Estudando o Espiritismo

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domingo, 30 de maio de 2010

Espiritualidade na Prática Clínica: o que o clínico deve saber?*

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Estudos têm demonstrado que a espiritualidade pode promover efeitos positivos e negativos na saúde do paciente. Entretanto, os médicos possuem grande dificuldade para a abordagem deste assunto. O objetivo deste estudo foi rever o tema, focando nas necessidades dos clínicos.

CONTEÚDO: Realizou-se um apanhado geral dos conhecimentos que o clínico deve possuir sobre os aspectos espirituais do paciente, dividindo-se nas seguintes partes: introdução, contexto histórico, conceitos básicos, por que o clínico deve abordar a espiritualidade do paciente, pesquisas e bases científicas, espiritualidade no meio acadêmico, quando e como deve ser abordada a espiritualidade/religiosidade, ?*

CONCLUSÃO: O clínico deve saber o momento certo e a forma correta de se abordar essa dimensão, sem ofender ou julgar as preferências religiosas de cada paciente, de forma a exercer a Medicina de forma mais humana e integral possível.

Descritores: Clínica Médica, Espiritualidade, religião e Medicina,


INTRODUÇÃO

No dia 17 de outubro de 2009, véspera do dia do médico (escolhido por ser o dia de São Lucas, conhecido como ”médico de homens e de almas”), ocorreu no X Congresso Brasileiro de Clínica Médica a mesa redonda: “Espiritualidade na Prática Clínica”.

A iniciativa inédita da Sociedade Brasileira de Clínica Médica foi agraciada com a lotação do auditório no evento e alertou para a necessidade da abordagem deste tema nos congressos médicos e na prática clínica.

O objetivo deste estudo foi traçar um panorama do uso da espiritualidade na prática clínica e quais os conhecimentos básicos necessários para o clínico abordá-la na sua prática diária.

CONTEXTO HISTÓRICO

A ligação entre religião e Medicina faz-se desde os tempos mais remotos. Os egípcios (2000-1800 A.C.) já exorcizavam espíritos usando o nome do Deus Horus1, os cientistas gregos (500-300 A.C.) já discutiam sobre a origem da alma2 e nos tempos medievais (1000-1200 D.C) as autoridades religiosas eram as responsáveis pelas licenças para a prática da Medicina3. Entretanto, a partir da Renascença, houve uma separação entre a ciência e a religião que se manteve até o século XX4, período em que Sir William Osler, professor de Medicina da Universidade Johns Hopkins publicou no British Medical Journal o artigo: “The faith that heals” (A fé que cura)5. Finalmente na década de 1960, começaram a ser publicados diversos estudos epidemiológicos demonstrando a relação entre espiritualidade e religiosidade com a saúde do paciente4, no mesmo período que foi iniciado o Journal of Religion and Health (Jornal de Religião e Saúde) indexado até o presente momento no PubMed.

Nas décadas seguintes cresceu o conceito da chamada “Espiritualidade baseada em evidências”6, o estudo dos mecanismos pelo qual a fé levaria a esses desfechos clínicos7 e de que forma os médicos deveriam abordar esse assunto na prática clínica.

CONCEITOS BÁSICOS

Para facilitar a compreensão do assunto, inicialmente faz-se necessária discussão pormenorizada sobre os conceitos básicos de religião, religiosidade e espiritualidade. ������Segundo Koenig, Mccullough e Larson no livro “Handbook of Religion and Health”4:

• Religião é o sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sagrado, ao transcendente (Deus, força maior, verdade suprema ...);

• Religiosidade é o quanto um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião. Pode ser organizacional (participação na igreja ou templo religioso) ou não organizacional (rezar, ler livros, assistir programas religiosos na televisão);

• Espiritualidade é uma busca pessoal para entender questões relacionadas ao fim da vida, ao seu sentido, sobre as relações com o sagrado ou transcendente que, pode ou não, levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas.

Por que o clínico deve abordar a espiritualidade do paciente?

Uma das perguntas mais realizadas pelos médicos em geral é qual a razão para abordar a espiritualidade do paciente. Inicialmente vale lembrar que muitos pacientes são religiosos e suas crenças os ajudam a lidar com muitos aspectos da vida8. Além disso, as crenças pessoais dos médicos influenciam nas suas decisões, tanto por parte do paciente (tendo como exemplo o paciente que é Testemunha de Jeová que não aceita o uso de hemoderivados), como por parte dos próprios médicos (tendo como exemplo, médicos que se recusam a prescrever anticoncepcionais devido aos seus princípios religiosos)9. Mais do que isso, atividades e crenças religiosas estão relacionadas à melhor saúde e qualidade de vida10, assim como os médicos que falam sobre as necessidades espirituais não são novidades, tendo suas raízes na história e muitos pacientes gostariam que seus médicos comentassem sobre suas necessidades espirituais11. Estudos demonstram que a maioria dos pacientes gostaria que seus médicos abordassem sobre sua religião e espiritualidade12,13, e relataram que sentiriam mais empatia e confiança no médico que questionasse esses temas11, proporcionando o resgate da relação médico-paciente, com uma visão holística e mais humanizada.

Torna-se claro na prática clínica que, na grande maioria das vezes, não é possível fragmentar o paciente em várias partes como social, biológica, psíquica e espiritual, afinal todas são interligadas e podem ser responsáveis pelas comorbidades, aderência aos medicamentos, sucesso ou fracasso no tratamento.

PESQUISAS E BASES CIENTÍFICAS

As pesquisas científicas sobre o assunto são numerosas. No banco de dados da PubMed, foram relacionados 4.202 estudos à palavra “spirituality” e para a palavra “religion” 41.314. Esse número de estudos foi equivalente ao número relacionado à palavra “physical activity” na mesma data.

Os estudos têm demonstrado maior relação entre espiritualidade e religiosidade com a saúde mental, incluindo menor prevalência de depressão14, menor tempo de remissão da depressão após o tratamento15, menor prevalência de ansiedade16 e menor taxa de suicídio17. Da mesma forma, estudos demonstram uma relação da espiritualidade com melhor qualidade de vida18 e maior bem estar geral19.

Alguns desfechos clínicos também têm sido avaliados de forma consistente. Os pacientes mais religiosos tiveram menores níveis de hipertensão diastólica20, índices menores de mortalidade por causas cardiovasculares21 e menor mortalidade em geral22-24.

Autores têm relacionado ainda a espiritualidade com marcadores de imunidade, como interleucinas e marcadores de inflamação como proteína C-reativa. Recentemente, Lutgendorf e col.25 mostraram que a frequência religiosa levaria à diminuição na IL-6 e esta levaria à diminuição da mortalidade. Este estudo seria a primeira pesquisa a demonstrar uma participação de um fator imunológico mediando um fator comportamental com a mortalidade. Seguiram-se então, estudos voltados às populações específicas como no caso de mulheres com câncer de mama, em que a maior espiritualidade esteve diretamente relacionada ao número total de linfócitos, de células Natural Killer (NK) e de linfócitos T-helper e T-citotóxicos26. Quanto às pesquisas com marcadores inflamatórios, há evidências de menores níveis de proteína C-reativa27 e menores níveis de cortisol28 nos pacientes que possuem maior frequência religiosa.

Periódicos de alto impacto na literatura médica têm vinculado publicações científicas na área como é o caso do The Journal of the American Medical Association (JAMA)29, New England Journal of Medicine30 e Annals of Internal Medicine31, dentre outros.

O clínico deve ter conhecimento das evidências que suportam este campo, de forma a entender suas repercussões na saúde do paciente.

Espiritualidade no meio acadêmico

Antes renegados ao segundo plano, os cursos de espiritualidade passaram a ser vinculados na maioria das universidades norte-americanas. Em 1993, menos de cinco escolas médicas dos Estados Unidos possuíam a disciplina de religião/espiritualidade em Medicina, valor que subiu para mais de 100 nos últimos 15 anos32. Seguindo esta tendência, 59% das escolas médicas britânicas já possuem cursos relacionados à espiritualidade33.

Diversos centros universitários no mundo têm se interessado e pesquisado sobre o assunto, podendo-se citar, dentre outros: Duke University’s Center for Spirituality, Theology and Health; The George Washington Institute for Spirituality and Health; Center for Spirituality and Health – University of Florida e Center for the Study of Health, Religion and Spirituality Indiana State University.

Cursos têm sido vinculados, inclusive nos programas de residência médica interna nos Estados Unidos da América, como foi o caso de estudo publicado na conceituada revista Academic Medicine em 200234. Foi instituída na Universidade de Massachusetts, uma disciplina de Medicina e espiritualidade compulsória para os residentes do programa de Medicina interna. Por meio de aulas teóricas e práticas, o residente aprendia a reconhecer problemas espirituais, obter a história espiritual, participava de atendimentos com líderes da pastoral local e aprendia princípios básicos sobre todas as religiões. A disciplina foi tão bem sucedida que permanece no programa até hoje.

QUANDO DEVE SER ABORDADA A ESPIRITUALIDADE?

O momento certo para abordar a espiritualidade de um paciente poupa mal entendido, segundo o livro “Espiritualidade no Cuidado com o Paciente”35 escrito por Harold G. Koenig (médico da Universidade de Duke – Estados Unidos da América), o bom senso deve imperar. A abordagem em situações extremas como acidentes e eventos isquêmicos coronarianos, pode levar ao sentimento de medo no indivíduo.

Entretanto, a avaliação ambulatorial de um novo paciente, uma internação por descompensação de alguma doença, os cuidados paliativos e pacientes que serão acompanhados pelo mesmo médico podem ser momentos ideais para a obtenção da história espiritual.

Na anamnese médica, a história social, o questionamento da atividade física, os hábitos e vícios podem preceder a abordagem da espiritualidade de forma natural. Desta forma, pode-se incluir o assunto na estruturação da anamnese, no segmento que aborda os hábitos de vida e condições socioeconômicas do paciente.

Barreiras para o médico

Algumas barreiras são colocadas pelos médicos para não abordarem o tema35. Pode-se citar a falta de conhecimento sobre o assunto, falta de treinamento, falta de tempo, desconforto com o tema, medo de impor pontos de vista religiosos ao paciente, pensamento de que o conhecimento da religião não é relevante ao tratamento médico e a opinião de que isso não faz parte do papel do médico. Essas barreiras são quebradas à medida que o médico se aprofunda no tema e desvencilha-se de seus próprios medos e preconceitos.

