóstolos, pregou às multidões, conviveu em ambientes domésticos, foi às ruas e às praças e, no entanto, buscou a solidão, em muitos momentos, para o reencontro mais íntimo com o Pai.

Na balança do tempo, que aprendamos a dosar os nossos momentos a fim de aplicarmos a sua maior parte na convivência sadia e cristã, trocando experiências positivas, sem esquecer a meditação solitária para refazimento do nosso espírito.


Fonte: Livro Intercâmbio
Pelo espírito Luiz Sérgio
Site: Mensagens de Luz

SOLIDÃO NA VISÃO ESPÍRITA


A palavra SOLIDÃO encontrada no dicionário vem com o seguinte significado: - Estado de quem está só; Lugar ermo; Isolamento.
Em SOLITÁRIO encontramos:
- Que foge da convivência; situado em lugar ermo; aquele que vive na solidão;
- Jóia com uma só pedra preciosa.
Essas denominações exprimem de forma muito generalizada um possível significado da Solidão e daquele que sente. Esse significado é o que comumente as pessoas se referem, mas existem outras faces desse tema que as pessoas também experimentam e não costumam explorar, ficando tudo misturado como se fossem meras nuances da mesma coisa.

NA VISÃO FILOSÓFICA
"O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência.
O Homem pode encarar esta situação de duas formas; Pode aceitar a solidão, como forma de sua própria liberdade, ou interpretar a solidão como abandono ou castigo, ficando assim subjugado as influências externas, abrindo mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal, não assumindo a sua responsabilidade perante a espiritualidade.
Rollo May, afirma que “Não há dúvida que em todas as épocas a solidão foi temida e as pessoas dela procuram fugir.” E acrescenta mais adiante: “A diferença é que, em nossa época, o medo da solidão é muito mais intenso e as defesas contra ele – diversões, atividades sociais e amizades – são mais rígidas e compulsivas.”
Segundo May, o grande medo da solidão é o de nos sentirmos abandonados pelos outros e ficarmos sós, entregues a nós mesmos, e a partir daí sermos responsáveis por todos os nossos atos, sem ter o outro para responsabilizar ou culpar.
NA VISÃO PSICOLÓGICA
Sentir-se só, isolado, com ou sem pessoas à volta, sentir-se abandonado, desvinculado do mundo, sentir-se com medo.
O medo que advém desse estado tem lastro no ensimesmamento em que ficamos, porque estamos em um momento de estar entregue a nós mesmos, sentindo abandono e desvalia, perdidos, sem o referencial do controle de nossos pensamentos e sentimentos que muitas vezes temos quando estamos na frente dos outros.

Nesse momento estamos diante de nós mesmos e só de nós mesmos. Somos então impiedosamente críticos conosco, cobramos, revisamos nossos erros de forma cruel, o nosso vazio, o que não modificamos. É difícil aceitar as limitações e dificuldades sem lutar contra elas.
Essa solidão pode ser vivenciada junto com outra chamada pelos especialistas de Isolamento estrutural ou de Isolamento existencial. Que em síntese falam de uma condição da humanidade, em que cada um de nós somos seres lançados no mundo sozinhos, entregues a nós mesmos e só a nós cabe cuidar de nosso ser.
Segundo especialistas, define-se o isolamento em:
O Isolamento Estrutural (comum a todos os seres humanos)
A pessoa o sente porque é um indivíduo diferente dos outro, possuindo a sua originalidade, suas características peculiares e uma existência específica e singular (...) Os seus pontos extremos se encontram no nascimento e na morte: nascemos sozinhos e sozinhos morremos.”
"É quando precisamos fazer escolhas e tomar decisões, sobretudo as que são mais relevantes para a nossa vida. Nesta ocasião, os outros podem estar conosco e ajudar-nos até certo ponto. Mas há o instante nevrálgico em que todos nos deixam e não podem mesmo ficar conosco. Sentimo-nos, então, sozinhos, porque, na verdade, ninguém pode escolher e nem decidir em nosso lugar”.
Pode-se experimentar esse tipo de isolamento, de estar sozinho, de três formas:
- Não perceber que está (mergulhado em alguma tarefa);
- Perceber e gostar (afastamento voluntário para refletir);
- Perceber e não gostar (ao se ver rejeitado do convívio das pessoas)

