Estudando o Espiritismo

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Perfeição Moral


O início do ano tem sido a época escolhida para se fazer um balanço da existência e planejar ações com vistas a determinados objetivos, que nos propiciem melhor qualidade de vida, em todos os sentidos. Nada obsta, porém, que renovemos esses propósitos diariamente, que podem se resumir na busca incessante da perfeição moral. Esse tema é abordado no último capítulo das Leis Morais de O Livro dos Espíritos e desenvolvido em O Evangelho segundo o Espiritismo, no qual, sem titubeios, a Espiritualidade maior informa que “a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes”. 1  
A perfeição é a meta principal do Espírito. Entretanto, sem trabalho, sem estudo, sem sacrifício, sem experiência, não há avanço. O progresso moral é bem mais difícil de atingir do que o progresso intelectual, uma vez que, para alcançá-lo, precisamos cultivar virtudes que exigem de nós o desprendimento. Essa é a razão pela qual os benfeitores espirituais alertam que “a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem segundas intenções”.2    
Por que será que algumas pessoas fazem o bem espontaneamente, sem tantas dificuldades, enquanto outras despendem enorme sacrifício para realizá-lo? Quais delas terão mais merecimento? Enclausurados em nossa ignorância, não é raro invejarmos a posição de alguns Espíritos de grande conhecimento, envergadura moral e desenvoltura na prática do bem, esquecidos de que eles também tiveram que passar por semelhantes dificuldades e agruras que nos desafiam no presente.  
A evolução é uma vereda que obrigatoriamente todos temos que trilhar. Não há privilégios no concerto das leis divinas. É por isso que tais Espíritos agem com tanta naturalidade, visto  que o bem se incorporou em suas personalidades como um hábito. Merecem, por isso, a nossa reverência e devem ser para nós um exemplo a seguir.  
Não é incomum que nos entusiasmemos no começo de uma tarefa nova ou ao abraçarmos um ideal com o qual nos afinamos. A paixão é um princípio que está na Natureza, não endo, logo, um mal em si mesmo. Aliada à vontade, a paixão é um estimulante, uma alavanca para o progresso do Espírito. Kardec qualifica-a como o exagero de uma necessidade ou de um sentimento3 que repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. E arremata:  
Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.3    
É, portanto, como em tudo na vida, o abuso dela que origina o mal, pois aí há o risco de perdermos o controle, por efeito dos excessos. Em compensação, nunca falta ao homem a assistência dos bons Espíritos, que pode ser obtida por meio da prece sincera. Se em grande parte das vezes não conseguimos superar nossas inferioridades, é porque não há uma real vontade de vencê-las, uma vez que nelas nos comprazemos.    
O maior inimigo do progresso moral, além do orgulho, é o egoísmo. Os Espíritos superiores não se cansam de nos advertir de que esse é o mais radical dos vícios, dele derivando todo o mal.    
Chegam mesmo a dizer que essa é a verdadeira chaga da sociedade. Urge, pois, centralizarmos nossos esforços para erradicá-lo do meio social, como se faz com as doenças infecciosas que contaminam o organismo:  
Quem quiser aproximar-se da perfeição moral, já nesta vida, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, pois o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade; ele neutraliza todas as outras qualidades.4  
Embora o egoísmo seja o nosso mal maior, ele se prende à inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade em si mesma. À medida que formos nos depurando nas encarnações sucessivas, vamos deixando-o para trás, como já se observa pelo comportamento de inúmeras pessoas que se dedicam ao bem do próximo. Todavia, não procede com egoísmo aquele que deseja melhorar-se para se aproximar de Deus, visto que esse é o objetivo que todos devem mirar, ao contrário do que calcula o que cada uma de suas boas ações possa lhe render na vida futura ou na vida terrena. Por que, de todas as imperfeições, o egoísmo é a mais difícil de eliminar? Porque resulta da influência da matéria, da qual o ser humano ainda não se libertou, visto que sua trajetória espiritual é ainda incipiente, estacionada no interesse de “satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, à