Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Remorso


O Remorso 26/01/2006

João Demétrio Loricchio 

As leis de Deus são leis imutáveis que encontramos nas próprias leis da Natureza, as quais regem harmonia e equilíbrio em tudo. Desde os milhões de astros que flutuam no espaço, num rigor impressionante de movimentos entre si, até a estupenda perfeição de funcionamento do organismo físico humano. Tudo é equilíbrio e perfeição.
Ocorre que o ser humano, em razão de suas inúmeras reencarnações que vivenciou, até então, necessárias para o aprendizado e aperfeiçoamento, e que tiveram o início na simplicidade e na ignorância em tudo, acabou por adquirir para si, acertos e erros. Quanto aos acertos, adicionou energias positivas para o Espírito, e dos erros, impregnou-se de energias densas.
Nesse processo evolutivo, muitos aceitaram a corrigenda dos deslizes praticados e equilibraram suas situações perante as Leis Divinas, com reparos, sofrimentos e o uso do perdão, enquanto, muitos outros, não aceitaram e continuaram no erro, pois, entenderam que agiram certos e que suas vítimas receberam o que mereciam.
Assim, esses que estão nessas condições mais rebeldes, momentaneamente, estarão de bem com suas consciências e os fatos ocorridos, desta feita, passarão para o inconsciente onde vão carregar essas ações, até que um dia, nesta vida ou em outras, com esclarecimentos redentores, ficarão cientes que tomaram decisão errada e prejudicaram suas vítimas, criando-se então, o chamado remorso.
Destarte, podemos dizer que remorso é a inquietação da consciência por uma culpa que carrega, a qual poderá chegar a um caso patológico. Nesse sentido, o peso do remorso será a força que vai preparar o arrependimento que, por sua vez, ativa as energias renovadoras e regeneradoras do Espírito.
Em outras palavras, é o estágio entre o erro, o reconhecimento do erro, o reparo do erro e a conquista da luz da compreensão que nunca mais o fará errar nas mesmas circunstâncias.
Se o arrependimento ocorrer na espiritualidade haverá um único caminho a seguir, que é a reencarnação, aonde, na escola da vida, irá o Espírito reparar e reequilibrar o mal que afetou injustamente outrem. (L.E.991)
Se o arrependimento chegar ainda na caminhada terrestre, deverá ser aproveitado, imediatamente, para reparar as faltas com sua vítima, pois, o caminho será mais rápido e menos doloroso. (L.E.992)
Razão da recomendação de Jesus:
“Reconcilia-te o mais depressa possível com seu adversário, enquanto estás a caminho”. (E.S.E.)
Na realidade, o remorso não existe onde o senso moral ainda se acha em estado latente. Há necessidade de avanço nas vidas sucessivas com desafios e experiências para que o Espírito eterno desenvolva o discernimento entre o certo e errado, entre o bem e o mal e, em conseqüência, virá o entendimento de suas ações. Assim, o erro praticado será, muitas vezes, o remédio amargo para o aprendizado.
Como exemplo elucidativo pode-se citar as ações praticadas pelos bárbaros na antiguidade, pelos usos e costumes de conquistas, onde muitos deles, atualmente, estão reencarnando em nossos meios sociais, após longos estágios nas áreas espirituais mais densas, sem condições de acompanhamento do progresso Humano, os quais trazem imantados nos Espíritos, personalidades violentas e culturas da sua época, sendo insensíveis ao bem e a moral, culminando com práticas de crimes bárbaros sem qualquer remorso na consciência.
No desenvolvimento progressivo do ser humano, o remorso é o primeiro passo para o encontro do bem e funciona como um estigma para o Espírito culpado, ou seja, um sinal, uma marca, que dia mais, dia menos, virá à tona para o devido equilíbrio. Quando muito prolongado esse período, entre a conduta maléfica e o remorso, acaba por deixar marcas nos tecidos perispirituais, gerando desequilíbrios físicos e psíquicos nas reencarnações futuras.
André Luiz nos traz elucidações importantes a respeito desses fatos no livro, “Evolução em Dois Mundos”, com as seguintes palavras: “o remorso provoca distonias diversas em nossas forças recônditas, desarticulando as sinergias do corpo espiritual, criando predisposições mórbidas para essa ou aquela enfermidade”. Acrescenta ainda: “essas desarmonias orgânicas, como distúrbios nervosos de vários matizes, angústias, depressões e enfermidades longas, são, algumas vezes, agravadas e prolongadas pelo assédio vindicativo dos seres a quem ferimos”.
Na maioria dos casos graves, apesar do aspecto daquele que carrega o remorso é idêntico a um obsediado, na verdade, essa aparente obsessão é devido à culpa guardada na sua própria memória profunda, isto é, trata-se de uma auto-obsessão.
Encaixa-se também nesses estudos de remorso, casos de vítimas que não perdoaram seus algozes do passado e, um dia, ao saberem que foram vítimas em razão de uma conduta anterior, mais grave, que infringiu a esse algoz de hoje, instala-se também, em sua mente, o remorso.
Por outro lado, há ainda os casos de vítimas que perdoaram seus contrários, desvinculando-se dos mesmos, entretanto, no íntimo ou no inconsciente do agressor, continuará guardado resíduo de culpa reconhecida, as quais, irão martirizando em forma de cobrança. Desta cobrança íntima ocorrerão perturbações neuróticas ou até outras enfermidades orgânicas, de difícil cura, por estarem suas raízes impregnadas na mente. Certos diagnósticos de formas de distúrbio psíquico são provenientes da chamada emersão de lembranças do passado.