O Isolamento Funcional (distanciamento parcial por determinada circunstância) Pode-se experimentar por:
-Motivo espacial, geográfico (uma pessoa que é responsável por farol marítimo);
-Motivo de usos e costumes (pessoa idosa em ambiente só de jovens)
-Motivo cultural (estrangeiro que vive em terra estranha);
-Motivo de preconceito (uma pessoa negra que vive em comunidade branca racista).
O Isolamento Interpessoal
Pode-se experimentar por:
-Isolamento geográfico;
-Dificuldade de socialização;
-Fatores culturais;
-Declínio de instituições promotoras de aproximação (família grande, estabilidade de residência e vizinhança, comércio local, médico de família, etc.)
O Isolamento Intrapessoal
Refere-se a experiência de se abrir mão de seus próprios desejos e sentimentos aceitando "você tem que" ou "você deve" como se fosse seu próprio desejo, não confiando em seu próprio julgamento, ocultando suas próprias possibilidades, enfim, um afastamento de si próprio.
Mas é o Isolamento Existencial (Isolamento Estrutural) que se define pelo tipo de solidão mais fundamental da existência, persistindo mesmo com os relacionamentos mais gratificantes com outras pessoas. Como nos mostra a autobiografia de Thomas Wolfe em que o protagonista refletia: "Uma solidão inescrutável e uma tristeza o invadiram: ele viu sua vida através da solene vista das veredas da floresta, e ele soube que ele seria sempre uma pessoa triste: preso naquele pequeno corpo, aprisionado num coração secreto, e pulsante, sua vida continuaria sempre passando por caminhos solitários. Perdido. Ele compreendeu que os homens foram sempre estranhos uns aos outros, que ninguém veio, a saber, realmente quem o outro era, que aquele aprisionamento no escuro útero de nossas mães, nos trouxe a vida sem nunca ter visto seu rosto, que nós, um estranho fomos colocados em seus barcos e que, da prisão insolúvel do ser, nós nunca
escaparemos não importa que barco nos segure, que boca nos beije, que coração nos aquece. Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca”.
Como alguém se protege do pavor do isolamento máximo? Nenhum relacionamento pode eliminar o isolamento. No entanto a solidão pode ser compartilhada de tal forma que o amor compensa a dor do isolamento, ou seja, o maior apoio contra esse terror é relacional em sua natureza. Compartilhando do fato de ambos serem solitários, sensíveis a isso. Mas quando dominados pelo medo, nossos relacionamentos se tornam inadequados, fracassados, medidos pela necessidade, por funções utilitárias.
De qualquer forma estaremos sempre sós, podemos dar conta do isolamento funcional, interpessoal e até do intrapessoal, mas não temos como extirpar uma condição da humanidade, a solidão de cada ser (isolamento existencial ou estrutural), o que podemos fazer é sentir e lidar com ela, ora se desesperando, ora aproveitando o que de mais belo ela pode nos ensinar, cuidar do ser, cuidar de ser.
"A angústia provocada pela solidão é o sentimento que muitas pessoas experimentam quando se conscientizam de estarem sós no mundo. É o mal-estar que o ser humano experimenta quando descobre a possibilidade da morte em sua vida, tanto a morte física quanto à morte de cada uma das possibilidades da existência, a morte de cada desejo, de cada vontade, de cada projeto."
"Cada vez que você se frustra, que você não se supera, que você não consegue realizar seus próprios objetivos, você sente angústia. É como se você estivesse morrendo um pouco."
"Muitas pessoas sentem dificuldade de estarem a sós consigo mesmas. Não conseguem viver intensamente a sua própria vida. Muitas vezes elas acreditam que o brilho e o encantamento da vida se encontram no outro e não nelas mesmas. Sua vida tem um encantamento, um brilho, algo de especial porque é sua, apenas sua. Independentemente do que você esteja fazendo, sua vida pode ser intensa, prazerosa, simplesmente pelo fato de ser sua e por você ser único. Cada um de nós pode ser uma pessoa especial para si mesmo."
"A solidão é a condição do ser humano no mundo. Todo ser humano está só. Esta é a grande questão da existência, mas não significa uma coisa negativa nem que precise de uma solução definitiva. Ou seja, a solução não é acabar com a solidão, não é deixar de sentir angústia, suprimindo este sentimento. A solução não é encontrar uma pessoa para preencher o vazio existencial, não é encontrar um hobby ou uma atividade. A solução não é se matar de trabalhar e se concentrar nisso para não se sentir sozinho. Também não é encontrar uma estratégia para driblar a solidão. A solução é aceitar que se está só no mundo. Simplesmente isso. E sabendo-se só no mundo, viver a própria vida, respeitar a própria vontade, expressar os próprios sentimentos, buscar a realização dos próprios desejos. Quando se faz isso, a vida se enche de significado, de um brilho especial."