necessidade [...] de dominar”.5  Não é de se estranhar, pois, que a atual estruturação das leis, da organização social, da educação, contaminadas por esses vícios, constituam embaraço para a sua ascensão moral. O meio mais eficaz de se combater o predomínio da natureza corpórea ou animal é a abnegação, que consiste no esforço de superação das tendências egoísticas, tendo como aliada a educação, que constitui a chave do progresso moral. Qual será então a estratégia que devemos adotar para mudar esse estado de coisas? Criar condições para o desabrochamento da vida moral, por meio do estudo da origem, da natureza e do futuro do Espírito, que nos permitirá a real compreensão da vida, proporcionando a transformação dos hábitos, dos usos e das relações sociais.        
Como o egoísmo se baseia na importância da individualidade, o imenso panorama que o Espiritismo abre sobre a existência humana coloca o sentimento da personalidade sob sua justa perspectiva, reduzindo-a às suas reais proporções. Reconhece-se o homem de bem pelos atos que pratica em consonância com as leis divinas e pela sua compreensão antecipada da vida espiritual. Ou seja, mesmo ante as dificuldades e a incompreensão, não desiste do bem, porque sabe que está no caminho reto que o conduzirá à redenção espiritual. O homem de bem pratica a caridade sem restrições. É benevolente e indulgente para com todos e perdoa as ofensas:  
Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as Leis da Natureza lhes concedem, como gostaria que respeitassem os seus.6    
Um dos orientadores da Codificação, que se identifica como Santo Agostinho, ensina que o autoconhecimento é o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir ao arrastamento do mal. Instado por Kardec a se manifestar sobre como promover o conhecimento de si mesmo, o amigo espiritual recomenda que ao final do dia façamos um balanço de nossa conduta, para ver se nossa consciência não nos acusa de nada:  
Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. [...]7  
De fato, o método empregado pelo Guia espiritual é excelente, pois a forma interrogativa exige de nós respostas precisas, das quais não podemos nos esquivar, porque estamos dando satisfação, em segredo, à consciência, de forma espontânea e sem censuras externas.          
Trata-se de um autoexame que nos auxilia a devassar o mundo íntimo, com ampla liberdade, em benefício da própria melhora. Portanto, se formos tentados a analisar os defeitos de alguém, é bom começar pelo exame de nossas mazelas. Outrossim, não age com acerto aquele que estuda os defeitos alheios pelo simples prazer de divulgá-los, porque aí estará faltando com a indulgência, que é uma das virtudes inerentes à caridade. Contudo, procede bem se o fizer em proveito pessoal, isto é, com o objetivo de não cometer os mesmos erros que visualiza em outrem.    
Se queremos, efetivamente, alcançar a perfeição moral que a nossa condição humana permite, sigamos o conselho dos protetores espirituais: “[...] Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais nos semelhantes; esse é o meio de vos tornardes superiores a eles [...]”,8 sem esquecer de amar os inimigos, de fazer o bem aos que nos odeiam e de orar pelos que nos perseguem. Por fim, não olvidemos, também, que “a perfeição não é apostolado de um dia e sim dos milênios e cada mente traz consigo as marcas da própria ação de ontem e de hoje, determinando, por si mesma, o cárcere ou a libertação de amanhã”.9    
     Revista Reformador
1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, item 2, p. 334.      
2 Idem. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 893.    
3 Idem, ibidem. Comentários de Allan Kardec à q. 908.    
4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 913.    
5 Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 3, item 24.    
6 Idem. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Comentário de Kardec à q. 918.    
7 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 919a.    
8 Idem, ibidem. Q. 903.
9 XAVIER, Francisco C.Dicionário da alma. Autores diversos. 5. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. p. 298. Apud SOBRINHO, Geraldo C. (Coord.) O espiritismo de A a Z. 4. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Verbete “Perfeição”, p. 683.

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