Estudando o Espiritismo

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sábado, 24 de novembro de 2012

Corpus Christi na visão de Divaldo Franco

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Corpus Christi

Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre da internet, trata-se de uma solenidade da Igreja Católica,  instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula “Transiturus” de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O objetivo é realçar a presença real do "Cristo" no pão consagrado, reportando-se às palavras de Jesus anotadas por João: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comerdeste pão viverá eternamente” (6:51); e ... “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” (6:53).

Para nós espíritas Corpus Christi é apenas mais um feriado, sem significado religioso. Mas das anotações do evangelista podemos fazer algumas reflexões. Comer ou beber significa alimentar-se. Há alimento do corpo e também há alimento da alma. Quando Jesus dizia que era o pão, referia-se aos conhecimentos e aos exemplos que trazia para a Humanidade. Querer comê-lo implica no esforço da nossa parte para buscar esses ensinamentos, entendê-los e praticá-los. Se alimentamos o corpo várias vezes por dia, muito mais importante é cuidarmos da alma de forma permanente. palavra e mesmo pensamento serem direcionados pelos ensinamentos de Jesus.

Só assim teremos a vida eterna, representando a felicidade decorrente da prática correta do Bem, a essência da Lei Divina. Nesse sentido, pa rece mais adequado nos referirmos a um “Spiritus Christi”, que sugere nos animarmos do espírito cristão. 

Transubstanciação


Transubstanciação

José Reis Chaves
Eucaristia é o dogma do corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo. Já os Mistérios das antigas religiões egípcias, persas, gregas, romanas, judaicas e outras realizavam ágapes ou ceias com base no trigo (pão) aliado à água ou vinho, ou a ambos, simbolizando fraternidade. E os judeus, na sua Páscoa, ainda comem, ritualisticamente, o "matzot" (pão ázimo). Isso teria ajudado a transformar a ceia de Jesus na missa?
Ao dizer Jesus: "Isto é meu corpo" e "Isto é meu sangue", fê-lo simbolicamente. Também à Samaritana Ele prometeu uma água viva, e com a qual ela não teria mais sede, mas a água aqui, também, era simbólica. Jesus é nosso modelo. E se Ele, no caso da ceia, determinou que nos lembrássemos Dele, fazendo o que Ele fez, logo, quando o celebrante diz "Isto é meu corpo" e "Isto é meu sangue", está se referindo também ao seu próprio corpo e ao seu próprio sangue. Mas a missa acabou transformando-se num meio de os sacerdotes ganharem dinheiro, prestígio e de, egoisticamente, se colocarem acima dos fiéis. Já ouvi alguns padres dizerem que eles são superiores aos anjos e à Mãe de Jesus, pois que só eles podem transformar, respectivamente, o pão e o vinho no corpo e sangue de Jesus! E, como os teólogos divinizaram o Nazareno, isso significa que os padres teriam o poder de recriarem o próprio Deus nas missas! Foi Stº Tomás de Aquino que, com sua escolástica, idealizou a doutrina da Transubstanciação, segundo a qual as substâncias do pão e do vinho, depois de consagrados, deixam de existir, ficando apenas os acidentes das substâncias (forma, peso, cor, sabor, cheiro etc.), as quais se transformariam nas substâncias do corpo e sangue reais de Jesus. Mas os acidentes não podem existir sem as substâncias do pão e do vinho! E para a ciência moderna, a substância (energia) é essencialmente idêntica aos seus acidentes (matéria)!
Teólogos do Concílio de Trento (1545 a 1563) tentaram instituir a Consubstanciação, ou seja, a existência somente metafísica (espiritual) do corpo e do sangue de Jesus ao lado do pão e do vinho consagrados, mas eles não o conseguiram. Respeitemos a Eucaristia. Mas é com o respaldo da ciência que os protestantes e espíritas apenas a aceitam simbolicamente, e proclamam que o centro do Cristianismo não é a Transubstanciação ou a Eucaristia, como o afirmam os padres, mas Jesus Cristo, a única e verdadeira Pedra Angular da sua Igreja!
Autor de "Quando Chega a Verdade" (Ed.Martin Claret).

“CORPUS CHRISTI”



“CORPUS CHRISTI”

Corpus Christi uma festividade inerente a Igreja católica, instituída em 1264, ou a respectiva oitava, tinha como fundamento numa revelação obtida pela freira Juliana de Liége. Diante desta revelação teve inicio a evolução da doutrina conhecida nos dias de hoje como “Eucaristia”. Uma palavra de derivação grega eucharistía, e do latim eucharistia um dos sete sacramentos da Igreja católica, no qual, segundo a crença. Jesus Cristo se acha presente, sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Senhores este é mais um dos muitos dogmas da religião católica, visto que Jesus apesar de ser um Espírito Puro não tem divindade, pois a divindade é exclusividade do Pai Maior, Deus, Todo Poderoso. Representa o ato central do culto cristão, missa, banquete sagrada, comunhão, ceia e memorial do Senhor, pão dos anjos, pão da alma, as espécies consagradas, o ato de dar graças. São essas as sinonímias que levaram a consagração do dia de “Corpus Christi”.

Em 1414, no Concílio de Constança estabelece a proibição de que se dê, aos leigos, o Cálice na Santa Ceia, Achamos estranho que um papa crie a “Eucaristia” e anos depois num Concílio haja proibição de dar a comunhão no Cálice da Santa Ceia. O fiel católico romano diante desse fato passou a comungar de uma mesma maneira ou numa só espécie: a hóstia, simulacro do pão. No citado Concílio, o padre João Huss, por discordar do Papa, foi transformado num herege e conduzido a fogueira. Achamos estanho que uma data festiva pela Igreja Católica seja enlameada 150 anos depois, e por uma discórdia de um membro da igreja, o mesmo tenha sido considerado herege, e morto na fogueira. Onde fica o amor, o perdão e os ensinamentos deixados por Jesus? Na realidade os membros da religião do mais alto escalão não aceitavam contestações de nenhuma forma que eram considerados hereges, excomungados e queimados na fogueira.

Algumas cidades brasileiras comemoram a data enfeitando as ruas com um belíssimo tapete feito na noite que antecede o dia da festa da “Eucaristia. É também uma expressão latina que significa Corpo de Cristo, festa que celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia. É realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma festa de 'preceito', isto é, para os católicos é de comparecimento obrigatório participar da Missa neste dia, na forma estabelecida pela Conferência Episcopal do país respectivo. A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cân. 944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo."

É recomendado que nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (cân. 395). Falando em Santíssima Trindade é mais um dogma da religião católica. Em 325, no Concílio de Nicéia, hoje uma cidade da Turquia, 318 bispos se reuniram para debater as mais diversificadas questões concernentes à igreja, tais como o dogma da Trindade, o Credo dos Apóstolos e a expulsão do primeiro herege de peso, Ário de Alexandria. (Jeová Mendes). Percorrendo as ondas tortuosas da Internet fomos acalhar no site da Wikipédia, um site muito rico, bem feito e confiável. Lá encontramos a seguinte observação: “A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XIII. A Igreja Católica Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão consagrado. A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes.

Alguns senões já foram inseridos nessa matéria em seu inicio. O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliano de Mont Cornillon (Juliana de Liége), que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico. Conta à história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, de costumes irrepreensíveis, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença de Cristo na Eucaristia. Decidiu então ir à peregrinação ao túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o Dom da fé. Ao passar por Bolsena (Itália), enquanto celebrava a Santa Missa, foi novamente acometido da dúvida. Na hora da Consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: a Hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, os sanguíneos e as toalhas do altar sem, no entanto manchar as mãos do sacerdote, pois, a parte da Hóstia que estava entre seus dedos, conservou as características de pão ázimo.

Por solicitação do Papa Urbano IV, que na época governava a igreja, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico. A 11 de agosto de 1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo católico através da bula Transiturus do Mundo o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo do Senhor. As visões de Juliana de Liége, bem como as suas declarações coadunam com que diz a Doutrina Espírita (manifestação mediúnica). A festa de Corpus Christi foi decretada em 1264 como já citado várias vezes aqui nessa matéria. O decreto de Urbano teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida.

Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma é encontrada desde 1350. A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: ‘Este é o meu corpo... Isto é o meu sangue... Fazei isto em memória de mim’. Porque a Eucaristia foi celebrada pela 1ª vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. Corpus Christi comemora-se 60 dias após a páscoa. Como todos podem ver é uma data muito complicada e que merece um estudo mais apurado para se ter um certeza da sua criação e comemoração.

Pentecoste vem do grego pentekosté e do latim pentecoste uma festa católica celebrada 50 dias depois da Páscoa em comemoração a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. Não queremos formar opinião a respeito da crença de algumas religiões, mas muitas celebrações da religião em apreço nada mais são do que dogmas criados por seres humanos imperfeitos como nós e que vem passando por tradição de ano a ano, de década a década e de séculos por séculos. A fé é inerente ao ser humano e ela tem uma força espiritual muito grande. Não devemos jamais condenar a fé de ninguém, mas colocar a disposição dos curiosos de como surgiram certas comemorações religiosas. Pense nisso! A verdade só a Deus pertence.

ANTONIO PAIVA RODRIGUES-MEMBRO DA ACI- DA ALOMERCE- DA UBT- DA AVESP E DA AOUVIRCE

CORPUS CHRISTI - comemoração católica


Como começou a comemoração de Corpus Christi pelos católicos?
Segundo narração católica, uma garota chamada Juliana que nasceu em Liège em 1192, interna de um convento das agostinianas em Mont Cornillon, aos 17 anos começou a ter 'visões'. O Papa Urbano recebeu o segredo das visões. Uma das visões retratava um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Istofoi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia. Então, Corpus Christi tornou-se um feriado católico cuja finalidade é para agradecer a presença "real" de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. A hóstia, acreditam eles, ser o próprio corpo do Cristo (Corpus Christi em latim), e o vinho o sangue.
Mas, o que é Eucaristia?
É um ritual que reproduz a última ceia, onde Jesus disse: "Este é o meu corpo . . . isto é o meu sangue . . . fazei isto em memória de mim", com o intenção de promover a comunhão (comum-união) entre os católicos e Jesus. Tal ritual acontece durante as missas quando o padre distribui o hóstia e toma um gole de vinho.
Onde começou a procissão de Corpus Christi com as ruas enfeitadas?
Os protestantes da Reforma de Lutero, negavam a presença real de Cristo na Eucaristia. Por isso, o catolicismo fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística nas ruas das cidades, como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Tornou-se, então, uma disputa entre católicos e protestantes, esquecendo assim o verdadeiro sentido do cristianismo. Por isso, vemos os católicos enfeitarem as ruas nesta data.


E para os espíritas, o que significa a frase: "Este é o meu corpo . . . isto é o meu sangue . . . fazei isto em memória de mim"?
Jesus, na última refeição que fez com os apóstolos, tomou de um pão, deu graças e repartiu entre eles, dizendo ser (simbolicamente) o "seu corpo" (o corpo da sua doutrina: o pão espiritual) oferecido para eles. Da mesma maneira Jesus fez com o cálice de vinho, dizendo ser (simbolicamente) seu sangue (o sacrifício que Ele se submeteria para beneficiá-los). E pediu: "façam isto em memória de mim."
Para nós espíritas, Jesus pediu para que os apóstolos (do cristianismo), em qualquer época, de qualquer religião, compartilhassem uns com os outros o pão de sua doutrina que é o pão espiritual: O AMOR, ou melhor, o pão de cada dia, seja ele o pão de trigo, o pão do espírito, o pão da dor ou da alegria. Enfim, que doassem e se doassem, com sacrifício, derramando sangue, se preciso fosse, assim como Ele fez por nós. Ele fez este pedido porque sabia que sua doutrina (o cristianismo) não seria de fácil aceitação, por isso concluiu nesta mesma ceia: "se me perseguiram, também perseguirão a vós outros." Tanto que seus apóstolos foram perseguidos e mortos barbaramente. Exemplo: Pedro foi crucificado de cabeça para baixo; os cristãos novos morreram nas arenas comidos por leões. E Jesus conclui pedindo que fizessem isto em memória Dele, ou seja, para que Seus ensinamentos não ficassem esquecidos.
O que podemos fazer para que os ensinamentos cristãos não fiquem esquecidos?
Ressuscitando Jesus em nossas atitudes e palavras e não apenas reproduzindo Seus gestos e palavras. Afinal, foi Ele que nos ensinou que: "A fé sem obras (úteis) é morta."

Texto de Rudymara

A Eucaristia para o Espiritismo


O QUE SE COMEMORA NO FERIADO DE CORPUS CHRISTI?

