Estudando o Espiritismo

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domingo, 5 de agosto de 2012

EM ORAÇÃO - Pastorino


Mat. 14:22-23

22. Em seguida obrigou os discípulos a embarcar e passar
primeiro do que ele para o
outro lado, enquanto ele
despedia o povo.
23. Tendo despedido o povo,
subiu sozinho ao monte
para orar. E à noitinha
achava-se ali só.

Marc. 6:45-46

45. imediatamente obrigou
seus discípulos a embarcar
e passar adiante, para o outro lado, para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.
46. E tendo-se separado dela,
foi ao monte para orar.

João, 6:14-15

14. E vendo os homens a demonstração que Jesus fizera, disseram: "Este é verdadeiramente o profeta que
vem ao mundo".
15. Percebendo Jesus que eles
estavam para vir apanhá-
lo, a fim de fazê-lo rei, retirou-se novamente para o
monte, ele só.


Aqui encontramos uma expressão estranha, repetida nos dois sinópticos: Jesus obrigou (Èn·gkase) os
discípulos" ... Por que haveria necessidade de obrigá-los, a eles que parecem ter sido sempre dóceis e
obedíentes? Parece que a causa é revelada por João. Vejamos:
Com a maravilhosa demonstração de poder (tÚ sÈmeion) que foi a multipilcação dos pães e peixes, a
massa popular composta exatamente de agricultores e pescadores entreviu um paraíso na Terra: não
haveria mais necessidade do duro labor nos campos na plantação e na colheita sempre duvidosa! Não
mais as noites frias e chuvosas no lago à procura de peixe! Ali estava quem poderia fornecer para sempre ao povo pão e peixe sem trabalho! era só fazê-Lo “rei"! Moisés não alimentara os israelitas no deserto, anos a fio, com pão caído do céu todas as manhãs (cfr. Êx. 16:4. 8, 12-15)? Ora, o próprio Moisés predissera (Deut. 18:15) que surgiria em Israel um profeta com os mesmos poderes que ele. Não
seria um simples profeta (cfr. João, 6:16 e 9:17), mas “o" profeta, “semelhante a Moisés", o qual, segundo os fariseus (cfr. João 1:21) não coincidiria com a pessoa do Messias. Mas, para o povo, essas
distinções eram supérfluas. Então, ali estava "o" profeta, igual a Moisés, e que daria pão e peixes em
abundância. Por que não fazê-Lo imediatamente "rei"?
Ora, isso constituiria uma subversão total da missão puramente espiritual de Jesus ("o meu reino n„o È
deste mundo", João, 18:36). Mas, além disso, seria precipitar a perseguição de Herodes, que não suportaria um concorrente. E Jesus terminaria, mais cedo do que devia, como os outros galileus indóceis
em suas pretensões messiânicas (cfr. Josefo, Ant. Jud. 17. 9, 3) e que foram massacrados por ordem de
Pilatos (cfr. Luc. 13:2).
Era indispensável obviar a essa dificuldade com rapidez e energia. Talvez os próprios discípulos, atô-
nitos com a multiplicação de pães e peixes (tanto que mais tarde não na haviam ainda compreendido
(cfr. Marc. 6:52), talvez eles também se tivessem entusiasmado com a idéia de fazê-Lo "rei" ... pois
ainda não haviam penetrado profundamente no sentido espiritual da missão de Jesus.
Dai Jesus dizer-lhes que “fossem para a outra margem", a cuja sugestão quiçá tivessem reagido, já influenciados pelo desejo de colocá-Lo no “lugar merecido"; e isso forçou Jesus a constrangê-los com
uma ordem taxativa e firme, que os evangelistas traduziram pelo verbo "obrigar": eles foram contra a
vontade.
Foram, para onde? Estavam no território de Betsaida- Júlias, na margem oriental. Diz Mateus: "para a
outra margem", que Marcos repete, acrescentando: "para Betsaida”. Haveria outra Betsaida na margemC. TORRES PASTORINO