Como deve ser abordada a espiritualidade e religiosidade

Não existe uma só forma de abordar a espiritualidade, assim como não existe uma forma correta. Muitas vezes, a sua abordagem faz-se de forma natural e tranquila, o que depende das próprias heranças culturais de cada médico.

Entretanto, pesquisadores têm criado formas de facilitar a abordagem da espiritualidade para os médicos que ainda possuem dificuldades com o tema. Esses instrumentos servem de norteador para a obtenção da história espiritual, sendo os principais instrumentos utilizados36-38 dispostos no quadro 1.

No caso de pacientes não religiosos35, ao invés de focar na espiritualidade, o médico pode perguntar como o paciente convive com a doença; o que promove um significado e propósito à sua vida e quais crenças culturais pode ter impacto no seu tratamento.


Aspectos negativos da religião

Nem todos os efeitos da religião são positivos. É importante que os médicos estejam atentos quando a religião pode desencadear problemas35 (principalmente no caso da religião punitiva em que há uma sensação de que Deus está punindo ou abandonando o paciente) e causar conflitos quanto às condutas médicas. No caso de dificuldades para lidar com relações conflitantes a figura da capelania do hospital ou do líder religioso do paciente é essencial, conjuntamente com o Serviço de Psicologia Hospitalar.

CONCLUSÃO

O clínico deve estar atento à dimensão espiritual do paciente, seja ela positiva ou negativa. O conhecimento científico e prático do assunto pode evitar conflitos na relação

Quadro 1 – Instrumentos para obtenção de história espiritual

Questionário FICA36

F – Fé / crença

• Você se considera religioso ou espiritualizado?

• Você tem crenças espirituais ou religiosas que te ajudam a lidar com problemas?

• Se não: o que te dá significado na vida?

I – Importância ou influência

• Que importância você dá para a fé ou crenças religiosas em sua vida?

• A fé ou crenças já influenciaram você a lidar com estresse ou problemas de saúde?

• Você tem alguma crença específica que pode afetar decisões médicas ou o seu tratamento?

C – Comunidade

• Você faz parte de alguma comunidade religiosa ou espiritual?

• Ela te dá suporte, como?

• Existe algum grupo de pessoas que você “realmente” ama ou que seja importante para você?

• Comunidades como igrejas, templos, centros, grupos de apoio são fontes de suporte importante?

A – Ação no tratamento

• Como você gostaria que o seu médico ou profissional da área da saúde considerasse a questão religiosidade / espiritualidade no seu tratamento?

• Indique, remeta a algum líder espiritual / religioso.

Questionário HOPE37

H - Fontes de Esperança (Hope), significância, conforto, força, paz, amor e relacionamento social.

• Quais são as suas fontes de esperança, força, conforto e paz?

• Ao que você se apega em tempos difíceis?

• O que o sustenta e o faz seguir adiante?

O – Religião organizada

• Você faz parte de uma comunidade religiosa ou espiritual? Ela o ajuda? Como?

• Em que aspectos a religião o ajuda e em quais não o ajuda muito?

P – Espiritualidade pessoal e prática

• Você tem alguma crença espiritual que é independente da sua religião organizada?

• Quais aspectos de sua espiritualidade ou prática espiritual você acha que são mais úteis à sua personalidade?

E – Efeitos no tratamento médico e assuntos terminais

• Ficar doente afetou sua habilidade de fazer coisas que o ajudam espiritualmente?

• Como médico, há algo que eu possa fazer para ajudar você a acessar os recursos que geralmente o apóiam?

• Há alguma prática ou restrição que eu deveria saber sobre seu tratamento médico?

História espiritual do ACP35

• A fé (religião/espiritualidade) é importante para você nesta doença?

• A fé tem sido importante para você em outras épocas da sua vida?

• Você tem alguém para falar sobre assuntos religiosos?

• Você gostaria de tratar de assuntos religiosos com alguém?

CSI—MEMO38

1. Suas crenças religiosas/espirituais lhe dão conforto ou são fontes de estresse?

2. Você possui algum tipo de crença espiritual que pode influenciar suas decisões médicas?

3. Você é membro de alguma comunidade espiritual ou religiosa? Ela lhe ajuda de alguma forma?

4. Você possui alguma outra necessidade espiritual que gostaria de conversar com alguém?médico-paciente, beneficiar os desfechos clínicos e facilitar o atendimento médico.

O clínico deve saber o momento certo e a forma correta de se abordar essa dimensão, sem ofender ou julgar as preferências religiosas de cada paciente, de forma a exercer a Medicina de forma mais humana e integral possível.

Giancarlo Lucchetti1, Alessandra Lamas Granero2, Rodrigo Modena Bassi3, Rafael Latorraca4, Salete Aparecida da Ponte Nacif5


*Recebido da Associação Médico-Espírita de São Paulo, SP.

ARTIGO DE REVISÃO

1. Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de São Paulo; Doutorando em Neurologia/Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Coordenador do Núcleo de Pesquisas da Associação Médico-Espírita de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

2. Médica Especialista em Geriatria pelo Centro Interdisciplinar de Assistência e Pesquisa em Envelhecimento – Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e Coordenadora do Núcleo de Inserção da Espiritualidade na Prática Clínica da Associação Médico-Espírita de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

3. Médico Especialista em Clínica Médica pela SBCM; Especialista em Geriatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

4. Graduando de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Coordenador do Departamento Acadêmico da Associação Médico-Espírita de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

5. Médica Especialista em Clínica Médica pela SBCM; Assistente da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Membro da Associação Médico-Espírita de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

REFERÊNCIAS


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34. Pettus MC. Implementing a medicine-spirituality curriculum in a community-based internal medicine residency program. Acad Med 2002;77(7):745.

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38. Koenig HG. An 83-year-old woman with chronic illness and strong religious beliefs. JAMA 2002;288(4):487-93.
Na íntegra:

http://lildbi.bireme.br/lildbi/docsonline/lilacs/20100400/945.pdf

" Deixe a raiva secar"

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Mariana ficou toda feliz porque ganhou, de presente, um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas.

No dia seguinte, Júlia, sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.

Mariana não podia, porque ia sair com sua mãe naquela manhã.

Júlia, então, pediu à coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio.

Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo tão especial.

Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada.

Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou:

- Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo? Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão.

Totalmente descontrolada, Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Júlia pedir explicações. Mas a mamãe, com muito carinho, ponderou:

- Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu sapatinho novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em seu sapato? Ao chegar à sua casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou.



Você lembra do que a vovó falou?

- Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar.

- Pois é, minha filha! Com a raiva é a mesma coisa. Deixa a raiva secar primeiro. Depois fica bem mais fácil resolver tudo.

Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu ir para a sala ver televisão.



Logo depois alguém tocou a campainha. Era Júlia, toda sem graça, com um embrulho na mão. Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:

- Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente? Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei. Aí ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado. Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você. Espero que você não fique com raiva de mim. Não foi minha culpa.

- Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou.

E, tomando a sua coleguinha pela mão, levou-a para o quarto para contar a história do sapato novo que havia sujado de barro.



Linda história...

Segure seus ímpetos, deixe o barro secar para depois limpá-lo....

Assim, você não correrá o risco de cometer uma injustiça.

Aprender a não lamentar

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Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre, seguindo por longa estrada. Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido. Verificaram e descobriram um homem caído.



Estava pálido e com uma grande mancha de sangue, próxima ao coração. Tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência. Com muita dificuldade, mestre e discípulo o carregaram para o casebre rústico, onde viviam. Lá trataram do ferimento. Uma semana depois, já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora ferido por uma faca. Disse também que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse. Disposto a partir, o homem disse ao sábio:

"Senhor, muito lhe agradeço por ter salvado a minha vida. Tenho que partir e levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor que senti."



O mestre olhou fixo para o homem e disse:

"Vá e faça o que deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz."

O homem ficou assustado e disse:

"Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor!"



Com serenidade, tornou a falar o sábio:

"Se não pode pagar pelo bem que recebeu, com que direito quer cobrar o mal que lhe fizeram?"



O homem ficou confuso, e o mestre concluiu:



"Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que aconteçam em sua vida, pois a vida pode lhe cobrar tudo de bom que lhe ofereceu."

Que diferença faz uma estação...

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Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos aprendessem a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele mandou cada um em uma viagem, para observar uma Parreira que estava plantada em um distante local.





O primeiro filho foi lá no Inverno, o segundo na Primavera, o terceiro no Verão, e o quarto e mais jovem, no Outono.





Quando todos eles partiram, e retornaram, ele os reuniu, e pediu que cada umdescrevesse o que tinham visto.





O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida.



O segundo filho disse que não, que ela era recoberta de botões verdes, e cheia de promessas.



O terceiro filho discordou; disse que ela estava coberta de flores, que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.



O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas...





O homem então explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore...



Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, por apenas uma estação, e que a essência de quem eles são, e o prazer, a alegria e o amor que vêm daquela vida podem apenas ser medidos ao final, quando todas as estações estão completas.





Se você desistir quando for Inverno, você perderá a promessa da Primavera, a beleza de seu Verão, a expectativa do Outono.



Moral da História: Não permita que a dor de uma estação destrua a alegria de todas as outras. Não julgue a vida apenas por uma estação difícil.



Persevere através dos caminhos difíceis, e melhores tempos certamente virão de uma hora para a outra!!!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Australiano diz ter salvo mais de 400 de suicídio em penhasco


Um australiano de 82 anos que vive perto de um penhasco usado com frequência para suicídios afirma ter convencido mais de 400 pessoas a desistir de por um fim a suas vidas.

BBC Brasil
05/04/2010 11:54

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Há cinco décadas, Donald Ritchie, armado apenas de seu binóculo e de um papo tranquilo, monitora o movimento no penhasco perto de sua casa nos arredores de Sydney conhecido como The Gap, que, além de oferecer uma privilegiada vista para o mar, possui a má fama de atrair suicidas.





Donald Ritchie usa seu binóculo para observar penhasco / Foto: Elliot Braham



Pelo seu trabalho voluntário prevenindo suicídios na região onde mora, Ritchie foi batizado pela mídia australiana de "anjo da guarda".