"O objetivo não é fingir que a solidão não existe, não é buscar a companhia dos outros, porque mesmo junto com os outros você está e sempre será solitário. O outro é muito importante para compartilhar, trocar. O outro é muito importante para a convivência, mas não para preencher a vida, não para dar sentido e significado a uma outra existência. A presença do outro nos ajuda, compartilhando, mostrando a parte dele, dando aquilo que não temos e recebendo aquilo que temos para dar, efetivando a troca. Mas o outro não é o elemento fundamental para saciar a angústia ou para minimizar a condição de solidão”.
"Cada um de nós nasceu só, vive só e vai morrer só”.
A experiência de cada um de nós é única. O nascimento é uma experiência única, pois ninguém nasce pelo outro. Da mesma forma que a morte é uma experiência única, pois ninguém morre pelo outro. E a vida inteira, cada momento, cada segundo da existência, é uma experiência única, pois ninguém vive pelo outro.


NA VISÃO ESPÍIRITA
O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE
“Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que  cobria toda a Terra.
Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada, com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.
O homem primitivo falava, porém não como o homem: alguns sons guturais, acompanhados de gestos, os precisos para responder às suas necessidades mais urgentes. Fugia da sociedade e buscava a solidão; ocultava-se da luz e procurava indolentemente nas trevas a satisfação de suas exigências naturais. Era escravo do mais grosseiro egoísmo; não procurava alimento senão para si; chamava a companheira em épocas determinadas, quando eram mais imperiosos os desejos da carne e, satisfeito o apetite, retraía-se de novo à solidão sem mais cuidar da prole.
O homem primitivo nunca ria; nunca seus olhos derramavam lágrimas; o seu prazer era um grito e a sua dor era um gemido. Com o passar dos tempos as famílias foram se unindo, formando tribos, se amalgamando, cruzando tipos, elegendo chefes e elaborando as primeiras regras de vida em comum.
A partir daí a raça humana acelera o seu processo de crescimento interior desenvolvendo cada vez mais o senso gregário, ora para se proteger dos predadores, ora para se proteger das intempéries ora para a preservação da espécie.
Não poderia ser diferente, pois esta forma complexa e perfeita é composta de uma porção material perfeitamente elaborada em sua estrutura física, onde cada elemento desta construção ocupa o real espaço para o desenvolvimento de suas funções divinas, e sua contra-parte essência, que anima e dá sentido a esta maravilhosa estrutura, mantendo-se fiel através dos tempos à centelha divina que a criou, tendo a perfeita união destas duas partes, proporcionada pela ação de uma substância parte material e parte essência que, proporciona-lhe, cumprir a sua missão a cada existência.
Tudo provém da Unidade e volve à Unidade. O Universo é o Uno na sua constituição, resultado do Psiquismo Divino que tudo envolve e dinamiza.
Em se tratando de um mundo de provas e expiações é necessário compreender que há necessidade de ampliarmos os nossos conhecimentos e sentimentos.
Com os primeiros, valorizaremos cada vez mais a vida espiritual e conseqüentemente a nossa imortalidade. Com os segundos ampliaremos a nossa vida de relação com os nossos semelhantes realçando a nossa caminhada evolutiva, que em conjunção com as duas alçaremos vôo em direção à angelitude.