Como começou a comemoração de Corpus Christi? Segundo narração católica, uma garota chamada Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, começou a ter 'visões'. O Papa Urbano recebeu o segredo das visões da freira. Uma das visões, retratava um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia. Então, a festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula 'Transiturus' de 11 de agosto de 1264, 6 anos após a morte da irmã em 1258, com 66 anos. Juliana foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII. E a festa era para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O Papa Urbano tornou mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer. Nesta data os católicos comemoram a presença real de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. Mas, o que é Eucaristia?Eucaristia é uma palavra grega, cujo significado é "reconhecimento", "ação de graças", é uma celebração em memória da morte sacrificial e ressurreição de Jesus Cristo. Também é denominada "comunhão", "ceia do Senhor". É um ritual que reproduz a última ceia, onde Jesus disse: "Este é o meu corpo . . . isto é o meu sangue . . . fazei isto em memória de mim", com o intenção da comunhão (comum-união) entre os católicos e Jesus. A hóstia, acreditam eles, ser o próprio corpo do Cristo (Corpus Christi em latim), e o vinho o sangue.
Mas, os protestantes da Reforma de Lutero, negavam a presença real de Cristo na Eucaristia. Por isso, o catolicismo fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística nas ruas das cidades, como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Tornou-se, então, uma disputa entre católicos e protestantes.
Então, o que significa, para os espíritas, a frase: "Este é o meu corpo . . . isto é o meu sangue . . . fazei isto em memória de mim"? Jesus, na última refeição que fez com os apóstolos, tomou de um pão, deu graças e repartiu entre eles, dizendo ser (simbolicamente) o "seu corpo", oferecido por eles. Da mesma maneira Jesus fez com o cálice de vinho, dizendo ser (simbolicamente) seu sangue, que também seria derramado para beneficia-los. E pediu: "façam isto em memória de mim."
Para nós espíritas, Jesus pediu para que os apóstolos (do cristianismo) compartilhassem uns com os outros o pão de cada dia, seja o pão de trigo, seja o pão do espírito, o pão da dor ou da alegria. Enfim, que doassem e se doassem, derramando sangue, se preciso fosse, assim como ele fez por nós. Ele fez este pedido porque sabia que sua doutrina não seria de fácil aceitação, por isso concluiu:"se me perseguiram, também perseguirão a vós outros." Tanto que seus apóstolos foram perseguidos e mortos barbaramente. Exemplo: Pedro, foi crucificado de cabeça para baixo. E os cristãos novos morreram nas arenas comidos por leões. E Jesus conclui pedindo que fizessem isto em memória dele, ou seja, para que seus ensinamentos não ficassem esquecidos.  
O que devemos observar é que não devemos levar tudo que Jesus falou ao pé da letra. Vejamos como exemplo esta outra passagem onde Ele disse: "Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede." Se levarmos ao pé da letra, muitos cometerão suicídio, acreditando que irá até Jesus para não sentir mais fome. O que seria um absurdo. E os que creem Nele se perguntam "por que ainda sentem sede." Mas o que Jesus quis dizer é que seus ensinamentos é o pão que alimenta nossa alma. E aquele que buscá-los, nunca mais terá fome e sede, porque esta fonte, farta, pura e cristalina de seus ensinamentos, nos oferece uma perspectiva de vida mais nobre, bela e digna, marcada pelos valores do Bem e da Virtude.
Então perguntemos: "Mas, por que há uma busca em igrejas e templos religiosos do pão que sacia a fome e da água que sacia a sede, mas muitos continuam sedentos?" Porque falta-nos a iniciativa de vivencia-las. Pois, isso pede algumas mudanças drásticas em nossa vida, que nem sempre estamos dispostos a efetuar. Por exemplo: perdoar, superar as ambições, eliminar os vícios, combater os impulsos agressivos, ajudar o semelhante . . . Porque como disse André Luiz: “O semelhante é a ponte que nos leva à Deus.” Mas, ainda há os que acreditam agradar Deus e Jesus como no tempo de Moisés: com rituais, oferendas, trocas, barganhas, sacrifícios de corpos e dispensar algumas horas no templo religioso. Respeitamos tais procedimentos de outras religiões, mas precisamos mostrar a visão espírita sobre o assunto. Nós espíritas, não adotamos rituais. Acreditamos que o sacrifício que devemos fazer é o de alma. Por isso, não basta reconhecermos o sacrifício de Jesus ou ensenar seus gestos como se fosse um teatro. Temos que vivenciar seus ensinamentos nas palavras e atos, o que é muito mais difícil. Por isso, o Espiritismo enfatiza a necessidade da Reforma Íntima.

http://www.grupoallankardec.no.comunidades.net/index.php?pagina=1722534747

Entenda o significado de Corpus Christi na visão espírita


Entenda o significado de Corpus Christi na visão espírita


Neste dia 23 de junho foi feriado nacional de Corpus Christi. O nome que vem do latim significa Corpo de Cristo é celebrado anualmente, na quinta-feira logo depois do domingo de Pentencostes¹.
História
Segundo a religião Católica, a celebração teve origem na Bélgica, quando uma jovem de 14 anos, por volta do ano 1206, chamada Juliana Cornellon teve a visão da Virgem Maria que a pediu para realizar uma grande festa para honra da presença do corpo místico de Jesus na Santíssima Eurcaistia². Na ocasião, o então bispo Urbano IV, consagrou o evento com as finalidades:

  • Honrar Jesus Cristo
  • Pedir perdão
  • Protestar contra os hereges que negavam Deus
No Brasil, a celebração de Corpus Christi tinha uma conotação político-religiosa, vinda com os colonizadores portugueses e espanhóis, numa procissão realizada no Rio de Janeiro em junho de 1808, com participação de D. João VI.
Em 1961, houve a oficialização da festa com um procissão em Brasília, num percurso entre as Igrejas de Santo Antônio e a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição dos tapetes que enfeitam as ruas surgiu na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. No início, enfeitar as ruas fazia parte de uma “competição” entre protestantes e cristãos, quando estes primeiros negavam a real presença de Cristo na Eucaristia. Os cristão buscaram fortalecer a celebração com a manifestação pública das procissões e enfeites nas ruas.
A Visão Espírita
A passagem bíblica sobre o "Pão e o Vinho" oferecido por Jesus na última refeição tornaram-se símbolos da fé cristã encontrada em (Jô 6,51, Lucas 22:19-20, e também Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, I Coríntios 11:23-26), a frase “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós, fazei isto em memória de mim... Este é o cálice do meu sangue derramado em favor de vós...
Os símbolos são: Cruz – lugar do corpo de Jesus; Pão – o corpo de Jesus e o Vinho – o sangue de Jesus.
Segundo a Doutrina Espírita, esta é uma ocasião de comunhão com Jesus. Nos trechos bíblicos, Jesus fez um pedido para que todos, independente de religião, compartilhassem o “pão de cada dia” como sendo as vivências de dor e de alegria, ou seja, a caridade e o amor ao próximo, principalmente em suas necessidades e que seus ensinamentos não fossem esquecidos.
No espiritismo, forma de não permitir que os ensinamentos cristãos sejam esquecidos é através da prática do bem.
Acompanhe a explicação de Divaldo Franco sobre a visão espírita de Corpus Christi, no programa Transição, exibido em junho de 2009. www.tvmundomaior.com.br/transicao/index.php


¹Pentecostes - Entre os cristãos, a festividade da vinda do Espírito Santo, que se celebra no 7.º domingo depois da Páscoa.
²Eucaristia - (grego eukharistía, agradecimento, gratidão, !ação de graças); Relig. catól. Sacramento que, segundo a doutrina católica, contém realmente o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Cristo sob as aparências de pão e de vinho.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dificuldades na Prática da Reforma Íntima...

 - Lutar ou não? essa indagação muitos encarnados se fazem a fim de avaliar a utilidade do complexo empreendimento dareforma íntima.

O sofrimento lhes será inevitável,pois os seus conflitos internos estarão em ebulição e não bastará a aparência para concretizar verdadeiramente qualquer modificação substancial.

Um dos primeiros entraves a ser removido é a ausência ou a dormência da autocrítica. As pessoas, de um modo geral, julgam-se isentas de avaliações ou se concedem o benefício da dúvida, o que dificulta ou impede o reconhecimento dos seus erros e dos desvios de toda ordem, muitas vezes a movimentá-las com frequência no cotidiano.

Não que todos os seres humanos considerem-se perfeitos.

expressam aos outros que não o são, por certo: intimamente, porém, acham que são menos errados que o seu vizinho, portanto, mais perfeitos que o próximo. Aí está a chave inicial do insucesso na reforma íntima.

A persistência do indivíduo no descobrimento dos próprios defeitos ampliará consideravelmente o âmbito de possibilidades de êxito. Somente quem sabe os males que possui, pode curá-los. A ignorância é um sério entrave na renovação interior. Forças negativas, produzem reações similares. Cultivar maus pensamentos, portanto, cria um universo contraproducente ao encarnado.

Abrindo o coração para o bem, estará tecendo condições para um envolvimento positivo e, com isso, surgirá a possibilidade de ouvir críticas e estabelecer o diálogo acerca dos problemas que cercam sua personalidade e seu modo de agir.

Após ter assimilado o processo de autocrítica, o segundo passo será agir com sinceridade. De nada adianta enganar-se na reforma íntima, porque se assim o fizer ela não será autêntica. A sinceridade prevê a vontade de ouvir críticas para poder solucionar problemas, não com o sentido de retorsão ou revanche.

Quem crítica pode estar ou não no mesmo processo. Se estiver sua censura será fraterna, com o objetivo de esclarecer e não de ferir, tendo por pressuposto a mansuetude e o amor, príncipe dos sentimentos cristãos. Caso não esteja, ainda assim, será a objeção recebida com naturalidade e incidirá o perdão sobre aquele que não soube expressar-se ou mesmo asacou uma inverdade.

Uma terceira dificuldade a ser enfrentada é a bagagem secular de erros e mazelas que o Espírito traz consigo ao longo do seu processo evolutivo. São fatores determinantes para a sua maior ou menor resistência ao processo de reforma íntima. Não se trata de uma desculpa, nem de uma justificativa excludente, mas somente de mais um entrave na sua luta por um processo interior.

Obstáculo implacável constitui o maior ou menor desapego aos valores cristãos. Sem fé, não há força interna que seja capaz de levar o encarnado ao áspero combate que irá travar consigo mesmo, visando produzir, com eficácia, a sua reforma íntima.


(Texto extraido do Livro "Fundamentos da Reforma Íntima / Abel Glaser / Espirito Cairbar Schutel / Editora O Clarim)

 

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Material para trabalho com RI

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A REFORMA ÍNTIMA E OS DESENCARNADOS - CEU


Participante: o senhor falou que existem diversos espíritos aqui agora?
Sim, os espíritos estão por toda parte e vocês estão sempre em contato com eles, apesar de não terem percepção disso. Leia o capítulo IX do Segundo Livro de O Livro dos Espíritos e verá como eles intervêm no mundo corporal. Garanto-lhe que acabará esta leitura impressionada com quanta coisa você acha que faz por vontade própria, mas que na verdade é apenas o resultado da indução de um ser desencarnado.
Os espíritos, segundo o Espírito da Verdade, estão sempre se relacionando com os encarnados para dirigi-los, seja induzindo-os a fazer o que precisa acontecer (pergunta 525a), dando a eles os pensamentos (pergunta 459) ou ainda realizando diversas ações. Mas, como ensina Kardec, os seres humanizados na conseguem perceber a interferência e a presença desses seres:
“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles”. (Pergunta 525a)
Então, vocês nunca estão sozinhos. Na verdade nunca estão isolados de outros espíritos. Na verdade, se isolam do mundo espiritual. Que lugar usam para se isolar do mundo espiritual? A razão humana.
Apenas quando a razão diz que há a presença de algo espiritual naquele momento vocês conseguem conviver com este mundo. Quando ela não fala nada, imaginam que o mundo espiritual não está presente. Aí vivem sob a tutela do sistema humano de vida. Portanto, é preciso abandonar o refúgio da razão humana para poder comungar com o mundo espiritual.
Mais uma vez provamos o que estamos dizendo: vocês não conseguem comungar com Deus porque estão vivendo em comunhão com a razão humana. Como esta comunhão não pode deixar de existir, o trabalho da reforma íntima se consiste em mudar os valores desta razão para que ela seja executada com o mundo espiritual e não com os anseios materiais.
Realizando esta mudança, mesmo não vendo os espíritos ao seu lado, você pode saber que eles estão aí e por isso nunca está só. Se isso é real, você não precisa mais viver a solidão que a razão cria quando não há a percepção de ninguém perto de você.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O PÃO DA VIDA – PARTE IV - VIA UNITIVA

João, 6:47 -58

47. Em verdade, em verdade vos digo: quem confia em mim tem a vida imanente:
48. eu sou o Pão da Vida.
49. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
50. Este é o pão que desce do céu, para que qualquer um coma dele e não morra.
51. Eu sou o Pão Vivo que desci do céu: se alguém comer desse pão, viverá para a imanência. E mais, o             pão que eu darei é minha carne, em lugar da vida do mundo".
52. Discutiam, então, os judeus uns com os outros, dizendo: "Como pode este dar-nos de
comer sua carne"?
53. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comeis a carne do
filho do homem e não bebeis seu sangue, não tendes a Vida em vós.
54. Quem me saboreia a carne e me bebe o sangue, tem a vida imanente, e eu o elevarei
na etapa final.
55. Porque minha carne é verdadeiramente alimento, e meu sangue verdadeiramente bebida.
56. Quem me saboreia a carne e me bebe o sangue, permanece em mim e eu nele.
57. Assim como o Pai que vive me enviou e eu vivo através do Pai, assim quem me saboreia, esse viverá                                         também através de mim.
58. Este é o pão que desceu do céu; não é como o que comeram vossos pais, e morreram;
      quem saboreia este pão viverá para a imanência."

Comentário:

51. Aqui a expressão varia. Não é mais "o pão da Vida", mas "o Pão Vivo", ou seja: ho ártos ho zôn, literalmente: "O PÃO, O QUE VIVE". Depois acrescenta: "é minha carne" (hê sárx mou estin)  expressão muito mais forte do que se dissera "meu corpo" (sóma). Notemos a insistência de João (aqui e nos versículos 52, 53, 54, 55 e 56) em frisar bem que Jesus possuía realmente carne e sangue, e que portanto era um homem normal, e não apenas um fantasma, com o corpo fluídico.

A preposição hupér, quando construída com o genitivo, apresenta os significados usuais: 1 - sobre em cima de; 2 - por, ou para; 3 - em lugar de; 4 - por causa de; 5 - a respeito de. Ao transladá-la, neste trecho, para a Vulgata, Jerônimo usou a preposição latina PRO, que aceita os significados 2, 3 e 4, mas  
não o 1.º nem o 5.º. Temos, então, que limitar o sentido da frase a: 2 - a) PELA vida do mundo (em troca da ...); 2 - b) PARA a vida do mundo (para vivificá-la); 3 - EM LUGAR DA vida do mundo (para substituí-la); 4- POR CAUSA DA vida do mundo (para que não morra). Por todo o contexto da aula,  verificamos que cabem melhor os sentidos 2 e 3: PELA, EM TROCA DA, EM LUGAR DA, EM SUBSTITUIÇÃO A. Em nossa tradução, preferimos "em lugar da" porque apresenta maior clareza de sentido, sem perigo de ambiguidade.

O texto grego atestado por maior número de mss. (B, C, L, D, T, W) é: kaì ho ártos dè hòn egô dôsô hê sárx mou estin hupèr tês toú kósmou zôês. Literalmente na ordem grega: "o pão além disso que eu darei a minha carne é em lugar da vida do mundo". E, na ordem portuguesa : "e mais, o pão que eu darei é minha carne, em lugar da vida do mundo". Essa foi nossa tradução. Tertuliano, com o Códex Sinaíticus, desloca o adjunto adverbial para junto da oração adjetiva: "e o pão que eu darei, em lugar da vida do mundo, é minha carne". O Textus receptus supre o sentido, acrescentando uma segunda oração adjetiva: "o pão que eu darei é minha carne que eu darei pela vida do mundo".

53. Até aqui é usado sistematicamente o verbo defectivo phageín, sempre traduzido por "comer". Nos versículos 54, 56 e 57 é empregado trôgeín, que tem quase o mesmo sentido; alguma razão deve haver para essa troca de sinônimos. Beber é pípein, e sangue, haíma.

55. "Verdadeiramente", em ambas as repetições, é alêthôs, advérbio, nos mss. aleph, D, delta, theta, e Vulgata; ao passo que B, C, L, T, e W tem "verdadeira" (alêthês), adjetivo na forma feminina.