No fim de semana, o australiano elevou sua própria contagem de vidas salvas para 401 - 161 delas foram reconhecidas por autoridades locais de Woollahra, o município em que vive.



Espreita



Ritchie passou quase cinco décadas de sua vida observando a beira do The Gap.



Quando percebia alguém muito pensativo, contemplando demais o oceano, e que havia ultrapassado as cercas que existem no lugar, o ex-vendedor de seguros de vida se dirigia ao local para conversar com a pessoa.



"Com apenas um sorriso, uma saudação, uma conversa amigável, muitas vezes conseguia fazer com a pessoa mudasse de ideia", disse ele, em entrevista à BBC brasil.





Donald Ritchie fica na varanda para observa o penhasco ao fundo / Foto: Elliot Braham



Entre seus argumentos mais eficientes está o convite de tomar um café em sua casa.



Mas devido à idade e a problemas de saúde, Ritchie tem se limitado a observar o local e alertar a polícia em caso de suspeitas de possíveis suicidas. "Há dois dias salvei uma moça, ligando para a polícia", disse ele.



Algumas das mortes estão registradas em seu diário, outras estão muito vivas em sua mente. Em uma ocasião, ele correu sério risco de morte.



"Há uns 20 anos fui salvar essa moça, ela estava quase mudando de ideia quando um carro se aproximou e ela se levantou para pular, eu a segurei, mas ela me puxou junto e foi por pouco que não caímos os dois", lembrou.



Ao longo dos anos, o "anjo da guarda" recebeu várias manifestações de agradecimento e carinho, entre cartas, pinturas e até garrafas de champanha deixadas em sua porta.



Em 2006, o aposentado foi homenageado com uma medalha do governo australiano. Mas ele evita a atenção da mídia por considerar suicídio um tema bastante delicado.



"Quanto mais divulgamos sobre suicídios, parece que mais eles acontecem", disse, lembrando do caso do suicídio de uma jornalista australiana, que teve grande destaque na imprensa. Logo depois do caso, houve mais seis suicídios no local.



Segundo dados do governo, estima-se que cerca de 50 pessoas cometem suicídio no The Gap por ano. Em 2007, foram registradas 65 mil tentativas de suicídio e 1.881 mortes por suicídio no país.

Mediunidade de Efeitos Físicos

O estudo da materialização dos espíritos é fundamental para o avanço da medicina e sua é mais um instrumento de cura e despertar para humanidade.

Helaine Ciqueto

O FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL

Nosso conhecimento a respeito do universo, do nosso mundo e de nós mesmos é extremamente limitado. Segundo André Luiz, conhecemos apenas a oitava parte do que acontece ao nosso redor. Se desconhecemos a essência, a finalidade e a causa da maioria daquilo que vemos, como conhecermos a respeito daquilo que não vemos?

As energias sutis do Espírito estão nesse rol imensurável e desconhecido para nós, seres humanos limitados.

Retomando um estudo de André Luiz, deparamos com sua afirmação de que tudo emana do Plasma Divino, que segundo os ensinos superiores, compilados por Alan Kardec, ele é o Fluido Cósmico Universal. Enfim, é o princípio elementar de tudo quanto existe.

Um único elemento material dando origem a tudo. O elemento básico da criação. É o que nos relata o Espírito Galileu, em "A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo", Cap. VI, itens 8 a 19. O Fluido Cósmico Universal - é matéria cósmica primitiva que vai do incomensurável ao mensurável; da invisibilidade à visibilidade; do ponderável ao imponderável; dependendo da forma, do estado e da dimensão em que se encontra, sendo detectável ou não aos nossos sentidos humanos.

ENERGIAS SUTIS DO ESPÍRITO

As energias sutis são matéria quintessenciada, não detectáveis nesta nossa terceira dimensão, ou seja imperceptíveis aos nossos olhos, mas que causam impacto na estrutura de nosso organismo, tal qual o Raio X, por exemplo, que é constituído de partículas subatômicas, que penetram na intimidade de nosso corpo, "fotografando-o interiormente", mas que não são percebidas pelos sensórios terrenos.


TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES

Allan Kardec compilou no "O Livro dos Médiuns" algumas explicações do Espírito de São Luís, sobre a Teoria das Manifestações Físicas, no Cap. IV, da 2.a parte. Resumindo, ele explicou que, o que anima a matéria ou os objetos que se movem, e o que materializa os espíritos, é uma combinação de Fluido Cósmico Universal - FCU, com o fluido perispiritual do próprio médium e com o fluido do perispírito de espíritos mais ligados à matéria, ou seja, menos evoluídos. Essa composição fluídica "anima" a matéria, envolvendo os objetos entre o espaço molecular e penetra igualmente os corpos, como um oceano imenso. A vontade do Espírito Coordenador do fenômeno conduz o movimento dos objetos ou coordena o fenômeno. Assim, esse Espírito Coordenador (ou seja, a vontade desse Espírito inteligente) é a causa do fenômeno e a mescla de fluidos é o veículo condutor do fenômeno.

Imaginemos, por exemplo, um espírito materializado, escrevendo ou tocando piano: ele deita seus dedos sobre as teclas, mas o que as impulsiona não é a sua "força muscular", mas sim o fluido que as anima, interpondo-se no espaço entre as moléculas da matéria de que é composto, obedecendo a vontade do espírito.

Com a "mesa girante" ocorre o mesmo; não é o espírito que a levanta e gira, mas a mesa que se anima de uma vida factícia (artificial) e se move pela vontade, impulso mental que lhe dá o espírito.

O ECTOPLASMA

André Luiz, no livro "Nos Domínios da Mediunidade", cap. XXVIII, nos descreve um dos seus aprendizados sobre o assunto, quando realizou um trabalho de observação a uma sessão de materialização, ocorrida aqui na Terra. (há fortes indícios que tenha sido com o médium Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho).

Conta-nos ele, que durante esse fenômeno especialíssimo, o médium é desdobrado e afastado do corpo, semelhante a um desencarne. Assim prostrado, sob o domínio dos "técnicos espirituais", começa a expelir o ectoplasma, qual pasta flexível, à maneira de uma geléia viscosa e semi-líquida, através de todos os poros, com mais abundância pelos orifícios naturais, particularmente da boca, narinas, e ouvidos, além do tórax e das extremidades dos dedos. Esse fluido condensado, de alvura extraordinária, ligeiramente luminosa, comparável à clara de ovo, com um cheiro característico, indescritível. Dessa forma, o médium começa a desmaterializar-se.

O ectoplasma, por sua vez envolve o perispírito do espírito a ser materializado, semelhante a peças de tecido leves e finos, ou interpenetra os objetos, dando-lhes forma e movimento.

O fenômeno independe das qualidades morais e do caráter do médium, são emanações psicofísicas, das quais o citoplasma é uma das fontes de origem. Portanto o fato do médium fumar, beber, ingerir drogas ou abusar da alimentação inadequada, não o faz um médium mais ou menos apto, mas influenciam, devido as toxinas que contaminam o ectoplasma, a ponto de prejudicar o organismo do próprio médium.

Vemos, como exemplo, os ensinamentos dos espíritos, no caso do médium Francisco Peixoto Lins, que alertavam sempre sobre os vícios, classificando-os como uma escolha para a mediunidade, com conseqüências nefastas e tóxicas para o médium. Em muitas das reuniões realizadas pelo grupo dele, e que não tiveram êxito, a explicação era de que os resíduos decorrentes desses vícios e da alimentação inadequada, que impregnavam o organismo do médium, não propiciariam o efeito desejado sem atingir com gravidade o organismo do médium. Eles falavam e ensinavam com brandura, mas eram enérgicos e severos em relação à participação nas reuniões de pessoas com esses vícios e do próprio médium.

Até mesmo, o próprio toque nesse fluido condensado, por pessoa estranha ao fenômeno, e quando não planejado pelo espírito coordenador do fenômeno, poderá levar o médium à conseqüências gravíssimas, tal como ocorreu com o próprio Peixotinho, e até mesmo ao desencarne, tal a seriedade e complexidade do fenômeno. O termo "ectoplasma", segundo o "Novo Dicionário da Língua Portuguesa", de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, na Biologia, refere-se à parte periférica do citoplasma celular. Na Parapsicologia, designa a substância visível que emana do corpo de certos médiuns.

"Uma pasta flexível, à maneira de uma geléia viscosa e semilíquida, que emana por todos os poros e orifícios naturais, particularmente da boca, narinas, ouvidos, além do tórax e extremidades dos dedos do médium." ("Nos Domínios da Mediunidade", André Luiz.)

MATERIALIZAÇÕES LUMINOSAS

Novamente, segundo o dicionário, o termo se refere à individualização de uma forma pela matéria, ou à atribuição de qualidades da matéria a algo, no caso ao espírito, ou fazer manifestar-se o espírito sob forma material, torná-lo corpóreo.


Refere-se também o termo, à um tipo especialíssimo de mediunidade, onde ocorre o fenômeno da corporificação de espíritos através do ectoplasma do médium. Em diversas obras sobre o assunto, em que os autores participaram e analisaram fria e racionalmente o fenômeno, por anos a fio, podemos concluir, que ele apresenta um tipo de ocorrência padrão, onde participam sempre, o médium que apresenta tal faculdade mediúnica, demais pessoas que assistem e auxiliam materialmente a realização do fato, um ou mais Espíritos evoluído que coordenam a elaboração espiritual do fenômeno e algumas entidades, de caráter menos evoluído, com mais ligações com a matéria e o mundo material.

Algumas dessas materializações chegam a ter uma intensa luminosidade, que chega a desafiar qualquer pensamento de incredulidade à respeito do fenômeno. Isso ocorre devido à grande quantidade de fosfato de lecitina, que o médium apresenta em seu organismo. Por isso que em certas ocasiões o famoso médium Peixotinho era orientado pelos Espíritos a ingerir muito peixe, alimento que possui essa substância.

O FENÔMENO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Caso fôssemos analisar a história da humanidade através do tempos, com certeza teríamos elencados muitos casos de manifestação da mediunidade de efeitos físicos, antes mesmo que ela assim fosse denominada e compreendida, pois antigamente, era considerada como fenômeno sobrenatural. Atualmente, à luz do Espiritismo, podemos compreendê-la melhor e explicá-la cientificamente.

