Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Método Científico de Kardec


Para que se possa compreender o método científico que Kardec utilizou para realizar a codificação espírita é necessário primeiramente entender a concepção epistemológica que emergiu no século XIX e proporcionou diversas descobertas nas mais variadas áreas. Se Bachelard afirma que o novo pensamento científico no início do século XX se caracterizou por uma prioridade do racionalismo frente ao chamado realismo, o século XIX deu ênfase para o empirismo, construindo novas teorias através de experimentações, verificações e observações. Charles Darwin foi um dos expoentes deste método que também promovia inovações. Durante muito tempo as pesquisas científicas se limitavam simplesmente a observar, onde o cientista era treinado para colher dados e transcreve-los cuidando ao máximo para não interferir ou deles tirar conclusões precipitadas. Já na metade do século XIX, com o surgimento de obras voltadas especificamente para a epistemologia, o método se alterou: o pesquisador formulava a partir de suas observações hipóteses para posteriormente serem comprovadas ou descartadas mediante as evidências, sendo que no caso de serem refutadas novas hipóteses eram formuladas. Darwin, segundo consta dos revisores contemporâneos de sua obra, era exímio nesta arte de incansavelmente formular e reformular hipóteses submetendo-as aos experimentos e observações.
Kardec que fazia parte da construção desta nova mentalidade e possuía uma excelente educação formal, também se serviu deste método para elaborar a codificação espírita. O próprio exemplifica claramente isso na introdução do “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ressaltando passo a passo como fazia para introduzir um novo conceito e construir o edifício do Espiritismo. Primeiramente ele colhia e analisava mensagens do seu entorno, oriundas dos médiuns com os quais trabalhava mais frequentemente. Quando aparecia uma nova idéia, ele avaliava se ela era logicamente consistente. Posteriormente ele combinava com todo arcabouço espírita já alcançado para perceber se havia coerência. Se a idéia passasse por estes critérios era formulada uma nova hipótese, que dependeria de observações para ser descartada ou corroborada. As observações ocorriam da seguinte forma: Kardec publicava a mensagem na Revista Espírita e aguardava respostas de várias partes do mundo com mensagens espírita versando sobre o mesmo assunto para perceber se havia ou não uma universalidade no conteúdo. Era um trabalho meticuloso de análise, para garantir que cada novo conceito houvesse passado por um critério rigoroso de verificação, tal qual os experimentos científicos da época. Quando uma mensagem alcançava este valor de universalidade, Kardec aguardava o momento adequado para lançar o novo conceito.
Além disso, Kardec ainda mantinha todo um modo pedagógico de construir suas obras, revelando uma sintaxe por detrás dos processos morais. Não vou me estender nesse assunto, mas indico a excelente obra “Sintaxe dos Processos Morais - Um estudo sobre a estrutura do código moral na Codificação da Doutrina Espírita” de César Graça (este livro foi recentemente lançado pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas em Curitiba. Quem tivesse interesse em adquiri-lo e dificuldade em achá-lo poderia me contatar que eu facilitaria a transação).

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P.S.: Como abordei um pouco sobre ciência hoje, recomendo o recém-inaugurado blog www.rui-paz.blogspot.com que, entre outras coisas, trata da ciência na contemporaneidade, sobre transdisciplinaridade, eslética, complexidade e assuntos afins.

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