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ocidental do lago? Essa questão é ardorosamente discutida pelos comentadores, dividindo-se em dois
campos:
1) os que negam a existência, interpretam prÛs Bethsaidan como “na região fronteiriça a Betsaida",
sentido possível da preposição grega prós (cfr Tucídides, História, 2,55: hÍ prÛs PelopponÈson, "a
qual é fronteira ao Peloponeso). Assim traduzem Lagrange João Marta, Abel, Pirot, etc. E perguntam eles: se os discípulos iam para Betsaida, por que diz João "que se dirigiam para Cafarnaum
(João, 6:17) onde desembarcaram (João, 6:21)? E por que Mateus (14:34) e Marcos (6:53) dizem
que desembarcaram em Genesaré?
2) os que afirmam a existência de outra Betsaida  (van Kasteren, Patrizzi, Knabenbauer, Fillion.
Meistermann. Rose, Buzy e outros), trazem os seguintes argumentos:
a) a existência de Bethsaida-Júlias (hoje el-Tell) a dois km ao norte de el-Aradj, é coisa certa: a cidade foi reconstruída pelo tetrarca Filipe, que lhe acrescentou o cognome Júlias em homenagem à filha de Augusto;
b) João, no início de seu Evangelho (1:44) diz que o discípulo Filipe “era de Betsaida”; mais tarde
(12:21) especifica melhor, que "era de Bétsaida da Galiléia". Ora. Betsaida-Julias ficava na província de Gaulanítida, e não na Galiléia. E João devia conhecer bem a região ... não iria confundir duas províncias.
c) Neubauer ("La Géographie du Talmud", pág. 225)  e Strack-Biller-beck, o.  c. pág. 605) citam a
existência de uma localidade, não longe de Cafarnaum, em Ain-Tabgha ou Khan Minyeh (ao norte
do Tell Oreimeh) denominada Saydethah, que eles supõem ser a Beth-Saida do Evangelho, e que
ficava exatamente na Galiléia.
Depois que os discípulos partiram, Jesus convenceu o povo a ir para casa, e Ele mesmo subiu ao monte
para orar sozinho, segundo seu hábito.
Acontece com freq¸Íncia que o p˙blico que cerca os "pregadores" se entusiasma e quer "homenage·-
los" com posiÁıes destacadas, com tÌtulos honrosos, ou convencÍ-los a arriscar-se em cargos eletivos
na polÌtica. Jesus exemplificou que se deve fugir dessas situaÁıes com energia e rapidez, "obrigandoos" a retirar-se "para a outra margem".
No outro sentido mais profundo, verificamos algo mais sÈrio. Quando a individualidade consegue
manifestar-se por intermÈdio de nossa personalidade, realizando algo mais fora do comum, a personalidade quase sempre se envaidece e comeÁa a acreditar-se "mission·rio", um "enviado divino",
certo de que È superior ‡s demais criaturas "vulgares", que È um "privilegiado" com direitos adquiridos e merecimento garantido. Os veÌculos fÌsicos se exaltam: o intelecto raciocina sobre tudo isso
para cada vez mais convencer-se de sua superioridade, e complacentemente ouve e acredita nas mais
mirabolantes histÛrias de encarnaÁıes passadas grandiosas; as emoÁıes e sensaÁıes se comovem e
incham,. e para combater isso, sÛ h· um remÈdio: mand·-los "afastar-se para a outra margem", e
retirar-se para uma regi„o mais elevada (monte) a fim de entrar em contato com a Divindade, por
meio da oraÁ„o e da meditaÁ„o.
… mister separar-se de tudo o que È material, para compreender as proporÁıes reais da perspectiva;
entrar no plano das realidades espirituais, para perceber as ilusıes terrenas.
Assim em cada fato, em cada episÛdio do Evangelho, h· uma liÁ„o preciosa, oportuna e profunda,
exemplifÌcada pelo Mestre Inolvid·vel, o Cristo Divino que vive em nossos coraÁıes e que se manifestou plenamente em Jesus, que soube aniquilar sua personalidade para deixar o Cristo Divino exteriorizar-se.

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