56. "Permanece" é o verbo ménei (cfr. latim manet). Veja a mesma afirmativa em João, 14:10,20 e 1 João, 3:24 e 4:15-16.

57. O mesmo adjetivo usado para qualificar o pão, no vers. 51, é empregado aqui para qualificar o Pai: "o Pai Vivo" ou "que vive". "Eu vivo através do Pai" (zô dià tòn patéra), em que "através de" tem o sentido de “por meio de", melhor tradução do que simplesmente "por" ou "pelo", que apresentaria ambiguidade de sentido, podendo ser interpretado como "por causa do Pai". Ora, a preposição diá significa basicamente "através de"; e só secundariamente apresenta sentido causal.

58. Neste vers. há uma variação sinonímica entre os verbos: primeiro é empregado  éphagon (comeram), ao passo que depois é usado trôgôn (saboreia). A expressão "para a imanência" tem, no original: eis tòn aiôna.

Assim como diante da Samaritana (a alma "vigilante") foi dito "Eu sou a £gua Viva", expondo o  primeiro passo do DESPERTAMENTO DO EU; e no trecho da cura da Hemorroíssa e da ressurreição da filha de Jairo, foi alertado sobre a VIA PURGATIVA; e no trecho que acabamos de comentar foi ensinada a VIA CONTEMPLATIVA, agora é-nos revelada a VIA UNITIVA, ou seja, o Cristo confirma que Deus habita em nós com Sua Essência; e não apenas em nós, mas "em todas as coisas" (cfr . Tomás de Aquino, Summa Theológica, I, q. 8, art. 1: Deus est in ómnibus rebus ... et intime ... sicut agens adest ei in quod agit, isto È: "Deus está em todas as coisas ... e intimamente ... como o agente está  naquilo em que age"). Vimos que "a vontade do Pai" É que O encontremos. Agora, veremos que temos  que VIVER NELE, tal como Ele vive em nós, não apenas em perfeita união, mas em unificação total.

Então a aula prossegue no mesmo tom, que se eleva cada vez mais, até chegar ao clímax, que faz que os imaturos se afastem definitivamente. São dados os ensinos práticos de como obter essa unificação. Vejamos.

47-48 O novo passo é iniciado ainda com a fórmula de garantia da veracidade: "Em verdade, em verdade vos digo". Sempre é repetida como prólogo de uma lição importante, de uma verdade fundamental. Vem depois a afirmativa: "quem confia em mim (no Cristo Cósmico, que continua com a palavra) tem a Vida Imanente". E então reafirma solenemente: "Eu sou o Pão da Vida". A imagem do Pão é uma das mais felizes para ensinar a Via Unitiva.

49. Aparece depois uma comparação para introduzir, com melhor compreensão, a temática que será desenvolvida. Começa, pois, concedendo a veracidade da objeção formulada no vers. 31: "Vossos pais comeram o pão no deserto". Observemos que, se fora a personalidade de Jesus que falasse, teria dito: "nossos pais"; mas sendo o Cristo, não tem filiação humana, não tendo nascido "do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João, 1:13). Observemos ainda que diz apenas "pão", e não como fora enunciado pelos objetantes: "pão vindo do céu". Concedida, em princípio, a objeção apresentada, é-lhe oposta, de imediato e contradita decepcionante: "mas morreram" ... A contra-argumentação é categórica, verdade irrespondível que não admite réplica.

50. E logo em contraposição do pão que não evita a morte, é apresentado aos discípulos o outro pão espiritual que, uma vez ingerido, lhe comunica, vida que não admite morte. O que mais assusta os circunstantes é que Jesus, após apresentar-se como sendo Ele o Pão que desce do céu, diz que se alguém comer desse pão não morrerá. Não tendo conhecimento de que era o Cristo que falava, julgavam ser a personalidade de Jesus que se propunha dar-se como alimento. Dai o qui-pro-quo terrível que os desorienta, que se agrava cada vez mais, e que o Cristo não se preocupa em desfazer. Ao contrário: vai dando Sua lição superior, sem cuidar dos imaturos.

51. Fala o Cristo. "Eu sou o PÃO VIVO que desci do céu". Já não diz mais "o Pão da Vida", mas muito mais explicitamente, definindo Sua natureza: "o PÃO, O QUE VIVE" (ho ártos, ho zôn, com a mesma fórmula usada no vers. 57 "o PAI, 0 QUE VIVE,  ho pátêr, ho zôn). É a repetição do mesmo conceito em outros termos mais precisos e profundos, numa didática perfeita, em que cada repetição  acrescenta um pormenor, por vezes mínimo, mas trazendo sempre maior elucidação. E repisa: "se alguém comer deste Pão (que é Ele!) viverá para a imanência".

Como poderia dar-se isso? Não dando tempo nem para pensar, vem a frase chocante: "e mais, o Pão que eu darei é MINHA CARNE" ... e esclarece "em lugar da vida do mundo"! O ensino chegou à revelação total da Verdade que constituía o objetivo da aula. Compreendamos bem o texto: para todos os que ainda vivem na personalidade, o eu é constituído por seu próprio corpo físico denso; então a substância deles, para eles, é a carne deles. Nesse sentido, diz o Cristo que o Pão é Sua Carne" isto é, Sua Substância; pois a substância do Cristo Cósmico é a substância última de todas as coisas, apenas numa vibração mais baixa, ou seja; na condensação da energia.

Exatamente esse pensamento é repetido por Agostinho que, em suas meditações, confessa ter percebido essa mesma voz do Cristo Interno: tamquam audírem vocem tuam de excelso: cibus sum gradium; cresce et manducabis me Nec tu me in te mutabis sicut cibum carnis tuae, sed tu mutáberis in me (Confiss. 7, 10, 16) ou seja: "como se eu ouvisse uma voz do alto: sou o alimento dos evoluÌdos; cresce e me comerás. E tu não me transformarás em ti como alimento de tua carne, mas tu te transformarás em mim". A caracterÌstica das criaturas geniais é dizerem bem e dizerem muito em poucas palavras. Nessa frase de Agostinho está perfeitamente revelada a Cristificação da criatura, que se infinitiza, se eterniza? se deifica em contato com a Substância Divina, que está em todos e em cada um, pela unificação com o Cristo Interno, que é o Eu Profundo e verdadeiro, a Centelha Divina.

Tomás de Aquino explica o modo por que está em nós a essência de Deus (cfr. Summa Theol. I, q. 8, art. 3, ad primum, citado acima). Quanto à segunda parte da frase de Agostinho, é ela elucidada por Tomás de Aquino, que escreve: "Spiritualia cóntínent ea in quibus sunt, sicut ánima cóntinet corpus. Unde et Deus est in rebus sicut cóntinens res. Támen, secundurn quamdam similitudinem corporalium, dicuntur omnia esse in Deo, in quanturn continentur ab ipso (Sum . .Theol. I, q. 8. art. I, ad 2 um) , que
significa: "as coisas espirituais contêm as coisas em que estão, como a alma contém o corpo. Donde também Deus está nas coisas como contendo as coisas. Contudo, por uma espécie de semelhança com as coisas materiais, diz-se que todas as coisas estão em Deus, já que são contidas por Ele".

Em Sua lição, de que é o Pão Vivo o Cristo não quer deixar a menor dúvida de que o Pão de que Ele fala é "Sua CARNE", ou seja, Sua Substância aquela mesma substância divina que Ele nos dá na Vida Imanente, para substituir a vida do mundo, ou seja, em lugar da vida pequenina e transitória da personalidade.

52. Claro que nada disso foi compreendido pelos ouvintes, embora encontremos em Strack-Billerbeck (o.c., t .2, p·g. 485) que alguns deveriam ter entendido "comer e beber" como aplicados ao estudo da lei mosaica. Surgem então as discussões com os que entenderam que tudo devia ser interpretado literalmente. Vem a pergunta: "Como dará Ele de comer sua própria carne"? A hipótese antropofágica foi rejeitada como absurda e inaceitável.

53. Diante de tal incompreensão, o Cristo nem procura explicar. Nem uma  palavra é proferida em resposta à indagação angustiosa. De nada adianta perder tempo esclarecendo criaturas que não alcançam sequer a metáfora e o simbolismo, quanto mais o sentido profundo.

Então o Cristo resolve romper todas as barreiras e repetir Seu ensinamento, martelando na mesma tecla e acrescentando um pormenor horripilante para os israelitas: "Se não comeis a carne do Filho do Homem, e não bebeis seu sangue, não tendes a Vida em vós"! Ora, era terminante e severamente proibido "comer o sangue" dos animais, mesmo cozinhado (cfr. GÍn. 9:4 e Deut. 12:16), porque aí mesmo se esclarece que "o sangue é a alma do ser vivente". Muito pior sena, portanto, a hipótese de beber o sangue cru, ainda quente, e não de um animal, mas de um ser humano ...

Mas era exatamente isso que o Cristo ensinava e ensina-nos ainda: para ter a Vida Imanente È  indispensável COMER (assimilar a si) a carne (a substância viva) do Cristo Interno que é nossa vida; e além disso, BEBER (aspirar em si por sintonia vibratória perfeita) o Seu sangue (a alma, a parte mais espiritual Dele). De fato é assim: só nos unificaremos ao Eu Profundo no Esponsalício Místico, quando assimilarmos a nós a Substância e o Espírito do Cristo de Deus, que em nosso coração habita com toda a plenitude da Divindade.

54. E diante de um movimento de horror escandalizado, o Cristo repisa, já então mudando o verbo, para causar maior repulsa nos imaturos e mais acendrado amor nos evoluÌdos: "quem me saboreia a carne e me bebe o sangue tem a Vida Imanente, e eu o elevarei na etapa final". Só depois que o Espírito consegue essa unificação mística mas REAL, é que poderá atingir a etapa final da evolução. Sem o Encontro no "mergulho", sem a unificação com o Cristo Interno dentro de nós, não obteremos o "reino dos céus", não atingiremos a etapa fina! ("o último dia") de nossa subida para o Alto. E a razão disso é dada:

55. "Porque minha carne é verdadeiramente alimento e meu sangue é verdadeiramente bebida". Não são apenas símbolos: são realidades, embora não físicas e materiais, mas espirituais, porque todas as palavras do Cristo "são Espírito e são Vida" (vers. 63). Com efeito, nosso Eu Real não é constituído da carne do corpo físico denso, nem do sangue que circula em nossas veias: nosso EU REAL é constituído da substância mais íntima (a carne) e da vibração mais pura (o sangue) do Filho do Homem, do Cristo Interno, do Amado Divino. Então, essa essência de Deus em nós é que constitui o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida da Vida Imanente.

56. E aqui chegamos ao ponto mais sublime do ensino sobre a Via Unitiva; temos a revelação plena da unificação com o Cristo; após mais uma repetição didática, para que não haja ambiguidade: "quem me saboreia (longamente, no mergulho interno) a carne e me bebe (a largos haustos, na oração) o sangue, PERMANECE EM MIM E EU NELE"! ...

Esse maravilhoso ensino será ainda repetido pelo Cristo em João, 14:10-20; 15:4-5; 1 João, 3:24 e 4:15-16. Trata-se da unificação total, mútua, perfeita: vivemos na plenitude do Cristo e o Cristo vive em nós, como dizia Paulo: "não sou mais eu que vivo, o Cristo é que vive em mim" (G·l. 2:20).

Como não entender que toda essa magnífica e elevadíssima lição não se prende apenas a um simples ato externo da ingestão de uma hóstia de trigo? Seu sentido é muito mais profundo, mais belo, mais verdadeiro e mais sublime! Por que limitar um ensino de tal excelsitude a um pequeno e rápido rito exterior? Compreendamos o alcance maravilhoso da Palavra do Cristo em toda sua profundidade viva e real. Nenhum Avatar, nenhum místico, em qualquer época ou país, atingiu níveis tão elevados e sublimes de ensino.

57. Neste versículo volta o Mestre a insistir na união do Amado ao Amante:  "assim como o Pai (o Verbo, o Som Criador) que vive, que é a Vida porque é Deus em Seu segundo aspecto, enviou a mim, o Cristo (o Amado), e eu, o Cristo, vivo por meio do Pai (através do Pai), assim quem me saboreia também viverá por meio de mim (através de mim)".

É perfeita a simbiose entre o Amante (Pai) e o Amado (Filho), e um vive pelo outro dentro do Amor  (o Espírito Santo) , que é o Absoluto, a Luz Incriada, o Sem Nome. Só quem saboreia o Cristo no mergulho, poderá viver através do Cristo, tal como o Cristo vive através do Pai que O enviou à matéria, na qualidade de Centelha Divina, para dar Vida ao mundo.

58. E como arremate da lição, volta às palavras iniciais, repetindo a tese que foi exuberante e exaustivamente provada: este é o pão que desce do céu e "que não é como o pão que comeram vossos pais e morreram: quem come este pão, viverá sempre na imanência".

Maravilhosa e sublime lição, que atinge as maiores altitudes místicas capazes de serem compreendidas no estágio hominal em que nos achamos!

Depois da aula virá uma explicação de grande importância reservada aos discípulos. Veremos.

Quem desejar conhecer a opinião dos místicos ocidentais a respeito da Via Unitiva, leia MYSTICISM, de Evelyn Undershill, cap. 10.º (da 2.™ part") p·g. 413 a 443.




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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A caridade é a alma do Espiritismo

No dia 1º de novembro de 1868, na reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec utilizou parte do seu discurso de abertura para falar sobre caridade. Suas palavras foram registradas na Revista Espírita de dezembro do mesmo ano. Vejamos:
"A caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há verdadeiro Espírita sem caridade.
Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, da qual é necessário bem compreender toda a importância; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e de defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto é ainda necessário.
O campo da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por falta de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todo o mundo, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nenhuma outra senão a vontade pode pôr limites à benevolência.
O que é preciso, pois, para praticar a caridade benevolente? Amar seu próximo como a si mesmo: ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o amará muito; se agirá para com outrem como se gosta que os outros ajam para conosco, não se desejará nem se fará mal a ninguém, porque não gostaríamos que no-lo fizessem.
Amar seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o mal; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha no olho de seu vizinho, então que não se vê a trave que está no seu; é ocultar ou desculpar as faltas de outrem, em lugar de se comprazer em pô-las em relevo pelo espírito de denegrir; é ainda não se fazer valer às custas dos outros; de não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; de não desprezar ninguém por orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é uma palavra vã; é caridade do verdadeiro espírita como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: fora da caridade não há salvação, pronuncia a sua própria condenação, neste mundo tão bem quanto no outro".
 