Entendo assim, que em cumprimento a Lei de Divina, passamos pelas oportunidades reencarnatórias colhendo os frutos da nossa semeadura. E de conformidade com a passagem evangélica que diz: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. Necessário se faz sair da nossa solidão egoísta e atendermos aos reclames dos nossos irmãos que são os nossos instrumentos de trabalho pela divina misericórdia. Aí sim, fazendo a nossa parte poderemos dizer: Adeus solidão.
“O outro é o nosso instrumento de libertação”.
O ser humano necessita do calor afetivo de outrem, mediante cuja conquista amplia o seu campo de emotividade superior, desenvolvendo sentimentos que dormem e são aquecidos pelo relacionamento mútuo, que enseja amadurecimento e amor. Concomitantemente, espraia-se esse desejo de manter contato com s expressões mais variadas da vida, nas quais haurem alegria e renovação de objetivos, por ampliar a capacidade de amar e experimentar novas realizações.
O fluxo da vida humana se manifesta através dos relacionamentos das criaturas uma com as outras, contribuindo para uma melhor e mais eficiente convivência social. Nas expressões mais primárias do comportamento, o instinto gregário aproxima os seres, a fim de os preserva mediante a união de energia que permutam, mesmo que sem darem conta.
O desafio do relacionamento é um gigantesco convite ao amor, a fim de alcançar a plenitude existencial.
A ilusão não buscada gera conflitos que são herança de experiências fracassadas, mal vividas deixadas pelo caminho, por falta de conhecimento e de emoção, que vão adquirindo etapa-a-etapa nos processos dos renascimentos do Espírito.
A ilusão resulta, igualmente, da falta de percepção e densidade de entendimento, que se vai esmaecendo e cedendo lugar a realidade, a medida que são conquistados novos patamares representativos das necessidades do progresso.
Até o momento falamos da Solidão como liberdade do ser, como única forma de nos relacionarmos com a nossa missão quando encarnados, mas não podemos esquecer que após o desencarne, continuamos na mesma condição que nos achávamos quando na veste de carne e por conseqüência, o espírito recém chegado do mundo material, traz as suas virtudes e defeitos, os seus medos e ignorância. Então a Solidão que lhe abalava na matéria continua lhe abalando na espiritualidade.
“Descera a noite totalmente, quando penetramos estreita sala, em que um círculo de pessoas se mantinha em oração.
Várias entidades se imiscuíam ali, em meio dos companheiros encarnados, mas em lamentáveis condições, de vez que pareciam inferiores aos homens e mulheres que se fazia componentes da reunião. Apenas o irmão Cássio, um guardião simpático e amigo, de quem o Assistente nos aproximou, demonstrando superioridade moral. Notava-se-lhe, de imediato, a solidão espiritual, porquanto desencarnados e encarnados da assembléia não lhe percebiam a presença e, decerto, não lhe acolhiam os pensamentos. Ante as interpelações de nosso orientador, informou, algo desencantado:
Por enquanto, nenhum progresso, não obstante os reiterados apelos à renovação. Temos sitiado o nosso Quintino com os melhores recursos ao nosso alcance, mobilizamos livros, impressos e conversações de procedência respeitável, no entanto, tudo em vão... O teimoso amigo ainda não se precatou quanto às duras responsabilidades que assume, sustentando um agrupamento desta natureza...
Áulus buscou reconforta-lo com um gesto silencioso de compreensão e convidou-nos a observar.
Revestia-se o recinto de fluidos desagradáveis e densos”
No trecho acima, de Emmanuel em Nos Domínios da Mediunidade, podemos observar que apesar de estar em situação moral superior aos outro que estavam a sua volta, por se sentir só e não ter compreendido a sua missão, o companheiro espiritual necessita de maior apoio daqueles mais evoluídos e apesar de não estar atento à situação, Aulus assim mesmo tenta reconforta-lo e instruí-lo.
Na mesma forma, por várias vezes sentimo-nos só e desamparado, a medida que evoluímos em nossos estudos, pois cada vez que vamos entendendo o que nossos amigos espirituais nos transmitem, a medida que conseguimos por em prática os benditos ensinamentos do Mestre, mais o nosso círculo de pessoas afins vai se estreitando, pois poucos buscam a “porta estreita”.
Esta Solidão é meramente aparente, pois quanto mais estudamos, mais nos afastamos do lugar comum, do mundo material com seus prazeres efêmeros, é como se entendêssemos o que o Mestre disse em “Estar no Mundo sem ser do Mundo”, dessa forma a solidão ao invés ser um martírio, passa a ser um estágio prazeroso e indispensável para que possamos renovar nossas forças e sedimentar o nosso conhecimento, para que possamos conviver e evoluir neste mundo de Provas e Expiações.
Na mesma forma de sua concepção divina, o Homem necessita do convívio com o seu semelhante para que possa se relacionar com o mundo a sua volta e dar prosseguimento a sua evolução.
De todos os seres que habitam o nosso orbe, o Homem é o único que necessita de cuidados adicionais após o seu nascimento, pois todos o animais ao nascerem se tornam independentes e de imediato buscam se sustentar e se desenvolver. Apenas o Homem precisa de cuidados maternos após o seu nascimento, por período maior do que os outros.
A longa demora de sua independência é plenamente entendida, pois em seu estágio de evolução, o Homem necessita do convívio com aqueles que ombrearam no passado e que por motivos diversos deixaram questões a serem resolvidas, tais como ofensas, mágoas, injustiças e até mesmo atos de barbáries, que com o advento da reencarnação lhe é facultado a chance de desenvolver o amor por aquele que no passado sofreu a sua ofensa e com isso cumprir com a sua nobre missão.
Se observarmos, com passar das épocas, podemos observar que cada vez mais as crianças nascem mais independentes, mais evoluídas, exemplificando a evolução da raça, porém somente com a remissão de nossos erros passados é que poderemos nos considerar livres destes compromissos e retomarmos a nossa caminhada rumo a angelitude.
O homem solidário jamais se encontra solitário.
O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.
Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.
A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima, eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.
Reservar um tempo diário para a meditação e um outro para a reflexão, independentemente das pressões do cotidiano, é fundamental.
Fonte de ilusões é o ser humano acreditar que está no controle da vida, vinculando sua felicidade a elementos externos. Esse controle pertence a Deus, numa visão de religiosidade cósmica.
Devemos lembrar que o Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês presentemente sem laços domésticos, sem amigos certos na paisagem transitória do planeta, é que
Jesus te enviou a pleno mar de experiência, a fim de provares tuas conquistas em supremas lições.

