Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Importância Espiritual da Meia-idade

Wanderley


“Inteiramente despreparados, embarcamos na segunda metade da vida... damos o primeiro passo na tarde da vida; pior ainda, damos esse passo com a falsa suposição de que nossas verdades e ideais vão servir-nos como antes. Mas não podemos viver a tarde da vida de acordo com o programa de sua manhã – pois o que foi grande pela manhã vai ser pouco à tarde, e aquilo que pela manhã era verdade, à tarde se tornará mentira.”
Carl Jung, “The Stages of Life” –  Collected Works of CG Jung - 8, § 339.


A crise existencial da meia-idade é um movimento natural da vida mental no qual as feridas, traumas e assuntos pendentes na vida inconsciente emergem ao consciente para serem resolvidos.
Coincidentemente e na maioria dos casos, essa crise ocorre em uma determinada faixa etária, entre os 35 e 55 anos, sendo possível também verificar-lhe a presença antes ou depois dessa idade.
Nessa etapa da vida psíquica, que muito se assemelha ao fenômeno biológico da ovulação feminina, a mente expurga no tempo certo o “óvulo” maduro e que necessita ser trabalhado, reconhecido pelo consciente, no intuito de organizar a vida mental.
É assim que vários assuntos que foram mal conduzidos durante a infância e a juventude regressam em forma de crise inesperada, levando a criatura às mais diversas e imprevisíveis alterações no seu mundo emocional e comportamental.
É questionada a vida profissional, a relação afetiva, os laços de parentesco, os objetivos pessoais, a forma de viver e sobreviver. E diante de todos os questionamentos a criatura talvez, pela primeira vez em sua vida, faça honestamente uma pergunta a si mesma: e eu, o que quero da vida? O certo e o errado começam a ser questionado pela pessoa. O que antes preenchia e dava motivação parece totalmente desconexo, fora de lugar. É um período de muita depressão, porque os conflitos que foram temporariamente negados regressam ou intensificam abruptamente. Nessa fase, muitas pessoas alcançam certa estabilidade financeira, os filhos já são independentes e muitas mudanças contribuem para deixar a criatura mais em contato consigo mesma, depois de muitos anos na luta pela sobrevivência e pelos deveres. Outros que não tiveram a mesma trajetória chegam a essa idade com frustrações dolorosas, em todas as áreas de sua vida e, por essa outra porta, também penetra a crise existencial com outros gêneros de angústia.
Para muitos, a meia idade é o momento de “pendurar as chuteiras”, de acomodar-se. O homem, em muitos casos, já fez as conquistas que almejou, a mulher deu-se quase integralmente aos filhos e eles vão viver as suas vidas, ambos já chegaram ao patamar intelectual que planejavam, e aí, então, são convocados a pensarem com mais assiduidade no que vão fazer. Nessa hora, encontram novamente suas necessidades mais profundas. Já não há distrações e compromissos tão fortes e significativos que os impeçam de pensar em seus desejos, sonhos, dúvidas e conflitos. Ainda que não queiram, são automaticamente conduzidos a esse dinamismo.
E no centro dessa crise acontece uma dolorosa descoberta: a perda de quem achamos que somos, o contato com a realidade profunda e gritante da alma. A perda de quem achávamos que éramos é o núcleo dessa crise. O gatilho emocional subliminar para que deflagre a crise. O inconsciente nos devolve a nós próprios. É um instante muito delicado da existência. A maioria das separações conjugais, dos suicídios, dos abandonos, dos crimes passionais e o surgimento de doenças acontecem nesse momento da vida. É a fase dos encerramentos de muitos ciclos e início de outros. É um intenso e sofrível momento de perdas.
Enquanto a meia idade é vista para muitos como o fim, em razão dessas drásticas mudanças, torna-se necessário dizer que a vida, inegavelmente, somente começa, quando temos a coragem de encerrar com dignidade os ciclos que se fazem necessários. Tudo depende de como vamos encarar esse momento. Muita gente foge e enxerga perdas irreparáveis nas mudanças acontecidas, outros percebem que são chamados ao inadiável e mais importante movimento do ato de viver: o reencontro consigo mesmo e a busca do seu querer maduro e preenchedor.
É um ciclo de muita tristeza, muito medo, muita culpa, muita mágoa e muitas desilusões, podendo causar dores e transtornos mentais e físicos que precisam de acompanhamento, orientação e socorro.
Em meu trabalho, tenho como missão ajudar meus pacientes a descobrirem a importância da meia idade e suprir-lhes com orientações realistas, para atravessarem a tarde da vida de um modo criativo, singular, inspirador e gratificante. Três pontos fundamentais compõe meu projeto de educação emocional nesse assunto: paciência na espera, dignidade nas escolhas e coragem para tomar as decisões que serão pontes para um futuro melhor e mais feliz. O objetivo a alcançar é fazer da meia idade o mais importante momento da nossa reencarnação.
É muito importante aprender a linguagem da alma. Saber o que o inconsciente quer dizer e como se comportar diante de seus apelos. Mais que isso, é essencial tomar contato com o self, o divino dentro de nós, e entender que todo esse conjunto de mudanças é para o nosso próprio bem. Muito além das dores experimentadas nesse ciclo, somos convidados a resgatar os talentos e vocações que se encontravam adormecidos em nós. Muito além de sombras a serem iluminadas, toda essa crise tem como proposta a busca da libertação consciencial e da paz interior.
Como diz Jung: “(…) não podemos viver a tarde da vida de acordo com o programa de sua manhã – pois o que foi grande pela manhã vai ser pouco à tarde, e aquilo que pela manhã era verdade, à tarde se tornará mentira.”  
Dois livros foram muito importantes na minha autodescoberta na meia idade. Eu sugiro que leiam e estudem “Despertando na Meia-idade”, de Kathleen A.Brehony, Editora Paulus, e “Prazer de Viver”, de Ermance Dufaux, Editora Dufaux. 

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