O Espírita e a Caridade


O Espírita e a Caridade

O espírita estudioso sabe que toda a moral de Jesus está consubstanciada na caridade e na humildade: caridade, que é o contraponto do egoísmo, e humildade, que representa o contraponto do orgulho.
Não há quem não anseie pela felicidade. Entretanto, ela jamais será alcançada sem a presença dessas duas virtudes. Isso porque a felicidade é um estado de espírito e tem a ver com o equilíbrio da mente e do coração, neste mundo e no outro.
Ninguém tem, efetivamente, essa paz de espírito se a consciência lhe cobra ter sido, no relacionamento com o próximo, maquiavélico, falso, dissimulado, insincero, antifraterno.Essa paz interior, entretanto, brota, quando o sentimento de solidariedade, de fraternidade, de amor, é exercitado, de inúmeras maneiras:A paciência com o próximo mais próximo;O amparo à criança e ao idoso;A assistência ao enfermo e ao recluso, e assim por diante.
Cada um tem a sua programação reencarnatória e nela diversas formas de praticar a caridade e a humildade.
Salvar-se, no entendimento espírita, significa bem aproveitar essas oportunidades, saindo-se vencedor nessa programação.Representa caridade e humildade calar-se diante da ofensa e perdoar.
Quem assim age está indo contra o egoísmo e o orgulho.E não é somente com relação ao próximo, mas também em relação a Deus.Quem ama o próximo está amando ao Criador. Quem revolta-se diante do próximo está se revoltando diante do Pai Maior: é como se dissesse, murmurando, “Deus é injusto colocando no meu caminho pessoa ou pessoas que me servem de prova, testando-me continuamente.”
Não se podendo amar verdadeiramente a Deus sem a prática efetiva da caridade em relação ao próximo, a garantia do progresso espiritual e moral reside no seu exercício.
Às vezes ouve-se questionamentos sobre se a filantropia seria caridade ou não.
A filantropia, por definição, significa amor à humildade.Assim sendo, se é caridade o amor ao próximo, é caridade também o amor à humildade (Jesus nos ama, a todos).
Como se sabe sobejamente, pelos ensinamentos espíritas, a caridade pode ser espiritual e/ou material e isso se aplica tanto a uma pessoa em particular como a um grupo maior ou menor de pessoas.
Na programação reencarnatória de todos está presente tanto uma como outra forma de caridade, desde a vida em família como a vida em sociedade.
O que varia de um para outro indivíduo é a particularidade da tarefa, seja em função de prova, de reparação, ou de ambos.No estágio evolutivo em que nos encontramos, ninguém se considerará missionário, no sentido religioso da palavra. Entretanto, quedar indiferente em relação às necessidades do próximo, se se pode de alguma forma ajudar, representa culposa omissão, da qual um dia se haverá de prestar contas.
A Doutrina Espírita, com o seu tríplice e indispensável aspecto, enfatizando a prática da caridade como condição para o desenvolvimento espiritual e moral, mostra o caminho a ser seguido pelos que já a compreendem.
Quanto mais estudo mais é sentida a necessidade da prática da caridade; quanto mais a caridade é praticada mais profundamente é sentido o efeito dessa causa em termos de bem estar espiritual.
Pela análise da essência da mensagem espírita, constata-se que o Espiritismo representa o Consolador, a reviscência do Cristianismo na sua pureza dos primeiros tempos cristãos. Ser espírita verdadeiro e buscar ser verdadeiro cristão.

O VERDADEIRO SENTIDO DA CARIDADE PARA O ESPIRITISMO


Em enquete realizada no site do OSGEFIC, os internautas foram questionados sobre o verdadeiro sentido da caridade. Com 38,3% dos votos, a benevolência foi a afirmativa mais votada, seguida pelo perdão (31,2%) e pela indulgência (30,6%). Este equilíbrio se justifica, pois os três itens representam aspectos diferentes da caridade e, em conjunto, sintetizam o Ensinamento dos Espíritos Superiores sobre o seu verdadeiro sentido: "benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas" (questão 886 de 'O Livro dos Espíritos').
Pela benevolência, dirigimo-nos aos nossos irmãos com bons propósitos, animados pela afeição, afabilidade e doçura, prontos a entender e perdoar; complacentes e indulgentes. A caridade, enquanto ato de benevolência, é sincera, santa e salutar, ensinando-nos a "dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza" (item 14 do Capítulo XVI de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
A indulgência para as imperfeições dos outros é a aplicação da máxima do Cristo: "atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado" (Evangelho de João, capítulo 8). É a virtude que nos ensina a julgar com mais severidade nossos próprios atos e, antes de creditarmos a alguém uma falta, recomenda verificarmos se a mesma censura não possa ser feita a nós mesmos. "A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço" (item 16 do Capítulo X de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
Já o perdão das ofensas, para atender aos princípios do amor, deve ser reconhecido mais pelos atos do que pelas palavras. Deus não se satisfaz apenas com aparências, mas busca no íntimo de nosso coração os verdadeiros sentimentos que nos movimentam. Somente o esquecimento completo das faltas caracteriza o perdão. "Perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias" (item 8 do Capítulo X de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
Juntamente com a humildade, a caridade é uma das virtudes que conduz os homens à felicidade eterna. "Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo" (item 3 do Capítulo XV de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
 

A caridade vem de dentro


A caridade vem de dentro

Jorge Gomes
Revista de Espiritismo nº. 34 - FEP
Caridade. Para o espiritismo é a virtude máxima. É indiscutível que começa em casa, e, em síntese, é o amor em movimento.
Na óptica espírita, o oposto da caridade é o egoísmo. Ela é generosa, ele é mesquinho.
Não está em causa o manicaísmo resultante das concepções que se recusam a ver o ser humano como alguém submetido ao trabalho da sua própria evolução: todo o bem de um lado, do outro o mal. Herculano Pires já dissertou com mestria sobre a função do egoísmo nos horizontes evolutivos de onde vimos, via reencarnação, na sua obra «Curso Dinâmico de Espiritismo». O egoísmo é uma forma de comportamento que estamos a abandonar e que encontra as suas causas profundas no eterno desejo de estar bem, embora siga, é claro, pelo caminho errado. Ser não é possuir. Estar não é ser.
Não justifiquemos por isso o egoísmo, a que estamos a deixar de tender, quando se percebe que já temos condições de melhorar.
Essa tendência no percurso evolutivo de qualquer pessoa é parecida com a corrente de um curso de água na busca do oceano. Os rios, a partir da nascente, são rápidos, de leito abrupto, mas amansam à medida que atingem o mar e que envelhecem. Na evolução é também assim. E estamos no início, não nos iludamos.
Tão inconsciente é essa tendência de sermos egoístas, como se compreende, que agimos com ele, vindo de nós próprios, nas suas diversas roupagens sociais - a veste familiar, o pano comunitário e a farda nacional.

Resultados

Viver por viver não satisfaz. É importante viver bem. Seja neste plano de vida material, seja no Além. O egoísmo resseca, desalenta, infelicita. O amor refaz, desanuvia, alegra, e jamais se desgasta, tanto mais quanto mais depurado é. Isso porque é a meta evolutiva a que tendemos, em estágios mais amadurecidos.
A caridade - nada mais que o amor em movimento - é a grande desconhecida. Passa na história da Humanidade com personagens memoráveis, e assim sonhamos tê-la connosco. O grande problema é o de a conquistar: ela não se compra nem se transfere de uns para outros. Adquire-se, construindo-a no imo. Não é um objecto.
Também não é obra construída de agora para logo ou de hoje para amanhã, como um produto acabado. O psiquismo humano é complexo, como se se compusesse de diversas camadas que se justapõem numa individualidade una e única.
Um mergulho de superfície na caridade não é de desperdiçar. Mas daí a acreditar-se que o problema de a assimilar é imediato e rápido vai um longo caminho que desmente essa ilusão: o da experiência.
É compreensível: evoluir, amadurecer espiritualmente, não é seguir regras de fora para dentro, memorizar, mas sim debater ideias, estudar, aprender, testar, vivenciar para constituir sabedoria. E esta, património irreversível (quando muito apenas ocultado temporariamente via reencarnatória ou outra), segundo as situações concretas, verte atitudes luminosas de dentro para fora, sem esperar ou desejar aplauso, que não seja o da sua consciência feliz.

Ser e parecer

Caridade não é «caridadezinha». Temos uma amiga cuja prática é admirável. Integra uma equipa directora de uma associação de protecção à infância. Há algum tempo houve um jantar beneficente ilustrado com quem dizem ser o herdeiro da extinta coroa portuguesa. Esgotados os lugares, entre os sócios houve uma senhora que ficou ofendida por não lhe reservarem bilhetes ao ponto de entre impropérios dizer que ia deixar de ser sócia.
É um exemplo clássico. A contribuição dessa senhora revoltada feita até à data não perdeu valor. Ela é que rejeita a alegria de continuar a colaborar na satisfação das necessidades dessas crianças em séria dificuldade. Essa mistura do egoísmo e do orgulho com a caridade não é coisa fácil de erradicar. Porquê?
Porque a evolução para ser real, autêntica, tem de ser amadurecida em todas as camadas do nosso psiquismo, das mais superficiais para as mais profundas, e só quando atinge, se sedimenta nestas é que se torna mais frequente.
Vejamos a definição elevada, sucinta, clara e completa de «O Livro dos Espíritos»:
Allan Kardec: - Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entende Jesus?
Resposta: - Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.

Doação imaterial

Caridade é doação afectiva, desinteressada, espontânea. Traz aos destinatários um bem-estar real, não um gozo periférico. O espírito Emmanuel, numa mensagem ensina que ficamos apenas com o que damos.
Caridade é a fraternidade que acompanha o gesto, a atitude interior. Não é o gesto visualizado. Este pode apenas querer parecer, para merecer o aplauso mundano, conforme descreve o Evangelho.
Pensar nos outros, nas suas dificuldades. Ajudar... sem atrapalhar.
Neste cenário, contudo, quando uma mão se estende para auxiliar, torna-se necessário, em geral, que haja uma mão que queira receber. Este é um dos maiores entraves ao processo de aproximação que envolve a caridade. Os espíritos mais sábios sabem «convencer» o necessitado a aceitar a contribuição fraterna, ao cativá-lo, sensibilizando-o.
A caridade vai-se sedimentando no nosso comportamento tanto mais quanto mais o quisermos, sem angústias ou pressas. E começa nas mais pequeninas coisas. Às vezes ajuda reflectir no lado bom das pessoas mais próximas, em casa, no trabalho, na rua, ou das circunstâncias. Pensar na caridade sem ser de cima para baixo, como sendo eu o bom e o outro o desgraçado. Somos seres que caminhamos lado a lado, todos necessitados do amparo recíproco. Temos momentos melhores umas vezes, de outras têm os outros.
O que não resulta, por certo, é fazer cobranças a outrem, porque é melhor convencermo-nos, em benefício próprio, que ninguém - mas mesmo ninguém - tem qualquer obrigação de ser caridoso connosco, mas, de facto, nós próprios temos a maior obrigação de ser caridosos com os demais, entendendo-os, perdoando o que houvesse a perdoar, agradecendo a quota de generosidade com que de uma forma ou de outra nos beneficiam...
E aí, caridade pode ser o silêncio de alguém que nos tolera algum desassossego.

Os amigos

Às vezes, irreflectidamente, acreditamos que os nossos amigos são aqueles que jamais nos apontam os enganos, que nos dizem que somos os maiores do mundo, que nos batem nas costas, mesmo quando estamos quase a caminho de um colapso de consciência.
Caridade não é aplaudir, apoiar a asneira. É manter a fraternidade de, na altura certa, sem violência, dizer o que se pensa, mesmo que não nos seja perguntado directamente.
Dar mais espaço a alguém em caminhada acelerada para estertorosa queda não é ser seu amigo. Aparecer como se lhe desse apoio, isso não é ajudá-lo.
A caridade não exclui a disciplina nem uma conduta coerente, mas sem agressividade.

Caridade social

A nossa tendência a tomar os conteúdos pela forma conduz a confusões como as de considerar que a prática da caridade para ser autêntica obriga a participar necessariamente - e em casos extremos até a criar - em obras de assistência social como orfanatos, hospitais, lares de idosos. Diz-se que o movimento espírita brasileiro passou a ser respeitado pelas obras dessa índole que foi criando com muito altruísmo. Até pode ser. Mas o facto é que o que dignifica mesmo, e passa uma boa impressão para quem não é espírita, é a conduta da pessoa em causa: o seu equilíbrio, a sua brandura, a sua paz, a sua capacidade de perdoar, numa palavra o seu timbre de caridade.
Esta virtude não nasce de fora para dentro, a partir de regulamentos: é manifestação afectiva de dentro para fora. A base da caridade assenta na sensibilidade, no conhecimento, no discernimento.
Depois, a caridade não tem rótulo. Não existe uma caridade espírita, outra budista, etc.. O amor em movimento - a caridade - é universalista, ajuda sem olhar a quem, levantando o ser para a dignificação de si próprio. É louvável matar a fome e a sede a quem a tem, inquestionavelmente. Mas proporcionar-lhe educação para prover a si próprio é o mais desejável. A maior caridade não será a divulgação do espiritismo?

Salvação segundo a Doutrina Espírita


Estudando a Doutrina Espírita, compreendemos que Jesus não morreu por ninguém ou para salvar alguém do Inferno. Sua morte não significa a nossa salvação, e nem o perdão “adiantado” dos erros que cometemos.

Jesus, o Espírito mais evoluído que já esteve na Terra, encarnou e viveu neste Mundo por amor a nós, para exemplificar o amor, o perdão, a caridade, a fé, sendo “o modelo e guia, o tipo de perfeição moral a que se pode aspirar na Terra”, definição essa contida na questão 625 de O Livro dos Espíritos.

“Pelas obras é que se reconhece o cristão”, pois se apenas a fé salvasse o indivíduo, de que valeria a caridade, a reforma íntima, o trabalho no bem? Qualquer um que se arrependesse de seus erros antes de morrer seria salvo e iria para o Céu, mesmo se tivesse sido um ladrão ou assassino? E onde estaria, nesse caso, a justiça de Deus, que oferece tempo para alguns se arrependerem, enquanto que a outros arrebata do corpo físico sem a oportunidade de repensarem suas atitudes?

Quando tomamos consciência do cometimento de uma falta, o arrependimento é importante, porém, ele não necessita de um rótulo religioso, mas sim ser complementado pela expiação e pela reparação do erro cometido.

Expiação são os sofrimentos físicos e morais consequentes do erro; e a reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal, apagando assim os traços da falta e suas consequências.

A Doutrina Espírita elucida que a salvação de cada um – entendida como evolução espiritual, que é destino de todos os Espíritos criados por Deus - depende exclusivamente de si mesmo, e ocorre a partir da transformação moral, pois “fora da caridade não há salvação”. Assim, somente através da reforma íntima é possível salvar-se do comodismo, da indiferença, da omissão, da descrença, transformando a fé e a confiança em Deus em obras de amor e paz.