CONCLUSÃO
Com tudo o que foi exposto acima, pudemos observar que o Homem, parte integrante e ativa do Universo, a partir da sua evolução, nasce só, vindo da Unidade, inicialmente atuando isoladamente, mas devido ao seu instinto gregário, sai de sua solidão para através de seu instinto genésico, iniciar sua interação com o mundo que o cerca, para dar os primeiros passos de sua evolução no orbe terrestre e a partir da crescente interação com a vida, vai perdendo o medo de se sentir só e compreende que o estado de solidão é ilusório pois sempre estaremos acompanhados e agora não mais como um ser isolado e sim como parte de um todo, constatando que como o Universo é UNO, tudo tende a unidade e a medida em que se vai evoluindo, retorna
a solidão, não mais como um ser claudicante e parcial, não mais com o medo da dúvida, mas com a certeza da plenitude da essência para finalmente cumprir a sua missão.
A mãe natureza é sábia quando determinou que cada ser vivo precisa de uma parte de sua vida para ficar só, constatado quando temos sono e temos que dormir para nos refazermos.
Quando estamos nos recolhemos em prece estamos experimentamos momentos de solidão.
Quando estamos concentrados lendo estamos sós.
Quando estamos trabalhando compenetradamente, estamos sós.
Em nenhum dos estados acima experimentamos a sensação de desconforto, pois em nenhum destes sentimos culpa, mas se as pessoas não se aproximam de nós, se as pessoas se aproximam e nós não aceitamos, se a vida nos impõe um isolamento geográfico ou um isolamento físico, aí sim a nossa culpa é despertada através de um grande sentimento de desconforto e por diversas vezes, cedemos a esta culpa, se isolando, pois não temos coragem de enfrentar as nossas debilidades e nos escondemos de nós mesmos, desempenhando o papel de coadjuvante em nossa própria estória, cedendo cada vez mais àqueles que se esforçam para que não vençamos, deixando de fazer valer o motivo para que viemos neste mundo como uma alma vivente.

Walter Araújo Machado

BIBLIOGRAFIA

O homem a Procura de Si Mesmo - Rollo May
Ser e Tempo - Martin Heidegger
A Caminho da Luz – Emannuel
Os Exilados de Capela – Edgard Armond
O Despertar do Espírito – Joanna de Angelis
Amor Imbatível Amor – Joanna de Angelis
O Homem Integral – Joanna de Ângelis