Estudando o Espiritismo

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domingo, 16 de setembro de 2012

Encontro com o Self - Adenáuer Novaes

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os pacificadores, porque  serão chamados filhos de Deus.” Mateus, 5:5 e 9.

Mais do que evidente o sentido que se pode aplicar a essa colocação do Cristo, pois ela vai direto ao Espírito, sem a necessidade de complexas interpretações. A mensagem do Cristo é a da paz incondicional. Por mais que se lhe atribua atos de intransigência na defesa de suas idéias, não se pode negar que sua mensagem é inteiramente pacifista.

Em todas as parábolas do Evangelho pode-se ver o sentido profundo que se pretende alcançar, buscando colocar o ser humano em contato direto consigo mesmo e com Deus. A mensagem é de reflexão da própria consciência de quem ouve, levando-a a debruçar-se sobre si mesmo. Proporciona um mergulho no si mesmo, apaziguando toda forma de violência ou de projeção externa. É uma mensagem de paz, para a paz e em paz.

Além de nos colocar em contato com a necessidade de nos pautarmos externamente em atitudes de não-violência, convida-nos ao apaziguamento do nosso mundo íntimo, muitas vezes em turbilhão, face aos desequilíbrios alicerçados em experiências desarmoniosas do passado. A não-violência não é apenas um comportamento externo, mas, principalmente, um estado de espírito. Por força das leis de Deus, nosso estado interior atrai circunstâncias externas no intuito de proporcionar o necessário equilíbrio e aprendizagem. A violência externa que nos atinge é fruto da desorganização interna que nos constitui. Equilibrar o mundo interior significa não mais necessitar atravessar processos educativos onde a violência seja componente.

As dificuldades externas ocorrem em função da necessidade de educarmos nosso mundo interno. É o mundo interno que “comanda” o externo. Nas vezes que questionamos a Vida sobre o motivo pelo qual ainda atravessamos certos problemas, devemos nos responder que continuaremos a vivenciá-los até que nos equilibremos interiormente.

Considerar os brandos e pacíficos bem-aventurados é estabelecer que o nosso mundo íntimo deve alcançar o estado da paz interior como condição para a real felicidade.

A paz interior é o maior bem pessoal. Há quem considere a saúde física como o maior bem que se pode ter, esquecendo-se de que um corpo sadio não garante paz de espírito. Outros consideram que a saúde financeira representa garantia de felicidade, esquecidos de que a paz interior não se compra, mas se conquista com esforço, dedicação e persistência no Bem. Ter dinheiro auxilia, porém não garante a felicidade.

Quando o Espírito desencarna leva exatamente suas aquisições psíquicas advindas das experiências emocionais que atravessou na encarnação. Isso sim é seu grande tesouro. A paz interior, ou o estar em paz consigo mesmo e com o mundo, concomitantemente, é o caminho da espiritualização.

Importante dizer que esse estado de paz interior deverá estar associado à paz com a sociedade, pois pouco adianta estar bem, porém isolado. O mundo externo é nossa arena, onde apresentamos quem somos e em que nível evolutivo nos encontramos. Ninguém é, sem  ser no mundo. Estar em paz é, portanto, um ato externo e interno, simultaneamente. A individuação real se processa enquanto vivemos em sociedade.

Vivemos numa sociedade em que, muitas vezes, necessitamos agir de forma mais persistente para conseguirmos realizar aquilo que nos determinamos, porém algumas vezes somos obrigados a atuar com certa veemência na defesa de pontos de vista importantes. Nesses momentos, é imprescindível a paz e o respeito às idéias com as quais não concordamos. Intransigência e intolerância não combinam com a brandura e com a paz. Diante da competição, seja de idéias, de posições sociais ou por qualquer motivo, é indispensável a solidariedade.

Se somos intransigentes com algo, que o busquemos com a determinação equilibrada. Nela navegaremos seguros frente ao desequilíbrio porventura existente no outro. A recomendação do Cristo é fundamental nos momentos de desafio que a vida nos coloca.

Num sentido psicológico, o Cristo nos convida a colocar a mente a serviço do Self, com seu senso de organização e propósito de crescimento. O ego, por não querer perder o poder que desfruta, entra em contendas externas desequilibrando nosso mundo íntimo. A brandura é o restabelecimento do equilíbrio necessário entre o  ego e o Self. O eixo ego-Self responde pela harmonia interna. Enquanto ele estiver alinhado temos a garantia de paz interior. Quando conseguirmos colocar o ego a serviço do Self, isto é, dirigir a função psíquica central da consciência para propósitos alinhados com o Espírito, alcançaremos o endereço da paz.