Ernesto Bozzano nos ensina, em seu livro "Pensamento e Vontade", que a substância ectoplásmica já era conhecida pelos alquimistas do século XVII, como Paracelso, que a denominou Mysterium Magnum, e Tomas Vaogan, que a definiu por Matéria Prima. Também Emmanuel Swedenborg, um dos precursores do Espiritismo, realizou experimentos de ectoplasmia.

Outros importantes pesquisadores podem ser citados, como Dr. Gustavo Geley, que descreveu essas manifestações em seu livro "Do Inconsciente ao Consciente, além de diversos investigadores científicos, tais como Hartmann, Aksakof, Du Prel, Cel. de Rochas, que baseou suas conclusões nas experiências realizadas com a também famosa médium de ectoplasmia, Eusápia Paladino.

Outro caso interessante de materialização de corpo humano, exercida por uma entidade inteligente e com o auxílio da posse temporária do corpo fluídico exteriorizado, foi observada e pesquisada exaustivamente pelo cientista químico-físico londrino, Dr. William Crookes, por volta de 1869, que estudou o fenômeno por mais de 30 anos. Através de uma médium chamada Florence Cook, se manifestava o espírito denominado Katie King. Ela apresentava diversos fenômenos, como levitação, escrita, materialização, mas apenas de um único espírito.

Mais recentemente, por volta da década de 40, Fábio Machado, um médium que morava em Belo Horizonte, produzia fenômenos de materializações, como conta Ranieri, em seu livro "Manifestações Luminosas". Através dele ocorriam os mesmos fenômenos observados no médium Francisco Peixoto, no Rio de Janeiro, e com os mesmos espíritos, mesmo sem se conhecerem ou terem conhecimento da existência um de outro. A única diferença é que as materializações de Fábio eram opacas.

FRANCISCO PEIXOTO LINS

Dentre os casos relatados pela Literatura Espírita, um dos que mais impressionam pela total autenticidade e abundância do fenômeno, é o de Francisco Peixoto Lins, o qual, segundo profunda análise dos relatos, foi alvo das observações de André Luiz, em suas visitas de aprendizado em nosso meio. Não há registros, no Brasil, de médiuns que provocassem materializações como as de Peixotinho.

Muitos fenômenos foram observados, descritos e testados por centenas de pessoas de bem, cultas, estudiosos, além do acompanhamento criterioso de um delegado de policia da época, que publicou um livro a respeito, intitulado "Materializações luminosas". (R. A. Ranieri)

OS FENÔMENOS DE PEIXOTINHO

Eram flores naturais e orvalhadas que apareciam, em abundância, do nada; luvas de parafina; flores moldadas na parafina; moldes do rosto de espíritos; materializações completas e incompletas (apenas o busto) de entidades; aporte de pedras de diversos lugares do mundo; chuva de flores, de pétalas naturais; brisa suave; aragem fresca; perfumes deliciosos; voz direta (garganta ectoplásmica); escrita direta; biombos e cadeiras que levitavam; desmaterialização de uma viola; fabricação de remédios homeopáticos; aparecimento de água mineral da França (Vichy); letreiros luminosos com frases inteiras ditadas na hora pelos participantes; além das curas e tratamentos inacreditáveis que ocorriam todos os dias.

A cada sessão era um verdadeiro espetáculo. Em uma única reunião eles chegaram a moldar em parafina, cerca de 100 flores. Para distrair os participantes e evitar que suas mentes divagassem por outras paragens, as entidades utilizavam a música como recurso. Tocavam violão e espíritos dançavam. Enviavam, por escrita direta, ou eles mesmos sentavam à mesa, tomavam a caneta comum e escreviam letra e música de hinos.

Ouvia-se sempre com perfeição e nitidez, no ambiente, os sons produzidos pelos espíritos corporificados, seus movimentos de ir e vir da cabine, dirigindo-se ao balde de parafina fervente e o som característico do molhar das mãos em água fria para o resfriamento e endurecimento das moldagens.

O início dos trabalhos era marcado com um sinal: o aporte de uma ou várias pedras que surgiam do nada. E sempre ao final da reunião ouvia-se uma voz enunciar o êxito ao não da sessão. Muitas vezes, enunciavam através do recurso da voz direta (garganta ectoplásmica) que não haviam conseguido o objetivo esperado e ao acenderem as luzes encontravam botões de rosas, cravos, margaridas ou outras flores, ofertadas por espíritos aos presentes.

Os mentores explicavam que extraíam fluidos (energia ectoplasmática) dos médiuns para tratarem dos doentes. Explicavam também que as tarefas em torno da mediunidade são o resultado de um trabalho em conjunto, de equipe, baseado na unidade de propósitos, capaz de formar um campo psíquico ou, como se diz comumente, uma corrente de energias. Nesse campo movimentam-se os fluidos por força da mente, que plasma e cria, seguindo as determinações do espírito diretor ou controlador.

ENSINAMENTOS DOS ESPÍRITOS

Segundo as entidades orientadoras, o objetivo dos fenômenos mediúnicos é despertar, aprender e curar, no caso de Peixotinho. Dois fatores ficaram evidenciados: a necessidade de constante estudo das instruções contidas no "Livro dos Médiuns" e o aprendizado do trabalho em grupo, demonstrando que, a mediunidade a serviço de instruções espíritas, exige mentalidade de equipe, atenção, estudo, respeito e, em conseqüência, espírito de participação.

Constantemente orientavam os presentes para eliminarem a curiosidade, mentalizarem os doentes, ordenadamente, ajudando-os nos processos de tratamento. Explicavam que a base do fenômeno está na mente e que essas energias sutis são extremamente sensíveis ao pensamento, portanto a postura mental do grupo era fundamental.

Em certa ocasião sugeriram que utilizassem contos espiritualizados para ajudar a manter a vibração positiva do grupo. Além do canto de hinos leituras do Evangelho, etc. Outra sugestão foi a de organizar grupos pequenos, com número reduzido de pessoas, pois o excesso de componentes, em virtude da heterogeneidade de pensamentos e de propósitos, atrapalhava o êxito do trabalho. No início, os próprios espíritos enumeravam aqueles que estavam aptos para participarem das reuniões e os demais que iriam realizar as visitas, "para fazer ambiente", na casa dos doentes que seriam tratados à distância.

Os espíritos insistiam nos ensinamentos, mas a maior parte dos participantes se aglomeravam em torno de Peixotinho porque aquilo lhes encantava os olhos ou lhes atendia os interesses mais imediatos, nem sempre procuravam a essência, as causas e as conseqüências.

De todo esse universo de pesquisas e experimentos científicos realizados, através do tempos, sobre a existência, a atuação e as conseqüências das energias sutis do espírito, concluímos que, como Kardec mesmo nos ensina, a maior ou menor incidência desses fenômenos físicos está diretamente relacionada à necessidade de despertamento da humanidade para o aspecto espiritual de sua existência.

Assim portanto, observamos que na atualidade, esses fenômenos se tornaram escassos devido à evolução do homem e sua condição no estágio seguinte após esse despertamento, que é o burilamento moral interior, em direção à escala ascendente da evolução da humanidade.

Notas: (Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 03, páginas 06-10)

terça-feira, 25 de maio de 2010

William Crookes


Willian Crookes nasceu em Londres, Inglaterra, no dia 17 de junho de 1832. Foi o maior químico da Inglaterra, segundo afirmativa de “Sir” Arthur Conan Doyle, o que ficou constatado pela trajetória gloriosa que esse ilustre homem de ciência desenvolveu no campo científico. Mencionado como sendo um dos mais persistentes e corajosos pesquisadores dos fenômenos supranormais, desenvolveu importante trabalho na área da fenomenologia espírita.




No ano de 1855, Willian Crookes assumiu a cadeira de química na Universidade de Chester. Como conseqüência de prolongados estudos, no ano de 1861 descobriu os raios catódicos e isolou o Tálio, determinando rigorosamente suas propriedades físicas. Após persistentes estudos em torno do espectro solar, descobriu, em 1872, a aparente ação repulsiva dos raios luminosos, o que o levou à construção do Radiômetro, em 1874. No ano seguinte descobriu um novo tratamento para o ouro. No entanto, a coroação do seu trabalho científico foi a descoberta do quarto estado da matéria, o estado radiante, no ano de 1879. Foram-lhe outorgadas várias medalhas pelas relevantes descobertas no campo da física e da química.



A rainha Vitória, da Inglaterra, nomeou-o com o mais alto título daquele país: “Cavalheiro”.



A par de todas as atividades, ocupou a presidência da Sociedade de Química, da Sociedade Britânica, da Sociedade de Investigações Psíquicas e do Instituto de Engenheiros Eletricistas.



Dotado de invejável fibra de investigador, acabou por pesquisar os fenômenos_mediúnicos, a princípio, com o fim de demonstrar o erro em que incidiam os ditos “médiuns” e todos aqueles que acreditavam piamente em suas mediunidades.



Em 1869, os médiuns J.J.Morse e Sra. Marshall serviram de instrumento para que Crookes realizasse as suas primeiras investigações.



As mais notáveis experiências mediúnicas, levadas a efeito por esse ilustre cientista, foram realizadas através da médium Florence Cook, quando obteve as materializações do Espírito que dava o nome de Katie_King, fato que abalou o mundo científico da época.



A jovem Florence Cook tinha apenas 15 anos de idade quando se apresentou a Sir Willian Crookes, a fim de servir de medianeira para as pesquisas científicas que vinha realizando. São dela as seguintes palavras: “Fui à casa do Senhor Crookes, sem prevenir a meus pais e nem a meus amigos. Ofereci-me em sacrifício voluntário sobre o altar de sua incredulidade.” Ela pediu a proteção da Sra. Crookes e submeteu-se a toda sorte de experimentações, objetivando comprovar a sua mediunidade, pois que um cavalheiro, de nome Volckmann, havia lhe imputado suspeitas de fraude.



No dia 22 de abril de 1872, aconteceu, pela primeira vez, a materialização do Espírito Katie King, estando presente na sessão, a genitora, alguns irmãos da médium e a criada.