Sendo o Céu um estado íntimo, construído pela consciência tranquila, e não um lugar de ociosidade e contemplação, o Céu de cada um só pode ser construído por ele mesmo, através de pensamentos, palavras e atitudes que revelem seu estado íntimo de constante aprimoramento espiritual, esforçando-se por tornar-se cada vez mais solidário, mais caridoso, mais parecido com Jesus.

O Conceito de Salvação na Visão de Ubaldi


O Conceito de Salvação na Visão de Ubaldi
 
O conceito de salvação apregoado pelo cristianismo tem sido objeto de muitas controvérsias, sobretudo no âmbito espírita. A exclusiva visão evolucionista, adotada pelo espiritismo como a única forma de se compreender a vida e o universo, entra em formal contradição com a noção de salvação veiculada pelo fundamentalismo cristão. Será possível conciliar esses dois entendimentos aparentemente antagônicos?

Embasada na tradição judaica e especialmente nas lições de Jesus e nas afirmações de seus discípulos diretos, registradas no Novo Testamento, a teologia cristã entendeu a salvação como a recondução do homem, expulso do Paraíso pelo pecado de Adão e Eva, ao Reino de Deus. Tal conceito se responsabiliza inclusive pela própria definição de religião, palavra que na sua origem latina significa re-ligare, ou seja, a restauração de uma pretensa “ligação perdida” com o Criador. Assim o homem é visto como um réprobo, um pecador, que corre o risco de uma condenação eterna, pelo fato de ser herdeiro da desobediência do primeiro casal. Dessa forma justificar-se-ia a sua necessidade de ser socorrido e resgatado desse mundo.

Essa salvação teria sido proporcionada ao homem pela graça e misericórdia divina, como indispensável quesito a ser adotado pela nossa fé. Bastaria então crer firmemente nessa possibilidade para que ela se efetive em nós. Tal conceito está claramente expresso em todo o Novo Testamento, como, por exemplo, nas palavras do apóstolo Paulo: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9).

A doutrina espírita, não obstante, compreende o homem como um ser que segue uma trajetória evolutiva rumo à perfeição relativa, por meio da palingenesia (reencarnação), depois de ter sido criado simples e ignorante. Essa visão, que denominamos evolucionista em contraposição ao tradicional criacionismo, não reconhece a necessidade propriamente de uma salvação para o homem. Ele não precisa ser resgatado de nada, senão evoluir. Assim, salvação passa a ser simplesmente evolução – o progresso do ser rumo a condições superiores de vida. Apenas isso.

Nessa particular visão, como estamos todos inseridos na natural progressão evolutiva, todos seremos inexoravelmente conduzidos aos planos superiores do espírito. Desse modo, salvação seria movimento automático, inerente à lei do progresso e pertinente a todo ser vivo. Empenharmo-nos nessa salvação significa acelerar os passos na trilha do desenvolvimento. Quem não se empenha em “salvar-se”, ou seja, aquele que permanece arraigado aos interesses inferiores da vida, apenas tardará mais tempo em atingir os objetivos finais da evolução. Já o indivíduo que segue preceitos morais, esmerando-se na prática sincera do bem, dispõe-se ao mais rápido aprimoramento evolutivo e mais depressa atingirá a vida superior do espírito. Portanto, ao evadir-se dos mundos de expiação e provas mais prontamente desfrutará de paz, equilíbrio e felicidade. Já os egoístas, arraigados aos interesses inferiorizados do espírito, demorar-se-ão nas dores expiatórias, colhendo os mesmos sofrimentos e privações que semeiam pelos seus ímpios caminhos.

Salvação, então, repitamos, passa a ser a aceleração do inevitável progresso da alma. E assim a visão evolucionista negou enfaticamente os preceitos evangélicos de resgate da alma da condenação eterna. Precisamos apressar os passos, mas não guardamos propriamente estrita necessidade de ser salvos, pois não estamos perdidos. A inferioridade em que nos demoramos é condição natural de vida, faz parte do roteiro de criação progressiva das almas – do mesmo modo que não precisamos socorrer nenhuma criança da escola primária, apenas ajudá-la a percorrer da maneira mais rápida possível as suas indispensáveis lições. Eis por que um articulista e escritor espírita publicou, certa feita, em importante revista de espiritismo, um artigo intitulado Salvação? Não obrigado! Dizia o renomado autor: “Não usamos o termo ‘salvação’, que historicamente está vinculado ao salvacionismo igrejeiro, uma solução que vem de fora. Na realidade aceitamos a evolução, a sabedoria e a felicidade para todas as criaturas”.

Exatamente por isso o espírita aboliu a palavra “salvação” de seu discurso. Moldados por essa nova visão evolucionista, proporcionada pelos preceitos kardecistas, os antigos conceitos teológico-cristãos tomaram significados próprios, apropriados à compreensão da vida como um movimento de crescimento de espíritos, criados simples e ignorantes, rumo à perfeição relativa. Salvação, assim, tornou-se, evolução. Pecado fez-se nada mais que o erro do espírito ignorante que ainda não sabe se comportar como o exige a Lei de Deus. Jesus foi compreendido como um educador de almas que veio ao mundo para impulsionar-nos aos patamares superiores da vida. O titulo de “Salvador”, o “Messias prometido”, que Ele mesmo se deu e a história humana corroborou, é-lhe formalmente negado. Ressurreição converteu-se em reencarnação, sem a qual o espírito não pode alcançar os planos superiores da vida onde se encontra Deus. Inferno é panorama íntimo da alma atormentada pelo necessário processo de corrigenda dos erros cometidos. E céu ou paraíso passa a ser condição própria da alma que atingiu estágio superior de vida.

E assim a doutrina espírita construiu uma nova teologia entretecida na exclusiva interpretação evolucionista da vida, a qual dispensa em absoluto o antigo entendimento que o fundamentalismo cristão adotou sobre a salvação. A evolução do espírito é agora movimento inexorável, promovido pela lei do progresso – inclusive os corolários espíritas não admitem o retrocesso da alma –, então não há do que sermos salvos. Caminhando pelos múltiplos estágios da escola da vida, alternando existências ora no mundo espiritual, ora no mundo carnal, progrediremos sempre até atingir, segundo os preceitos kardequianos, a almejada perfeição relativa. Pelas quedas morais, comuns à nossa ignorância, podemos retardar os passos, repetir lições, mas jamais deixaremos de ir adiante, e evadir-nos-emos indubitavelmente dos palcos inferiores da vida. Portanto, Kardec, ao afirmar que “fora da caridade não há salvação”, pretendia exatamente dizer que sem o esforço em realizar obras no bem não há possibilidade de o homem adiantar os seus passos na jornada do progresso. Estacionado nos interesses ególatras inferiores, retardar-se-á, multiplicando assim as suas dores evolutivas e expiatórias – outras consequências não advirão, pois o permanente avanço é inexorável.

Não estamos negando esses preceitos. Eles atendem à nossa lógica e estão perfeitamente aderidos aos nossos conceitos de evolução espiritual. Contudo, podemos, com a ajuda de Ubaldi, lançar um olhar mais abrangente sobre o conceito de salvação, compreendendo outros de seus aspectos, ampliando assim um pouco mais o nosso entendimento.

O estudioso de Pietro Ubaldi percebe que o tema é mais vasto do que imaginávamos. Com a ajuda do iluminado mensageiro da Úmbria, compreenderemos que ele extrapola a moderna compreensão evolucionista e, curiosamente, abarca ao mesmo tempo a clássica visão fundamentalista cristã. Como pode ser isso?

Para compreender, faz-se imprescindível abandonar nossas arraigadas posições dogmáticas. Assim, o cristão fundamentalista deve deixar seu cômodo apego à letra dos Textos Sagrados; e o espírita carece evoluir a sua moderna proficiência intelectualizada. Essa é exatamente a dificuldade, pois o primeiro radicaliza-se em seus preceitos fideístas, e o segundo não dispensa sua contumaz racionalidade. Então ambos não logram percorrer o pequeno trecho que os separa de uma verdadeira síntese de conceitos, que nada nega, favorecendo-nos com uma forma mais avançada e unitária de se divisar a realidade.

Quem não está disposto a abdicar de seu entendimento, e sente-se confortável em seu patamar de compreensão, não está pronto para ir adiante. Ninguém poderá convencê-lo do que quer que seja. A revelação que nos trouxe Ubaldi é conhecimento de síntese que requer peculiar predisposição íntima para ser devidamente apreendido. É o tipo de assunto para o qual devemos estar preparados. E não se presta para quem não está pronto. Portanto não serve para todos. Sabemos disso. Por isso não tratamos aqui de impor verdades a ninguém. Além disso, as verdades são como os frutos, precisam estar maduros para se fazer palatáveis ao espírito. Do contrário, tornam-se amargos e imprestáveis.

Se as lições de Ubaldi parecem, a princípio, ferir nossas mais sagradas crenças, é preciso ainda admitir que o cabedal de verdades disponíveis ao homem atual evidentemente não corresponde à última realidade do Todo. Faz-se impositivo aceitar que estamos todos, absolutamente todos, ainda muito distantes da Verdade plena, pertinente apenas aos altiplanos da evolução do espírito.  Por isso, uma postura de humildade é essencial a nossa permanente ascensão espiritual. Importa admitir que cada qual está habilitado a perceber um limitado aspecto da verdade, o qual tomará sempre pelo todo. Exatamente por isso nossas verdades devem ser periodicamente desestabilizadas, a fim de sermos preparados para novas e mais dilatadas compreensões. É assim que evoluímos. Desse modo, derruir antigas verdades e predispor-nos a novas semeaduras de sabedoria é genuína obra do tempo, em ação em nossa intimidade, visando impulsionar-nos para adiante. Essa é exatamente a tarefa dos grandes missionários que periodicamente vêm à Terra e por isso eles nos incomodam. Exatamente porque desestabilizam nossas cômodas posições de entendimento. Fixados em nosso habitual misoneísmo e sem suspeitar que estacionamos em corolários provisórios, apressamo-nos a combatê-los, iludidos de que nossas verdades são eternas e jamais serão demovidas.

Por isso sabemos que sequer com Ubaldi atingimos o ápice da verdade. Em absoluto. Não guardamos tal pretensão. Todos os nossos conhecimentos acham-se incompletos, pois, como seres em crescimento, estamos ainda muito distantes da verdade absoluta. Em razão disso não queremos passar a impressão de que nosso conceito é superior aos demais. Ressaltamos apenas que a revelação que nos trouxe o missionário do Cristo acalma-nos sobremodo o entendimento, apazigua nossos atritos ideológicos e ajuda-nos a melhor aceitar nossos aparentes antagonismos. E, sobretudo, funde-nos perfeitamente com as lições do Evangelho. Eis por que o julgamos essencial para os nossos atribulados dias.

Debulhemos, todavia, sem demora o assunto, para que o leitor compreenda tudo isso que estamos afirmando. Como podemos compreender a salvação tomando por base os ensinos de Pietro Ubaldi?

O filósofo da Nova Era ensina-nos que o universo relativista em que vivemos, entretecido em tempo e espaço, energia e matéria, é uma criação deteriorada, produto de uma contração espiritual que se denominou queda do espírito. E essa criação deteriorada em que vivemos, Ubaldi chamou de Anti-Sistema (AS), por achar-se nos antípodas do universo original, o divino, por ele denominado Sistema (S). Essa queda foi motivada, resumidamente e até onde nossa razão pode alcançar, pela inadequada opção do espírito em vivenciar intensamente o egoísmo.

Uma vez que o espírito arremeteu-se ao AS, detendo-se em sua trama de caos e destruição, somente uma força íntima, em ação na sua própria substância, poderia soerguê-lo da hecatombe do egocentrismo. Eis o novo conceito de salvação, que agora compreendemos como ação de resgate do espírito que caiu nas malhas do relativismo, imiscuindo-se em malogrados envoltórios físicos. De outra forma, não se entende por que Deus criaria seres necessitados de percorrer uma evolução, caracterizada, segundo predisposição natural, por expiações e purgações, dores e atritos, em permanente regime de purificação, como a própria doutrina espírita a define.

Segundo a proposição de Ubaldi, e como aferido pela antiga tradição cristã, a evolução somente se justifica para seres que optaram pela revolta contra o amor. E evolução então, como um movimento de expansão do ser, seria nada mais que a reação a uma anterior avulsão de contração de potencialidades.

Os detalhes dessa queda nos escapam na atualidade, pois ela extrapola o nosso concebível por haver ocorrido fora do tempo e do espaço, muito além do que pode a nossa parca razão atual alcançar. Apenas sabemos que ela se tornou possível na criação original por havermos sido gerados com o princípio de autonomia. O tema, contudo, não pode aqui ser abordado, pela extensão e a vastidão de suas implicações. Recomendamos ao interessado que leia Deus e Universo e O Sistema, obras nas quais Ubaldi detalha essas questões. Para quem deseja uma versão resumida e romanceada do assunto, recomendamos o livro Tabernáculo Eterno, um trabalho de inspiração mediúnica no qual tivemos participação especial, publicada pela Editora Inede.

Mediante o conhecimento da queda do espírito, compreendemos agora que, antes de iniciar a evolução, o espírito sofreu um processo de condensação involutiva que o arremeteu à inconsciência, condição que o espiritismo designa como “simples e ignorante”. Nesse ponto, ele inicia a alçada evolutiva, agora vista como uma reação ao precedente movimento de involução. A evolução passa assim a ser entendida, de fato, como a salvação, ou seja, o movimento de recuperação do ser caído na matéria. Movimento operado por forças poderosas, restauradoras da ordem e da perfeição perdidas, veiculadas pela ação amorosa de Deus. Forças que lutam contra a imposição de desordem e destruição que passaram a imperar ao nosso derredor, as quais se originaram da queda e não propriamente do desejo do Criador. Essa é a maneira mais lógica de se explicar a presença desses processos negativos na criação divina, e aceitarmos o fato de que nosso universo é um palco de batalhas de interesses antagônicos – as forças adversas do AS, contra as potências regeneradoras e reconstrutoras do S. Ora, uma criação homogênea, advinda de uma expressão unitária que é Deus, não poderia admitir essa franca oposição de valores em seu bojo.