Esses registros que se encontram no inconsciente, com o passar do tempo e o avanço da idade, quando ocorrem certos desgastes naturais da matéria, que em conseqüência, afrouxam os laços que unem Espírito e Matéria, vem a tona, em forma de imagens, recordações vivas de condutas praticadas em desfavor de outros companheiros de jornada, fato este denominado por fixação mental.
Ainda socorrendo-se de ensinos do Espírito André Luiz, no livro já citado, sobre à auto-obsessão, nos faz conhecer a existência na mente da zona de remorso criada por nós mesmos, a qual, foi provocada pelo sentimento de culpa que a pessoa carrega em si mesmo, pelas faltas cometidas contra alguém. Diz mais: “a recordação constante dessas faltas pela onda viva do pensamento cria um círculo fechado sobre a mente, com reflexos permanentes nos corpos físico-psicossomáticos, ou seja, corpo físico e corpo espiritual, afetando-os também”.
Estabelecido esse processo vicioso na mente, aparece então, nas manifestações externas a chamada idéia fixa, que vem a ser o pensamento dominante e obsessivo que a pessoa vai carregar na mente.
Motivo que muitos carregam a idéia fixa de perseguição (esquizofrenia paranóica), de pensamentos que nunca vão conseguir o que alvejam, de sentirem um certo peso na consciência, e de manifestações maníacas depressivas que a pessoa acaba criando.
Estabelecida essa idéia fixa, que são ondas mentais viciosas na culpa, cria-se à zona do remorso na mente, da qual poderemos nos libertar somente com caminhos reparadores para nossas condutas infelizes do pretérito que irão exonerar dos vínculos energéticos que aguardam reequilíbrio para o desvínculo.
Na realidade, o Espírito Eterno sempre tem conhecimento de sua culpa, principalmente quando desprendido pelo sono físico, mas ao retornar ao corpo material, esquece temporariamente, ficando somente os resquícios perturbadores.
Com essa idéia fixa, nos dissabores das próprias culpas, desenvolvem-se angústias, aflições e depressões que caminham para a amnésia, não restando na mente mais campo para pensamentos equilibrados.
Como a consciência é o próprio juízo de cada um, instala-se o remorso corrosivo: são os diagnósticos de “arteriosclerose”, são as amnésias, são os desequilíbrios mentais.
Assim, indaga-se: O que seria necessário para a cura desse mal conquistado? Ora, se o mal está na mente, está no inconsciente, em fim, está em nosso íntimo, precisamos removê-lo através da retirada desses resíduos, que não vemos, mas sentimos, com a única opção: reforma íntima.
Essa reforma somente ocorre com estudos elucidativos que darão o entendimento de como acontece esse mecanismo complexo do remorso, e com o autoconhecimento adquirido resplandecerá a luz da compreensão e da razão dos fatos.
O primeiro passo, e o mais importante, é se perdoar a si mesmo, pelo que afligiu ao próximo e pela sua ignorância, pois, o remorso é uma conseqüência criada pelo próprio praticante do mal e somente ele pode arrancar da sua mente, pelo reconhecimento do erro e pela aplicação do auto-perdão, acrescentando em suas preces: “eu me perdoou pelos meus atos de ignorância”.
Todo esse processo, na verdade, faz parte da experiência e do despertar para o caminho da vida eterna do Espírito, sendo o melhor e o mais curto caminho o estudo para entendimento dessas leis de causa e efeito e, a reforma íntima, com mudanças de condutas e de pensamentos, eliminando vícios e praticando, sem ver a quem, a caridade e o perdão.
Aí estará se perdoando e se libertando dessas amarras da culpa. Estudos demonstram que o pensamento é o veículo da mente. Essa mente que não vemos, mas podemos saber de sua situação, através do que carregamos no pensamento.
Buda, já em sua época ensinava: “somos o que pensamos”; “tudo o que somos, vem dos nossos pensamentos”; “com nossos pensamentos fazemos o mundo”.
Emmanuel diz que “o remorso é um lampejo de Deus sobre o complexo de culpa que se expressa por enfermidade da consciência. O sofrimento é a terapia de Deus destinada a erradicá-la”. Diz ainda: “alguns centímetros de remorso pesam no coração muito mais que uma tonelada de sacrifícios”.
A Doutrina Espírita ensina que a matéria entorpece os sentimentos e a compreensão espiritual, por possuir energias das mais grosseiras, necessitando um “despertar” desses sentidos espirituais, ainda adormecidos, diante da sobrepujança da matéria.
Quando o Mestre Divino afirmou a Pedro sobre sua negação, por três vezes, antes do cantar do galo, mesmo Pedro negando que tal fato ocorreria, pois seu consciente dizia ser impossível tal fato acontecer, foi, na realidade, traído pelo seu inconsciente que trouxe para o consciente sua fraqueza de conduta que ainda estava ligada à dormência da matéria.
O cantar do galo representava o “despertar” para a sua realidade que veio a tona somente quando o remorso lhe tocou a mente, aí, ficou amadurecido para sua missão cristã.
Assim, a anulação do remorso sugere, em princípio, a tomada de duas importantes providências: o cultivo da humildade e a concessão de perdão, e depois, os estudos elucidativos, que atualmente o Espiritismo nos traz, para nunca mais cairmos nas malhas do remorso.


João Demétrio


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