Após várias sessões, nas quais o Espírito Katie King se manifestava com incrível regularidade, a Srta. Florence afirmou a Willian Crookes que estava decidida a submeter-se a todo o gênero de investigações.



Na sua obra “Fatos Espíritas”, faz completo relato de todas as experiências realizadas com o Espírito materializado de Katie King, que não deixa dúvida quanto ao poder extraordinário que possui o Espírito de dar a forma desejada, utilizando a matéria física.



Numerosos cientistas de renome, mesmo diante dos fatos mais convincentes, hesitaram em proclamar a verdade, com receio das conseqüências que isso poderia acarretar aos olhos do povo. Crookes, porém, não agiu assim. Ele penetrou o campo das investigações com o intuito de desmascarar, de encontrar fraudes, entretanto, quando constatou que os casos eram verídicos, insofismáveis, ele rendeu-se à evidência, curvou-se diante da verdade, tornou-se espírita convicto e afirmou: - “Não digo que isto é possível; digo: isto é real!”



Willian Crookes desencarnou em 04 de abril de 1919, em Londres, Inglaterra.







Fonte: ABC do Espiritismo, de Victor Ribas Carneiro e Personagens do Espiritismo,

de Antonio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy.

Peixotinho e o Espírito Ana

Peixotinho

No dia 16 de Junho de 1966, na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, deixava o corpo físico, e desta vez definitivamente, o famoso e evangelizado médium espírita - Peixotinho.


A Federação Espírita Brasileira, o Conselho Superior da FEB e o Conselho Federativo Nacional se fizeram representar pelos confrades Paulo Affonso de Farias, José Salomão Misrahy e Abelardo Idalgo Magalhães, respectivamente.

Ao sepultamento acorreram centenas e centenas de confrades dos mais diversos pontos do país.


Francisco Peixoto Lins - o Peixotinho, teve ação destacada no movimento espírita brasileiro, já por suas excepcionais qualidades mediúnicas, principalmente no que tange às materializações, já pelo seu comportamento moral como homem de bem.

Destarte, não poderíamos deixar de consignar alguns dados biográficos desse companheiro, dados que nos foram fornecidos pelo seu filho Dr. Guilbert Vieira Peixoto. Ei-los:


Peixotinho, como todos o conheceram, nasceu em 1 de Fevereiro de 1905, na cidade de Pacatuba, no Estado do Ceará, filho de Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto. Embora nascido em 1905, para efeito do registro civil e, destarte, para todos os efeitos da vida material, seu nascimento se deu em igual data do ano de 1907.

Passou sua infância em Fortaleza cercado pelo afeto dos tios, eis que muito cedo sua mãe deixou o plano terrestre. Iniciou sua educação em um seminário. Nessa ocasião lhe vieram dúvidas sobre a existência de Deus, pois seu espírito não aceitava as explicações que recebia para justificar as diferenças sociais tão marcantes no Nordeste, naquela época tão mais sofredor que hoje. Também não aceitava as justificações que lhe ofereciam para o nascimento dos anormais. Assim, vendo o quadro do sofrimento estampado aos seus olhos, começou a descrer da bondade de Deus e de sua existência, até que, pouco mais tarde, a Doutrina Espírita lhe explicasse as causas dos efeitos que conhecia.


Aos catorze anos de idade, com o destemor próprio do cearense, talhado para uma vida de sacrifícios, deixou sua terra em busca do Amazonas, àquela época o Eldorado do nordestino. Durante dois anos trabalhou na extração de borracha nos seringais amazonenses, enfrentando, além da solidão, os perigos normais da região e a exigüidade de recursos da época.


Retornou ao Ceará, e aí, na terra de Bezerra de Menezes, surgiu sua mediunidade em forma obsessiva, pois no início era envolvido pelos Espíritos sofredores que o faziam um valentão. Apesar do seu físico infantil, era dono de grande força de vontade e, sabendo o que lhe poderiam fazer os obsessores, procurou reagir, não saindo de casa, isso depois de um episódio em que, após travar luta com vários homens, foi transportado para uma praia deserta e distante, fisicamente ileso. Mas os Espíritos das trevas não desanimaram ante sua disposição de não sair de casa, vindo-lhe, então, um caso de desprendimento, sendo considerado morto, estado de que despertou após mais de 20 horas de amortalhado.

A seguir lhe veio uma paralisia que o prostrou por seis meses, sem que a família procurasse os recursos do Espiritismo: era católica praticante e temia envolver-se com o Espiritismo. Contudo, um dia, a ativa e abnegada Federação Espírita Cearense enviou confrades a visitá-lo e esses companheiros, com passes e preces, o libertaram da falsa enfermidade. Foi então que começou seu aprendizado na Doutrina Espírita, sendo Viana de Carvalho um dos seus abnegados orientadores.

Em 1926 veio para o Rio de Janeiro, então Capital da República, e se apresentou para servir no Exército, na Fortaleza de Santa Cruz. Posteriormente foi transferido para Macaé, no Estado do Rio de Janeiro. Foi em Macaé que propriamente iniciou sua prestação de serviços ao Espiritismo, tendo aí, com um grupo de irmãos, vários dos quais já no plano espiritual, fundado o Grupo Espírita Pedro. Também em Macaé, em 1933, constituiu família, contraindo matrimônio com Benedita (Baby) Vieira Peixoto.

Sua vida militar foi intercalada de transferências, mas, para onde era transferido, fixava residência com a família e ali fundava um posto de receituário homeopata. Assim foi em Imbituba (Santa Catarina), Santos, Rio de Janeiro, Campos, etc.

Em 1945 foi transferido de Imbituba para a Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. Novamente no Rio, reencontrou-se com vários amigos, entre os quais Antônio Alves Ferreira, velho confrade do Grupo Espírita Pedro, em Macaé, nessa época já residindo no Rio. Das reuniões semanais na residência desse confrade nasceu um culto doméstico que, em poucos meses, se transformou no Grupo Espírita André Luiz, cuja sede provisória era, então, no escritório de representações do confrade Jaques Aboab, à Rua Moncorvo Filho, 27, sobrado.

No Grupo Espírita André Luiz prestou seus serviços mediúnicos, no convívio amigo e fraterno dos irmãos que se uniram àquela casa. E, durante esse período, enquanto residiu no Rio de Janeiro, teve a felicidade de reuni-los em sua residência, todos os domingos.


Do Rio de Janeiro foi para Santos. Isso em 1948. Em Santos freqüentou o Centro Espírita Ismênia de Jesus.

Foi em 1948, antes de mudar-se para Santos, que se deu o seu sonhado encontro com Francisco Cândido Xavier, o Chico. Muitos outros se sucederam e, em Pedro Leopoldo, junto ao aconchego carinhoso do Chico, várias foram as reuniões de materialização e de tratamento realizadas.

Grande número das sessões no Grupo André Luiz e em Pedro Leopoldo são narradas por Ranieri em "Materializações Luminosas".

Transferido para Campos em fins de 1949, iniciou seus serviços no Grupo Espírita Joana D'Arc. Pouco depois, com o crescimento da freqüência no culto doméstico que fazia para seus familiares, nasceu o Grupo Espírita Aracy, seu guia espiritual e que, na última encarnação, fora sua filha. Ao Grupo Aracy dedicou seus últimos anos de vida terrena.

Aesar de sua eficiência no receituário, foi um sofredor, portador de asma, e que compreendia ser essa a sua provação. Apesar de todos os sofrimentos, era alegre e brincalhão, e por muitos considerado uma criança grande. Como médium soube viver, sem nunca comerciar seus dotes mediúnicos. Viveu pobre e exclusivamente dos seus vencimentos de oficial da reserva do Exército, reformado que foi no posto de capitão. Manteve sempre grande zelo pelos princípios esposados por Kardec, fazendo por onde, nos Grupos ou Centros por ele fundados, nunca existisse intromissão de rituais ou quaisquer influências alheias à doutrina do Codificador. Dedicou-se muito ao tratamento de casos de obsessão, chegando mesmo a, por várias vezes, levar doentes ao próprio lar, onde os hospedava junto de sua família. Passou por testemunhos sérios e sofreu ingratidões que soube perdoar, não desanimando nunca de servir.

Desencarnou às seis horas da manhã do dia 16 de Junho de 1966, em Campos, cercado do carinho da família.

Cumpriu sua missão e retornou ao plano espiritual, deixando viúva a Sra. Baby Vieira Peixoto e nove filhos.

Este é o companheiro que partiu para a Grande Pátria, honrado pelo seu trabalho, deixando, é bem verdade, a saudade nos corações de quantos tiveram a felicidade de conhecê-lo pessoalmente, mas, bem maior é a alegria nos Planos Maiores da Espiritualidade, em recebê-lo na condição de Servo Fiel.

Que os pensamentos de todos os espíritas-cristãos de nossa terra possam elevar-se a Deus e a Jesus em benefício do nosso querido irmão PEIXOTINHO.


Fonte: Revista "REFORMADOR" – Agosto de 1966, págs. 18 e 19.

PRINCÍPIO DO VÁCUO OU MANIA DE JUNTAR TRALHAS

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Você tem o hábito de juntar objetos inúteis no momento, acreditando que um dia (não sabe quando) poderá precisar deles?



Você tem o hábito de juntar dinheiro só para não gastá-lo, pois no futuro poderá fazer falta? Você tem o hábito de guardar roupas, sapatos, móveis, utensílios domésticos e outros tipos de equipamentos que já não usa há um bom tempo?



E dentro de você? Você tem o hábito de guardar mágoas, ressentimentos, raivas e medos?



Não faça isso. É anti-prosperidade. É preciso criar um espaço, um vazio, para que as coisas novas cheguem à sua vida.



É preciso eliminar o que é inútil em você e na sua vida, para que a prosperidade venha. É a força desse vazio que absorverá e atrairá tudo o que você almeja.



Enquanto você estiver material ou emocionalmente carregado de coisas velhas e inúteis, não haverá espaço aberto para novas oportunidades. Os bens precisam circular. Limpe as gavetas, os guarda-roupas, o quartinho lá do fundo, a garagem.



Dê o que você não usa mais. A atitude de guardar um monte de coisas inúteis amarra sua vida. Não são os objetos guardados que emperram sua vida, mas o significado da atitude de guardar.