Com a queda, patenteia-se que gravitamos entre os impulsos de destruição e do mal (forças AS) e as energias do bem e da ordem (forças S), em um universo dualizado, submetido a uma permanente oposição de valores. E justifica-se porque nosso cosmo se inicia em meio a uma fenomenal hecatombe, o Big bang, ao qual a inteligência divina trata de impor uma progressiva ordem e uma crescente complexidade. De outra forma, como aceitar que Deus, se nada existia, tenha gerado antes o caos para então organizá-lo na paciente esteira do tempo? Ora, o caos somente pode advir de forças desordenadas que se investem contra a ordem, jamais da inteligência suprema que creditamos à infinita Sabedoria do Criador.

Uma vez que se formou, empreendido pelas forças rebeldes, esse reconhecido e ciclópico tumulto do universo físico primordial, de que todos participamos, as potências divinas, reconstrutoras da ordem e do equilíbrio, passaram a agir na sua intimidade fenomênica, a fim de soerguê-lo do caos. É assim que Ubaldi nos afirma que “nosso universo é uma doença no seio da eternidade” que será curada pelo paciente trabalho da evolução, sob orientação divina. A antiga revelação do Gênese mosaico engrandece agora surpreendentemente aos nossos olhos, ao recordarmos sua poética e singela linguagem a nos mostrar a ação divina operando a paulatina ordenação da desordenada massa cósmica na sucessão do tempo, os “dias” da criação.

Evidentemente sempre vitorioso, esse dinamismo reconstrutor do universo desmoronado representa então a salvação de Deus, que, por amor, caiu junto com a criatura para resgatá-la do báratro de desordens em que se precipitou. É exatamente essa, a salvação pela graça divina, que foi definida nos Textos Sagrados, sobretudo no Novo Testamento, e concebida por elevada inspiração mediúnica de seus autores, como sabemos. Em luta contra a dor, a morte e o mal em todas as suas expressões, consequências diretas da queda, esse impetuoso impulso salvacionista, criador e organizador, soergue com êxito o espírito das cinzas de si mesmo, ajudando-o a refazer a organicidade perdida. E o faz por meio da longa e paciente elaboração evolutiva, no grande oceano do tempo, em seus quase intermináveis ciclos de vidas e renascimentos.

Portanto a evolução é o movimento de retorno ao seio divino que deixamos, representando a reconstrução da ordem perdida. Por isso, com efeito, como se deduz com ao auxílio do conhecimento espírita, evolução significa salvação. Movimento que agora imputamos à graça divina, que por amor permaneceu junto à criatura para socorrê-la. Aceitar que o dinamismo evolutivo seja um trabalho de “re-construção” e não de “construção” da ordem, deslinda-nos o tremendo paradoxo de admitir que Deus teria gerado primeiro a desordem no Universo, para somente depois ordená-lo, através da lenta ação do tempo. Isso implicaria que Deus necessita da dimensão tempo-espaço para criar – sabemos que não deve ser assim, pelo fato de o Criador encontrar-se fora do tempo e do espaço. E, afinal, teríamos que negar o critério de perfeição que imputamos a Deus, pois o que é perfeito somente pode gerar perfeição – jamais algo imperfeito. Ainda que admitamos que a criação se aperfeiçoe mediante a impreterível ação da evolução, Deus continuaria eternamente criando sob a chancela da imperfeição.

Assim, entende-se ainda exatamente por que a evolução é laboriosa, cansativa, e se faz um permanente movimento de atritos de interesses divergentes – exatamente porque intimamente resistimos à salvação divina, interessados que nos mantemos em prosseguir nossa multimilenar rebeldia contra a Sua ordem. Entendemos por que Deus está aparentemente ausente da realidade exterior em que respiramos, podendo inclusive ser negada a Sua existência. Elucida-se por que quanto mais primária é a vida, maior é o predomínio de imperfeições e a presença de atrocidades e selvagerias entre os seres. Ora, Deus, que é o amor absoluto, não poderia predispor seus filhos a essa luta de egoísmos ferozes, e sequer entregaria rebentos imaculados, recém-saídos de Suas mãos, a essa inadequada pedagogia embasada preponderantemente no desamor.

Assim aceitamos melhor a razão da existência do cansaço e da dor no grande labor evolutivo. E compreendemos por que este se fez e se faz de constantes atritos, fixando valores positivos, mas também negativos que inclusive preponderam na longa jornada pelo reino animal, a nos exigir depois, uma vez conquistada a razão, o operoso exercício da renúncia para libertarmo-nos de suas descabidas lições. Ninguém pode negar, por exemplo, que o hábito de ludibriar, roubar e matar sejam frutos de nossa exaustiva luta pela sobrevivência no mundo selvagem, onde tais atos são perfeitamente lícitos.

Aclara-se, desse modo, por que a criação progressiva parte de uma apriorística existência de egoísmos inatos que necessitam obrigatoriamente ser lapidados pela dor e pela dilaceração do ego inferior. E esclarece-se por que a elaboração evolutiva trabalha essencialmente a dificultosa transformação de verdadeiras feras, aparentemente assim geradas pelo nosso amoroso Pai, em legítimos anjos. Elucida-se por que a vida exige, através de imenso e incompreensível esforço, que seres arraigados no egoísmo pela experiência dos milênios, modifiquem-se, por esforço próprio, em criaturas capazes de doar sua vida aos semelhantes e não as roubar em benefício próprio, como a vida tão bem lhes ensinou. E assim deslinda-se, enfim, por que somente o amor salva, sendo a única força capaz de retirar o ser do inferno em que verdadeiramente vive e reconduzi-lo à felicidade celestial.

Sem a crença na queda do espírito e a certeza de que habitamos um universo às avessas, impróprio para a nossa vida e nossa ventura, não temos como compreender a salvação. Não saberemos por que Deus nos matricula na escola de lutas da carne, educando-nos, quando ainda tenros, na selvageria de todos os hábitos, para depois, somente depois, quando já nos habituamos às barbáries e experimentamos as carnes dos nossos irmãos, pedir-nos o verdadeiro amor. Torna-se algo incompreensível a um Pai que criou seus filhos unicamente para viver a completude do amor e da felicidade.

Com a falência do ser, compreendemos muito bem agora que a escola da vida que frequentamos não é bem um educandário de seres inocentes, que saíram puros das mãos divinas, mas, sim, um reformatório de rebeldes, destinado a corrigir ignóbeis hábitos livremente escolhidos. E assim torna-se compreensível o fato de que a vida se faz de métodos prioritariamente coercivos para seres aprioristicamente rebeldes. E entendemos por que o espírito cobre-se, no trânsito da vida, com carnes frágeis e degradáveis, as quais objetivam nitidamente abafar-lhe as potências originais do espírito – fato incompreensível se não aceitarmos o pressuposto de que a vida trabalha seres que se fizeram prioritariamente rebeldes, tornando-se inconvenientes para utilizar de forma adequada as plenipotências herdadas do Pai.

Portanto somente aceitando que fizemos uma anterior opção pelo mal conseguiremos compreender as forças em jogo na evolução, as quais não podem ser divinas. A bondade do Senhor permite-nos expressar esse mal, pelo qual optamos, na impropriedade da matéria, até o esgotamento de nossas originais intenções. Porém através do labor evolutivo, que utiliza sobretudo a dor como instrumento de persuasão,  leva-nos a agastar nossos hábitos impróprios, educando-nos, pacientemente, na imprescindível arte do amor. E assim deslinda-se por que a vida, quanto mais primitiva, mais se faz um entrechoque de rebeldes, um jogo de violências e mortes – coisa incompreensível diante de um Pai que nos exige a prática do amor acima de todos os outros interesses. Logo, se aceitamos que a vida na matéria se compõe de seres que precisam antes de tudo aprender a coibir iníquos impulsos de revolta contra a ordem, entenderemos a necessidade da limitação de forças que a carne impõe. Fato incompreensível se admitirmos que a experiência da vida parte de seres inocentes, saídos das mãos do Criador em estado de simplicidade e ignorância.

De modo geral, os adeptos da Terceira Revelação não concordam sequer em discutir essas questões, simplesmente por julgar que elas contrariam preceitos registrados nas obras básicas. Tomados por dogmas, não percebemos que esses ensinamentos, considerados ao pé da letra, contrariam o fundamental princípio de amor que deve nortear a obra de Deus. E assim, ao colocar a letra acima da leitura da realidade, passamos a repetir o erro de todas as religiões, fixadas em seus inamovíveis dogmas. Ora, assim como julgamos a doutrina do inferno eterno, apregoada pelo fundamentalismo cristão, absolutamente inconciliável com a bondade infinita de Deus, também acreditamos descabida uma crença que toma a selvageria dos mundos inferiores, a lei de destruição e o mecanismo da dor como processos naturais impostos por Deus, como únicos meios para fazer avançar os Seus filhos. Embora justificados pelos fins, tais meios contrariariam o princípio fundamental e máximo da Criação: a Lei do amor. Além de retirar emblematicamente a perfeição da criação, e consequentemente de Deus.

A queda original é uma bela proposta capaz de elucidar essas questões e solver outros graves embaraços das grandes religiões ocidentais. Deveríamos encará-la com seriedade, destituindo-nos de nossos seculares preconceitos. Ela esclarece de forma brilhante outros empecilhos da doutrina kardequiana, como por exemplo, a informação de que a reencarnação tem como finalidade principal a purificação, como nos informa O Livro dos Espíritos (questões 166 a 170). E a de que vivemos em um mundo de expiações e provas, que faz da dor a sua tônica principal. Sem a queda não entendemos por que Deus criaria seres que necessariamente requerem regime de provações, dores e limitações, coisa somente possível para aquele que erra e se habitua ao erro. E entendemos, finalmente, por que, como nos revela a doutrina espírita, a escala de progressão dos orbes se inicia nos mundos primitivos, bárbaros e selvagens, passa pelos expiatórios, depois os de regeneração, para então chegar aos felizes e divinos. Não nos parece uma ordem adequada a seres inocentes, porém unicamente àqueles que escolheram a rebeldia como forma de viver. Basta examinarmos as nossas escolas infantis – iniciar nossos infantes na barbárie e selvageria de todos os hábitos seria algo inadmissível para nós. E ainda mais: exigir-lhes depois, através da dor, que abandonem os costumes que lhes incitamos inicialmente, seria uma completa injustiça, senão mesmo uma loucura. Admitir que assim atua a inteligência divina é imputar indevida irracionalidade e contra-senso ao Criador. E pior ainda, seria assentir que nosso Pai não se importa com a existência do mal na criação.

Se aceitamos, entretanto, que nossa existência na matéria partiu da rebeldia e da contração de nossas potencialidades originais tudo se esclarece. A evolução foi então precedida por grave contração da perfeição com a qual fomos criados. Resgata-se a perfeição e o amor de Deus. Restará ao estudioso sincero, concordamos, a pergunta: como foi possível a seres criados perfeitos caírem na imperfeição e no mal? Mais uma vez Ubaldi nos socorre explicando-nos que a criação original gerou seres tão perfeitos que lhes era imputada a autonomia, uma vez que Deus não quis criar autômatos, mas deuses-filhos que aderissem a Sua vontade por livre escolha. Aí residia a possibilidade de queda (o fruto proibido). Contudo a perfeição da criação se manteve na plena capacidade de reconstrução do ser, de modo que, ao final da evolução, o universo original estará recomposto em seus impecáveis fundamentos, tais como pretendido pelo nosso Pai.

Mediante o pressuposto básico da queda, a evolução torna-se agora muito mais que simplesmente o nosso progresso rumo aos planos superiores do espírito. É de fato evolução a salvação, o nosso resgate das algemas físicas em que nos prendemos. Representa o esforço que nos compete na reconquista do universo divino que deixamos por livre escolha. Exatamente por isso, André Luiz, o famoso mentor espiritual, define a evolução como “a nossa lenta caminhada de retorno para Deus” (A Vida Continua, FEB, 6ª edição, capítulo 21, página 179). Portanto não estamos em uma trajetória de “ida”, mas de “volta” ao Pai.

Logo, evolução passa a ser efetivamente a nossa libertação dos redemoinhos atômicos onde, através da queda, aprisionamo-nos de modo inconveniente. Verdadeiramente, uma vez gerados no seio imaculado de Deus, como puros pensamentos, não poderíamos nos vestir de “pedra” sem uma razão que o justificasse. E não nos seria possível ter sido criados com diferente natureza, uma vez que somos filhos do Altíssimo – e filho de Deus somente pode ser “deus” também. A opção pelo egoísmo foi o que nos selou esse ominoso destino, por termos sidos gerados, como dissemos, mediante o princípio de autonomia. Então foi através da negação do amor, por livre escolha, que “o anjo se prendeu no átomo” (questão 540 de O Livro dos Espíritos). Após esse movimento de contração dimensional e fuga do seio de origem, somente uma força divina, atuante nas profundezas do ser caído poderia auxiliá-lo a reorganizar-se e a refazer a sua perfeição perdida.

Essa força salvadora soergueu-nos do lodo da matéria bruta para a vida orgânica. Orientou-nos, pelos caminhos dos evos, na laboriosa luta pela sobrevivência. Conferiu-nos todas as oportunidades possíveis para evoluir e fazer desabrochar a consciência que em nós dormitava, desde que “morremos” nos abismos infecundos da matéria bruta. Ela nos resgatou do caos que geramos após a hecatombe da queda.

Pura imanência divina, essa força então é a potência salvadora do universo caído – um novo conceito de salvação que o espírita ainda não absorveu. Sem essa “salvação”, proporcionada por esse extraordinário impulso reorganizador, estaríamos para sempre detidos na inconsciência, pela perda absoluta da organicidade. Sem organicidade não há vida, e sem vida não há consciência. Portanto, conferindo inteira validade aos Textos Sagrados, facilmente aceitamos agora que “a salvação é dom gratuito de Deus, que o Pai nos confere por amor e graça” (Efésios 2:8-9, já citado), a fim de reconduzir-nos ao Seu aprisco de amor.

Enquanto nos detínhamos nos conceitos unilaterais do evolucionismo espiritual, esse conceito se perdera. O fundamentalismo cristão o reteve em sua essência, mas o diluiu igualmente na fatuidade de sua interpretação literal, rejeitada pela razão moderna. Por isso Ubaldi nos faz bem, favorecendo-nos a compreensão das verdades eternas tal como registradas nas Sagradas Escrituras. E apazigua-nos sobremodo o intelecto amadurecido ao aplacar-nos o conflito fideísta em que ainda nos debatemos. Além disso, suas lições despejam inigualável luz sobre os ensinos do Cristo, atualizando-os sob o beneplácito de nossa hodierna dialética evolucionista, que não precisamos abandonar.

Para melhor elucidar o tema, esclareçamos, todavia, que identificamos a existência de dois tipos distintos de ação redentora atuantes na intimidade do espírito em evolução: a salvação pela graça e a salvação pela livre escolha.

