Estudando o Espiritismo

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domingo, 18 de julho de 2010

ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA O SUICÍDIO

Rubens Santini de Oliveira





“O telefone toca... O plantonista atende...



Uma pessoa deseja morrer. Ingeriu comprimidos, deseja morrer conversando com alguém e espera que o plantonista possa ser esta pessoa, possa representar este outro para que não esteja só nesta passagem.

O plantonista arrisca perguntar se está certo de que‚ isto que realmente quer, se não gostaria que lhe fosse enviado socorro. A pessoa recusa, não quer voltar atrás e pede ao plantonista que fale com ela. A voz atenua-se... o telefone cai”.(*)



PARTE I



“Tentar compreender por que uma pessoa, de maneira impulsiva ou cuidadosamente planejada, escreve dizeres amorosos na sola do sapato para um namorado e se atira do viaduto do Chá; ou acomoda seu revólver numa morsa de oficina, na garagem de sua residência, coloca a cabeça diante da arma e dispara; ou amarra um cordel de náilon no teto do banheiro e se enforca; ou ingere dezenas de comprimidos de uma só vez; ou por que uma criança se joga da janela do décimo andar; ou, ainda, por que um padre acende as seis bocas do fogão na cozinha de um colégio, deitando-se sobre elas carbonizando-se, não é, absolutamente, tarefa fácil.

Foi numa tentativa de elucidar alguns fatores que possam estar em jogo na vivência destas pessoas, no momento em que decidem se matar, que este trabalho nasceu”.(**)



Por que as pessoas se matam?

O que poderá levar o homem a recorrer a esse ato tão irracional?



(1) Falta de Fé? - é a total descrença de uma outra vida após a morte. Tem a ilusão de que, provocando a própria morte, será o fim de todo o sofrimento e o início de um eterno sono profundo. É a falta de Espiritualidade e da crença nas obras do Criador.

(2) Orgulho ferido? - Pode ser considerado, também, como falta de fé, porque a fé‚ conduz à humildade, e esta é inimiga do orgulho.

(3) Tédio da vida? Muitas vezes, as pessoas não conseguem definir um objetivo em sua vida. No fundo, é ausência da fé para suportar as provas que a vida lhe impõe. As dificuldades são tantas, e não encontrando forças para sair do marasmo, a pessoa acaba se entediando. Quem tem fé não deserta da vida, pois sabe que os recursos Divinos são inesgotáveis. E a oração é o maior dos instrumentos para se conseguir que essa ajuda venha dos Planos mais Altos.

(4) Medo do fracasso? - Medo de ser humilhado, ironizado por não ter sido um vencedor. No fundo, todos os problemas que levam as pessoas ao suicídio é a falta de fé, é a fragilidade espiritual.

O nosso propósito, através desse trabalho, é fazer uma abordagem psicológica e espiritual do suicida, e quais são os motivos que o levam para tal ato.



PARTE II



“Há alguns anos, conheci Aparecida. Havia ingerido um poderoso agrotóxico e estava viva apenas graças à rapidez do socorro, uma diálise renal.

Sorria-me, sem graça, na expectativa do que ia fazer.

- O que houve Aparecida?

- Eu só ia dar um susto no meu marido. Tínhamos brigado.

- Você não sabia que poderia morrer?

- Pensei que aquilo só matava bicho sem osso...

Na sua simplicidade, Aparecida me dizia que não queria morrer. Ela tinha “ossos”, um esqueleto interno, mental, que a prendeu à vida.

Já outros suicidas têm um “esqueleto” mais frágil. E não suportam as vicissitudes da vida, mais ainda quando ela os frustra e lhes causa sofrimentos.

Existem sofrimentos que fazem parte da vida e há aqueles desnecessários. Muitos de nós não nos satisfazemos com os que já existem (e, muitas vezes, são tantos!). E procuramos outros. Como complicamos nossas vidas, como que atraídos pelo sofrer!

Não seria isto uma espécie de suicídio?”



“Nesta vida, morrer não é difícil. O difícil, é a vida e o seu oficio.”(Maiakvóski)



PARTE III



O suicídio através do tempo



“O suicidio, desde a Antiguidade, sempre foi punido severamente. Plutarco, um antigo historiador, nos conta o seguinte:



Moças passam a enforcar-se e logo apresenta uma “epidemia” de suicídio de jovens. Nenhuma medida fez com que ela cesse, até que alguém propõe que as jovens sejam condenados a terem seu cadáver levado nu, em passeata, até o cemitério. Com essa medida, a “epidemia” se extingue.”

“Em Tebas e Chipre, o morto era privado de honras fúnebres. Em Atenas, no século IV, cortava-se a mão direita daquele que cometera o suicídio. Esta era enterrada distante do resto do corpo do individuo de forma a evitar uma posterior vingança do morto. O objetivo era desmanchar seu estratagema, destituí-lo de poder, da capacidade de assassinar os vivos. Ainda no século IV, Santo Agostinho assinala que o suicídio era uma “pervesão detestável” e “demoníaca”, e que o “não matarás” estendia-se também a “não matarás a si próprio”. A Igreja utilizava todos os recursos disponíveis para a repressão ao suicídio. Outras religiões também condenavam o suicídio, como é o caso da judaica, com a prática de enterrar o corpo do suicida em sepultura à parte.”

“O suicídio do presidente Getúlio Vargas implica, não só um ato de vingança contra seus inimigos, que se sentiram culpados e responsáveis, mas principalmente, o objetivo do suicido foi a permanência de Vargas influenciando os sobreviventes, como numa vida pós-morte: “saio da vida para entrar na História”, escreve em sua carta-testamento.”

“Em novembro de l978, houve um suicídio coletivo de 913 pessoas na Guiana, seguidoras da seita Templo do Povo, do pastor americano Jim Jones. Eles se envenenaram com cianureto, enquanto seu líder deu um tiro na própria cabeça.”

“No primeiro semestre de 1986, o número de adolescentes suicidas cresceu no Japão. A policia atribuiu o fato à morte da cantora pop Yokiko Okada, então com 18 anos, que se jogou de uma altura de 7 andares. Foram registrados 30 suicídios entre adolescentes no país, após o acontecimento.”

“Personagens fictícios da literatura também inspira este tipo de gesto. Em 1774, o lançamento do livro “Werther” do poeta alemão Goethe, provocou uma onda de suicídio na Europa. Motivo: a identificação com o destino do personagem-título do livro, que se mata com um tiro por amor. A “epidemia” de suicídio foi tão longe que várias pessoas, na maioria jovens se matavam envergando casacos azuis e colete amarelo, as roupas que o personagem usava no final do livro.”

“Romeu e Julieta, da obra de Shakekspeare, assim como tantos Romeus e Julietas da vida real, se matam para vingar-se de seu ambiente e das pessoas que estão ao seu redor”

(Publicado no Boletim GEAE Número 332 de 16 de fevereiro de 1999)

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