Quando se guarda, considera-se a possibilidade da falta, da carência. É acreditar que amanhã poderá faltar, e você não terá meios de prover suas necessidades.



Com essa postura, você está enviando duas mensagens para o seu cérebro e para a vida:

- primeira, você não confia no amanhã e,

- segunda, você acredita que o novo e o melhor não são para você, já que se contenta em guardar coisas velhas e inúteis.



Desfaça-se do que perdeu a cor e o brilho e deixe entrar o novo em sua casa e dentro de você! "As pessoas são solitárias porque constroem paredes ao invés de pontes." Joseph Newton

ACREDITE SE QUISER ....

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Sempre num lugar por onde passavam muitas pessoas, um mendigo sentava-se na calçada e ao lado colocava uma placa com os dizeres:



" Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma Bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado "



Alguns passantes o olhavam intrigados, outros o achavam doido e outros até davam-lhe dinheiro.



Todos os dias, antes de dormir, ele contava o dinheiro e notava que a cada dia a quantia era maior.



Numa Bela manhã, um importante e arrojado executivo, que já o observava há algum tempo, aproximou-se e lhe disse:



" Você é muito criativo! Não gostaria de colaborar Numa campanha da empresa? "



" Vamos lá. Só tenho a ganhar! ", respondeu o mendigo.



Após um caprichado banho e com roupas novas, foi levado para a empresa.



Daí para frente sua vida foi uma sequência de sucessos e a certo tempo ele tornou-se um dos sócios majoritários.



Numa entrevista coletiva à imprensa, ele esclareceu de como conseguira sair da mendicância para tão alta posição.



Contou ele:



- Bem, houve época me que eu costumava me sentar nas calçadas com uma placa ao lado, que dizia:



" Sou um nada neste mundo! Ninguém me ajuda! Não tenho onde morar! Sou um homem fracassado e maltratado pela vida! Não consigo um mísero emprego que me renda alguns trocados ! Mal consigo sobreviver! "



As coisas iam de mal a pior quando, certa noite, achei um livro e nele atentei para um trecho que dizia:



" Tudo que você fala a seu respeito vai se reforçando.



Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem.



Por mais que você não goste de sua aparência, afirme-se bonito.



Por mais pobre que seja você , diga a si mesmo e aos outros que você é próspero. "



Aquilo me tocou profundamente e, como nada tinha a perder, decidi trocar os dizeres da placa para:



" Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma Bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado."



E a partir desse dia tudo começou a mudar, a vida me trouxe a pessoa certa para tudo que eu precisava, até que cheguei onde estou hoje.



Tive apenas que entender o Poder das Palavras.



O Universo sempre apoiará tudo o que dissermos, escrevermos ou pensarmos a nosso respeito e isso acabará se manifestando em nossa vida como realidade.



Enquanto afirmarmos que tudo vai mal, que nossa aparência é horrível, que nossos bens matérias são ínfimos, a tendência é que as coisas fiquem piores ainda, pois o Universo as reforçará.



Ele materializa em nossa vida todas as nossas crenças.



Uma repórter, ironicamente, questionou:



- O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas Numa simples placa modificaram a sua vida?



Respondeu o homem, cheio de bom humor:



" Claro que não, minha ingênua amiga!



Primeiro eu tive que acreditar nelas! "



SILVIA SCHIMIDT

A roupa do mandarim

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Quanto pesa a responsabilidade de um cargo?



Observa-se que muitos perseguem nomeações para cargos e disputam, com ardor, lugares que lhes conferirão autoridade sobre outros.



Contudo, quando assumem postos de comando esquecem-se dos objetivos reais para os quais foram ali colocados, passando a agir em seu próprio favor.



Tal posição nos recorda a história de um homem que foi nomeado mandarim, uma espécie de conselheiro na China.



Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas.



Seria um grande homem, agora.



Importante.



Um amigo lhe recomendou que buscasse um velho sábio, um alfaiate especial que sabia dar a cada cliente o corte perfeito.



Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do novo mandarim, o alfaiate lhe perguntou há quanto tempo ele era mandarim. A informação era importante para que ele pudesse dar o talhe perfeito à roupa.



Ora, perguntou o cliente, o que isso tem a ver com a medida do meu manto?



Paciente, o alfaiate explicou: "a informação é preciosa.



É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que anda com o nariz erguido, a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás.



Depois de alguns anos, está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos de sua experiência. Torna-se sensato e olha para diante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito em seguida. Para esse costuro um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás.



Mais tarde, sob o peso dos anos, o corpo está curvado pela idade e pelos trabalhos exaustivos, sem falar na humildade que adquiriu pela vida de esforços. É o momento de eu fazer o manto com a parte de trás mais longa.



Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente perfeitamente."



O homem saiu da loja pensando muito mais nos motivos que levaram seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate, e menos no manto que viera encomendar.

A Lição do Jardineiro

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Um dia, o executivo de uma grande empresa contratou, pelo telefone, um jardineiro autônomo para fazer a manutenção do seu jardim.



Chegando em casa, o executivo viu que estava contratando um garoto de apenas 15 ou 16 anos de idade. Contudo, como já estava contratado, ele pediu para que o garoto executasse o serviço.



Quando terminou, o garoto solicitou ao dono da casa permissão para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir a conversa.



O garoto ligou para uma mulher e perguntou: “A senhora está precisando de um jardineiro?”



“Não. Eu já tenho um”, foi a resposta.



“Mas, além de aparar a grama, frisou o garoto, eu também tiro o lixo.”



“Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O meu jardineiro também faz isso.”



O garoto insistiu: “eu limpo e lubrifico todas as ferramentas no final do serviço.”



“O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora.”



“Eu faço a programação de atendimento, o mais rápido possível.”



“Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente. Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa.”



Numa última tentativa, o menino arriscou: “o meu preço é um dos melhores.”



“Não”, disse firme a voz ao telefone. “Muito obrigada! O preço do meu jardineiro também é muito bom.”



Desligado o telefone, o executivo disse ao jardineiro: “Meu rapaz, você perdeu um cliente.”



“Claro que não”, respondeu rápido. “Eu sou o jardineiro dela. Fiz isto apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo.”

O poder da doçura

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O viajante caminhava pela estrada, quando observou o pequeno rio que começava tímido por entre as pedras. Foi seguindo-o por muito tempo. Aos poucos, ele foi tomando volume e se tornando um rio maior. O viajante continuou a segui-lo.

Bem mais adiante, o que era um pequeno rio se dividiu em dezenas de cachoeiras, num espetáculo de águas cantantes.

A música das águas atraiu mais o viajante, que se aproximou e foi descendo pelas pedras, ao lado de uma das cachoeiras. Descobriu, finalmente, uma gruta.

A natureza criara com paciência caprichosa, formas na gruta. Ele a foi adentrando, admirando sempre mais as pedras gastas pelo tempo.

De repente, descobriu uma placa. Alguém estivera ali antes dele. Com a lanterna, iluminou os versos que nela estavam escritos. Eram versos do grande escritor Tagore, prêmio Nobel de literatura de 1913:

"Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura, sua dança, e sua canção.

Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir."

O Herdeiro Legítimo

Um israelita rico, que vivia em sua bela propriedade, para além de Ascalon, muito longe de Jerusalém, tinha um filho único, que mandou para a Cidade Santa a fim de se educar. Durante a ausência do jovem, o pai adoeceu repentinamente. Vendo a morte aproximar-se, fez o seu testamento pelo qual instituiu como seu universal herdeiro a um escravo ascalonita, de sua confiança, com a cláusula que a seu filho seria permitido escolher da rica propriedade uma coisa, e uma coisa só, que ele quisesse. Assim que o seu senhor e dono morreu, o escravo, exultando de alegria, por se sentir proprietário das casas, terras e rebanhos, correu a Jerusalém para informar o filho do que se tinha passado, e mostrar-lhe o testamento.



O jovem israelita ficou possuído do maior desgosto ao ouvir essa notícia inesperada, rasgou o fato, pôs cinzas na cabeça e chorou a morte do pai, que amava ternamente, e cuja memória ainda respeitava. Quando os primeiros arrebatamentos de sua dor tinham passado e os dias de luto acabaram, o jovem encarou seriamente a situação em que se encontrava. Nascido na opulência e criado na expectativa de receber, pela morte do pai, as propriedades a que tinha direito, viu ou imaginou ver as suas esperanças perdidas e as suas perspectivas malogradas.



Nesse estado de espírito, foi ter com o seu professor, um rabi afamado pela sua piedade e sabedoria, deu-lhe a conhecer a causa de sua aflição e fê-lo ler o testamento; e na amargura do seu desgosto atreveu-se a desabafar os seus pensamentos — que o pai, fazendo tal testamento, e dispondo tão singularmente de seus bens, não tinha mostrado bom senso nem amizade pelo filho.





— Não digas nada contra teu pai, meu jovem amigo — declarou o piedoso rabi — teu pai era ao mesmo tempo um homem dotado de grande sabedoria e a ti, especialmente, de uma dedicação sem limites. A prova mais evidente é este admirável testamento.





— Este testamento! — exclamou o jovem torcendo os lábios em expressão de amargura. — Este deplorável testamento! Convencido estou, ó rabi!, de que não falas agora com o discernimento de um homem esclarecido. Praticou meu pai uma injustiça. Não vejo sabedoria em conferir os seus bens a um escravo, nem amizade em despojar seu filho único dos seus direitos legítimos, de acordo com o Torah.





— Teu pai nada disso fez! — rebateu com segurança o Mestre — Mas, como pai justo e afetuoso, garantiu-te, nos termos deste testamento a propriedade plena de tudo, casas, terras e rebanhos, se tiveres o bom senso de interpretar com acerto as cláusulas testamentárias.





— Como? Como? — perguntou o jovem, com o maior espanto. — Como é isso? Cabe-me a propriedade integral? Na verdade, não compreendo!