Na fase em que o ser é ignorante de si mesmo e de suas necessidades, ele é pacientemente guiado pela inteligência divina que lhe faculta todas as oportunidades para conquistar valores e evoluir. Esta é a salvação pela graça. Por meio dela, o Criador o nutre com uma sabedoria, que ele não detém, necessária à confecção de organismos preparados para a vida e para a luta. Sem essa ínsita inteligência orgânica, orientadora da vida, a evolução do espírito não seria possível.

Ainda que em meio à selvagem luta pela sobrevivência, favorecida pela desapiedada seleção natural própria dos mundos inferiores e selvagens, essa ingênita inteligência guia o ser ao constante aperfeiçoamento e à aquisição de genuínos valores evolutivos. Compreendamos, todavia, ainda que repetindo conceitos: esse bárbaro regime inferior de vida não é uma oferta espontânea do Criador para o simples exercício de crescimento do ser. Não podemos admitir a barbárie dos reinos primários como uma legítima proposta pedagógica de nosso amoroso Pai. Resta-nos então aceitá-la como um inadequado sistema de vida desejado pelo espírito que optou pela revolta e pelo desamor. E Deus o permitiu viver, porém distante de Seu Reino, onde somente o amor é possível. Justo assim que seres que escolheram viver intensamente o egoísmo tenham sido atirados às arenas de luta, dor e morte que preponderam nos mundos primitivos. Deus aproveita esse impróprio modo de viver para educar o espírito e fazê-lo desistir do egoísmo - jamais poderíamos imputá-lo ao amor infinito e à inteligência excelsa de nosso Pai.

Uma vez, porém, que as operosas forças salvadoras de Deus impulsionam o espírito à reconquista da razão perdida, a evolução passa a se tornar um movimento consciente, sujeito então a interferência de sua vontade. Por isso, na fase de evolução consciente em que nos encontramos, nossas escolhas e nosso empenho na reforma íntima passam a influir preponderantemente em nosso avanço evolutivo. Aí sim, a evolução passa a se valer de nossa operante vontade de realizações no bem. Antes disso, era puro e gratuito dom da graça divina. Agora depende de nós e de nossas obras: esta é a salvação pela livre escolha.

Ainda assim, a salvação pela graça divina prossegue atuando em nós nos pontos em que continuamos ignorantes e não sabemos guiar-nos como convém. Ela permanece em ação em nossa intimidade como força reconstrutora e mantenedora do equilíbrio orgânico, permitindo-nos atuar na dura escola da carne, regenerando-nos no trânsito da vida. Essa operante força continua fundida à substância de nosso ser, gerando-nos inteligência molecular, funcional e anatômica, sem a qual não nos fixaríamos na matéria bruta. Então ela age onde nossa inteligência é ainda insuficiente para edificar e resguardar nossos corpos. Essa preponderante ação divina é momentânea e periodicamente suplantada pelos impulsos tidos naturais, de caráter destrutivo, que nos levam inevitavelmente à degeneração orgânica e à morte. Não obstante, é aparente essa vitória das forças do AS, pois a vida, através do sustento divino, refaz-se sempre através do milagre do renascimento, sendo a morte nada mais que condição de uma nova existência, como todos sabemos.

“Salvação pela graça divina” e através de “nossa própria vontade” compõem assim o cortejo das potências redentoras que soerguem o espírito das cinzas da matéria, onde ele encontrou a morte da consciência. Por isso, está certa a doutrina espírita que nos ensina que “a fé sem obras é morta” e “somente a caridade pode nos salvar”. O espiritismo nos fala aqui da redenção consciente que requer o adequado emprego da nossa vontade e nosso empenho em boas obras. Mas o fundamentalismo cristão não se enganou ao afirmar-nos a existência de uma força salvadora inerente à substância da vida, na qual devemos confiar e que inexoravelmente nos socorrerá. Seus mecanismos utilizam a dor e a aspiração pela perfeição perdida como principais impulsores do ser caído, mecanismos infalíveis para reconduzi-lo às suas origens. Essa salvação é obra da nossa mais pura fé. Acreditarmos nela pressupõe entregarmo-nos com extrema fidúcia à sua ação sempre benéfica, amorosa e restauradora, dinamizando-a em nosso benefício.

Essa extraordinária compreensão funde a visão espírita evolucionista com o fundamentalismo cristão. Ela autoriza as lições evolucionistas, mas valida também o criacionismo bíblico, por incrível que nos pareça. A criação divina, como sabemos, permeia a evolução, enriquecendo-a de soluções prontas e inteligentes para os seus desafios. Confecciona corpos e predispõe uma sábia anatomia e uma engenhosa fisiologia adequadas às necessidades evolutivas do ser. Então, de fato, “a salvação é dom de Deus, não de nossas obras, para que ninguém se vanglorie” – estava certo Paulo de Tarso ao exarar a sua famosa frase. Mas está correta também a doutrina dos Espíritos que afirma que somente evoluímos pelo esforço próprio, mediante o nosso empenho em boas obras – fato igualmente registrado na Palavra Sagrada (Mt 7:1 e Ti 2:26).

Impossível negar que forças divinas operem constantemente a nosso favor. Elas nos favorecem, por exemplo, edificando-nos corpos cada vez mais aperfeiçoados, e trabalhando ativa e permanentemente em favor de nossa recomposição. Elas nos conduzem através da sábia linguagem dos instintos, quando ainda não detemos a inteligência suficiente para efetuar nossas escolhas. Isso basta para compreendermos que a salvação vai muito além de nossa mera vontade em progredir e realizar obras de caridade. É evidente que à medida que o espírito progride rumo à aquisição de sabedoria, essa salvação pela graça torna-se cada vez menos operosa, entregando-nos ao nosso próprio trabalho de reconstrução de nós mesmos. Por isso a dor se reduz à proporção que nos tornamos mais conscientes de nosso trabalho evolutivo. Não há dúvida de que inteirarmo-nos de nossas necessidades de reforma íntima e predispormo-nos à realização de boas obras apressará sobremodo o nosso resgate definitivo do universo às avessas em que vivemos, contudo essa ação consciente não seria suficiente para nos socorrer quando ainda ignorávamos essa necessidade.

A salvação pelo esforço próprio, que denominamos autorredenção, está então na alçada de nossas escolhas: dependerá do abandono dos incuriais valores que arquivamos do passado, o homem velho; da renúncia ao ego inferior que ainda portamos; da superação dos hábitos animalizados que automatizamos por imposição da própria da egolatria; de um grande esforço no aprendizado do amor ao semelhante e, enfim, da nossa entrega à vontade maior de Deus.

Autorredenção pressupõe ainda, efetivamente, fazer morrer o personalismo doentio que permanece nos vestindo. Exige o abandono das armas de defesa que confeccionamos na estrada dos séculos, e nas quais ainda nos comprazemos, por serem completamente inadequadas aos fundamentos do amor. E, tomando sobre nossos ombros as nossas dores, significa alçar com bom ânimo o calvário da redenção. Não foi exatamente isso que nos ensinou Jesus em Suas imorredouras lições e seu contundente exemplo? Agora, entendemos por que deve ser assim. Então, é verdade que “fora da dor não há salvação”. E sem a queda, mais uma vez, não compreenderemos por que Deus nos impõe tamanha necessidade para atingirmos o desiderato maior da evolução.

Entender que sofremos uma obra evolutiva de resgate facilitar-nos-á aceitar por que a Lei de Deus, depois de nos educar na luta pela sobrevivência e dotar-nos de terríveis artifícios de ataque e defesa, pede-nos, na fase consciente de evolução que ora percorremos, critérios completamente opostos aos que a escola da vida ensinou-nos na esteira dos milênios. Ao contrário do que a evolução até aqui nos ensinou, devemos agora aprender a doar nossa vida ao semelhante e não roubá-la em benefício próprio. E aclara-se exatamente por que o Evangelho de Jesus é antibiológico, ou seja, ele nos alerta que o fundamental para nossa sobrevida é nosso total empenho no amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Este é o máximo recurso de vida que nos permitirá viver a integral fusão com o Pai que nos criou unicamente para amar e ser feliz. Os fundamentos da vida biológica tão bem aprendidos na escola dos séculos devem ser definitivamente esquecidos.

Como vemos, o conceito da queda do espírito, tão rejeitado pelos estudiosos da doutrina espírita, é a mais extraordinária luz capaz de iluminar sobremodo a nossa compreensão dos mecanismos da vida a que estamos submetidos e suas intrigantes contradições. Quando, contudo, remetemo-nos ao Evangelho de Jesus, então constatamos como esse conceito se faz indispensável para melhor entendê-lo. Se não nos vemos como seres degredados e presos nas algemas da matéria, como entender que Cristo veio ao nosso mundo para nos salvar? Qual seria o significado de Seu sacrifício? Exatamente por que Ele se deixou imolar na cruz por todos nós?

Para a doutrina espírita, nos moldes como é interpretada pela maioria de seus seguidores, representa um peso enorme a negação desses conceitos tão fundamentais que caracterizam o cristianismo em sua essencial original. Como repudiar essas inferências se elas estão embasadas nas próprias palavras de Jesus, as quais a história humana deu tanta ênfase? Nossa visão unilateral da revelação espírita nos autoriza a negar as próprias afirmações do meigo Rabi? As informações que nos chegaram pelas vias mediúnicas e analisadas pela inteligência de Kardec selaram a verdade, superando os ensinos do divino Mestre? Não estiveram elas sujeitas aos psiquismos dos médiuns e suas particulares interpretações? Será a mediunidade um processo infalível?

E ainda mais: não foram os mesmos espíritos que afirmaram que não nos disseram tudo? Que muito ainda tinham a nos revelar, porém nossa acanhada compreensão não lhes permitia avançar? Teríamos, com as obras básicas da codificação atingido em definitivo o conhecimento da verdade? Evidentemente que não. Aqueles que se apegam ao dogmatismo doutrinário, deveriam lembrar-se do que exarou Kardec, em A Gênese: “O Espiritismo assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia (...). Caminhando de par com o progresso, o espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”. Nessa mesma obra, o Espírito Galileu afirma: “Há questões que nós mesmos, espíritos amantes da ciência, não podemos aprofundar e sobre as quais não podemos emitir senão opiniões pessoais, mais ou menos hipotéticas”. E na questão 182 de O Livro dos Espíritos, encontramos: “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais”. Não obstante tomamos suas palavras como a última e inamovível verdade. Ora, estamos muito distantes da verdade absoluta para nos deter em informações que nos chegaram no século XIX, quando ainda muito pouco sabíamos da realidade que nos envolve. Quanto a ciência cresceu desde então! Nosso inato anseio por verdades absolutas fez-nos estagnar em dogmas, repetindo o erro das religiões convencionais do mundo.

Seguramente, o maior benefício da teoria da queda que nos trouxe Ubaldi é a perfeita fusão das revelações religiosas com o conhecimento que nos propiciou a ciência do século XX. A cosmologia moderna encontra aí sua mais perfeita unificação com a cosmologia cristã. Remetemos o leitor interessado em aprofundar a questão ao nosso despretensioso trabalho Arquitetura Cósmica, publicado pela Editora Inede, no qual efetuamos um detalhado estudo sobre as visões de mundo ao longo da história, para demonstrar que a queda do espírito é a única tese capaz de explicar e unificar todos os conhecimentos humanos.

Do ponto da cristologia, com a queda original, passamos a compreender perfeitamente a missão do Cristo entre nós. O divino Amigo veio trazer-nos a notícia da existência de um outro mundo além do nosso, onde se encontra nosso Pai, o Reino de Deus. Ele nos pediu enfaticamente abdicarmos do mundo às avessas em que vivemos (o AS) para a conquista desse Reino (o S). Fato intrigante para nós sem o conhecimento da queda, pois se Deus nos gerou em Seu seio, por que nos mantém fora de nosso natural habitat? E não entendemos por que Ele nos colocou em um mundo infesto de desazados valores aos quais com tanto esforço devemos abdicar, a fim de atingirmos à vida verdadeira para a qual fomos criados.

Cristo mostrou-nos ainda, em Seu sacrifício, de forma nítida, como realizarmos o nosso resgate do mundo às avessas em que vivemos, o AS, e conquistarmos mais rapidamente o Reino de Deus. Esse foi o desiderato maior de sua vida, a que Ele dedicou a sua existência – e recomendou-nos enfaticamente fazer o mesmo. Portanto, Ele nos deixou o roteiro da autorredenção, realizando-a aos nossos olhos. Assim acreditamos que, ao deixar-se imolar na cruz, Ele penetrou definitivamente o Mundo Celeste, o S. No instante do Calvário, Ele abandonava o Relativo para assumir a sua posição definitiva no Absoluto, realizando a sua integral fusão com o Pai. Consubstanciava-se a dissolução de seus envoltórios dinâmicos e seu retorno decisivo ao seio paterno como espírito purificado. Eis a realidade maior da ressurreição de Jesus que Ubaldi descreve-nos em seu último livro, Cristo – o divino Amigo realmente “subiu aos céus” e voltou ao Pai como um espírito ressurreto.

O meigo Rabi entregou seu corpo ao sacrifício demonstrando-nos que Ele não se interessava por salvar a matéria perecível. Ele não queria igualmente firmar-se mais como um vitorioso no mundo às avessas em que vivemos. E deixou-nos patente que seu interesse maior era fazer morrer o que Lhe restava de personalismo inferior, doando-se, por amor, incólume, à vontade de Deus. E de fato, sem a completa extinção do nosso ego inferior, sem a entrega confiante de nossa alma ­ao desejo do Pai, sem a não resistência ao mal, sem o perdão verdadeiro àqueles que nos maltratam e nos tiram a vida, sem a renúncia aos valores da animalidade, sem a oferta de nossa vida em prol do semelhante – ou seja, sem a vivência de um verdadeiro e supremo amor não nos libertaremos das malhas do relativismo onde nos demoramos. Portanto, sem dor, sem renúncia, sem sacrifício, sem perdão, sem doação ao outro e sem amor não há salvação. Por isso é imperativo subirmos todos pelo calvário da evolução, com nosso sacrifício e todo o empenho na superação do homem velho, que deve morrer na cruz para a libertação de nosso ser real na verdadeira vida eterna – a gloriosa ressurreição, no dizer de Emmanuel.

Portanto, a autorredenção faz-se imprescindível para a nossa salvação. Destarte vale insistir que ela não bastaria, como nos afirmaram as Sagradas Escrituras, para o resgate da matéria. Se Deus não agisse permanentemente em nosso imo, repitamos, como a força máxima de reconstrução, não nos salvaríamos. Entregues a nós mesmos, estaríamos detidos na inconsciência da matéria bruta, “mortos nos túmulos de pedra”, até os dias de hoje.