O recado do Cristo serve para o mundo psíquico sempre que percebemos que seguir propósitos exclusivos do ego torna-se fator de desequilíbrio. Ao contrário, perceber os propósitos do Self é garantia de seguir no rumo certo.Ambos,  ego e  Self, devem estar sintonizados a serviço do Espírito, verdadeiro piloto da mente. Quando o Espírito toma a decisão de se orientar pela onda da paz e do amor, o Self passa a estabelecer princípios de organização e direção voltados para o Bem. Resta ao ego acostumar-se à nova ordem interna vigente. Inicialmente haverá o conflito entre os desejos do  ego e as orientações do  Self. Porém, à medida em que os embates das experiências externas reduzirem o poder do ego, os objetivos começarão a ser alcançados.

O mundo tecnológico influenciou sobremaneira as relações humanas, provocando, até certo ponto, um distanciamento entre as pessoas. As relações se tornaram mais frias e distanciadas de um verdadeiro encontro. Há, em verdade, mais desencontros que encontros. A mensagem do Cristo propõe um reencontro com o carinho e a doçura, esquecidos pelo homo sapiens sapiens. Ela nos convida a formarmos um novo ser humano, aquele que provavelmente teria a  alcunha de homo sapiens sapiens ‘emotiones’. Do ser humano intelectualizado para o ser humano emocionalmente evoluído.

Um gesto de carinho, muito mais do que proporcionar a intimidade com alguém, estabelece uma ligação pelocoração, onde o entendimento pode se dar de forma mais harmônica. Nesse sentido, quando, de alguma forma, entrarmos em contato com uma pessoa, deveremos chamá-la pelo nome e tratá-la com o respeito e a dignidade que todo ser humano merece. Evitar tratar as pessoas por títulos, cargos, alcunhas ou pela função que exerce naquele momento.

O carinho e a doçura estarão presentes sempre que nos preocuparmos com que a nossa fala eleve o outro, isto é, faça-o sentir-se bem. Perguntar-se sempre antes de falar: o que vou dizer é construtivo ou não? Vai melhorar a relação vigente entre nós? Vai favorecer a mim mesmo e ao outro? São perguntas importantes para os objetivos a que nos propomos, isto é, de crescermos interiormente e nas nossas relações interpessoais.

Ser carinhoso e ser doce com as pessoas é o mesmo que não as expormos aos nossos conflitos íntimos nem submeter-lhes ao fígado dos nossos desequilíbrios internos. É poupar-lhes o dissabor de servir de descarga das nossas emoções desarmonizadas. O Cristo nos convida a harmonizarmos a mente com o carinho e a doçura internas. Tratar bem dos nossos conflitos, dando-lhes a atenção devida, é garantia para o equilíbrio psíquico que desejamos.

Agir com paciência diante dos outros é nossa obrigação e dever de quem deseja melhorar-se a cada dia. Porém,  precisamos entender que devemos paciência para conosco mesmos. Cabe-nos considerar que não é possível resolver numa encarnação, problemas estruturados em várias encarnações. Precisamos ter paciência com nossas imperfeições, tanto quanto com as dos outros.  A exigência de ser perfeito de forma rápida, pode tornar-nos impacientes para conosco mesmos.

A paz interior não é um conceito mental nem surge simplesmente do controle dos pensamentos, mas nasce da abertura para assumir-se com seus conflitos e na determinação em solucioná-los. Negar seus problemas, comportando-se de acordo com um modelo ideal propagado por sistemas filosóficos e religiosos, é fugir da paz interior. O único caminho eficiente para alcançar esse propósito é a coragem de olhar para dentro de si mesmo.

A paciência, no sentido psicológico, é a capacidade de adiar uma ação ou uma reação. Esse adiamento pode levar segundos ou até anos. A ação ou reação não devem se constituir em simples respostas aos estímulos ambientais, mas, principalmente, em sua percepção e na adição de respostas contendo valores morais superiores.

O caminho da evolução espiritual é o da amorosidade. Amorosidade nas relações com as pessoas, consigo mesmo e com a Vida. Ser amoroso é tratar as ocorrências da vida como processos a  serem vencidos com determinação e tranqüilidade. Os reveses, tanto quanto as alegrias da vida, não são ocorrências definitivas nem o fim em si do viver, são tão somente experiências que nos capacitarão à vida verdadeira, a espiritual. Viver essas experiências com amor é garantia certa de aprendizado.

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