— Escuta, então — acudiu o rabi. — Escuta, meu filho, e terás muito para admirar a prudência de teu pai. E no coração do prudente repousa a sabedoria. Quando viu teu bondoso pai a morte aproximar-se, e certo de que teria de seguir o caminho que todos seguem mais cedo ou mais tarde, pensou de si para consigo: “Hei de morrer; meu filho está longe demais para tomar posse imediata de minha propriedade; os meus escravos, assim que se certificarem de minha morte, saquearão a minha casa e, para evitar serem descobertos, hão de esconder a minha morte a meu querido filho e, assim, privá-lo até da triste consolação de chorar por mim”.





— Para evitar que a propriedade sofresse dano — prosseguiu o rabi — teve teu saudoso pai uma idéia genial. Deixou todos os bens a um escravo, que, decerto, teria o maior interesse em tomar conta de tudo e zelar pela segurança de todos os bens. Para evitar que o escravo, homem de sua confiança, conservasse, em sigilo, a morte do amo, estabeleceu a condição que poderias escolher qualquer coisa da propriedade. O escravo, pensou ele, para assegurar o seu, aparentemente legítimo direito, não deixaria de te informar, como de fato ele o fez, do que acontecera.





— Mas, então — teimou o jovem, um pouco impaciente — que proveito tirarei de tudo isso? Qual é a vantagem que poderá resultar para mim? O escravo ascalonita não me restituirá, com certeza, a propriedade de que tão injustamente fui despojado! Ficará, como determinou meu pai, dono das terras e dos rebanhos.





O judicioso rabi respondeu com sere¬nidade:

— Vejo que a Sabedoria reside apenas nos espíritos amadurecidos pela idade. Sabes que tudo quanto um escravo possui pertence ao seu dono legítimo? E teu pai não te deu a faculdade de escolher, dos seus bens, isto é, da herança, qualquer coisa que quisesses? O que te impede de escolher aquele próprio escravo ascalonita como parte que te pertence? E possuindo-o, terás, de acordo com a Lei, pleno direito à propriedade toda. Sem dúvida era esta a intenção de teu pai.





O jovem israelita, admirando a prudência e a sabedoria do pai, tanto como a argúcia e a ciência do seu Mestre, aprovou a idéia. Nos termos do testamento, e na presença de um juiz, escolheu o escravo como sua parte e tomou posse imediata de toda a herança. Depois do que, concedeu liberdade ao escravo, que foi, além disso, agraciado com rico presente. (...)





Autor: Malba Tahan - A gato do cheique

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MINHA VIDA QUERIDA

Na última curva da estrada Te-ha-tá parou e olhou para o céu. As montanhas sombrias, cobertas de neve, pareciam gigantes encanecidos que vigiavam silenciosos as fronteiras do Tibet. O sol, já perto do horizonte, retardava a sua marcha como se quisesse receber as últimas preces com que os lamas1 imploravam a misericórdia do Senhor da Compaixão2.



A sombra de um vulto surgiu, sobre uma pedra, na margem da estrada. Te-ha-tá tremeu de pavor.



Em seu caminho achava-se o impiedoso Han-Ru, o Anjo da Morte, o mensageiro da dor e da desolação3.



O coração tem, por vezes, o dom de pressentir a desgraça. Te-ha-tá, ao avistar o Anjo da Morte, lembrou-se de sua noiva, a formosa Li-Tsen-li.



Te-ha-tá dirigiu-se, pois, sem hesitar, ao mensageiro cruel do Destino.



— Han-Ru, ó gênio desapiedado! — exclamou. — Que procuras aqui, quase à sombra da casa da encantadora Li-Tsen-li? Bem sei que a tua presença vale por uma sentença de morte.



Respondeu Han-Ru, com a paciência de um enviado do Eterno:



— A tua inquietação é legitima, meu amigo. Vim a este recanto buscar a tua noiva Li-Tsen-li. Chegou, pela determinação do Destino, o termo de sua existência neste mundo. Li-Tsen-li vai morrer!



— Piedade, Han-Ru! Piedade! —- implorou Te-ha-tá. — Ela é tão jovem, e tão prendada! Pelo amor de Maia Devi4 deixa viver Li-Tsen-li!



O Anjo da Morte meditou em silêncio durante alguns instantes e depois, sem erguer o rosto, disse:



— Muito fácil será, para aquele (e é esse o teu caso!) que tem o amparo de Maia Devi, prolongar a vida de Li-Tsen-li. Sei que tens direito a uma vida longa e tranqüila; restam-te, ainda, quarenta e seis anos de vida. Poderás ceder à tua noiva a metade do tempo que te cabe, no futuro, para viver. Li-Tsen-li ficará, portanto, com direito à metade de tua vida e viverá em tua companhia, vinte e três anos. Findo esse prazo, morrerão ambos no mesmo instante! Aceitas essa proposta?



As palavras de Han-Ru fizeram hesitar o jovem Te-ha-tá. Quem, decerto, não ficaria indeciso antes de sacrificar, cedendo a outrem, a metade da própria vida?



— A tua sugestão, Han-Ru, implica uma decisão de infinita gravidade para a minha vida. Não poderei tomar uma decisão nesse sentido, sem, previamente, consultar os meus três grandes amigos. Poderás esperar que eu ouça a opinião daqueles que sempre me auxiliaram e orientaram na vida?



— Farei como pedes, meu amigo — respondeu o Anjo da Morte. — Até o findar da noite que vai começar, aguardarei a tua palavra final. Deveras voltar, com a tua decisão, à minha presença, antes do amanhecer.



Partiu Te-ha-tá em busca dos amigos, cujos sábios conselhos pretendia ouvir. Deveria ele como noivo sacrificar a metade da sua vida para salvar das garras da Morte a criatura amada?



O primeiro amigo de Te-ha-tá era um artista tibetano de assinalados méritos. Su-Liang sabia esculpir com admirável perfeição, na pedra ou na madeira, e os seus trabalhos eram mais apreciados do que os olhos negros das Apsaras que enchem de encanto o céu de Indra5.



Eis como Su-Liang, o escultor, falou a Te-ha-tá:



— A vida, meu amigo, só tem sentido quando a sua finalidade é traduzida por um grande e incomparável amor. E o amor que dispensa sacrifícios e renúncias não é amor; é a expressão grotesca de um capricho vulgar. Feliz aquele que pode demonstrar a grandeza de seu coração medindo-a pela extensão de um ingente sacrifício. Pela mulher amada deve o homem sacrificar, não apenas a metade de sua vida, mas a vida inteira! Que importa, Te-ha-tá, uma existência longa, torturada pela dor de uma incurável saudade? Preferível, mil vezes, que vivas a metade de tua vida à sombra feliz do amor delicioso de tua eleita. No teu caso eu não teria hesitado, um só instante, em aceitar a proposta do terrível Han-Ru.



O segundo amigo de Te-ha-tá chamava-se Niansi. Era hábil caçador e auferia consideráveis lucros mercadejando peles.



Ao ouvir a consulta do jovem, Niansi não se conteve:



— É uma loucura, Te-ha-tá! Onde se viu um moço, rico e cheio de saúde, sacrificar a metade da vida por causa de uma mulher? Encontrarás, pelo mundo, milhões e milhões de mulheres lindas, muitas com as sete ou talvez, com as oito perfeições indicadas no Livro Sagrado6. Aqui mesmo (no Tibet) poderás topar, em qualquer aldeia, com centenas de meninas, algumas das quais nada ficariam a dever, julgadas pelos seus predicados de graça e beleza, à tua noiva Li-Tsen-li! Desgraçada a idéia de quereres adiar o termo da existência de uma mulher com o sacrifício de vinte e tantos anos de.tua vida! E quem poderá prever o futuro? Amanhã, essa mulher, arrebatada por uma nova paixão e deslembrada do sacrifício que por ela fizeste, abandonar-te-á e irá viver, nos braços de outro, a vida que é a tua própria vida! Que farás, então, vendo-a ceder a um odiento rival os dias roubados ao rosário de tua existência? Penso que não deverias ter hesitado ante a proposta descabida de Han-Ru, repelindo-a no mesmo instante.



A divergência entre os dois amigos mais fez crescer a indecisão e a incerteza no coração de Te-ha-tá.



— Vou ouvir — pensou o jovem — a opinião do prudente Kin-Sã. Só ele poderá indicar-me o caminho a seguir.



Kin-Sã, citado no Tibet como um estudioso das leis e dos ritos, assim falou ao apaixonado noivo:



— Se amas realmente Li-Tsen-li, acho que deves ceder, a essa jovem, a metade do tempo que te resta para viver. Convém, entretanto, impor uma condição. A parcela de vida, depois de cedida a Li-Tsen-li, poderá ser retomada por ti, em qualquer momento. Terás, assim, a tua tranqüilidade garantida no caso de uma infidelidade de tua futura esposa. Se ela, por qualquer motivo, não se mostrar digna de teu sacrifício, perderá o direito ao resto da vida que lhe cabia viver! Fora dessa condicional, qualquer outra solução para o caso não passaria de irremediável loucura!



E concluiu o seu conselho com estas palavras:



— Fizeste bem em hesitar. A Hesitação é irmã da Prudência. Só os loucos e temerários é que nunca hesitam.



Achou Te-ha-tá bastante prudente e razoável a proposta sugerida pelo douto Kin-Sã, e levou-a sem perda de tempo, ao conhecimento de Han-Ru, o Enviado da Morte.



Han-Ru aceitou a condição imposta pelo noivo:



— Está bem, Te-ha-tá. Aceito a tua proposta. A bondosa Li-Tsen-li vai viver os vinte e três anos. Esta parcela de vida não foi, porém, dada, mas sim “emprestada”.



Passaram-se muitos meses. Li-Tsen-li casou-se com o jovem Te-ha-tá, e os dois eram citados como os esposos mais felizes do Tibet. Li-Tsen-li, depois do casamento, passou a chamar-se Ti-long-li, vocábulo que significa “minha vida querida”.



Um dia, afinal, Te-ha-tá foi obrigado a fazer uma longa viagem para além das fronteiras de sua terra. Deixou “Minha vida querida” e seu filhinho, que já contava algumas semanas, em companhia de seus pais.



Quando regressou, tempos depois, teve a surpresa de encontrar os seus três amigos que o aguardavam na entrada da pequena povoação.



— Onde está “Minha vida querida”? — perguntou, ansioso, aos amigos. — Por que não veio? Estará doente? Que aconteceu à “Minha vida querida”?