E entendemos ainda que Cristo, após o seu definitivo retorno ao Reino de Deus, fez-se essência imaculada. Unificado com Deus e fundido na substância da Lei, Ele então consubstancia a Terceira Pessoa da Divina Trindade, como pressupôs a velha Teologia cristã. Estando fora do tempo e do espaço, Ele agora participa da onisciência e da onipresença divina. Por amor a nós, contudo, permanece ao nosso lado, agindo no imo da alma humana como força reconstrutora e salvadora (Mt 18:20). Portanto, como fazem nossos sinceros amigos cristãos em todo o mundo, podemos enfim bater no peito e com a mais pura e intensa emoção proferir: Jesus é meu salvador!

Com todos esses novos conceitos podemos doravante melhor aceitar e colocar em prática todas as lições do Evangelho. As palavras do Cristo tomam novo e vigoroso significado. Entendemos afinal que o Messias veio à Terra efetivamente para nos salvar. Ele veio “resgatar o que estava perdido”, como afirmou (Mt 18:11). Ou seja, para reconduzir-nos, ovelhas perdidas, ao aprisco celeste (Mt 15:24, Lc 15:4). Compreendemos exatamente por que estamos distantes do Reino de Deus, que o divino Amigo, na oração dominical, suplicou para “vir até nós” (Mt 6:10). E recomendou-nos a reconquista desse Reino que perdemos, como o máximo objetivo de nossas vidas (Mt 6:36). Todo o empenho de nossa alma deve ser dirigido a esse esforço, como alguém que acha um tesouro de inestimável valor e tudo vende para adquiri-lo (Mt 13:44). Ora, se estivéssemos seguindo os passos normais de uma evolução natural em um mundo adequado e pretendido por Deus, não haveria por que Jesus recomendar-nos, com tanta ênfase, apartarmo-nos dos caminhos da carne e buscar afanosamente a verdadeira vida espiritual (Mt 6:33). Sem a interpretação da queda, Suas conjecturas, em sua maioria, tornam-se evasiva e não podem ser levadas a sério. Jamais compreenderíamos, por exemplo, por que Sua imensa compaixão por nossas dores levou-O a nos consolar, dizendo: “Não temas, ó pequeno rebanho, porquanto a Deus agrada dar-nos o reino” (Lc 12:32). Essas e todas as palavras eternas que o Messias nos deixou careceriam de sentido próprio. Portanto, não podemos mais negar que necessitamos, sim, de salvação. E sem a salvação pela graça, juntamente com o empenho na autorredenção, jamais retornaremos ao Pai.

Para grande consolo nosso, de posse desses novos conceitos chegamos à clara constatação de que nossa exaustiva caminhada evolutiva pelas veredas do relativismo, e o próprio universo relativo terão um fim. Nossa jornada terminará com o nosso definitivo retorno ao absoluto. O espaço sucumbirá com a extinção da matéria, o tempo expirará com a morte da energia, e o espírito sobreviverá para viver a eternidade no seio divino. Herdaremos então a perfeição absoluta e não a relativa, como havia pressuposto Kardec, pois somos genuínos filhos de Deus, e como tais, feitos de sua mesma e impecável natureza. Validamos assim a escatologia cristã e todas as suas previsões, pois “o céu e a terra passarão” e apenas os valores imponderáveis do espírito restarão da realidade que nos alberga (Mt 5:18 ). Esclarece-se agora o “fim dos tempos” a que se referiu Jesus, a morte da dimensão espaço-tempo, que um dia nasceu e, como tudo que nasce, deverá igualmente morrer. O conceito de ressurreição restitui o seu significado original.

Os estudiosos da doutrina espírita poderão negar essas afirmativas, uma vez que Kardec pressupôs a nossa evolução infinita e a existência ad aeternum de nosso universo. Todavia vale recordar que os próprios Espíritos, na questão 169 de O Livro dos Espíritos, exararam que “o progresso é quase infinito” – portanto não caminharemos eternamente pela aparentemente infinda estrada da evolução, mas nos fixaremos, enfim, no “fim dos tempos, como colunas inamovíveis no Templo de Deus”, como nos promete a palavra sagrada (Ap 3:12).

A cosmologia moderna, confirmando a escatologia cristã, já fixou o trágico fim do nosso universo na sua vertiginosa expansão rumo à exaustão absoluta de todas as suas energias, e até mesmo no decaimento do próton. Não existiremos, aqui, para todo o sempre e, como disse Ubaldi, sequer as paisagens do relativo sobreviverão para a eternidade, mas todo o nosso cosmo será espiritualizado, restituindo-se completas as potências do absoluto que o originaram, quando todos os registros da grande queda forem integralmente reabsorvidos pela evolução.

Compreendemos que Jesus deixou-nos, na maneira como se conduziu na Terra, o exemplo claro de como efetuarmos a nossa própria redenção. Como aceitar, porém, a peremptória afirmação do fundamentalismo cristão de que, com a Sua morte, Ele promoveu a redenção de nossos pecados? Podemos legitimar essa afirmativa que já se consagrou como um dos principais dogmas do cristianismo? O Evangelho não diz que “o Cordeiro de Deus tomou sobre si as nossas dores e morreu em nosso lugar na cruz”(Jo 1:29)? Poderia a morte de um justo pagar pelas faltas de outros? Como pode ser isso, se a própria justiça humana jamais concordaria em penalizar alguém por erros alheios? Seria um mistério pertinente a Deus e, portanto, algo que não podemos questionar, diz-nos a velha teologia cristã. Não obstante, insistimos: nossa razão considera um disparate conceber que a perfeita justiça divina possa funcionar de forma tão incoerente. Necessitamos de melhores explicações para tal afirmativa. Se na Idade Média esse pressuposto parecia conformar o coração humano, nos dias atuais, vê-se claramente que mais se serve como um obstáculo à plena aceitação do Evangelho. Com o auxílio de Ubaldi, aproximemo-nos da delicada questão, tentando esclarecê-la um pouco melhor.

Sabemos que o inconsciente humano traz em seus arcanos o registro arquetípico da queda do espírito. Isso o fez postar-se, desde os primórdios da razão, como um ser pecaminoso, sobretudo diante da Divindade. Exatamente por isso, ele cuidava de fazer oferendas aos seus deuses, a fim de aplacar suas pretensas iras. Interessado então em reduzir as suas penas, partindo do pressuposto de que ele era culpado de alguma coisa e havia ofendido a Divindade, ele depositava nos altares de seus templos o melhor de sua colheita.

Em muitas culturas antigas, entretanto, ele intentava ludibriar os deuses, sacrificando seres que considerava inocentes, para que o sangue derramado por estes, no lugar do seu, pudesse simular a pena que se julgava inconscientemente merecedor. Desse modo, ovelhas, pombos e até mesmo jovens virgens eram imolados, em macabros rituais, para que o homem se sentisse liberto de sua inevitável condenação.

Evidentemente, tais bárbaros costumes baseavam-se na mais precária concepção de Deus, compreendendo-O como um déspota, a quem a simples visão de sangue bastaria para dissuadir a impor ao homem os castigos que ele sempre se sentiu merecedor.

Assim, o psicologismo doentio do homem encontrou na morte de Cristo o perfeito sacrifício a Deus para a remissão de suas culpas. O sangue do mais puro dos homens, ou mesmo de um verdadeiro deus, seria então mais do que o bastante para que o Senhor desistisse de cobrar pelos nossos muitos pecados. Fizemos então de Jesus o “Cordeiro de Deus que tirar o pecado do mundo”, aplicando à Sua execrável morte nada mais do que mais um dos nossos sangrentos rituais aos pés do Criador. Atendia-se, desse modo, mesmo sem a clara noção do fato, aos apelos do inconsciente coletivo humano, onde o homem guarda a sua culpa de origem, oriunda da queda do espírito.

Ao analisar o fato, chegamos mesmo a suspeitar de que esse teria sido “o cálice” que Jesus pediu ao Pai lhe fosse afastado, no momento da crucificação. Ele já havia demonstrado a Sua clara disposição de se deixar imolar para nos dar o exemplo de como se deve agir diante do mal. Mas Ele não queria fazer-se o “Cordeiro da humanidade”, cuja morte seria erroneamente interpretada como a condenação de um justo que derrama o seu próprio sangue no lugar do nosso para se aplacar a condenação divina a que nos fazem jus. Naturalmente que o Mestre, profundo conhecedor do nosso infantil psicologismo, sabia que esse estranho e inadequado papel lhe seria imputado pela nossa história, iludindo-nos de que assim estaríamos isentos do próprio sacrifício em prol da nossa salvação.

Em suma, chegamos à conclusão de que não podemos aceitar que a morte de Jesus tenha redimido os nossos erros perante a Lei divina. Isso fere o que entendemos da justiça divina e do conceito que na atualidade detemos de Deus. Nossa consciência ferida somente será recomposta se seguirmos os exemplos do Cristo. Jamais pelo simples fato de um inocente ter sido condenado em nosso lugar.

Resta-nos, todavia, a pergunta: a salvação será infalível? Todos se salvarão? Será que Deus não respeitará a vontade do filho rebelde que não queira jamais retornar ao Seu aprisco? Ubaldi abordou a delicada questão e afere-nos que os mecanismos divinos de salvação são infalíveis. Utilizando-se da dor, da nostalgia pelos bens perdidos e do anseio pela perfeição, sentimentos que impregnam toda criatura caída por estigma de origem, a Lei conduzirá todas elas aos planos superiores do espírito. Fugindo do inferno da matéria e suas dores que inevitavelmente colorem as paisagens dos mundos inferiores, movido pelo natural instinto de felicidade, o ser não tem outro caminho que evoluir. Desse modo, diz Ubaldi, todos se salvarão. Nosso universo físico será completamente extinto, e não restará aqui um único átomo, afirma-nos o inspirado da Úmbria. Cristo já havia nos dado essa certeza ao proferir que “de suas ovelhas, nenhuma se perderá” (Jo 10:27-28). Entretanto, permanece como possibilidade teórica a dissolução definitiva do ser, caso ele não se predisponha ao sacrifício do ego inferior e almeje perpetuar eternamente a sua revolta contra a ordem divina e a negação do amor. Nesse caso, diz-nos Ubaldi, a substância divina que o individua poderá terminará por desfazer-se, pela intensa contração involutiva a que se exporá, fazendo-a retornar íntegra a sua fonte original, o seio de Deus. Uma vez que tal substância é indissolúvel, somente a sua individuação será desfeita. Imaginamos algo como o desfazimento da forma de uma estátua, porém não o desaparecimento da matéria que a compõe. Essa seria a real morte do ser, que Deus não quis, como nos informou o Cristo (Mt 16:28). Por isso, certamente, aferiu-nos o nosso Salvador que “se alguém guardar as Suas palavras jamais verá a morte” (Jo 8:51), e Paulo nos afirmou que “Deus nos ressuscitará pelo seu poder (I Coríntios 6:14).

Concluindo, vemos então que, retomando o conceito de salvação no mais elevado que nos favorece Ubaldi, chegamos à perfeita fusão de duas conceituações que conhecemos, a espírita e a cristã, conferindo-lhes inteira validade. Está certa a salvação consciente, apregoada pela doutrina de Kardec, a qual representa a nossa escolha pelo autoaprimoramento evolutivo; e corretíssima a salvação gratuita, aquela que opera na intimidade de nosso ser, orientando devidamente os nossos passos rumo ao Amor paterno que malbaratamos, conforme defendido pelos Textos bíblicos. A primeira traduz o nosso necessário empenho no bem e na realização de boas obras, a segunda aguarda nossa total confiança no socorro divino. O antagonismo entre o fundamentalismo cristão e a razão espírita desfaz-se ante a luz dessa nova concepção. Ambos acham-se fixados em verdades complementares. Agora, não obstante, podem dar-se as mãos na grande obra de redenção da humanidade.

Então são genuínos o fundamentalismo cristão, iluminado pelo fideísmo sentimentalista, e o racionalismo espírita, abrilhantado pela fé raciocinada. Deixemo-los em suas genuínas, porém parciais trilhas da verdade, até que a evolução os entrelace no abraço da verdade única, solvendo nossos atritos conceituais e reconduzindo-nos, juntos, ao Absoluto. Até lá, eximamo-nos de improfícuos atritos, pois nossas crenças são nitidamente complementares, jamais antagônicas, como as aparências de nossas relativas posições nos induzem a crer.

Sem a pretensão de nos fazermos porta-vozes da verdade absoluta, da qual nos achamos muito distantes, deixamos aqui o nosso esforço de conciliação entre a essência sagrada do Cristianismo primitivo e as modernas revelações assinaladas pela Codificação Espírita. A nenhum negamos o seu real valor, apenas não desejamos mais vê-los atirados em acirrados e improfícuos entrechoques de ideias. Estacionados na parcialidade, é possível compreender que eles não se acham em aparente contradição.

A ninguém queremos convencer, apenas anunciar que existe uma melhor maneira de se conciliar as verdades parciais que adotamos por sagradas. E o que atesta que uma verdade é parcial é o simples fato de ela admitir a sua exata contradição. Ora, toda premissa que suporta um antagonismo, não se acha completa, pois a verdade realmente absoluta somente pode ser aquela que engloba também a sua oposição. Esse é um interessante axioma deduzido por Niels Bohr, a partir das observações da fenomenologia quântica. Assim, a síntese genuína deve unir tese e antítese para se fazer lídima expressão da realidade. Logo, estejamos atentos, se nos encontramos imersos em uma arena de disputas ideológicas, é preciso humildemente considerar que nos achamos distantes do conhecimento absoluto e unitário – aquele que realmente não admite rivalidades, por englobar os seus opostos.

Sigamos adiante, na certeza de que somos seres em desenvolvimento e nossa ignorância é ainda imensa ante a extensão da complexidade fenomênica que habitamos. Se desejamos crescer rumo à verdade que liberta, como disse Jesus (Jo 8:32), urge abrirmo-nos à germinação dos novos conhecimentos que periodicamente são semeados em nosso campo íntimo, como a revelação que nos trouxe Ubaldi e outras que certamente continuarão chegando-nos do Plano Maior. Para isso, na lavoura do crescimento espiritual, por vezes é preciso deixar que nossos parciais entendimentos morram para dar lugar a novas e mais avançadas compreensões. Se a semeadura nos compete, lembremo-nos de que a germinação é da alçada do Senhor, que, zeloso, oferta sempre a cada um as florações de verdades que é capaz de suportar em seu particular momento evolutivo. Portanto, não nos apoquentemos com quem não pode ou não quer compreender. O tempo, em sua sabedoria, fará amadurecer os frutos de verdades que realmente nos convenha à necessária redenção.

Belo Horizonte, 4 de maio de 2009

Gilson Freire

Bibliografia

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