Disse um dos amigos:



— Enche de ânimo e de coragem o teu coração, ó Te-ha-tá! Uma grande desgraça, há três dias, caiu sobre a tua vida!



— Desgraça? — repetiu, aflito, Te-ha-tá. — É horrível esta angústia! Vamos! Quero saber a verdade! Onde está “Minha vida querida”?



— Morreu!



— Morreu! — gritou Te-ha-tá, desesperado. — Não é possível! Não podia morrer! Eu sacrifiquei por ela, metade de minha vida!



E Te-ha-tá, dominado pela dor e revoltado pelo infortúnio de haver perdido a sua esposa querida, entrou a blasfemar como um possesso, contra o Senhor da Compaixão. Erguia os braços para o céu; rolava, por vezes, sobre a terra. Insultava o nome do Criador.



Os amigos afastaram-se, cautelosos. Era preciso deixar o infeliz Te-ha-tá dar plena expansão à indizível angústia que lhe esmagava o coração.



Em dado momento Te-ha-tá viu surgir diante de si a figura de Han-Ru, o Anjo da Morte.



— Han-Ru! — bradou, num tom de incontido rancor. — Faltaste com a tua palavra. Que fizeste de “Minha vida querida”?



— Escuta, Te-ha-tá — respondeu Han-Ru. — Preciso dizer-te a verdade, para que não continues a blasfemar desse modo. A tua esposa deveria viver vinte e três anos. Um dia, porém, o seu filhinho adoeceu gravemente. O pequenino ia morrer. Que fez a tua esposa? Pediu, em preces, que a sua vida fosse dada ao filhinho enfermo para que ele pudesse viver! Salvou-se o teu filho, mas tua esposa morreu!



E, ante a estupefação de Te-ha-tá, o Anjo da Morte concluiu:



— E enquanto tu, como noivo, hesitaste em ceder a metade de tua vida, ela mãe extremosa, não hesitou um segundo em dar, pelo filhinho, a vida inteira!







1- Lamas — Sacerdotes budistas entre Mongóis e Tibetanos. O chefe supremo é o grande Lama ou Dalai-Lama.



2- Deus.



3- Han-Ru — Na complicada mitologia hindu figuram nada menos de 17 deuses. Os três primeiros, Brama (o principio criador), Vishnu (o principio conservador) e Siva o principio destruidor), formam a celebre trindade hindu. Além dos 17 deuses, os hindus incluíram entre as divindades os planetas, alguns rios (o Ganges, por exemplo, é adorado sob a forma de uma deusa) e certos animais. Siva, cuja esposa é Maia Devi ou Bhavâni, tem vários auxiliares. Han-Ru é um dos gênios que se encarregam de cumprir as determinações do Deus da Destruição.



4- Maia Devi — também denominada Bhavâni. É a esposa de Siva, terceiro deus da trindade hindu. Essa deusa é, em geral, representada sob a forma de uma linda mulher, em atitude ameaçadora, montada num tigre.







5- Céu de Indra — Da multiplicidade de deuses que são apontados na Mitologia Hindu decorre a crença, geralmente aceita, de que existem vários céus. O céu de Indra parece ser o mais notável. Erguem-se, nessa região divina, palácios de ouro ornados de pedras preciosas, grutas, jardins prodigiosos cujas flores exalam cem mil perfumes diferentes. Um foco luminoso — mais intenso do que o sol — derrama uma claridade sobre todos os recantos do paraíso hindu. O céu de Indra é povoado por uma infinidade de ninfas encantadoras denominadas Apsaras.



6- Livro Sagrado — A religião dos hindus é, em parte, explicada nos Vedas, que não passam, afinal, de uma coleção de hinos, preces e conceitos morais. O Livro Sagrado a que se refere o herói do conto deve ser, naturalmente, o Código de Manu, cuja origem é anterior ao IX ante-século.



Todos os conceitos e princípios religiosos no livro de Manu aparecem, aliás, citados nos Vedas.



Há quatro Vedas, sendo cada um deles dividido em duas ou três partes. O primeiro é constituído exclusivamente por vários hinos religiosos e preces; o segundo estuda os princípios religiosos e analisa as controvérsias teológicas; o terceiro discute certos pontos obscuros de Teologia. O quarto Veda não é, em geral, aceito pelos doutores hindus.



Os Vedas não podem ser atribuídos a um único autor; em cada um deles colaboram vários personagens de épocas diversas. Os diversos escritos foram reunidos sob a forma atual no século XVI, antes de Cristo.





Autor: Malba Tahan - livro - Minha vida querida.

O Tesouro de Bresa

Houve outrora, na Babilônia, um pobre e modesto alfaiate chamado Enedim, homem inteligente e trabalhador, que não perdia a esperança de vir a ser riquíssimo.

Como e onde, no entanto, encontrar um tesouro fabuloso e tornar-se, assim, rico e poderoso?

Um dia, parou na porta de sua humilde casa, um velho mercador da fenícia, que vendia uma infinidade de objetos extravagantes.

Por curiosidade, Enedim começou a examinar as bugigangas oferecidas, quando descobriu, entre elas, uma espécie de livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos.

Era uma preciosidade aquele livro, afirmava o mercador, e custava apenas três dinares.

Era muito dinheiro para o pobre alfaiate, razão pela qual o mercador concordou em vender-lhe o livro por apenas dois dinares.

Logo que ficou sozinho, Enedim tratou de examinar, sem demora, o bem que havia adquirido.

Qual não foi sua surpresa quando conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte legenda: "o segredo do tesouro de Bresa."

Que tesouro seria esse?

Enedim recordava vagamente de já ter ouvido qualquer referência a ele, mas não se lembrava onde, nem quando.



Mais adiante decifrou: "o tesouro de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha ainda, até que algum homem esforçado venha encontrá-lo."



Muito interessado, o esforçado tecelão dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro, para apoderar-se de tão fabuloso tesouro.



Mas, as primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos, o que fez com que Enedim estudasse os hieróglifos egípcios, a língua dos gregos, os dialetos persas e o idioma dos judeus.



Em função disso, ao final de três anos Enedim deixava a profissão de alfaiate e passava a ser o intérprete do rei, pois não havia na região ninguém que soubesse tantos idiomas estrangeiros.



Passou a ganhar muito mais e a viver em uma confortável casa.



Continuando a ler o livro encontrou várias páginas cheias de cálculos, números e figuras.



Para entender o que lia, estudou matemática com os calculistas da cidade e, em pouco tempo, tornou-se grande conhecedor das transformações aritméticas.



Graças aos novos conhecimentos, calculou, desenhou e construiu uma grande ponte sobre o rio Eufrates, o que fez com que o rei o nomeasse prefeito.



Ainda por força da leitura do livro, Enedim estudou profundamente as leis e princípios religiosos de seu país, sendo nomeado primeiro-ministro daquele reino,em decorrência de seu vasto conhecimento.



Passou a viver em suntuoso palácio e recebia visitas dos príncipes mais ricos e poderosos do mundo.



Graças a seu trabalho e ao seu conhecimento, o reino progrediu rapidamente, trazendo riquezas e alegria para todo seu povo.



No entanto, ainda não conhecia o segredo de Bresa, apesar de ter lido e relido todas as páginas do livro.



Certa vez, teve a oportunidade de questionar um venerando sacerdote a respeito daquele mistério, que sorrindo esclareceu:



"O tesouro de Bresa já está em vosso poder, pois graças ao livro você adquiriu grande saber, que lhe proporcionou os invejáveis bens que possui. Afinal, Bresa significa saber e Harbatol quer dizer trabalho." Com estudo e trabalho pode o

homem conquistar tesouros maiores do que os que se ocultam no seio da terra.



Tinha razão o velho sacerdote.



Bresa o gênio, guarda realmente um tesouro valiosíssimo que qualquer homem esforçado e inteligente pode conseguir, essa riqueza prodigiosa não se acha, porém, perdida no seio da terra nem nas profundezas do mares encontrá-la-eis,sim, nos bons livros, que, proporcionando saber aos homens,abrem para aqueles que se dedicam aos estudos, com amor e tenacidade, as grutas maravilhosas de mil tesouros encantados.





Autor: Malba Tahan - O livro de Aladim.

domingo, 23 de maio de 2010

O prego

Certo feirante, depois de um dia muito proveitoso com excelentes resultados no negócio, se dispôs a voltar para casa antes do entardecer. Montou seu cavalo e, prendendo muito bem à cintura a bolsa com seu dinheiro, deu início à jornada de volta.



Lá pelas tantas, parou em um pequeno povoado para uma rápida refeição. Quando já se preparava para prosseguir na caminhada, o moço da cachoeira o avisou:



- Senhor, está faltando um prego na ferradura da pata esquerda do seu animal. Não seria melhor providenciar outro?



- Deixa faltar... - respondeu o feirante - Estou com muita pressa; sem dúvida a ferradura agüentará bem as horas que ainda restam a percorrer E lá se foi ele. À tardinha, quando parou para dar ração pro cavalo, o encarregado da cavalaria também foi ter com ele, dizendo:



- Olha, está faltando a ferradura da pata esquerda do seu animal. Quer que o nosso ferreiro veja isto?



- Deixa faltar. Estou com muita pressa e restam poucas horas para que cheguemos ao nosso destino. Por certo o cavalo resistirá - respondeu ele.



Continuou a cavalgar, mas já não conseguira andar muito, quando notou que o cavalo estava manquejando. Tentou continuar na esperança de chegar em casa; entretanto, depois de poucos metros o animal passou a tropeçar e, com pouco mais de tempo, numa queda mais forte, o cavalo fraturou a perna e já não pôde mais sair do lugar.



Era noite e o feirante viu-se obrigado a deixar o pobre animal caído, sem qualquer atendimento.



Desprendendo a caixa onde carregava uma série de apetrechos para seu uso na feira, pô-la às costas e foi caminhando. A distância que parecia curta tornou-se longa e penosa. Só muito tarde chegou ele cansado, faminto e preocupado com a possível perda do animal. Foi então que começou a raciocinar: Tudo por causa de um simples prego que não foi substituído no momento que se fez necessário.



Entendeu tarde demais o fato de que a pressa exige calma. Pequenas omissões podem resultar numa perda irreparável...